Eu
sou uma apaixonada pelos animais, então se eu souber que estão comprando
a ave para abater, eu não vendo, conta a criadora, que possui uma
propriedade no bairro de Barragem, na zona sul de São Paulo. O Sítio
da Família conta com 200 aves e é conhecido por fornecer excelentes
matrizes aos criadores. Seu trabalho de preservação e seleção
é reconhecido dentro desse ramo. Basta ver a quantidade de prêmios
que as aves de Virgínia receberam em diversos concursos ao longo desses
25 anos. A partir do momento em que as aves botam os ovos, pode-se armazená-los
por um período de 7 a 10 dias, no máximo. Após esse período,
deve-se marcá-los com a data em que foram botados - a marcação
deve ser a lápis ou com carvão e nunca a caneta e serem levados
para a chocadeira. Cada variedade de ave tem um período diferente de chocagem.
Os gansos demoram de 28 a 32 dias para nascerem. As galinhas demoram 21 dias para
nascerem. Os marrecos, dependendo da variedade demoram de 28 a 30 dias para serem
chocados; algumas variedades duram 35 dias nas chocadeiras. As chocadeiras podem
ser tanto compradas como também produzidas na própria propriedade.
A umidade deve ser mantida a 70% para aves aquáticas e a 65% para aves
como as galinhas ou perus.
A temperatura das chocadeiras têm de
ficar entre 37,5º e 38º Centígrados. Normalmente se usam
chocadeiras diferentes para aves aquáticas e terrestres para se evitar
uma alteração da umidade e, conseqüentemente, provocar algum
tipo de problema no nascimento, explica Virginia. Algumas aves chocam e
criam muito bem os seus filhotes. O pato Muscovy, por exemplo, cria os seus filhotes
muito bem. As pavoas também chocam e criam os seus filhotes muito bem,
mas os criadores normalmente tiram os ovos dessas aves e colocam nas chocadeiras
para aumentar a postura, pois quando elas chocam, param de botar ovos. Fêmeas
como as gansas de raças puras não devem chocar os seus ovos, pois
são muito desastradas e acabam pisando nos próprios ovos ou abandonando
o ninho. Gansas caipiras podem chocar seus ovos sem problemas.
Algumas
variedades de marrecas são muito boas para chocar ovos, mas outras, como
o Marreco de Pequim, por exemplo, não são boas mães. O criador
que não tiver chocadeiras pode utilizar amas, que podem ser galinhas caipiras
ou patas que estejam chocas. Pode-se tirar os ovos de uma variedade e colocar
em outra, que seja boa mãe. Quando nascem os filhotes é só
levá-los para a criadeira, que é o próximo estágio
da criação de aves ornamentais.
Após as aves nascerem
deve-se esperar eles se secarem. Normalmente eles só vão se alimentar
24 horas depois do nascimento. Passado esse período eles são levados
para as criadeiras, que são gaiolas com aquecimento, para ali receberem
sua primeira refeição, chamada refeição inicial, para
pintinhos de 1 dia e água fresca para beberem. Isso serve para filhotes
de qualquer ave. A água deve ser trocada todos os dias. Os bebedouros devem
ser muito bem lavados, todos os dias, e não pode haver resíduos
nos comedouros, pois podem fermentar e causar uma intoxicação nas
aves.
A forração da criadeira deve ser de um material seco,
como palha de arroz, serragem ou feno seco, por exemplo. Deve-se evitar ao máximo
a umidade nas criadeiras, mesmo para as aves aquáticas, que só poderão
ter contato com a água quando estiverem 80% emplumadas; e isso ocorre 90
dias após o nascimento. Além disso, neste período da criação,
as aves devem receber vacinações aos 30 dias, 60 dias e 90 dias.
As aves adultas são vacinadas uma vez por ano. Deve-se vacinar as aves
contra a Bouba Aviária, New Castle, além de serem vermifugadas.
Deve-se ter mais atenção com vermifugação de aves
como os perus e pavões, pois eles têm tendência a comerem as
próprias fezes. As vacinas podem ser encontradas em qualquer casa de produtos
veterinários. O criador deve ter um veterinário para observar
as aves e para evitar problemas com doenças e infecções,
pois se alguma ave estiver doente, vai morrer e vai contaminar as outras. Higiene
e controle sanitário são fundamentais, afirma Virginia.
As aves ficam nas criadeiras até estarem 80% empenadas, ou durante 3 meses,
com exceção dos pavões, que devem ficar 6 meses confinados
em um local com piso ripado para evitar o contato com as próprias fezes
e isolado de ventos e chuvas fortes, pois é uma ave extremamente sensível.
Os perus também devem receber cuidados especiais, pois após o quarto
mês de vida, começam a se formar as carúnculas, e isso faz
a imunidade dessas aves cair muito.
Passados três meses de vida,
as aves saem das criadeiras e vão para as recrias, que são criatórios
sem aquecimento e com um ambiente coberto e outro ao ar livre. As aves agora recebem
ração de crescimento e água fresca. A água deve ser
trocada todos os dias, a não ser que possua água corrente nos criatórios.
As aves aquáticas têm uma tendência de irem para a água
logo de imediato, o que não deve ser permitido se eles não estiverem
com as mães, pois as penugens não são impermeáveis
como as penas e sem a mãe para secar os filhotes, corre-se o risco de pegarem
uma pneumonia.
Após as aves saírem das recrias, elas vão
para um setor de seleção das aves, onde ficam por um período
de, no mínimo 40 dias, se alimentando de ração de postura
ou ração de manutenção, dependendo da finalidade das
aves. Ali é onde elas serão selecionadas por padrão de raça.
Aqui nós vamos selecionar as aves que vão para a reprodução
e as aves que vão ser descartadas para o mercado. E também são
selecionadas as aves que serão vendidas para possíveis compradores
de aves, colecionadores e outros criadores que estiverem interessados em fazer
choque de sangue, explica Virgínia. Se a ave estiver fora dos padrões
da raça, ela será descartada. Se ela estiver dentro dos padrões,
ela será selecionada para a reprodução.
Algumas
aves, como galinhas de raça pura, variedades de gansos e de marrecos começam
a se reproduzir na faixa dos 6 aos 8 meses de idade. Outras aves, como os pavões
e cisnes se reproduzem somente após os três anos de idade. No período
de reprodução de cada espécie, são formadas as famílias,
que são compostas por um casal, por um terno - 2 fêmeas para um macho
ou por uma quadra, que são 3 fêmeas para um macho. Essas famílias
vão para um viveiro de reprodução. As aves que chocam vão
fazer um ninho, botar os ovos e chocá-los. As aves que não chocam
terão os ovos recolhidos e levados para as chocadeiras. Existe um período
de reprodução, que vai de julho a dezembro. Algumas aves, como as
galinhas se reproduzem por um período maior de tempo.
As aves
selecionadas para a reprodução são levadas para um outro
setor do criatório - os viveiros das matrizes. Ali, cada família
fica em um viveiro. Algumas variedades, monogâmicas, podem ficar juntas;
outras não, pra evitar a mestiçagem. Ali as aves recebem duas refeições
de postura por dia. No caso da criação de Virgínia, não
é preciso colocar água todos os dias, pois os viveiros têm
água corrente, que é o ideal nesse setor da criação.
Para esses animais é recomendável também acrescentar na dieta
verduras, exceto alface, pois contém muita água e pode causar diarréia
nos animais. Alguns criadores também fornecem ao seu plantel ração
de codorna, pois contém mais proteína; e complementam a alimentação
com frutas e legumes.
As possibilidades de exploração econômica
com essa atividade são muito variadas. No caso de uma criação
destinada ao abate, pode-se aproveitar as penas e plumas para artesanato; ou para
confecção de travesseiros e edredons, no caso das penas de gansos.
As víceras são utilizadas, ou para conservas - no caso do fígado
do ganso para se fazer o Foi grãs, o famoso e apreciado patê
de fígado de ganso ou para fazer rações. A carne é
saborosa e muito apreciada, sobretudo nos restaurantes finos. O esterco é
aproveitado nas hortas, os ovos são muito procurados também, tanto
para consumo humano, como para se fazer ração animal. As aves são
muito procuradas por colecionadores, por outros criadores em busca de choque de
sangue.
Pessoas que querem decorar hotéis, fazendas e sítios
também procuram muito a criação de Virginia. Criadores de
cavalos utilizam os gansos para espantar cobras. Os gansos, inclusive, são
animais de guarda tão eficientes quanto os cães, já que eles
grasnam a qualquer barulho ou movimento suspeito. É óbvio que não
possuem a ferocidade e a força dos cachorros mas podem alertar qualquer
intruso em uma propriedade. Eles são utilizados até em alguns presídios
do interior de São Paulo. As galinhas d´Angola são aproveitadas
para comer pequenos insetos, como carrapatos, cupins ou formigas. O leque
de opções é muito grande e o mercado é muito bom.
É uma atividade bastante lucrativa. É ideal para quem tem uma pequena
propriedade e para quem gosta de animais, afirma. |