Estima-se
que no Centro-Oeste, os índices da taxa de natalidade girem em torno de
40% a 60%, com vacas tendo a sua primeira cria por volta dos 45 meses de vida.
Os números também mostram que cerca de 17% das vacas de cria ficam
em torno de 2 anos sem parir. Considerando que o preço de um bezerro está
em torno de R$ 450,00, pode-se concluir que qualquer redução nos
níveis de mortalidade pode representar ao pecuarista uma diferença
sensível nos lucros.
Segundo Aiesca Oliveira Peregrin, pesquisadora
do CPAP Embrapa de Corumbá, MS, dentre as doenças que mais causam
perdas à produtividade em rebanhos estão as que afetam o sistema
de reprodução, causando males como a repetição de
cio, abortamento, nascimento de fetos mumificados, nascimentos de crias fracas,
infertilidade, dentre outros. "Os prejuízos econômicos provocados
pelo insucesso da estação de monta possuem um peso importante, portanto,
um controle preventivo dos machos e fêmeas é de fundamental importância
para se obter um maior número de nascimentos satisfatório e, conseqüentemente,
uma maior rentabilidade na produção", declara.
O rebanho
está suscetível a uma série de doenças infecciosas
que causam impacto tanto na criação como também na sua comercialização.
Segundo Sebastião de Faria Júnior, Gerente Técnico de Pecuária
da Schering-Plough, dentre todas as moléstias da ordem reprodutiva que
acometem o gado, a brucelose bovina é uma das piores, pois além
de ser uma zoonose doença que pode ser transmitida dos animais ao
homem é muito freqüente no rebanho nacional e causam grandes
prejuízos no rebanho. Há uma diminuição da ordem
de 15% a 20% em rebanhos infectados com a brucelose, afirma Júnior.
A brucelose geralmente entra em contato com os rebanhos através da compra
de vacas prenhes infectadas mas ela também pode ser transmitida por sêmen
infectado. Uma outra via de infecção muito comum é a inseminação
artificial com material contaminado. A brucelose causa o aborto, geralmente no
sexto mês, com retenção da placenta e o contato direto com
os produtos do aborto ou com o ambiente contaminado por esses produtos é
a principal via de contaminação, inclusive para o homem. Podem ocorrer
casos de fêmeas, recém contaminadas, onde o animal ainda não
apresenta anticorpos e, portanto, não pode ser identificado nas provas
sorológicas.
O diagnóstico da Brucelose é feito
através da avaliação do desempenho reprodutivo do rebanho,
associado a provas sorológicas. Segundo o regulamento técnico do
Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose
Animal ( PNCEBT ), são indicados alguns testes de diagnóstico indireto.
Por exemplo, o teste do Antígeno Acidificado Tamponado (ATT), também
conhecido como teste Rosa Bengala, indicado como teste de rotina. Outro teste
é o de fixação de complemento como teste de confirmação
de animais reagentes ao ATT ou que não apresentaram um resultado conclusivo
ao teste 2-ME. Em todos os casos citados é necessária a presença
de um médico veterinário nas diferentes etapas do processo.
Para que a propriedade rural obtenha o certificado atestando que não possui
casos de brucelose em seu rebanho É necessário que todas as
fêmeas, entre 3 e 8 meses de idade sejam vacinadas contra essa doença
com vacina B-19. Além disso, as fêmeas com idade igual ou superior
a 24 meses, desde que vacinadas entre 3 e 8 meses mais os machos e as fêmeas
acima de 8 meses, devem fazer três testes sorológicos sucessivos
ao longo de um período mínimo de 9 meses, sem um único animal
reagente positivo; no caso de animais soropositivo os mesmos devem ser sacrificados,
explica Sebastião Júnior da Schering-Plough, que revela que uma
nova vacina contra a Brucelose está chegando ao mercado até o fim
do ano. A Schering-Plough desenvolveu uma nova vacina, chamada RB-51, diferente
das existentes no mercado, pois não induz a formação de anti-corpos
aglutinantes. Isso faz com que ela não interfira no diagnóstico
e não leva ao aparecimento de falsos resultados positivos, explica
Junior. Essa também é a primeira vacina que pode ser aplicada em
vacas adultas, ainda segundo o Gerente da Schering-Plough.
Além
da Brucelose, outra doenças muito freqüente no gado e que causa grande
prejuízo é a Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR). Causada
por uma espécie de Herpesvírus Bovino tipo 1 (BHV-1). Este agente
também pode causar outras manifestações clínicas como
a Vulvovaginite Pustular Infecciosa (IPV). A IBR é uma doença bastante
disseminada em todo o mundo, sendo inclusive comparada à febre aftosa em
alguns países, devido aos prejuízos que causa. Um levantamento epidemiológico
realizado em 171 rebanhos de diferentes localidades mostrou que entre animais
nunca vacinados contra IBR e com problemas reprodutivos, 61% apresentaram anticorpos
contra o BVH-1 e 97% das propriedades tinham animais soropositivos. Em geral,
a mortalidade nos rebanhos afetados é baixa, sendo que em condições
de campo, as perdas econômicas se devem, sobretudo a abortos, morte de bezerros
recém-nascidos, queda na produção de leite, perda de peso
e broncopneumonia bacteriana secundário, podendo em eventuais surtos, causar
abortos em até 25% das fêmeas.
As principais fontes de contágio
são as gotículas provenientes da tosse secreções nasais,
oculares vaginais ou através do sêmen contaminado, além de
líquidos e tecidos fetais. A IBR pode ser transmitida por monta natural,
contato vulva focinho e inseminação artificial. O sêmen contaminado
com essa doença pode causar endometrite, ciclos estrais curtos e redução
significativa das percentagens de concepção. Além disso,
o período de incubação do vírus dura de 2 a 6 dias,
podendo evoluir por diferentes quadros clínicos e manifestar-se de forma
separada ou simultaneamente.
O controle ou mesmo a erradicação
desta doença exige dos pecuaristas, normalmente, recursos financeiros elevados,
além de uma sinergia de ações em nível de regiões.
Algumas medidas como, a proibição de entrada de animais provenientes
de áreas ou rebanhos onde a doença é endêmica; controle
sorológico periódico do rebanho; manejo dos animais soropositivos;
eliminação, hiperimunização ou manejo totalmente separado
dos animais não reagentes, são quase sempre eficazes. Nas regiões
onde a doença é endêmica erradicá-la é inviável
economicamente, tendo o pecuarista fazer o controle por meio da vacinação
preventiva do rebanho, observa. Outra medida é aplicar antibióticos
para controlar as complicações bacterianas secundárias. Colocar
os animais em quarentena e fazer o controle sorológico também funciona.
Mais uma doença que costuma causar grande prejuízos aos
pecuaristas é a Diarréia Viral Bovina (BVD). É uma moléstia
que manifesta-se de diferentes maneiras nos animais infectados. Pode surgir como
uma simples diarréia que não evolui para quadros mais graves, como
pode também se manifestar de maneira mais acentuada como doenças
nas mucosas, defeitos congênitos, em bezerros, dentre outros sintomas. O
vírus causador da Diarréia Bovina causa prejuízos econômicos
ao provocar abortos, infertilidade, mortalidade neonatal, atraso no crescimento,
além da diminuição da produção de leite. os
sintomas aparecem de 5 a 10 dias e a evolução da doença varia
de 2 a 21 dias. Em casos extremos pode ocorrer febre de até 40° e hemorragias
gastrintestinais, além de fezes líquidas com sangue e muco.
Para o diagnóstico sorológico de rebanho com suspeita de Diarréia
Bovina, o recomendado é coletar, se possível, duas amostras de soro
retiradas do mesmo animal com um intervalo de 2 a 3 semanas. Uma única
amostra, mesmo com título elevado tem pouco valor. Além disso, nem
sempre é possível detectar uma elevação de anticorpos,
pois a infecção inicial as vezes ocorre muito tempo antes do aborto,
por exemplo, e os títulos já atingiram o nível máximo.
Quando há suspeita da doenças das mucosas, o diagnóstico
de laboratório baseia-se na sorologia e na pesquisa do vírus no
sangue, por é feito o isolamento viral pela técnica conhecida com
ELISA para detecção do antígeno p 80.
O controle
também se faz por meio de vacinação aplicando em todas as
fêmeas antes da cobertura (primovacinação com duas doses e
revacinação anual). O controle também é feito através
de vacinação aplicando em todas as fêmeas antes da cobertura
(primovacinação com duas doses e revacinação anual).
É importante também identificar e eliminar do rebanho os bovinos
imunotolerantes e persistentemente infectados (IPI), além de fazer um controle
laboratorial de todos os bovinos que vão entrar no rebanho, afim de evitar
animais com essas características. Outro ponto importante no controle da
Diarréia Bovina é o fato de que contra essa doença só
podem ser usadas vacinas inativadas. Vacinas vivas podem potencializar outras
infecções bacterianas, virais e abortos. Isso por causa da imunossupressão.
Uma inúmera gama de doenças, além das citadas podem
atacar o rebanho e a melhor maneira de defender o gado contra ela é focar
na prevenção. É importante que o pecuarista se conscientize
de que o manejo sanitário de forma correta é de suma importância
para a saúde do gado, além de sempre seguir as orientações
do seu médico veterinário e vacinar os animais seguindo sempre o
calendário. Embora represente um dos menores custos dentro do processo
produtivo (2% a 5%), a vacinação pode ser decisiva quando se busca
a obtenção de resultados satisfatórios na produção
de carne e leite de qualidade. Este é um dado que nem todos produtores
dão a devida atenção, revela o medico veterinário
Fábio Longhi Ferri, do Detec da Coamo em Toledo. Ele diz que hoje a pecuária
possui excelentes tecnologias a sua disposição. Assim, o desafio
fica por conta da implantação de bons programas sanitários,
dos quais a vacinação é um dos pilares, e da consolidação
dos procedimentos de como usá-las corretamente, obtendo os melhores resultados
na gestão da saúde animal, destaca. |