Um
dos problemas decorrentes da seca e que acarretam na deterioração
da pastagem é o super pastejamento. Sobretudo em propriedades onde a pecuária
é realizada de maneira intensiva e não possui estoque de forragem,
os animais se vêem obrigados a matar a fome se alimentando do pasto que
está brotando. Isso afeta na perenidade do pasto e tem conseqüências
no desempenho dos animais, explica Patrícia Menezes Santos, Engenheira
Agrônoma e pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste. Patrícia
é uma das maiores especialistas em Ciência Animal e Pastagem no Brasil.
Segundo a pesquisadora, para se evitar problemas de super pastejamento
e, consequentemente, perda de peso dos animais e outros problemas, é necessário
fazer um planejamento. Deve-se ter uma estimativa do rebanho ao longo do ano.
O pecuarista deve ter uma noção da capacidade de produção
de forragem dos pastos. Com isso, consegue-se definir se é necessário
fazer confinamento ou plantar cana ou estocar silagem, por exemplo, explica
Patrícia. Segundo ela, é possível combinar uma série
de práticas para reverter um problema crítico que não pode
ser evitado, mas pode ser contornado. A seca sempre vai existir. O que se
deve fazer é conhecer esse clima e saber durante quanto tempo dura a estiagem.
Na época em que tem menos água disponível e temperatura
mais baixa, é sabido que o pasto vai crescer menos, e é necessário
ter alguma alternativa para alimentar o gado nessa época, enfatiza
a pesquisadora. As alternativas, segundo Patrícia pode ser, por exemplo,
o deferimento do uso do pasto, que consiste em fechar um pasto no final do período
das águas e deixar acumular capim para que este seja consumido pelos animais
no período mais seco.
Outra alternativa que o criador pode ter,
é partir para a produção de alguma forragem conservada. Pode-se
fazer silagem, feno ou pode-se plantar cana-de-açúcar. Em
alguns casos, quando chega nessa época do ano, o produtor não tem
mais alimento na propriedade e ele se vê obrigado a comprar alimento de
fora, encarecendo os custos e a produção. Se ele fizer um planejamento
prévio, ele evita esse problema e evita prejudicar o desempenho dos animais,
pondera a pesquisadora. Porém, esse planejamento deve ser feito com um
ano de antecedência. É aconselhável começar agora,
nos meses de outubro ou novembro para no ano que vem, quando chegar o período
de seca, o produtor não se encontrar na situação em que ele
se encontra hoje.
Porém para que esse planejamento ocorra de forma
correta, é necessário o produtor conhecer alguns índices
zootécnicos de sua propriedade. É importante saber o número
do rebanho que ele tem atualmente, deve-se saber qual é o ganho de peso
dos animais em cada categoria, deve-se saber quando pretende vender; e quando
e quantos bois pretende comprar. Se a fazenda trabalhar com cria, é necessário
saber qual é a taxa de natalidade no rebanho, qual a mortalidade, qual
é a taxa de desmama. Com esses números, o produtor consegue
montar uma planilha e, fazendo a evolução mês a mês
do número de animais, e se ele tiver o peso, ele consegue fazer o cálculo
unidades/animais, o que é mais interessante, explica a pesquisadora.
Unidade/animal é uma forma de padronizar uma medida para os animais. No
Brasil, equivale a 450 quilos. Cada unidade/animal come em média de nove
a dez quilos de matéria seca por dia. Com esses dados, o pecuarista sabe
quantos animais ele tem de alimentar mês a mês e também consegue
ver se o que ele produz de forragem na propriedade é o suficiente. Caso
não seja suficiente, as alternativas são reduzir seu rebanho, utilizar
o deferimento de pastagem, plantar cana-de-açúcar, fazer uma silagem
ou produzir feno. Segundo Patrícia, algumas alternativas precisam ser estudadas
do ponto de vista econômico para identificar qual é a mais adequada
para cada propriedade.
Vários fatores interferem na degradação
do pasto. Problemas do solo e capim mal escolhido são alguns deles. Não
se deve, por exemplo, plantar Baquearia em uma área alagadiça ou,
também, não é aconselhável plantar Branquearia Decumbens
em áreas suscetíveis a ataques de cigarrinhas. O super pastejamento
é outro problema. O produtor atravessa a seca sem estoque adequado de forragem.
Quando começa a estação das águas seguinte, a forragem
é pouca. O capim até tem um certo estímulo para crescer.
Quando cresce um pouco, o boi come a folhinha que está brotando. O capim
usa as reservas dele para rebrotar de novo, pois tem incentivo do ambiente para
rebrotar novamente. O animal consome de novo. Com isso, a reserva orgânica
que existe no capim vai baixando e o capim fica cada vez mais fraco, vai perdendo
as condições de rebrotar, demora cada vez mais para rebrotar. Quando
o capim demora para rebrotar, aparece a chance das plantas daninhas surgirem,
desencadeando, assim, uma série de processos que levam a degradação
total do pasto. Segundo Patrícia, o planejamento da produção
de forragem é uma das práticas que devem ser adotadas para resolver
o problema do super pastejamento. Se o produtor tem um planejamento bem
feito, ele não vai ter a necessidade de pastejar excessivamente o pasto
quando começar o período das águas, porque não vai
estar sem comida na fazenda. Agora, se houver planejamento, não será
necessário realizar pastejo excessivo no início das águas,
conclui a pesquisadora. Como
obter uma silagem de qualidade O
fundamental para se ter uma boa silagem, é ter uma boa fermentação.
O primeiro passo para isso, segundo Patrícia, é garantir que o material
colocado no silo esteja sendo bem compactado. É preciso tirar bem
o ar de dentro da massa. O ar produz uma fermentação não
desejável. Formam-se fungos que contém toxinas e podem contaminar
o rebanho, explica. Uma maneira boa de compactar a massa é passar
com o trator por cima dela.
O segundo passo é encher o silo e
fechá-lo o mais rápido possível. Se o enchimento for muito
demorado, as chances de entrar ar aumentam. Uma vez fechado, deve-se ter cuidados
para retirar a silagem. A retirada deve ser sempre uniforme, em grandes faixas,
pois se a silagem for retirada em pequenas faixas e de maneira disforme, o ar
entra com mais facilidade na massa.
Outro fator importante é o
ponto em que o milho ou o sorgo devem estar ao serem ensilados. Segundo Patrícia,
deve-se ensilar estes materiais com cerca de 30% matéria seca, pois quando
o material está com essa porcentagem, consegue-se ter uma fermentação
mais adequada. Se colocar o material muito seco, tem-se dificuldade para compactá-lo
e se colocar muito molhado, não se obtém a fermentação
adequada. Uma maneira simples de observar a umidade correta, é pegar
um pouco da silagem com a mão e apertá-la. Ao fazer isso, o ideal
é que não escorra água e que o material fique compactado,
sem esfarelar, explica a pesquisadora.
O milho deve ser colhido
no ponto farináceo duro. É comum no Brasil, colher o milho no ponto
de pamonha. Patrícia explica que o ideal é colher o cereal um pouco
mais para frente. Não se deve fazer silagem de cana-de-açúcar,
pois esta, ao fermentar, forma álcool. A idéia da silagem é
colher material que é produzido no período das águas, conservá-lo
e fornecê-lo ao gado na seca. No caso da cana, a colheita é feita
no período de seca. Então, pode-se simplesmente colhê-la e
fornecê-la diretamente aos animais. Para rebanhos pequenos ou médios,
a cana é uma excelente alternativa. Não há necessidade de
ensilar porque ela estará no ponto para ser colhida na época em
que há mais necessidade. |