Para
Barbosa, a entrada do Bollgard I (Bt), único algodão GM (geneticamente
modificado) atualmente aprovado para uso comercial no País, foi o grande
aliado para que o norte mineiro saísse dessa crise. Barbosa explica que,
enquanto a produtividade do algodão convencional é de 40 arrobas
por hectare, a do Bollgard I chega a 180 arrobas por hectare. Além
disso, na última safra pudemos avaliar que a renda da lavoura transgênica
foi de R$ 675,00 e a convencional ficou negativa, sem renda, com prejuízo
de R$ 680,00, diz.
Ainda de acordo com o produtor, o uso de inseticidas
nas lavouras geneticamente modificadas tem início apenas após cerca
de 30 dias, o que reduz de 16 para 9 aplicações nas plantações.
Com o início do plantio transgênico aumentamos a produtividade,
reduzimos o uso de inseticidas e os danos causados à saúde dos produtores,
e passamos a ter nova esperança para o negócio local. Agora nossa
meta é alcançar a produtividade de 200 arrobas por hectare e contamos
com as novas tecnologias para alcançar esse objetivo.
Para
o produtor Almir Rebelo Oliveira, presidente do Clube Amigos da Terra, de Tupanciretã-RS,
a importância do transgênico para o pequeno agricultor também
é grande. Em nosso estado, os pequenos agricultores de soja estão
usando praticamente 560 transgênica. Eles querem produzir mais com menos
veneno, disse. Antes, 30% dos agricultores se intoxicavam no Rio Grande
do Sul. Hoje isso já não acontece. Usamos a soja transgênica
até em nossa alimentação diária, em alimentos como
macarrão, chocolate, suco, etc. Agricultor gaúcho hoje pede a soja
Bt, conclui Oliveira. Produtores
querem mais "Não
é possível que o Brasil, que tem o algodão de maior qualidade
do mundo, continue relegado ao atraso tecnológico. Não é
possível que o mundo esteja errado e só nós estejamos certos",
desabafou o produtor João Carlos Jacobsen, presidente da ABRAPA
Associação Brasileira dos Produtores de Algodão e vice-presidente
da AIBA Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia,
durante Audiência Pública realizada pela Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança (CTNBio).
Em sua manifestação,
ele apresentou ao presidente da CTNBio, prof. Walter Colli, que presidia a Audiência
Pública, um abaixo-assinado em nome de 725 cotonicultores brasileiros,
que representam 80% da área plantada no Brasil, reivindicando o acesso
a novas variedades de algodão transgênico. Até agora, o Brasil
conta com apenas uma variedade transgênica de algodão em uso comercial:
o Bollgard I (Bt), da Monsanto, que atua no controle de pragas típicas
dessa lavoura, como lagarta curuquerê, lagarta-da-maçã e lagarta
rosada.
De acordo com Jacobsen, a Índia, que tem acesso a três
variedades de algodão transgênico, já conseguiu ampliar a
produtividade de tal forma (de 400kg/ha para 550 kg/ha) que isso representa colher
anualmente mais 31% na mesma área de cultivo, o equivalente a uma safra
brasileira integral, que está prevista em 3,91 milhões de toneladas
para 2006/2007. "Temos que nos preocupar é com isto e não com
o fato de que há multinacionais que lucrarão com essas variedades.
Se lucrarem é porque investiram para isso, enquanto nós ficamos
aqui discutindo se vamos adotar ou se não vamos adotar", acrescentou.
Além da Índia, a Austrália, outro importante concorrente
do Brasil no mercado internacional, conta com quatro variedades de algodão
transgênico. Na América do Sul, a Argentina já dispõe
de duas variedades transgênicas e, no início de agosto, o governo
da Colômbia aprovou a quarta variedade para os produtores colombianos.
Na opinião do presidente da ABRAPA, o Brasil também lucrará,
assim como toda a sociedade, se não impedir o avanço da tecnologia
no campo. Segundo ele, a tecnologia convencional de combate às pragas do
algodão prevê o uso de mais de 100 tipos diferentes de inseticidas,
já que são pelo menos 26 pragas diferentes atacando a planta em
todas as fases do cultivo. "Hoje estamos matando amigos quando queremos matar
só os inimigos", afirmou. Com a adoção das variedades
de algodão transgênico diminui a necessidade de uso de inseticidas
e, portanto, existe maior preservação das populações
de insetos que não atacam as lavouras. De acordo com a consultoria Céleres,
a adoção do algodão Bt tem o potencial de, nos próximos
10 anos, gerar benefícios econômicos ao País da ordem de US$
4,8 bilhões. Desse total, 63,4% deverão ficar nas mãos dos
agricultores e 36,6% nas mãos dos diferentes segmentos da agroindústria
envolvidos na atividade. Ganhos
de US$ 86 mi/ano só com algodão Bt Ao
longo da audiência foram debatidos os processos com pedidos de liberação
comercial de quatro variedades de algodão geneticamente modificado encaminhados
por três empresas, Bayer Cropscience, Dow Agroscience e Monsanto. Duas delas
se referem a variedades tolerantes a diferentes herbicidas (Bayer / glufosinato
de amônio e Monsanto / glifosato) e outras duas variedades resistentes a
insetos (Dow e Monsanto).
O algodão é uma cultura com alto
custo de produção. Os ataques de pragas e doenças causam
perdas de 37% na produção, dos quais 13% devido a ataques de insetos.
Estudo conduzido pelo economista Edgard Antonio Pereira, da EDAP Consultoria
e Assessoria Econômica, que avaliou os impactos econômicos no Brasil
do uso de sementes transgênicas de soja, milho e algodão, a pedido
da ABRASEM Associação Brasileira dos Produtores de Sementes
e Mudas, concluiu que a adoção do algodão transgênico
Bt trará significativos ganhos econômicos e ambientais para o Brasil.
Como o cultivo do algodão é uma atividade de uso intensivo
de agrotóxicos, numa estimativa de plantio em 50% da atual área
plantada, os benefícios ambientais seriam bastante elevados, uma vez que
haveria uma redução de 2.893 toneladas no volume de agrotóxicos
utilizado atualmente, com uma redução de custos de produção
de US$ 35 milhões para os agricultores. Somando-se outros US$ 51 milhões
resultantes da elevação de produtividade dessas lavouras, o ganho
econômico total para o Brasil, segundo o estudo da ABRASEM, atingiria US$
86 milhões anuais. No Brasil, existem atualmente cerca de 30 mil
empresas vinculadas à cadeia produtiva do algodão, que empregam
mais de 2 milhões de pessoas. Festa
no milho "É
um dia muito importante para o País, que marca uma tendência de queda
das barreiras ideológicas contra os legítimos interesses do País",
disse o produtor Almir Rebelo Oliveira, diante da decisão da Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) de votar e emitir parecer
favorável à liberação comercial da primeira variedade
de milho transgênico no Brasil resistente a insetos, o MON 810.
Para a presidente da Associação Nacional de Biossegurança
(Anbio) e pesquisadora da FioCruz, Leila Oda, a comunidade científica brasileira
pôde finalmente fazer com que a ciência prevalecesse sobre interesses
oportunistas, de entidades mais preocupadas com o marketing. É um
alívio perceber que a biotecnologia tem, de fato, campo para crescer no
Brasil já que, pelo menos, os cientistas da CTNBio estão conseguindo
fazer o seu trabalho de avaliação técnica da liberação
comercial de novos OGMs", diz.
Ganhos anuais de US$ 192 milhões
com apenas 50% de milho transgênico ocupando o total da atual área
cultivada. Esta é a estimativa calculada pelo economista Edgard Antônio
Pereira em estudo realizado para a Associação Brasileira de Sementes
e Mudas (Abrasem), no caso da adoção do milho transgênico,
agora confirmada. O presidente da entidade, Iwao Miyamoto mostra-se muito animado
com a decisão anunciada pela CTNBio: Enfim poderemos brigar por competitividade
no mercado mundial. Este foi um passo importante para o avanço tecnológico
do País. Miyamoto espera que os produtores brasileiros possam finalmente
competir em condições justas com a Argentina e os Estados Unidos.
A economia no uso de agrotóxicos e, conseqüentemente, maior
preservação do meio ambiente foi lembrada pelos produtores. "Estamos
muito felizes com a liberação. Os benefícios desta redução,
tanto para a economia como para a saúde dos que lidam com a terra, é
imenso, diz o produtor. Para ele, o Brasil só tem a ganhar com a
adoção das plantas transgênicas no País agora
soja, algodão e milho. "Temos que estar alinhados internacionalmente
se quisermos competir no mercado mundial. Quem quiser continuar plantando lavouras
convencionais ou orgânicas que continue. O que não estava certo era
sermos impedidos de plantar lavouras transgênicas", completou o agricultor
gaúcho. |