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OVINOCULTURA - COM PROFISSIONALISMO, O LUCRO É CERTO!
rev 120 - fevereiro 2008

Ovinocultores de raças de corte mais experientes alertam: embora a atividade seja de fácil implantação e rentável, não há espaço para brincadeiras na criação.

A ovinocultura vêm se destacando como uma promissora atividade pecuária. Ótima alternativa para propriedades pequenas ou com terrenos acidentados, esta ocupação viu o seu número de adeptos se multiplicar. Atraídos pelos custos menos onerosos em relação à pecuária bovina, os criadores que aderiram aos pequenos ruminantes não se arrependem. Alguns, inclusive trocaram sua antiga criação pelas ovelhas.

É o caso de Fernando Farhat, que criava cavalos e há cinco anos abandonou a eqüinocultura para começar na criação de ovelhas. “Criar ovinos é milhares de vezes melhor, pois é mais prático, mais lucrativo, dá maior retorno e mais rapidamente; e o giro financeiro é mais rápido”, enumera o pecuarista de Cajuru, interior de São Paulo. O criador cita ainda outras vantagens: “A ovelha pari duas vezes por anos. A vaca dá cria uma vez por ano. Pode-se alocar até 10 ovinos por hectare, enquanto que um pecuarista que cria bois pode alocar no máximo um animal por hectare. A arroba do boi, hoje está em 60 reais. A do carneiro custa 150 reais”, enfatiza.

Farhat escolheu trabalhar com as raças Dorper e Santa Inês; esta desenvolvida no Brasil e conhecida pela rusticidade e adaptabilidade às condições de pasto, de norte a sul do País. “É um animal de boa carcaça, bom acabamento, carne boa e pouca gordura”, explica o criador. Já a raça Dorper, segundo Farhat é mais exigente no que diz respeito à alimentação. Seu manejo é mais exigente, pois os animais desta raça têm um pouco de lã e comem uma quantidade diária maior de comida. “O Santa Inês ganha peso até 1 ano e meio, enquanto que o Dorper ganha até 9, 10 meses. Ele é mais precoce, mas come mais e ganha mais peso no inicio. Depois pára”, explica.

Roberval Farias, outro criador de Santa Inês, acha que a raça é a melhor opção para cruzamentos, principalmente com as raças Dorper e Texel. “Hoje em dia existem linhagens muito boas. Os cruzamentos mais indicados são Dorper e Texel com uma matriz Santa Inês, pois aliam a boa adaptabilidade da Santa Inês com a boa carne das raças Dorper e Texel”. Segundo Farias, os criatórios no Sudeste atingiram um nível de excelência grande. “As linhagens no Sudeste estão cada vez melhores. A seleção aqui está sendo rigorosa”, acredita o criador, que possui propriedade em Franco da Rocha, município da Grande São Paulo.

Outro cruzamento bastante utilizado é o da raça Dorper com Texel. Segundo os criadores, os filhos destas duas espécies apresentam um desempenho superior ao dos pais. “Dorper com Texel dá uma conformação maravilhosa. Colocando uma sobre a outra dá heterose, dá uma excelente carcaça”, afirma o criador Eduardo Avelino Bergstein, criador dessas duas raças há dez anos.

Seleção genética é o foco principal dos criadores. E isso é tanto um problema quanto a solução para o plantel brasileiro. Esse paradoxo se explica pelo fato da maioria dos ovinocultores centralizarem seus criatórios na produção de animais de pista. Por um lado, esse esforço é benéfico, pois acaba desenvolvendo ótimas matrizes e reprodutores. Por outro lado, segundo Bergstein, titular da Fazenda Serrana, isso, involuntariamente, acaba lesando a atividade como um todo. “Não há lógica desenvolvimento genético sem aplicá-lo no sistema produtivo. Este precisa crescer enormemente já que 70% da carne consumida no Brasil é importada do Uruguai, Nova Zelândia e Austrália”. Segundo Bergstein, o desenvolvimento de plantéis para atender a demanda interna é primordial para o sucesso da ovinocultura.

Opinião semelhante compartilha outro criador. José Roberto Sobral, que cria a raça Texel em Pedra Bela, no interior paulista acredita que para a atividade deslanchar de vez, é preciso alinhar uniformemente o desenvolvimento genético à produção de carne de qualidade. “Não se pode descolar a criação de animais de seleção para atender ao grande número de novos criadores, daquela que é destinada a produção de carne para abastecer um mercado potencialmente muito promissor. Carne é o grande objetivo. Não temos oferta. Importamos carne de outros países”, enfatiza Sobral, ovinocultor desde 2000.

Mas não são só estes os entraves da criação de ovelhas. É quase unanimidade entre os criadores que um dos principais problemas é a falta de frigoríficos especializados no abate de ovinos. Essa limitação acaba fazendo os criadores de reféns, já que a demanda pelo abate é muito maior do que sua oferta. “Não dá para produzir carne em altos volumes, pois não existem abatedouros suficientes para atender uma alta procura. Não temos um padrão de corte melhor porque faltam frigoríficos e mão de obra especializada”, ressalta Roberval Faria, que cria ovinos desde 2000. Para ele, o mercado tem que crescer pelo menos 80% para conseguir atender a demanda interna.

Mas, para que a isso aconteça, é necessário um longo caminho. E aí voltamos ao problema da falta de sincronia entre o desenvolvimento genético e a produção de plantéis voltados para a produção de carne. Nos últimos anos a ovinocultura viu leilões milionários e grande atenção da mídia especializada nestes eventos. Porém, estes animais de pista pouco interagiram com os rebanhos comerciais. Esse desencontro criou um abismo de qualidade entre animais de elite e plantéis comerciais, que não conseguiram seguir os padrões de exigência do mercado. São poucos os criadores de animais destinados ao abate que compram sêmen de animais P.O. para melhoramento genético. Muitos dos ovinos, por conta da falta de melhoramento genético, acabam indo para o abate com uma idade avançada, o que interfere na qualidade da carne.

“O mercado de ovinos está passando por uma transformação muito grande, especialmente o mercado de carne. A cultura brasileira não tinha o habito de comer cordeiro. A demanda explodiu e os padrões não acompanharam esse crescimento. O mercado quer carne com marmoreio, distribuição da capa de gordura. O criador está se adaptando às exigências do mercado, que já estão no nível internacional. Outros países já têm esse padrão”, explica o criador José Roberto Sobral. Segundo ele, institutos de pesquisas como a Esalq. de Piracicaba e o Instituto de Agronomia de Nova Odessa estão trabalhando para que o rebanho brasileiro atinja os padrões internacionais de exigência. “Com a cadeia formada, seremos exportadores”, acredita o criador.

Outra dificuldade que os pecuaristas encontravam ao procurar melhorar os seus rebanhos eram as limitações ao adotar técnicas de fertilização como inseminação artificial, transferência de embriões ou inseminação por tempo fixo. Segundo Edson Siqueira, médico veterinário e gerente técnico da divisão de caprinos e ovinos da Alta Genetics, os ovinocultores se viam obrigados a recorrerem a técnicas caras para fertilizar seus animais, o que limitava bastante o número de criadores com condições de inseminar. “Antes, as inseminações eram feitas por laparoscopia. Isso encarecia muito o processo. Somente criadores de animais de pista ou de reprodutores recorriam a elas”, explica Siqueira. Segundo ele, hoje em dia os pecuaristas podem se valer de técnicas mais modernas e mais baratas também. “Agora o processo é trans cervical. Isso auxiliou a difundir a técnica para produtores de rebanhos comerciais. Barateou o processo. Tem-se ampliado o número de produtores que utilizam essa técnica. E essa é uma boa ferramenta para melhorar o rebanho”, ressalta o veterinário da Alta Genetics.

Mas, mesmo com os entraves e contra-tempos com os quais os ovinocultores se depararam, é consenso que o rebanho comercial brasileiro deu um salto de qualidade na última década. “O Brasil desenvolveu genética própria. A Santa Inês é uma raça desenvolvida no País. São 2 animais muito diferentes se formos comparar os da década de 90 com os de hoje. O Brasil provou que consegue desenvolver genética própria da raça Santa Inês, Dorper e Boer (no caso de caprinos). Muitos animais vêm de fora, mas muito em breve o rebanho brasileiro não vai dever em nada aos rebanhos da Austrália, Nova Zelândia e África do Sul” acredita Siqueira.

Não somente as raças descritas por Siqueira estão bem cotadas entre os criadores. A raça lanada Texel é uma das mais promissoras em matéria de desenvolvimento genético, como afirma José Roberto Sobral. “A Texel ganhou adaptabilidade e desenvolvimento genético no Brasil. Ela está sendo trabalhada há mais de 50 anos no que se refere a desenvolvimento genético da raça. Reprodutores vieram da Holanda, Alemanha e França. Com isso se criou uma base genética muito forte nos plantéis do Rio Grande do Sul e também em São Paulo. Somos referência mundial”. Essa raça, segundo Sobral levou vantagem em relação as demais em matéria de formação genética porque os criadores tiveram tempo e preocupação de desenvolver a genética no País.

O Brasil, nos últimos anos, se tornou um voraz consumidor da carne de ovinos. E a produção interna não acompanhou esse crescimento do consumo. As condições parecem propícias para se investir nesta atividade. O que falta, segundo os criadores, são pequenos ajustes, como a busca por um rebanho comercial com alto desenvolvimento genético para uma maior padronização da carne, plantas frigoríficas especializadas no abate de ovinos e uma melhor interligação dos elos da cadeia produtiva. “Temos de adequar a produção para atender consumidores de uma faixa de renda que exige uma produção de qualidade superior”, afirma o criador José Roberto Sobral. O veterinário da Alta Genetics Edson Siqueira é otimista quanto ao futuro da ovinocultura. Segundo ele, todas as raças demonstram potencial para crescimento e a atividade deixou de ser uma promessa. “A ovinocultura está consolidada, mas tem muito a crescer ainda. Precisa aumentar a produção para depois galgar a exportação da carne. Precisamos sustentar a demanda. Isso mostra o potencial de crescimento para todas as raças”.


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