Essa
ferramenta tem movimentado o dia-a-dia das fazendas e dos grupos de pesquisa em
reprodução animal. Pela técnica as vacas têm a ovulação
induzida, e a inseminação pode ser feita com data marcada, tudo
com a maior naturalidade, apenas com a utilização de produtos específicos,
conforme explica Rodrigo Valarelli da Pfizer Saúde Animal. "A forma
de aplicá-los nos animais depende de fatores como, a raça, a idade,
a condição corporal e o número de crias. Além disso,
a condição nutricional da vacada é fundamental para garantia
dos resultados".
Valarellli diz que a IATF é uma tendência
mundial e importante para o desenvolvimento da pecuária no Brasil. A adesão
de usuários em todas as regiões do país é crescente
e o número de cabeças inseminadas, só em 2004, superou 1,5
milhão. Com a técnica, a inseminação do animal é
feita antes da ovulação. Desse modo, quando a vaca ovula, já
está preparada para ficar prenhe. Assim todas as vacas de um rebanho podem
ser sincronizadas para serem inseminadas num único dia.
O sucesso
do método se deve ao modo como ele é feito. Nele, a inseminação
do animal é feita antes da ovulação. Assim, quando a vaca
ovula, já está preparada para ficar prenhe, possibilitando que todas
as vacas de um rebanho sejam sincronizadas para serem inseminadas em poucos dias.
Além da alta porcentagem de prenhezes positivas nas vacas, a IATF traz
outras vantagens: O método facilita o manejo nas fazendas já
que as inseminações são feitas de modo programado. Dessa
maneira é possível inseminar até 250 vacas em um único
dia, poupando assim, tempo, explica Pietro Baruselli, veterinário
e professor da Universidade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade
de São Paulo (USP). Estes fatores garantem para a propriedade maior produtividade
e a melhoria genética do seu plantel.
Outra vantagem da Inseminação
Artificial por Tempo fixo, segundo Baruselli é a redução
gradativa da baixa taxa de fêmeas inseminadas na estação de
monta. Além disso, a técnica possibilita que o criador trabalhe
com progênie superior, de animais com DEPs positivas para varias características
fisiológicas e físicas desejadas.
Outra questão
muito importante para os criadores são as vantagens econômicas que
a IATF traz à propriedade. O custo da utilização da técnica
por animal, incluindo o protocolo de sincronização, a compra do
sêmen e a mão-de-obra é de R$ 45,00, contabilizando lotes
de, no mínimo 100 fêmeas. De acordo com o professor da Universidade
de São Paulo, o retorno desse investimento depende do uso correto da técnica.
Experimentos realizados pelo Departamento de Reprodução Animal da
USP mostram que os ganhos econômicos nos rebanhos que utilizaram a técnica
são altos. A taxa de prenhes no final da estação de monta
cresceu 8%, o que significa 8 bezerros a mais em um lote de 100 vacas.
O professor faz os cálculos, usando a média de preço dos
bezerros no mercado de R$ 275,00 e o resultado é um total de R$ 2.200,00
a mais no bolso do criador, já no primeiro ano. "Esse, é o
principal apelo para o criador, sobretudo o pequeno e o médio", declara.
Além disso, a técnica possibilita o produtor economizar com touros
de repasse. Estudos realizados em varias fazendas mostraram que, quando se usa
a IATF, a taxa de prenhez, já no meio da estação de monta
é de 50% a 75% das vacas, em média. O restante, que normalmente
segue para o repasse, já está com o ovário funcionando, o
que eleva essa média para mais de 90%. "Com isso o produtor, ao invés
de comprar três tourinhos de campo, pode comprar somente dois, que vai dar
conta de cobrir a vacada e economiza cerca de R$ 2.200,00", enfatiza.
Porém, algumas questões devem ser consideradas antes de se empregar
a sincronização do cio. A técnica garante sucesso, mas somente
se for corretamente realizada em todos os passos. Fatores nutricionais e corporais
dos animais devem ser levados em conta, como explica Leandro Gofert, médico
e veterinário do departamento técnico da empresa Tecnopec. Somente
animais com escore corporal igual ou acima de 2,5 (em uma escala de 1 a 5) estão
em condições de entrarem no programa de IATF. Animais abaixo dessa
condição não terão condições de manter
a prenhez, explica. Mesmo que o protocolo consiga fazer esse animal ovular
e ocorrer a fertilização, a indisponibilidade de energia, levará
a que essa prenhez seja perdida. Porém, apenas o escore corporal
é uma medida imprecisa, explica Gofert, pois, em vacas com bom escore
corporal, (p. ex: 3), mas que estejam perdendo peso rapidamente, o resultado tende
a ser pior. O organismo da vaca, em balanço energético negativo,
tende a evitar a prenhez como medida de conservação do indivíduo.Precisamos,
portanto, avaliar os lotes de animais em relação à sua condição
corporal, mas também, avaliar como está o pasto em relação
à disponibilidade de alimento aos animais, explica Gofert.
O protocolo é outro fator muito importante. Ele sempre deve ser seguido
à risca e com o acompanhamento de um veterinário especializado.
A imposição de um protocolo que excluir o veterinário
pode comprometer a técnica, explica Sebastião Júnior.
Isso vai ampliar o resultado de prenhez do rebanho, explica Junior.
Uma prova de que a IATF é um excelente negócio para os
produtores foi a prova feita pela Tecnopec em quatro fazendas. Nos testes, a Tecnopec
trabalhou com 4.189 animais (quase todas zebuínas) em 50 lotes. O protocolo
utilizado foi o mesmo em todos os lotes: dispositivo vaginal por 8 dias, e Benzoato
de estradiol (RIC-BE) na inserção (2ml). Na retirada do dispositivo,
aplicação de 300 UI de CG (novormon) e luteolítico (Prolise).
24 horas após, indução de ovulação com Benzoato
de estradiol (RIC-BE-1ml) e IATF 30 horas após. Este não foi um
experimento científico, mas os resultados mostraram dados consistentes.
A média geral da IATF nas 4 fazendas foi de 53,2%. Houve diferença
significativa nas categorias. A média de prenhez das novilhas foi de 48,7%
(6 lotes), as primíparas obtiveram 45,5% (5 lotes) e as vacas 54,8% (39
lotes). Não houve diferença entre fazendas. Os resultados variaram
entre 52% e 60%. Não houve diferença entre o 1°, 2º e 3º
uso dos dispositivos vaginais. Os resultados foram respectivamente 55,4% (18 lotes);
50,8% (17 lotes) e 53,7% (15 lotes).
Todos os programas foram feitos
com repasse de Inseminação Artificial com observação
de cio entre os dias 18 e 23 após a IATF e repasse com touro por 2 a 3
meses. A Inseminação Artificial convencional acrescentou 19,4% de
prenhez a mais no resultado. A soma do resultado da IATF com o repasse com IA
convencional (total de animais prenhez de IA) foi de 72,6%. O repasse com touro
acrescentou mais 15,8% de animais prenhes. A prenhez final do programa em 50 lotes
foi de 88,4%.
O tamanho dos lotes variou entre 25 e 169 animais. Não
houve relação entre tamanho do lote e taxa de prenhez na IATF (r=0,09).
Lotes com menos de 50 fêmeas emprenharam em média 54%. Lotes entre
50 e 100 fêmeas: 52%, lotes acima de 100 fêmeas: 54%.
Os
dados mostram os bons resultados do programa de IATF a campo. Os programas têm
se tornado mais abrangentes e os trabalhos de repasse com sêmen e com touro
vêm recebendo atenção especial dos técnicos, que também
aproveitam cada vez mais o cio de retorno e a indução de ciclicidade
promovida pelo tratamento, afirma Gofert.
Existem fatores ligados
ao manejo de execução do programa IATF que devem ser levados em
consideração para que o processo produza resultados satisfatórios:
Abaixo, estão recomendações do médico veterinário
e técnico da empresa Tecnopec, Leandro Gofert:
Os passos do protocolo
de IATF são técnicas de controle farmacológico do ciclo estral,
responsáveis, ao final, pela ovulação e a possibilidade da
inseminação com hora marcada. Dessa forma, se cada uma das
etapas do protocolo não for bem executada, compromete-se todo o resultado
do programa, afirma Gofert.
Alguns erros freqüentemente observados
no campo são o esquecimento da aplicação de um ou mais fármacos
durante o programa, o desrespeito aos horários de aplicação
recomendados no protocolo, erros de dosagem dos hormônios indicados, erro
na via de aplicação indicada, erros de manipulação
dos hormônios (não manter refrigerados hormônios que o necessitam,
deixar hormônios expostos ao sol ou calor excessivo), ausência de
marcação confiável nos animais (corre-se o risco de aplicar
2 vezes os hormônios num animal e não realizar a aplicação
em outro), falta de organização da fazenda (mistura de lotes, presença
de vacas prenhes junto de vazias, presença de touros nos lotes a sincronizar,
etc), erros na execução do desmame temporário dos bezerros
(também chamado Shang), mantendo os bezerros próximos do piquete
das vacas, falhando em promover o estímulo da função ovariana
e do crescimento folicular, currais inadequados ou pessoal despreparado, o que
provoca estress nos animais (resistência ao passar no tronco, demora excessiva
para realizar o programa, quedas e fraturas, etc) e colocar um número excessivo
de animais para trabalhar de uma só vez.
Merece atenção
especial também, a qualidade do sêmen utilizado nos programas de
IATF. Não adianta fazer uma vaca ovular, se a fertilização
for comprometida por causa de sêmen inviável, ou de baixa fertilidade,
afirma Gofert. Freqüentemente observa-se na prática de campo o armazenamento
inadequado do sêmen (deixar o nitrogênio atingir nível muito
baixo). No manejo das racks, permitir exposição prolongada à
temperatura ambiente e novamente mergulhá-las no nitrogênio Causa
estress térmico e perda da viabilidade do sêmen, explica Gofert.
Descongelamento inadequado, comprometendo a viabilidade dos espermatozóides,
uso de sêmen sem procedência, sem controle sanitário e de fertilidade.
Segundo Gofert existe variação de fertilidade entre os
diferentes touros disponíveis nas centrais, mesmo que as partidas estejam
nos padrões exigidos pelo Ministério da Agricultura. Alguns
touros emprenham as vacas mais eficientemente que outros. Para evitar o risco
de selecionar um touro menos eficiente, deve-se consultar fornecedores de confiança,
afirma Gofert.
Gofert ainda explica que se não é possível
obter essa informação, deve-se utilizar pelo menos 3 touros diferentes
no programa. Diminuindo assim a chance de baixos resultados por esse fator. Em
vista da pequena quantidade de informações a respeito do uso de
sêmen sexado em programas de IATF, até o momento, não é
aconselhável a sua utilização, enfatiza o técnico
da Tecnopec.
Outros problemas que podem afetar os resultados da IATF
são os de ordem sanitária como a incidência de doenças
reprodutivas (Brucelose, Leptospirose, IBR, BVD, etc), doenças sistêmicas
ou parasitoses, levando a comprometimento físico e conseqüentemente
reprodutivo, retenção de placenta e cistos foliculares. Deve-se
sempre monitorar o estado sanitário dos rebanhos, evitando prejuízos
oriundos desses fatores explica Gofert.
Outros fatores importantes
que podem incidir no bom andamento da IATF são a escolha do protocolo mais
adequado, levando-se em conta a categoria animal, a idade pós-parto e a
condição ovariana dos animais que se irá trabalhar. Cada
caso é um caso. Existem diferentes protocolos para cada tipo de situação.
Existem protocolos para quem foca na relação custo benefício,
existem protocolos para fêmeas que não estão ovulando. É
preciso conhecer cada situação para aplicar o protocolo mais adequado,
explica Sebastião Junior, da Schering-Plough. A mineralização
adequada do rebanho, utilizando-se um sal mineral de boa qualidade e que atenda
as requisições para vacas em reprodução, também
é um fator de grande importância. Estar atento à dieta dos
animais, se não existe excesso de proteína ou de nitrogênio
não protéico. Interferem no pH uterino, gerando dificuldade
de concepção, explica Gofert, da Tecnopec. O uso excessivo
de caroço de algodão também pode comprometer a fertilidade
das fêmeas. Não realizar mudanças bruscas de dietas, vacinações,
marcações, ou eventos estressantes durante a execução
do protocolo e nos 35 dias após a inseminação.
Na
IATF de novilhas é fundamental que, apenas animais que já entraram
na puberdade sejam colocados no programa. Gofert explica que um erro muito comum
é a colocação de lotes de novilhas baseados apenas nos critérios,
peso e/ou idade, julgando-se que esses animais já estariam púberes.
É fundamental realizar o exame ginecológico das novilhas e
colocar-se em protocolo somente animais com presença de corpo lúteo
no ovário, ou com cios já observados, enfatiza. Animais pré-púberes,
(que nunca ciclaram), não respondem ao programa IATF, porque não
são capazes de ovular.
Dentro desses fatores, capazes de influenciar
os resultados num programa de IATF, a maioria está sob controle de um veterinário
meticuloso e experiente. Assim, poderíamos concluir que o auxílio
de um profissional, que seja capacitado e com postura ética e realista
em relação à técnica, fará a diferença
nos resultados conseguidos, afirma. |