Visitando
a sua fazenda, localizada no município de São Roque, interior de
São Paulo, fica evidente que a criação de coelhos realmente
domina seu numeroso e diversificado plantel. Temos de 7 a 10 mil coelhos
na propriedade, dependendo da época do ano, explica o criador, que
explora comercialmente a cunicultura desde 1962. Mas crio animais desde
que me conheço por gente, afirma Ludovico, que por conta do câmbio,
quebrou em 1992. Nossa produção era toda voltada para o mercado
externo. Por causa da desvalorização do dólar tivemos que
nos readaptar e procurar explorar mercados aqui dentro do Brasil, explica.
Essa lição passada o ajudou a se fortalecer e hoje, o dólar
muito baixo não afeta em nada a sua produção. É
preciso inovação e adaptação, afirma Ludovico.
Embora haja um grande número de raças e variedades de coelhos,
aconselha-se, exceto em casos excepcionais, que o criador se dedique em uma, duas
ou no máximo três raças, pois os problemas e os custos de
um modo geral aumentam com o número de raças criadas. Como o que
interessa em uma criação são os lucros, o criador não
deve ficar fazendo experiências, o que pode custar muito caro. O melhor
e mais barato é aproveitar a experiência dos outros. Assim sendo,
deve-se escolher raças aperfeiçoadas e já aprovadas. No mundo
existem mais de 100 raças. Aqui no Brasil os criadores se dedicaram a criar
em torno de 18 raças. Acredita-se que o coelho doméstico tenha surgido
na península ibérica. Este por sua vez provém do coelho selvagem,
originário da Ásia, que seguiu as migrações humanas
até a Europa, instalando-se em regiões nórdicas. A última
era glacial, a cerca de 80 mil anos atrás provocou a fuga para lugares
mais quentes, como a península ibérica (Portugal e Espanha) e o
norte da África. Outra versão conta que os coelhos domésticos
vieram do norte da África e que foram os povos provindos dessa região
que introduziram o coelho na Europa, através da Espanha. Quando os fenícios
fundaram Cadiz, no sul da Espanha, relataram nos seus escritos que eles assediavam
a cidade numa terra por eles chamada de Hispania, palavra de raiz hebraica que
parece significar país dos coelhos. O coelho selvagem, modificado
pela clausura, com uma alimentação equilibrada e abundante, e uma
seleção racional, era criado em países situados até
66 graus de latitude. Da Espanha passou para a Itália na época dos
romanos, no século III antes de Cristo, segundo o testemunho do escritor
Varron, e também na França. Em definitivo podemos dizer que a Espanha
foi a porta de entrada do coelho na Europa. Há somente 270 anos existiam
de 5 a 6 raças de coelhos domésticos, ao passo que hoje podemos
contar com umas 50. Entretanto, a verdadeira seleção de raças
domésticas teve início na metade do século XVII e foi no
fim desse período que apareceram várias raças provindas,
seja da seleção praticada nos coelhos comuns, seja pela aparição
de mutações (Castor-Rex) ou seja pelos cruzamentos.
A história
do coelho nos revela uma real e extraordinária evolução desse
roedor, inicialmente selvagem, mas transformado, graças ao tempo e à
mão do homem, a ponto de hoje ser um animal dócil e apto à
exploração industrial.
Mas, para que a criação
de coelhos dê frutos, são necessários cuidados essenciais,
como por exemplo, localizá-la perto de um centro de consumo e, principalmente,
desenvolver instalações adequadas para os coelhos. Os galpões
são parte importantíssima da criação e têm de
ser limpos e higienizados constantemente, além de ter de proteger os animais
da friagem, explica Ludovico. Os coelhos devem ser criados em gaiolas individuais,
com bebedouros automáticos (de preferência) e cumbucos para ração
e devem ficar instalados em galpões. Essas instalações devem
ser feitas de gaiolas de arame galvanizado, facilitando um bom manejo, higiene
e durabilidade e proporcionando agilidade no trabalho. As gaiolas devem ser suspensas
em um andar e o piso do galpão deve ser de terra. A lateral do galpão
deverá ser fechada com tela e cortinas que possam ser abertas e fechadas
de acordo com o clima. As cabeceiras do galpão deverão ser fechadas.
A construção do galpão deve ser feita em local seco e protegido
de ventos fortes, obedecendo a posição das cabeceiras sentido nascente-poente,
na região sul do Brasil, caso o terreno seja do lado sul, de onde vêm
os ventos frios. Além da cortina, será necessário o plantio
de um renque de proteção, como capim ou bambu. Do lado oposto, proteção
contra o sol forte da tarde. Bananeiras ou Santa Bárbara são boas
para esse fim. Em regiões quentes a criação deve ser protegida
da insolação, portanto seria melhor localizá-la em lugares
mais altos e arborizados. Além das instalações, são
necessários cuidados com a alimentação e com a água,
que deve ser filtrada e trocada constantemente. Também aplicamos
um produto contra sarna à base de ivermectina, explica Ludovico.
Tomando os devidos cuidados com as instalações, manejo
e alimentação, os lucros com a cunicultura ficam bem mais próximos
e altos. Isso porque a criação de coelhos possui múltiplos
e rentáveis propósitos. Depende do interesse, mas a principal
finalidade é a carne, que é o carro-chefe de qualquer criação,
explica Ludovico. Um coelho vai para o abate com 2 quilos e meio e o frigorífico
paga em média 12 reais por animal. Existem cerca de 9 frigoríficos
exclusivos para o abate de coelhos no Brasil. Em São Paulo se localizam
3 deles. Em Santa Catarina outros 2, no Paraná mais 2 e em Minas Gerais
outros 2, fora outros frigoríficos pelo Brasil que não são
exclusivos mas também abatem coelhos. Além da carne, é possível
explorar a pele do animal para confecção de artesanato e roupas.
Da raça Angorá é possível se extrair lã. Cada
coelho dessa raça fornece 150 gramas de lã por tosquia ou 1,2kg
por ano. O mercado externo (principal comprador) paga 25 dólares por kg
de lã, que também é chamada de caxemira. O coelho também
fornece adubo orgânico, que possui um alto valor no mercado. Outros grandes
compradores da criação de coelhos são os laboratórios
farmacêuticos que os utilizam para testes com cosméticos e universidades
que procuram os animais para experiências e demonstrações.
Até o cérebro dos coelhos têm serventia. Deles são
retirados uma substância chamada tromboplastina, que é usada nas
cirurgias médicas para verificar o grau de coagulação no
sangue do paciente e também possui um alto valor agregado. Outro ganho
que o produtor pode ter com o coelho é a criação de raças
destinadas a serem animas de estimação. São raças
específicas, como o Hermelim, Holandês, Hotot, Lion, dentre outros.
São menores e mais dóceis. Custam em média 50 reais e são
vendidas para lojas de animais de estimação. Segundo Ludovico, a
procura para essa finalidade é muito grande. Toda a produção
é vendida, não fica nada para trás.
Além
das múltiplas finalidades que pode ter o coelho, outra grande vantagem
dessa criação é a sua precocidade e fertilidade. Um coelho
nasce com aproximadamente 50 gramas. Com 60 dias já estão com 2kg
e aos 90 dias estão com 2,5kg, peso ideal para o abate. A famosa fertilidade
e proliferação dos coelhos é uma grande valia para os criadores.
Uma fêmea gera de 8 a 12 filhotes por gestação e tem 5 crias
por ano, ou seja, cada fêmea têm em média 50 filhotes por ano.
O criador pode optar também por trabalhar com reprodutores também.
Um bom reprodutor, com carcaça quadrada, em forma de paralelepípedo,
vale de 60 a 70 reais. Se a finalidade da criação for corte, a raça
ideal é a Nova Zelândia. É o Nelore da cunicultura.
É precoce, tem alta fecundidade e excelente conversão, afirma
Ludovico.
O manejo da criação de coelhos exige uma certa
especialização. Uma pessoa pode cuidar de cerca de 500 fêmeas
e seus respectivos filhotes. O manejo de 10 matrizes corresponde a meia hora de
trabalho por dia. Um coelho adulto come cerca de 90 gramas de ração
por dia. O quilo da ração para coelhos custa R$ 0,70 o que dá
em média R$ 0,07 por coelho, por dia. Para quem quer entrar na cunicultura,
é melhor começar com um número pequeno de animais. Um módulo
piloto com 10 matrizes de duas linhagens diferentes com respectivos machos e a
quantidade de gaiolas para cria e engorda, bebedouro e comedouro sai por R$ 2.600,00
em média. |