A
produtividade do milho é função de vários fatores
integrados, sendo os mais importantes a interceptação de radiação
pelo dossel, eficiência metabólica, eficiência de translocação
de fotossintatos para os grãos e a capacidade de dreno. As relações
de fonte e dreno são funções de condições ambientais
e as plantas procuram se adaptar a essas condições. As respostas
diferenciadas dos genótipos à variabilidade ambiental, ou seja,
à interação genótipo e ambiente, significa que os
efeitos genotípicos e ambientais não são independentes. Daí
a importância de conhecer a época de plantio analisando todo o ciclo
da cultura, procurando prever as condições ambientais em todas as
suas fases fenológicas.
A grande dificuldade que se encontra é
com respeito às variações ambientais não previsíveis.
Essas variações imprevisíveis correspondem aos fatores ambientais
altamente variáveis, não só espacialmente como de forma temporal
(precipitação, temperatura, vento, etc.). Sabe-se que a interação
genótipo e ambiente está associada a fatores simples e complexos.
Os simples são proporcionados pela diferença de variabilidade entre
genótipos nos ambientes e os complexos, pela falta de correlação
entre os desempenhos do genótipo nos ambientes. Como pode-se observar,
é uma tarefa difícil estabelecer a época de plantio para
uma dada região sem um conhecimento prévio das cultivares a serem
plantadas e das condições ambientais onde se pretende desenvolvê-las.
Portanto, a época de semeadura refere-se ao período em que a cultura
tem maior probabilidade de desenvolver-se em condições favoráveis.
No Brasil Central, mais especificamente na região dos Cerrados,
embora o cultivo do milho seja feito em diversas condições climáticas,
considerando a variabilidade temporal e espacial do clima, pode-se observar que,
durante todo o ciclo da cultura, a temperatura é superior a 15 o C e não
ocorrem geadas. A temperatura noturna, em alguns locais, é elevada (maior
que 24 o C), o que afeta o desempenho das plantas, principalmente no período
coincidente com aquele entre emborrachamento e grão leitoso, reduzindo
a produtividade.
De forma geral, pode-se dizer que, nessa região,
a melhor época de semeadura é entre setembro e novembro, dependendo
do início das chuvas. A produtividade, geralmente, é mais alta quando
as condições do tempo permitem o plantio em outubro. Depois disso
há uma redução no ciclo da cultura e queda no rendimento
por área. Trabalhos de pesquisa no Brasil Central mostram que, dependendo
da cultivar, atraso do plantio a partir da época mais adequada (geralmente
em outubro) pode resultar em redução no rendimento em até
30 kg de milho por hectare por dia. Obviamente, muitas vezes esse atraso não
depende do produtor, por razões diversas. Cabe a ele elaborar seu planejamento
de plantio de forma a não atrasá-lo por negligência ou por
desconhecimento, pois assim estará perdendo dinheiro e comprometendo seu
negócio.
Excetuando-se as elevadas altitudes, onde o que determina
a época de plantio é a temperatura, no Brasil Central, o que define
a época de plantio é a distribuição das chuvas. O
uso de água para o milho durante seu ciclo varia de 500 e 800mm, dependendo
das condições climáticas dominantes. A água é
absorvida diferencialmente com o estádio de crescimento e desenvolvimento
da cultura. Vale a pena ressaltar que o déficit hídrico tem influência
direta na taxa fotossintética, que está associada diretamente à
produção de grãos e sua importância varia com o estádio
fenológico em que se encontra a planta. Pesquisas mostram que dois dias
de estresse hídrico podem reduzir até 20% de produtividade e que
estresse hídrico de quatro a oito dias diminui a produção
em mais de 50%. Considera-se, ainda, que o período que vai da iniciação
floral até o desenvolvimento da inflorescência e o período
do pendoamento até a maturação são as fases críticas
do déficit hídrico. Em resumo, a época de semeadura é
determinada em função das condições ambientais (temperatura,
distribuição das chuvas e disponibilidade de água do solo)
e da cultivar (ciclo, fases da cultura e necessidade térmicas das cultivares).
Ainda com respeito ao clima, deve-se levar em consideração a radiação
solar e a intensidade e freqüência do veranico nas diferentes fases
fenológicas da cultura.
Objetivando estabelecer a época
de plantio de milho de sequeiro para as diferentes regiões, foi desenvolvido
um estudo para recomendação das épocas de plantio em função
dos períodos críticos da cultura a estresse hídrico. Nesse
trabalho, além de ser considerado o fator climático precipitação
(intensidade e distribuição) e os elementos temperatura e radiação
na estimativa da demanda de água pela planta, levaram-se também
em consideração aspectos fisiológicos da planta e características
físico-hídricas dos solos.
O milho safrinha, que é
plantado além dos limites dos Cerrados, não tem um período
pré-fixado para seu plantio, como o milho de safra normal, que é
plantado no início das chuvas. É uma cultura desenvolvida de janeiro
a abril, normalmente após a soja precoce e, em alguns locais, após
o milho de verão e o feijão das águas.
Por ser plantado
no final da época recomendada, o milho safrinha tem sua produtividade bastante
afetada pelo regime de chuvas e por fortes limitações de radiação
solar e temperatura na fase final de seu ciclo. Além disso, como o milho
safrinha é plantado após uma cultura de verão, a sua data
de plantio depende da época do plantio dessa cultura antecessora e de seu
ciclo. Assim, o planejamento do milho safrinha começa com a cultura de
verão, visando liberar a área o mais cedo possível. Quanto
mais tarde for o plantio, menor será o potencial e maior o risco de perdas
por adversidades climáticas (seca e/ou geadas).
Isso a torna uma
cultura de alto risco, uma vez que a estação chuvosa encontra-se
no fim, o que proporciona uma variabilidade espacial e temporal muito grande e,
como conseqüência, uma variabilidade de produção. Na
safrinha, além do potencial de produção ser reduzido, há
alto risco de frustação de safras, baixo investimento na cultura
e, conseqüentemente, baixa produtividade.
Considerando a inviabilidade
de antever a interação genótipo e ambiente e suas variações
de combinações, as épocas-limites preferencialmente recomendadas
para a semeadura, de acordo com vários trabalhos de pesquisa, encontram-se
na Tabela 1. Em Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, norte de São Paulo
e Mato Grosso do Sul, o principal fator de risco é o déficit hídrico,
sendo atenuado nas áreas de maior altitude, em razão das temperaturas
amenas proporcionarem menor evapotranspiração.
No Paraná,
sul de Mato Grosso do Sul e sudoeste de São Paulo (Vale do Paranapanema),
existe elevado risco de geada, principalmente nas áreas acima de 600 m
de altitude. Assim, ao contrário do que é preconizado para o milho
de verão, as baixas altitudes são favoráveis ao cultivo da
safrinha nas regiões mais ao sul do País. No Paraná, as geadas
ocorrem com maior freqüência nos meses de junho e julho, com destaque
para julho, em Guarapuava, Cascavel e Londrina, e junho, em Ponta Grossa, Pinhais
e Cambará. Em São Paulo, ocorre com maior freqüência
nos meses de junho a agosto, com probabilidades semelhantes entre os meses de
junho e julho e ligeiramente superiores em agosto, para todas as localidades estudadas.
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