O
Boophilus microplus é conhecido como carrapato dos bovinos, mas pode ser
encontrado parasitando outros animais em situações esporádicas
ou acidentais. No Brasil, este carrapato encontra-se distribuído em quase
todos os estados, com exceção em algumas áreas do Nordeste
e em algumas regiões altas do Rio Grande do Sul devido às baixas
umidades e temperatura ambiente.
É um parasita de grande importância
econômica, provocando perdas diretas como queda na produção
de carne e leite; transmissão de agentes causais de doenças, entre
os quais os hemoparasitas responsáveis pela Tristeza Parasitária
Bovina - TPB (Anaplasma e Babesias), e redução na qualidade do couro,
além de perdas indiretas relacionadas ao custo para seu combate. Os prejuízos
causados pelo carrapato no Brasil chegam a 2 bilhões de dólares
anuais. | |
O
controle deste carrapato está centralizado na aplicação de
produtos químicos. No entanto, a eficácia desse tratamento deve
ser criteriosamente analisada. Fatores como produto mais indicado, dosagem correta,
modo e melhor momento para aplicação, risco de intoxicação
ao homem e aos animais, além da possibilidade de resíduos na carne
e leite e contaminação do meio ambiente devem ser analisados.
O controle do carrapato fora do animal pode ser realizado através do cultivo
de pastagens que dificultam a sobrevivência das larvas, implantação
de lavoura que apesar de ser utilizada para recuperação ou renovação
da pastagem, auxilia indiretamente no controle do carrapato, e utilização
da rotação de pastagens. O emprego do controle biológico
ainda parece ser de pouca importância prática. Existem também
métodos menos utilizados como a seleção de bovinos resistentes
e o uso de vacinas, mas que também ainda não se apresentam totalmente
eficazes.
O principal método para o controle do carrapato quando
está no animal é através do uso de carrapaticidas. A aplicação
realizada de maneira correta alcança os objetivos esperados e retarda o
aparecimento da resistência aos carrapaticidas. O carrapaticida deve ser
usado na dosagem indicada na bula e na quantidade correta para cada animal. Os
métodos de aplicação variam de acordo com a formulação
do produto.
Os carrapaticidas estão divididos em grupos químicos
ou famílias. Cada grupo ou família tem uma forma de matar o carrapato.
Também são divididos de acordo com a forma de ação:
de contato ou sistêmica.
Para a escolha do carrapaticida é
importante ter conhecimento das características dos diferentes grupos químicos
para se evitar que a mudança do carrapaticida esteja baseada apenas no
nome comercial, não levando em conta a troca do grupo químico.
Os carrapatos podem desenvolver resistência aos carrapaticidas e não
morrerem mesmo com a utilização da dosagem recomendada pelo fabricante.
A resistência se caracteriza por ser um processo de seleção
genética, em que alguns carrapatos sobrevivem após a exposição
continuada aos carrapaticidas e uma vez instalada, é irreversível.
A população de carrapatos torna-se resistente à medida que,
com o uso continuado de determinado carrapaticida, os indivíduos mais sensíveis
são eliminados e os resistentes sobrevivem. Estes sobreviventes conseguem
se reproduzir e seus descendentes nascem resistentes, chegando a um ponto em que
toda a população se torna resistente.
O desenvolvimento
da resistência pelos carrapatos é inevitável, mas é
possível retardá-la ao máximo através da utilização
do carrapaticida da forma mais correta possível e no menor número
de vezes. O uso incorreto do carrapaticida acelera o desenvolvimento de resistência.
Alguns fatores como a escolha incorreta do carrapaticida, grau e rapidez da infestação,
contaminação da pastagem e presença de animais subnutridos
ou convalescentes, contribuem para falhas no tratamento e podem ser confundidos
com resistência.
Um fator essencial para que se obtenha sucesso
é a realização de testes de resistência dos carrapatos
aos carrapaticidas. Estes testes são necessários para identificar
e avaliar a resistência, auxiliando na escolha do carrapaticida. Eles indicarão
quais são os princípios ativos eficazes no controle do carrapato
na propriedade.
O rodízio dos carrapaticidas se refere à
troca de família ou grupo químico, e não apenas de produto,
ou princípio ativo, já que a resistência está relacionada
com o modo de atuação do carrapaticida, que é semelhante
para todos os produtos da mesma família ou grupo químico. Ou seja,
não adianta realizar a troca com base nos nomes comerciais. É necessário
conhecer os grupos químicos e princípios ativos presentes no mercado.
A escolha do carrapaticida e o momento ideal para troca podem ser monitorados
pelos testes de resistência. Existem dois tipos de testes que auxiliam no
controle: o teste de sensibilidade, que é realizado com fêmeas adultas
(imersão de teleóginas) e o teste de resistência utilizando-se
larvas. Para melhor monitoramento, a indicação é de que se
realize o teste de sensibilidade com fêmeas adultas num intervalo de três
meses. Este teste vai mostrar o perfil de sensibilidade de uma determinada população
de carrapatos, auxiliando na escolha do carrapaticida que será mais eficiente
para aquela determinada população. |