Fomos à Austrália e escolhemos basicamente 2 touros. Um mocho
e um raspado, para que nós pudéssemos trazer um material genético
que nós achamos bastante interessante nos padrões do que está
se buscando hoje em dia, em termos de frame, de altura dos animais, distribuição
das partes nobres, uma homogeneidade muito grande dos seus filhos uma preponderância
muito intensa da cobertura dos filhos como um todo e animais altamente qualificados
dentro da genética australiana, explica. Roberto conta que o sêmen
da Austrália já chegou e os embriões da África do
Sul estão para chegar ao Brasil e explica o porquê da importação.
Nossa genética é muito boa. Temos animais altamente qualificados,
de uma conformação muito adequada, mas nós verificamos que
na Austrália e na África do Sul, a pressão de seleção
é maior. Eles, por estarem em regiões até certo ponto desérticas,
com índices pluviométricos muito baixos, observamos que a pressão
por seleção deles é muito forte. E eles conseguiram ultrapassar
essas dificuldades com animais extremamente selecionados, ressalta Roberto,
que vê com otimismo o choque de sangue e o futuro da raça. Nós
queremos colocar em nosso plantel o que, sem duvida, irá proporcionar uma
agilidade em termos de acabamento de animais; essa precocidade, rusticidade e
acabamento de carcaça que eles gozam lá. Com certeza nós
vamos acrescentar isso aos nossos plantéis. Eu sou extremamente confiante
de que o Santa Gertrudis é uma raça que voltará a preponderar
no nosso rebanho.
O trabalho de sucesso de Antônio Roberto
com o Santa Gertrudis é realizado na Fazenda União do Brasil, no
município de Buri. A propriedade trabalha com um sistema de semi confinamento,
com os animais sendo terminados a uma média de 550 quilos de peso vivo,
ou 250 quilos de carcaça. As novilhas trabalham com duas inseminações
artificiais e um repasse com touro. A meta, segundo Ricardo José Alves
Rocha, gerente geral da fazenda é, até 2010 estar com 3.000 cabeças
sendo 2.000 em confinamento. Hoje nós confinamos por volta de 300
animais durante 90 dias. Os animais entram no confinamento com 330 quilos e saem
com peso de abate de 530 a 550 quilos, ganhando de 1,6 a 1,8 quilos por dia,
conta o gerente geral.
Os animais da Fazenda União do Brasil,
ainda segundo Rocha, têm rendido no frigorífico uma média
de 53 a 56 por cento do peso vivo para o peso morto. O rendimento e a qualidade
da carcaça dos animais são tão valorizados, que a fazenda
conseguiu fechar um acordo com uma grande rede de restaurantes norte-americana
especializada em carne bovina. Temos um lote que faz parte do projeto Novilho
Supreme para um restaurante de alto nível. O restaurante exige que a raça
tenha pelo menos meio sangue britânico, o que o Santa Gertrudis atende plenamente.
Tem que ter peso vivo de mais de 500 quilos, peso de carcaça de 260 quilos
e idade média entre 16 e 22 meses. Eles também exigem um acabamento
de carcaça de 6 a 12 milímetros de espessura de gordura na linha
de lombo, e o Santa Gertrudis possui todas essas características ,
explica Rocha.
Rocha é engenheiro agrônomo e auxiliou na
consolidação do projeto de integração de lavoura com
a pecuária que a propriedade possui. Ali, os animais recebem uma ração
altamente energética de pelo menos 55 por cento de milho ou sorgo em sua
composição final. A propriedade, além destas duas culturas,
planta também soja, cevada e trigo. A produção vai basicamente
para a nutrição dos animais e a fazenda conta ainda com um silo
de armazenamento e um pivô de irrigação.
Mas, como
é sabido, a nutrição por si só não garante
um rebanho de qualidade. Por isso, a genética na propriedade é uma
questão levada a sério, e a reprodução dos animais
é feita de maneira criteriosa. Hoje nós trabalhamos com Inseminação
Artificial por Tempo Fixo, e este ano fizemos Fertilização in Vitro.
Temos aí também 20 produtos para nascer até o fim do ano
de Transferência de Embrião, explica Rocha.
O trabalho
de genética da propriedade é tão bom, que ganhou não
só reconhecimento de outros produtores, como também viu vários
de seus touros vencedores de diversos concursos. Os campeões da fazenda
são Neruda, Campeão da Raça em 2006 e 2007, Thor, Grande
Campeão em Londrina e Rio Preto em 2007 e Monsueto, Grande Campeão
em Esteio, em 2005. Este último com progênie espalhada por
todo o Brasil tanto de cruzamentos como de gado puro também; e considerada
excepcional, afirma Alexandre Zadra, gerente de produto/corte taurino da
Lagoa da Serra, central que possui sêmen de Thor e Monsueto a venda.
O projeto pecuário do qual participa a Fazenda Angélica, hoje pertencente
a Ricardo Steinbruck, presidente do grupo Vicunha, é peculiar. Lá
é criado gado das raças Santa Gertrudis, Brahman e Wagyu. O grupo
Vicunha também possui uma propriedade de pecuária extensiva no Mato
Grosso do Sul, onde é criado gado de corte. A Fazenda Angélica serve
como um banco de melhoramento genético para a propriedade no Mato Grosso
do Sul. Nós pegamos os touros de raça daqui e mandamos para
a fazenda no Mato Grosso do Sul. É um grupo de tamanho grande, basicamente
concentrado no Centro Oeste, onde nós vendemos a produção
do ciclo completo para os frigoríficos, com uma fazenda de gado de raça
para melhoramento aqui em São Paulo, explica Steinbruck.
A raça Santa Gertrudis é conhecida pela rusticidade, precocidade,
boa habilidade materna e fertilidade. E são essas as características
prezadas nos cruzamentos da Fazenda Angélica. Nós trabalhamos
com seleção do Santa Gertrudis, então buscamos animais com
caracterização racial aliada à fertilidade, precocidade de
carcaça e sexual, tanto dos machos quanto das fêmeas; animais modernos
que estejam dentro dos parâmetros da raça e da pecuária de
corte de hoje, conta Odílio Marin Filho, gerente geral da Fazenda
Angélica. Segundo Odílio, a propriedade ultimamente tem se destacado
muito quanto a qualidade dos animais. Nós hoje conseguimos chegar
em um animal de frame médio, com carcaça bem terminada, comprida,
aprumos bons, cobertura muscular muito boa, precocidade tanto dos machos quanto
das fêmeas, e isso tudo, sem perder a caracterização racial,
ressalta o gerente geral.
Os touros dessa raça são um capítulo
a parte, como conta Odílio: Lá no Mato Grosso do Sul, o pessoal
está muito satisfeito com os touros principalmente, porque não lá
não usamos inseminação artificial. É touro cobrindo
a campo. Touro trabalhando perfeitamente sem problema nenhum. Os touros enfrentam
muito bem o calor, caminham e trabalham. Basta ir lá [na propriedade no
Mato Grosso do Sul] e ver a bezerrada nascendo todos os dias. É uma das
coisas que a raça prega: É a funcionalidade dos touros a campo e
isso a gente atesta, afirma Odílio.
Funcionalidade poderia
ser o sobrenome do gado Santa Gertrudis, já que a raça é
adaptável às condições de clima e pasto no Brasil,
mesmo tendo sangue taurino; e produz uma carne de alta qualidade. O produtor
tem que ter um animal que vai andar, que vai correr atrás de vaca, que
vai proteger bezerros, que vai pastar morro acima, morro abaixo, então
eu acho que é mais ou menos isso que a gente tenta se destacar nos nossos
animais: O mais funcional possível, enfatiza Marin Filho.
O gado Santa Gertrudis é considerado de tão boa qualidade, que até
quem entende de genética e vive dela rasga elogios. É uma
raça que sempre congelou muito bem as doses. São animais diferenciados,
de progênie excelente e que agradam muito por causa de suas carcaças,
qualidade de carne e marmoreio, afirma Luiz Roberto Marques, gerente comercial
da Central Bela Vista. Marques acredita que o Santa Gertrudis é ideal para
quem quer trabalhar com tricross, cruzamento industrial e para quem vai trabalhar
em pequenas propriedades. A venda de touros ajuda muito o produtor que quiser
trabalhar com a raça, porque facilita o manejo a campo. É um animal
rústico, que trabalha muito bem a pasto, explica Marques. A Bela
Vista produz sêmem de 5 touros da raça Santa Gertrudis. São
eles Beethoven, Herói e Exemplo, de Davi Fernandes, Checkmate, da Caeté
Agropecuária Ltda. e Douradilho, de Reinaldo Pascoal. Segundo Marques,
o mercado de sêmen está aquecido. A gente sente pela produção
e atualmente tem um crescimento alto [da coleta de sêmen]. Raças
Taurinas e sintéticas estão em crescimento para cruzamento industrial.
Sentimos a volta do cruzamento industrial em cima da vacada Nelore, ressalta
o gerente comercial da Bela Vista.
Alexandre Zadra acredita que o cruzamento
de Santa Gertrudis na região Centro Norte do País deve ser realizado
sobre uma vaca três quartos zebu. Nessa matriz, será gerado
um animal praticamente meio sangue, onde é o grau máximo que se
adota para um bezerro que vai ser desmamado, recriado e engordado a pasto no centro
norte Já no Centro Sul do país, a estratégia da Lagoa
da Serra preconiza utilizar sêmen sobre a matriz meio sangue. Para
o produtor que está de São Paulo para baixo, utilize sobre a vaca
meio sangue, que serão gerados bezerros desmamados acima de 250 quilos
e bois com até 18 arrobas, muito bem terminados, enfatiza o gerente
comercial da central. |