Este
é um excelente exemplo de como as empresas podem criar sinergias em pesquisa,
desenvolvimento e comercialização que resultam em soluções
feitas sob medida para os agricultores. Também é uma demonstração
clara de que o Brasil é um centro de competência em biotecnologia
e o berço de inovação em pesquisa e desenvolvimento no campo
de organismos geneticamente modificados, afirma Walter Dissinger, Vice-presidente
de Produtos para Agricultura da BASF para a América Latina. As empresas
atualmente estão trabalhando para registrar esta nova tecnologia junto
à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio),
atendendo às exigências da Lei de Biossegurança 11.105/05.
O
Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja e os derivados desta
planta estão entre os principais itens da pauta de exportação
nacional. Daí vem a importância e, conseqüentemente, a preocupação
estratégica do Governo de se conseguir cada vez mais produtividade nas
lavouras. Com a inovação apresentada pela Embrapa e pela BASF, os
sojicultores brasileiros terão uma nova opção no manejo de
plantas daninhas. É uma soja que tolera um grupo diferente de herbicidas.
O objetivo é fazer o controle de plantas daninhas, facilitando a vida do
agricultor, explica Carlos Alberto Arrabal Aires, pesquisador da Embrapa
Soja. Segundo o cientista, essa nova variedade facilitará o manejo do produtor,
pois ele terá mais uma alternativa de uso de herbicida. O sojicultor
vai poder usar outra molécula para controlar as plantas daninhas, o que
é muito importante, pois é sabido que o uso da mesma molécula
ano após ano acaba selecionando algumas plantas daninhas resistentes, o
que traz problemas para a lavoura.
O
desenvolvimento da nova variedade de soja seguiu um acordo em que ficaram definidas
as participações de cada envolvido no processo. A BASF foi a responsável
pelo fornecimento do gene ahas (pronuncia-se arras), que os cientistas descobriram
ser o responsável pela tolerância ao herbicida. Este é
o primeiro projeto da BASF envolvendo transgênicos no mundo, ressalta
Carla Steling, gerente do departamento do Laboratório Global de Estudos
Ambientais e Segurança Alimentar de Produtos para Agricultura Já
os pesquisadores da Embrapa foram os encarregados pelo processo de inserção
desse gene nas plantas de soja. O gene em questão foi retirado de uma planta
chamada Arabidopsis Thalyana, muito estudada pelos cientistas e que possui o seu
genoma seqüenciado. Técnicos aplicaram herbicidas em diversas variedades
dessa planta. As que sobreviveram tiveram os genes ahas isolados por técnicos
da Basf e disponibilizados pela Embrapa para serem acoplados nas plantas de soja.
Da associação entre o gene e o processo desenvolvido pela Embrapa,
foram obtidas plantas geneticamente modificadas tolerantes a herbicidas da classe
das imidazolinonas.
A
partir deste processo, foi realizado um trabalho de seleção das
melhores plantas. Foram selecionadas as plantas de soja que só tinham
uma cópia desse gene se expressando de forma adequada para tolerar os herbicidas
e que realmente possam vir a facilitar a vida do agricultor, ressalta Carlos
Arrabal. O pesquisador explica também que a pesquisa está atualmente
em fase de desregulamentação, ou seja, estão sendo feitos
estudos de bio segurança para responder se essa soja geneticamente modificada
faz mal para a alimentação humana ou animal, se prejudica o meio
ambiente ou se o agricultor não vai ter problemas na hora de usar este
material no campo. Estão sendo feitos provas de 2 anos em 7 localidades
diferentes no Brasil. Estes dados serão reunidos em um relatório
que será encaminhado à CTNBio, o órgão governamental
ligado às questões de bio segurança. Isso vai ocorrer
em meados de 2008 e a CTNBio terá material para avaliar se essa planta
é perigosa, se tem algum problema de bio segurança, e vai dar o
seu parecer. Se o parecer for favorável, a variedade estará liberada
comercialmente e nós estaremos aptos a fazer a multiplicação
dessa semente e das sementes das várias variedades, explica Arrabal.
É necessário um número considerável de variedades
de plantas, porque uma só não atende a todas as condições
de clima e solo no Brasil. Precisamos ter um grupo de variedades de soja
com a adaptação para regiões desde o Rio Grande do Sul até
o Maranhão, para atender todo o mercado e a demanda que exige que essa
semente realmente esteja disponível na hora em que for liberada,
enfatiza o pesquisador.
O
produtor quando for adquirir essa nova variedade, deve tomar certo cuidado quando
for aplicar o herbicida, já que ele é um pouco mais complexo do
que o glifosato em ralação a aplicação. Comparado
ao glifosato, os herbicidas da classe das imidazolinonas são mais exigentes.
Com o uso do glifosato, o produtor pode errar na dose, pode aplicar com diferentes
tamanhos de gotas que não há tantos problemas no seu efeito. Já
essa tecnologia [das imidazolinonas] exige mais cuidado. Ela não tem tanta
flexibilidade como o glifosato, quanto a fase em que será feito o controle
da erva daninha, explica o Arrabal. Outro problema que o produtor pode encontrar
aos usar esta variedade de soja, ainda segundo o pesquisador, seria a resistência
que algumas espécies de plantas daninhas poderiam adquirir às imidazolinonas.
É o mesmo problema que o glifosato também tem com outras plantas
daninhas. Não é exatamente uma desvantagem, mas eu acho que o glifosato,
junto com os herbicidas a base de imidazolinonas vão ser complementares.
Um vai controlar bem o que o outro não controla. E vai facilitar a vida
do agricultor, além de fazer com que a cada ano, ele varie o tipo de molécula
que será utilizada em sua lavoura, evitando assim, s seleção
de novas plantas daninhas que poderiam trazer problemas futuros à sua produção,
explica o pesquisador.
Uma
grande vantagem no uso desta soja é a menor quantidade de herbicida necessária
para livrá-la das plantas daninhas, já que as imidazolinonas têm
efeito residual. Ele serve para controlar tanto as plantas que já brotaram
como também as plantas que ainda não germinaram. Dá
tempo para a soja crescer, fechar, e o produtor não terá problemas
com as novas plantas daninhas ali. Este produto, em função da menor
quantidade que precisa ser liberado no ambiente, já rendeu um prêmio
Nobel aos seus inventores por essas duas razões: Menos produto no ambiente
e é também menos perigoso para o aplicador, conta Arrabal.
Esse grupo de herbicidas é menos tóxico do que os produtos a base
de glifosato.
Outra
vantagem no uso desta nova variedade é que, adquirindo suas sementes, o
produtor acaba ajudando a pesquisa cientifica agrícola brasileira, já
que os royalties serão divididos entre a BASF e a Embrapa, que reverterá
a parte que lhe cabe para o desenvolvimento de novas pesquisas na área
de biotecnologia. O contrato de cooperação técnica formaliza
a definição e o reconhecimento dos direitos da Embrapa e da BASF
em relação a essa tecnologia, que possui patente no Brasil. concedida
pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). As duas empresas são
co-detentoras da tecnologia. O Brasil poderá, pela primeira vez,
registrar uma planta geneticamente modificada produzida localmente, usando tecnologias
patenteadas pelas duas empresas. O registro dessa nova tecnologia acontecerá
simultaneamente em mais de 20 países produtores e importadores de soja
e seus derivados, ressalta Luiz Carlos Louzano, gerente de biotecnologia
da BASF e um dos pesquisadores que encabeçam este projeto.
Esse
será o primeiro produto geneticamente modificado a ser disponibilizado
no mercado brasileiro obtido pelo pacote tecnológico de propriedade
da BASF e da Embrapa. A expectativa é que as novas variedades de soja,
decorrentes do trabalho de parceria formalizados no mês de agosto possam
estar disponíveis para o produtor de sementes em 2010 ou 2011. Para o agricultor,
a partir de 2012. A biotecnologia é chave para o desenvolvimento
futuro dos negócios, e estamos empenhados em direcionar a pesquisa tecnológica
de forma ética e responsável, proporcionando o desenvolvimento da
cadeia produtiva, acredita o gerente de biotecnologia da BASF. Carlos Arrabal,
da Embrapa, em uma frase explica o intuito desta pesquisa: O nosso objetivo
é facilitar a vida do agricultor, conclui. |