A
raça Canchim foi uma escolha baseada no critério econômico.
Quando eu decidi utilizar pela primeira vez um reprodutor Canchim, foi para
obter um animal de cruzamento industrial que fosse mais precoce do que o animal
zebuíno com o qual eu trabalhava em termos de idade e abate, conta
Denis Ferreira Ribeiro, criador e ex-presidente da ABCCAN. Denis também
enfatiza que as crias dos animais de seu plantel cruzados com o Canchim melhoraram
a precocidade e melhoraram ao encurtar o ciclo de produção.
O Canchim tem carcaça com formação frigorífica,
rica nas chamadas carnes nobres, com um tamanho bastante proporcionado e esses
fatores ainda se aliam à capacidade do canchim de transformar comida em
carne rapidamente. Então, esses fatores de precocidade, rusticidade, ganho
de peso e conversão alimentar torna o Canchim muito atrativo em qualidade
de produção, explica Luis Adelar Scheuer, atual presidente
da ABCCAN, que palestrou sobre os desafios atuais do Canchim e da pecuária
de corte no Brasil. Com a elevação dos preços das terras
cultiváveis no País, a pecuária de corte sente cada vez mais
a necessidade de se tornar altamente tecnificada e produtiva, analisou Scheuer.
Neste cenário, o gado Canchim com certeza é uma ferramenta importantíssima
para quem busca obter esta produtividade, já que alia a precocidade do
gado taurino e a rusticidade do zebu; além de se mostrar um imbatível
ganhador ser peso, especialmente nas condições de clima tropical,
concluiu o presidente da ABCCAN em sua palestra.
Em seguida, o Professor
da USP Pirassununga, Edvaldo Lencioni Tito proferiu uma palestra intitulada Ambiência
para bovinos de corte e a tolerância ao calor da raça Canchim
onde mostrou os dados obtidos no último experimento realizado sobre sua
supervisão com animais da raça. Nesta oportunidade foi observada
a alta tolerância ao calor do gado Canchim, lembrando também que
existe uma grande variabilidade entre indivíduos de uma mesma raça
em relação à dissipação de calor, variabilidade
esta que será provavelmente estudada nos próximos experimentos com
a raça, focando desta vez a identificação das linhagens dentro
da Canchim que apresentam maior facilidade nesta dissipação.
Palestrantes e criadores consideraram o encontro muito satisfatório, já
que ali puderam ser discutidas idéias que comprovaram o Canchim como a
raça ideal para o sistema de criação de gado de corte no
Brasil, aliando a rusticidade ao alto desempenho produtivo em um curto espaço
de tempo, como enfatiza Denis Ferreira Ribeiro: Após alguns anos
de utilização, obtive bons resultados. Assisti e testemunhei o aumento
pela procura de reprodutores dessa raça no Mato Grosso do Sul. Outros criadores
passaram a se interessar e a selecionar a raça e começaram a produzir
animais visando multiplicar a genética que estávamos selecionando.
Isso [seleção] eu comecei a fazer no ano de 1991 e estou até
hoje. Sou um criador que se orgulha muito de estar trabalhando essa raça.
Embrapa
investe em novas linhagens O
pesquisador Pedro Franklin Barbosa palestrou sobre as linhas de pesquisa com o
gado Canchim que estão sendo realizadas na Embrapa Pecuária Sudeste.
Franklin fez uma síntese do trabalho da Embrapa com o Canchim nas últimas
décadas e o trabalho genético realizado atualmente. Explicou que
na década de setenta o canchim estava restrito a uma base genética
muito pequena, com poucos touros formadores. Naquela época houve um movimento
para aprovar um esquema de obtenção de Canchim de cruzamento absorvente.
Porém, os pesquisadores viram que esse esquema de cruzamento absorvente
caia no mesmo problema. O esquema consistia em utilizar os touros canchim já
existentes nas vacas Nelores, depois meio sangue, 3/4, 7/8, assim por diante em
um esquema conhecido por ATV, em homenagem ao doutor Antonio Teixeira Vianna.
Esse é o esquema que segundo Franklin, persiste até hoje. Quando
chegou na década de oitenta, a Embrapa começou a fazer um novo esquema
de obtenção de Canchim; as chamadas novas linhagens que consistem
em cruzar touros canchim com vacas nelore, e desse cruzamento obter uma fêmea
cruzada Canchim/Nelore e nessa fêmea colocar um touro Charolês de
linhagem nova, obtendo assim um produto de linhagem nova que os pesquisadores
chamam de MA (mestiçagem alternativa). Esse touro MA cruzado com
vaca MA, dá canchim linhagem nova, então é o que nós
estamos fazendo aqui. Hoje nós produzimos aqui um projeto grande de pesquisa,
comparando as linhagens antigas, fechadas com a linhagem nova. Então nós
podemos cruzar linhagens antiga/nova e nova/antiga, explicou Franklin.
A Embrapa Pecuária Sudeste está desenvolvendo um projeto em que
o objetivo principal é comparar as linhagens antigas, novas e cruzadas.
Para isso os pesquisadores estão mantendo aproximadamente cem vacas de
cada linhagem e acompanhando o desempenho delas ao longo da vida e dos seus bezerros.
Nós medimos tudo aquilo que é possível medir, então
há propostas novas de medir tolerância ao calor, tolerância
ao carrapato, ganho de peso, fertilidade, todos os índices zootécnicos
possíveis sob dois enfoques. Isso é muito importante dizer, porque
às vezes, as pessoas pensam que a gente só tem o enfoque de genética
antiga, tradicional, então nós temos também o enfoque da
genética molecular disso, enfatiza Franklin. A idéia dos pesquisadores
da Embrapa, segundo Franklin é intensificar o sistema, ou seja, usar mais
vacas por área do que é utilizado hoje. Nós sabemos
aqui com o resultado de outros projetos que é possível manter cinco
vacas Nelore por hectare e estamos começando um sistema intensivo de produção
de canchim; porque as fêmeas Canchim são maiores do que as fêmeas
Nelore e ainda tem os produtos, então nós vamos ter uma equivalência
em termos de lotação semelhante, ressalta Franklin, que garante
que existem alguns resultados parciais mostrando vantagens em se realizar e utilizar
novas linhagens em cruzamentos. Mas, ainda segundo Franklin, é prematuro
concluir qualquer resultado: Nós temos que continuar o trabalho por
alguns anos pra depois se produzir um pacote, um manualzinho para o produtor de
canchim, porque a dúvida grande deles é: Afinal de contas há
vantagens em se fazer novas linhagens? Há vantagens em se utilizar novas
linhagens? Essas novas linhagens estão vindo da onde? Franklin explica
que os touros Charolês estão vindo principalmente dos Estados Unidos
e da França. Alguns vêm também da Argentina. Provavelmente
nós vamos incluir a Inglaterra na nossa bateria de touros Charolês
e também touros Charolês brasileiros, porque hoje, o Brasil é
considerado o berço do Charolês mocho; quer os franceses queiram,
quer não, afirma. |