Segundo
o texto, as condições climáticas do ano de 2007, desde
o início de março até o final de outubro, têm sido
atípicas, apresentando deficiência hídrica acentuada e prolongada
e temperaturas médias superiores às normais históricas. Em
muitas regiões cafeeiras do Sul de Minas Gerais e da Mogiana (SP) ocorreram
chuvas de várias intensidades no mês de julho e também no
final de setembro e de outubro, que provocaram floradas de diferentes intensidades.
Por exemplo, em Campinas (SP), cafezais adultos floresceram no início de
agosto, início de setembro e final de outubro, esta mais intensa.
Porém, após as chuvas do final de setembro e outubro,
a ocorrência de temperaturas máximas elevadas superiores a 34ºC,
chegando a alcançar até 37ºC em algumas localidades, associadas
com déficit hídrico acentuado, ocasionou a presença de alta
porcentagem de botões florais com má formação. Essa
anomalia é caracterizada pelo desenvolvimento reduzido das pétalas,
impossibilitando a proteção adequada dos estigmas das flores, o
que provavelmente, compromete a fecundação dos óvulos, resultando
posteriormente em queda dos ovários (chumbinhos) não fecundados.
Observa-se, também, com freqüência nessa fase que os estiletes
apresentam necrose, provavelmente provocada pelas altas temperaturas, associadas
à acentuada deficiência hídrica. Contribuiu ainda para a ocorrência
de botões com má formação as temperaturas mínimas
elevadas, atingindo em alguns locais até 22ºC.
Em uma
mesma planta pode ser encontrado flores com abertura prematura com diferentes
graus de anormalidades: a. estilete e estigma consideravelmente expostos
anomalias severas; b. parte do estigma e ponta das anteras salientes anomalias
menos severa; c. flores com abertura da corola no ápice anomalias
fracamente severas. A ocorrência das duas primeiras anomalias pode ocasionar
perdas variáveis na produção, enquanto no último grupo
(c) as flores podem apresentar comportamento normal não alterando a produção.
Ainda há casos extremos onde todas as partes da estrutura floral permanecem
verdes e atrofiadas, com exposição total dos estiletes, dando formação
às flores conhecidas como estrelinhas.
Para os pesquisadores,
de modo geral, as condições climáticas adversas, anteriormente
descritas, favoreceram a evolução do ataque do bicho mineiro, causando
em muitas culturas intensa queda de folhas, levando a baixa relação
área foliar por botão floral e conseqüente comprometimento
do desenvolvimento e abertura dos botões florais. O baixo enfolhamento
da planta provavelmente apresentará reflexos negativos, de diferentes intensidades,
no pegamento e desenvolvimento dos frutos devido à baixa relação
hídrica planta/botão-fruto, e ao suprimento insuficiente de carboidratos
principalmente na fase posterior à abertura das flores, período
em que ocorre intensa divisão e diferenciação celular. Em
uma mesma planta pode ser observado a presença de botões florais
normais, nos ramos com folhas sadias, enquanto os ramos desfolhados apresentam
alta incidência de flores mal formadas.
No artigo, destaca-se ainda
a amplitude dos efeitos das condições climáticas atípicas
para o cafeeiro, uma vez que em uma mesma cultura observam-se três floradas
de razoável intensidade excessivamente espaçadas (floradas de início
de agosto, início de setembro e início de novembro). Tal fato poderá
depreciar a qualidade de bebida da próxima safra devido à falta
de uniformidade na maturação dos frutos.
O quadro
de anormalidades apresentado na última florada (início de novembro)
evidencia a possibilidade de perdas na produção, em diferentes intensidades,
podendo em algumas culturas atingir percentuais elevados. Apesar das evidências
ainda é prematuro quantificar o porcentual na quebra da produtividade.
Essa avaliação poderá ser feita com consistência apenas
no final da estabilização do processo de frutificação,
o que deverá ocorrer em meados de dezembro, concluem. Zona
da Mata Para
o fisiologista Alemar Braga Rena, da Universidade Federal de Viçosa (UFV),
muitos dos conceitos - quase dogmas - sobre a floração
do cafeeiro, deverão ser revistos frente às mudanças de temperatura
(valores absolutos e variações entre as máximas e mínimas)
que vêem ocorrendo desde 1996. Em depoimento na Comunidade Manejo da Lavoura
Cafeeira, da Rede Cafés do Brasil, no Peabirus, ele ressalta que a maioria
das lavouras na Zona da Mata está em situação crítica
de desfolhamento. Ele ressalta ainda que na maioria das lavouras novas,
com até 5 anos, os botões da parte superior da planta, que não
abriram em flor, estão morrendo (o perianto fica com a cor creme), e se
destacam com o mais leve toque, deixando exposto um ovário verde.
Evidentemente que em biologia nada é linear, tudo depende
do cultivar, estado nutricional orgânico/inorgânico da planta, extremos
do ambiente etc. De qualquer forma, o enfolhamento da planta é fundamental.
Há um ditado que diz que o desastre está perto de uma lavoura que
fica muito branca no dia da antese. As reservas de amido da planta esgotam-se
muito rapidamente após o início da expansão, e a fotossíntese
corrente passa a ser determinante para o fornecimento de energia,
declara. Sul
de Minas O
Sul de Minas Gerais é outro exemplo onde a florada preocupa os produtores.
Segundo Joaquim Goulart de Andrade, gerente do Departamento de Desenvolvimento
Técnico da Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé),
a situação é mais crítica nos municípios de
Alfenas, Campos Gerais, Campo do Meio e Carmo do Rio Claro, onde os cafezais se
encontram abaixo de 900 metros de altitude e algumas áreas registram déficit
hídrico de até 400 mm. Ele comenta que ao ver a florada de longe
o produtor fica animado, mas, nos detalhes, percebe grande quantidade de flores
queimadas ou com outros distúrbios.
A análise criteriosa
destas condições e a previsão da safra deverão ser
divulgadas nos próximos 10 dias, com base em relatório técnico
e experiência de campo da maior cooperativa de café do mundo. Joaquim
Andrade destaca que em regiões de altitude superior a 900 m, mantidas em
bom nível de fertilidade e enfolhamento, os distúrbios com a florada
serão menores, mantendo boa capacidade produtiva. Entretanto, regiões
com deficiência hídrica acentuada terão a próxima safra
comprometida. Mais declara ser ainda cedo para prever o percentual desta quebra.
Depois desta seca, se a safra não for afetada, teremos que rever
as indicações para o uso de irrigação. |