Para
Moura, o contingenciamento e outras falhas do sistema têm que mudar o mais
rápido possível, tendo em vista que o complexo produtivo de todas
as carnes, não apenas a de bovinos, gerou no ano passado 10,8 bilhões
de dólares. É uma questão de economia". Entende o técnico
e líder do setor veterinário que se fossem alocados 5% desses recursos
o País teria um programa sanitário à altura de sua posição
no ranking dos mercados internacionais.
Dentre os problemas sanitários,
o mais grave é o da febre aftosa. Segundo o ex-presidente da Agência
de Defesa Agropecuária da Bahia - Adab e atual consultor para assuntos
de febre aftosa, José Lira, é preciso fazer grande esforço
para combater a doença, porque os rebanhos estão aumentando e, consequentemente,
a vigilância deve ser maior. Lira enfatizou ainda que nem tudo está
bem em vários estados brasileiros quanto ao controle da febre aftosa e
recomenda o revigoramento das ações e o fortalecimento da gestão
sanitária para que se alcance uma execução robusta. O consultor
propôs algumas ações: cobertura vacinal de 80% do rebanho
e em algumas situações de 560; vigilância sanitária
proativa com barreiras fixas e móveis; programas de educação
sanitária e de treinamento em todos os níveis; montagem de um corpo
técnico e auxiliar altamente capacitado e motivado para exercer com o rigor
recomendado pela legislação o serviço de erradicação
de enfermidades que afetam os rebanhos de exploração comercial.
O presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte - CNPC,
Sebastião Costa Guedes destacou a dificuldade de se estabelecer uma política
sanitária consistente, embora acredite que o País tenha evoluído
muito neste aspecto nos últimos anos. Sob a ótica do combate a febre
aftosa, por exemplo, Guedes sugere atenção especial na fronteira
dos estados do Mato Grosso do Sul e Paraná com o Paraguai; também
nas divisas de Mato Grosso, Acre e Rondônia com a Bolívia e a calha
do rio Amazonas; além de tratamento mais objetivo das restrições
de risco no Nordeste brasileiro. Outro aspecto que ele defende é uma atuação
mais efetiva para ampliar a rastreabilidade, que tem que ser exigida e auditada
para ser confiável.
"Temos também que cuidar da imagem
da sustentabilidade com o envolvimento dos aspectos sociais e ambientais",
disse Guedes, acrescentando que "o Brasil tem uma ótima infraestrutura
frigorífica que precisa ser mostrada lá fora, e aliado a isto, temos
que disseminar o bem-estar animal na sua criação, transporte e abate".
Altino Rodrigues Neto, diretor-geral do Instituto Mineiro de Agropecuária
- IMA, falou detalhadamente sobre o Sistema Unificado de Atenção
à Sanidade Agropecuária (Suasa), criado no início de 2006,
como medida para fiscalização de maneira integrada de produtos animais.
O Suasa substitui o serviço municipal, estadual e federal, que atua isoladamente,
transformando estes serviços em um único sistema. "É
uma legislação que já está em vigor e muitos técnicos
não a conhece, nem adotam, não só no estado como no país",
explicou. A medida permite que um produto originário de determinado município,
seja comercializado em qualquer parte do país, desde que o município
tenha aderido ao Suasa. Exportação Para
o técnico Nelson Piñeda, da Associação Brasileira
dos Criadores de Zebu - ABCZ, um dos grandes embates travados pelo governo brasileiro
na defesa das exportações de carne é a definição
de novas fronteiras pecuárias. "Toda a cadeia produtiva deve estar
atenta a este e outros aspectos que darão sustentabilidade à nossa
posição como maiores exportadores de carne", disse Piñeda.
Ele acredita que a mudança na política energética, com o
destaque dado ao biodiesel em todo o mundo, tem alguns aspectos positivos como,
por exemplo, provocar o aumento do preço do milho no mercado americano
que está utilizando e vai utilizar ainda mais este cereal para produzir
mais biodiesel. "Com isto, o preço da commodity tende a aumentar.
Como consequência teremos o aumento do preço do frango e do suíno.
Isso poderá dar à carne bovina mais competitividade em preço".
"O Brasil exporta carne para 150 países, conquistou recentemente
vários mercados. Temos uma carne competitiva, volume e qualidade. Precisamos
investir mais, especialmente o governo em pesquisa, combate as doenças
e extensão rural para evitar que surjam problemas que resultem em suspensão
provisória de importação de carne por países como
Estados Unidos e Rússia", disse o assessor técnico da Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA, Paulo Sérgio Mustefaga.
"Essas suspensões são prejudiciais a toda cadeia produtiva
brasileira e causa grave repercussão negativa. Porém, mesmo com
essas suspensões que ocorreram o Brasil mantém o primeiro lugar
como produtor e exportador de carne bovina". Mustefaga ressaltou também
a necessidade de chegarmos à zona livre de aftosa sem vacinação
no país inteiro.
Pedro Eduardo de Felício, médico
veterinário e professor da faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp,
destacou que o Brasil tem potencialidade para conseguir mais mercados no Oriente
Médio. "Devemos ainda estudar melhor o Mercado da União Européia,
com atenção voltada para os aspectos psicológicos de consumo,
principalmente nos países do Reino Unido e Irlanda do Norte". Ele
lembrou que quando a missão da Irlanda visitou fazendas no Brasil, fez
pressão para banalizar a carne brasileira, partindo do ponto que o produto
não atende os padrões da Europa. "O europeu classifica a carne
brasileira em condição sanitária arriscada", disse.
Para o zootecnista Murilo Henrique Quintiliano, do Instituto Mineiro
de Agropecuária - IMA, o mercado internacional exige valor moral e grau
de acabamento como itens importantes para definir a qualidade da carne. "O
valor moral da carne tem a ver com qualidade das pastagens onde o boi é
engordado, o manejo e o bem-estar dos animais e seres humanos", disse. Quintiliano
enfatizou a importância das boas práticas de manejo para manter o
bem-estar dos bovinos. "O controle dos animais não pode existir baseado
na agressão e sim pela compreensão do seu comportamento; tratamentos
agressivos trazem más conseqüências como perdas quantitativas
e qualitativas de carne devido ao estresse no pré-abate, a dor e o sofrimento,
entre outras coisas". Segundo ele, a busca pela melhoria na produtividade,
nas condições de trabalho e de vida, são fatores apontados
pela resistência européia no combate à carne bovina brasileira.
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