A
broca da bananeira é relatada como o principal inseto praga da cultura,
sendo encontrada em quase todos os países produtores de banana. Sua ocorrência
no Brasil foi assinalada em 1885 no Rio de Janeiro e a partir de então
foi constatada em praticamente todos os estados brasileiros.
Com relação
à planta hospedeira a broca é considerada como praga específica
do gênero Musa, ainda que alguns pesquisadores notificaram sua ocorrência
em outras espécies. Quanto à suscetibilidade da bananeira ao C.
sordidus, não há entre as espécies e variedades de bananeiras
cultivadas, nenhuma que se possa considerar verdadeiramente resistente ao ataque
desta praga, mas há, contudo, diferenças consideráveis quanto
à suscetibilidade ao ataque. No Brasil, foi observado que os cultivares
Maçã e Terra são mais atacados que Prata, Nanica e Nanicão.
O inseto adulto é um besouro que mede cerca de 11 mm de comprimento
por 4 mm de largura e possui coloração preta. Apresenta um "bico"
proeminente, característico da família Curculionidae. Tem hábito
noturno, abrigando-se durante o dia nas touceiras, bainhas das folhas e restos
de cultura. O adulto pode viver de alguns meses até 2 anos.
As
fêmeas, com suas mandíbulas, abrem pequenas cavidades no rizoma ou
na base do pseudocaule, onde colocam seus ovos durante o ano todo. Uma fêmea
coloca, em média, 5 ovos por mês, variando no decorrer do ano em
função da temperatura e alimentação. O número
total de ovos colocados pode atingir 100 em alguns caso e o período de
incubação situa-se entre 5 a 8 dias.
As larvas apresentam
coloração branca, são ápodas e quando completamente
desenvolvidas alcançam 12 mm de comprimento. O período larval varia
de 14 a 48 dias, após os quais as larvas dirigem-se para as extremidades
das galerias próximas da superfície externa do rizoma preparando
câmaras ovaladas, onde se transformam em pupas e permanecem nessa forma
por um período 7 a 10 dias. O ciclo evolutivo oscila de 23 a 70 dias, conforme
as condições climáticas. Prejuízos As
primeiras manifestações de ataque da broca se caracterizam externamente
pelo aspecto da planta, cujas folhas amarelecem, e pelos cachos que se tornam
pequenos. Entretanto, esses sintomas exteriores de ataque não são
específicos, podendo ser causado por outros agentes. Estima-se que, no
Brasil, ocorra uma redução média de 30% na produção,
devido ao seu ataque.
O dano direto é causado pela larva que penetra
e broqueia o rizoma, construindo galerias em todas as direções,
provocando os sintomas acima descritos. As galerias abertas propiciam a entrada
de microrganismos fitopatogênicos, entre os quais se destaca o Fusarium
oxysporum f. cubense, responsável pela doença conhecida como "Mal
do Panamá". É comum em plantações intensamente
atacadas a queda de plantas que já lançaram cachos, tombadas devido
à falta de um sistema radicular vivo suficiente para sustentar o acréscimo
de peso dos mesmos.
Antes da realização de qualquer tipo
de controle, deve ser feito o monitoramento da praga com vistas a se ter conhecimento
da sua população. É através da amostragem que se detecta
a presença da praga e a tendência do crescimento populacional, a
ocorrência de inimigos naturais e da mortalidade provocada por outros fatores
do ambiente. As amostragens periódicas são importantes para a determinação
do momento de controle de uma praga, ou seja, do nível de controle.
Para amostragem de adultos do moleque-da-bananeira são utilizadas iscas
confeccionadas com o pseudocaule da bananeira que já produziu. Existem
dois tipos de iscas mais comuns, conhecidas como "telha" e "queijo".
No primeiro tipo, pedaços de pseudocaules, com aproximadamente 50 cm, são
cortados longitudinalmente, ficando a parte seccionada voltada para o solo, ao
lado das touceiras. A isca do tipo "queijo" consiste de um pedaço
de pseudocaule com altura entre 5 e 10 cm, cortado transversalmente e colocado
sobre a base do pseudocaule que permaneceu no solo e do qual a isca foi retirada.
A isca tipo "queijo" atrai mais insetos, contudo sua disponibilidade
é menor e a distribuição pode ser irregular. Para ambas as
iscas, o pico de atratividade vai até os 15 dias. No período de
excesso de chuva e altas temperaturas a vida útil da isca é menor.
São utilizadas entre 20 a 30 iscas por hectare para monitoramento
da população e cerca de 100 a 150 iscas tipo "telha" para
controle. As avaliações são realizadas quinzenalmente e quando
for encontrada a média de 5 adultos/isca deve ser iniciado o controle da
praga.
Entre os métodos de controle disponíveis encontram-se
o cultural, comportamental (feromônio), químico, e biológico.
No controle cultural, os meios culturais de combate à praga são
baseados na destruição dos restos de cultura onde o besouro se abriga
e alimenta. Durante a colheita os pseudocaules devem ser cortados o mais rente
do solo e suas partes picadas e espalhadas na plantação. A procedência
e o tratamento das mudas devem ser rigorosamente considerados para evitar a entrada
do inseto na plantação.
No controle comportamental (feromônio),
a utilização do feromônio de agregação vem sendo
estudada no Brasil com testes já efetuados em várias regiões
do País. Estudos comportamentais de C. sordidus podem ser úteis
no aperfeiçoamento de sistemas de monitoramento do inseto, programas de
controle massal através de armadilhas e incremento da eficiência
de agentes de controle biológico.
Entre outubro de 1999 e maio
de 2000 o Instituto Biológico avaliou para um atrativo sexual (feromônio
sintético-COSMOLURE®) para monitoramento ou remoção de
insetos do campo. O trabalho foi desenvolvido em um bananal da variedade Nanica,
com 12 anos, localizado na região do Vale do Ribeira. Foram utilizadas
armadilhas do tipo Rampa, confeccionadas com recipientes plásticos (garrafas
de água, de óleo e galões de herbicidas) no interior das
quais foram observadas três condições: colocado somente o
feromônio, isca de bananeira e feromônio e apenas isca de bananeira.
As chamadas iscas são obtidas a partir de bananeiras que já produziram,
cortando-se o pseudocaule. É uma técnica normalmente utilizada pelo
bananicultor para realização do tratamento fitossanitário.
As armadilhas, com os diferentes tratamentos, foram distribuídas ao acaso
na plantação distantes 30 m uma da outra. Semanalmente, os insetos
eram contados e removidos da armadilha. As avaliações foram conduzidas
durante os meses de outubro, novembro e dezembro de 1999 e abril e maio de 2000.
Considerando-se todos os levantamentos foi observado que o feromônio, quando
associado à isca, provocou alta captura de adultos de C. sordidus (424
insetos) contra 300 exemplares capturados nas armadilhas que continham somente
feromônio e apenas 19 insetos naquelas mantidas com iscas. Esses resultados
revelam que o feromônio COSMOLURE® é eficiente na captura de
C. sordidus, principalmente quando associado com iscas atrativas confeccionadas
com partes da planta (pseudocaules). Controle
químico A
utilização do controle químico pode se dar em duas situações,
quais sejam: por ocasião do plantio através do mergulho de mudas
em solução de carbofuran 350 SC, na base de 0,4% de produto comercial,
durante cinco minutos e uma outra situação ocorre na cultura já
instalada quando se pode fazer a aplicação de inseticidas químicos
no tratamento das covas ou aplicação em iscas do tipo "telha"
e "queijo". Uma outra forma de aplicação é com
a "lurdinha modificada" e deve ser feita após a colheita do cacho,
consistindo em se abrir um orifício com aquele dispositivo a uma distância
de 30 cm do solo e numa inclinação de 45º no pseudocaule da
planta matriz que foi cortado a uma altura de 1 metro do solo.
Os inseticidas
registrados para o controle da broca-da-bananeira são apresentados na Tabela
1. O uso alternado de diferentes princípios ativos é importante
para evitar casos de resistência da praga aos inseticidas. Controle
biológico O
uso do fungo Beauveria bassiana têm-se mostrado viável no controle
da broca, reduzindo a população do inseto abaixo do nível
de controle (5 insetos/isca) conforme mostram pesquisas desenvolvidas pelo Instituto
Biológico (IB) no Vale do Ribeira, principal região produtora de
bananas do Estado de São Paulo.
Uma das etapas fundamentais para
o sucesso desse programa de controle microbiano é a seleção
dos isolados mais virulentos do fungo, geralmente realizada em condições
de laboratório e depois validade em campo. Essas observações
conduziram ao estudo da virulência de diferentes isolados de B. bassiana,
entre os quais a cêpa CB-66, originária da broca do café,
Hypothenemus hampei, e que se mostrou a mais efetiva no controle de C. sordidus.
Nos testes de campo, o isolado CB-66 foi preparado na forma de pasta ,distribuída
em iscas de bananeiras do tipo "telha", ficando Em condições
de laboratório foi observado que óleo mineral (EC ou CE) a 3 e 5%,
adicionado à B. bassiana (CB-66) na forma de pasta, reduziu a população
de C. sordidus entre 77,5% (EC) e 560 (CE), sendo que o fungo isoladamente controlou
37,5%. A compatibilidade da associação patógeno-óleo
também foi avaliada. Nos testes houve redução na capacidade
de germinação dos esporos, contudo a virulência foi incrementada.
Foram conduzidos testes de campo na Fazenda Bananal, situada no município
de Miracatu, SP, com o objetivo de testar a mistura (fungo+óleo). As épocas
de avaliação foram determinadas pelo nível populacional do
inseto-alvo. Assim, quando se registrava uma média igual ou superior a
5 adultos por isca, fazia-se a aplicação do patógeno. A introdução
do bioinseticida reduziu as infestações da coleobroca para níveis
aceitáveis, sendo, portanto possível o estabelecimento de um programa
de manejo de C. sordidus com o fungo B. bassiana.
O fungo também
pode ser aplicado na forma natural, como foi cultivado sobre o arroz sem passar
por processos de industrialização, em iscas tipo-queijo. A isca
do tipo "queijo" consiste de um pedaço de pseudocaule com altura
entre 5 e 10 cm, cortado transversalmente e colocado sobre a base do pseudocaule
que permaneceu no solo e do qual a isca foi retirada.
É fundamental
observar que o controle biológico é um processo lento, ao contrário
do controle químico, sendo que a duração do ciclo da doença
é muito dependente das condições ambientais, principalmente
a germinação, penetração e reprodução
do fungo, fases que são muito influenciadas pela temperatura e umidade.
Dependem também das condições nutricionais e suscetibilidade
do hospedeiro. Em razão disso o tempo para ocorrer a morte do inseto pode
levar de 6 a 12 dias. O inseto atacado pelo fungo B. bassiana apresenta o corpo
esbranquiçado ou levemente amarelado, conseqüência da presença
de estruturas vegetativas e/ou reprodutivas do fungo. No período em que
está se desenvolvendo a doença o inseto tem seu comportamento alterado,
tornando-se mais lento e presa fácil para predadores e parasitos. Assim,
em muitos casos a população tende a diminuir sem observarmos aparentemente
grandes epizootias.
A banana é a fruta mais importante e o quarto
alimento vegetal mais consumido no mundo, superada apenas pelo arroz, trigo e
milho. O Brasil ocupa o segundo lugar na produção mundial de banana
e é o maior consumidor per capita com 29 Kg/hab/ano, sendo da Índia
a maior colheita mundial mas, dada a dimensão da sua população
tem um consumo per capita de apenas 12 Kg/hab/ano. |