Traçado
o planejamento, definida a linha de produtos que o mercado demanda e a propriedade
pode atender, a escolha correta da raça parceira também é
de grande importância. Para uma empreitada que precisa manter as fêmeas
em reprodução, inclusive aproveitando-as no comércio de receptoras,
e gerar machos precoces e com bom rendimento de carcaça, o gado Santa Gertrudis
mostra grande desempenho. É o que podemos constatar a partir das experiências
das fazendas Pantano, em Ribas do Rio Pardo (MA), e São Judas Tadeu, em
Santa Rita do Pardo, também em Mato Grosso do Sul.
Ambas escolheram
o cruzamento industrial como ferramenta de produção de carne de
qualidade e em escala. O objetivo é conferir aos trabalhos um salto à
frente, em relação à forte concorrência da região,
que se encontra entre os principais pólos produtores da pecuária
nacional. Ambas escolheram o cruzamento industrial como ferramenta de produção
de carne de qualidade e em escala. A Santa Gertrudis, uma raça sintética
com origem nos Estados Unidos, mostra toda sua força na imposição
de suas características produtivas, tais como fertilidade, habilidade materna
e rusticidade e abre uma série de perspectivas aos seus empresários.
Na fazenda Pantano, propriedade da Energo Agroindustrial, empresa do
grupo Bardella, cuja atividade principal é o reflorestamento, o Santa Gertrudis
entrou basicamente na formação de um three cross diferenciado, já
que na maior parte de projetos similares, a estratégia seria de produção
de um cruzamento terminal. Na Pantano, as fêmeas F2 não seguem para
a terminação e se mantêm na reprodução. Segundo
Thiago Amstalden Rubega, veterinário responsável, uma dos principais
motivos da escolha do Santa Gertrudis foi exatamente esta possibilidade que ela
proporciona. Precisávamos de uma raça que nos permitisse obter
em F2 boas mães, atraentes no mercado de receptoras, mas, fundamentalmente,
indicadas para à reprodução a campo em nossas condições,
justifica.
A pecuária da Pantano vem da atividade de uma atividade
de cria, recria e engorda a partir de um rebanho anelorado, em regime extensivo.
Em 1998, para melhorar a base de matrizes e agregar valor ao criatório,
a Energo passou a selecionar a raça Nelore. Porém, em 2004, a partir
da introdução da inseminação artificial, o trabalho
começou experimentar raças como a Aberdeen, a Red Angus, o gado
Simental e o Limousin. Deste trabalho, em geral, as fêmeas 1/2 sangue saíram
muito boas, dando sérios indicativos de que a produção de
um three cross seria o caminho mais acertado. Foi então que o Santa Gertrudis
entrou para o time, por meio de sêmen e da cobertura de touros a campo.
Desde então, das vacas nelore, a cabeceira passou para a inseminação
com Nelore, e as demais com Hereford, estratégia que no ano passado sucumbiu
frente ao desempenho do Santa Gertrudis, passando tudo para a raça sintética.
Na estação de monta de 2006, 1,5 mil matrizes receberam sêmen
da raça por meio de IATF Inseminação Artificial em
Tempo Fixo. Dessas, 200 eram 1/2 sangue Santa Gertrudis, 200 de outra raça
européia e 1,1 mil Nelore. Apenas 300 reses zebuínas receberam material
Nelore de ponta. O restante, sêmen Santa Gertrudis.
Vale destacar
que essas 200 1/2 sangue Santa Gertrudis possuem registro de M1 (livro para registro
de fêmeas cruzadas que entram em processo de obtenção da raça
por meio de cruzamento absorvente), que permite a produção de M2,
um 3/4 e depois o 7/8, que considerado Santa Gertrudis PO. Entretanto, o repasse
ficou por conta de touros Nelore. Como resultado, na desmama dos produtos em 2006,
os machos three cross pesaram em média 260kg, contra 190kg dos Nelore.
Entre as fêmeas, 210kg para as cruzadas e 170 para as nelore.
Segundo
o vice-presidente da Associação Brasileira do Santa Gertrudis, Luiz
Fernando Doneux Júnior, o desempenho da raça no cruzamento
industrial não é novidade, apesar da pouca divulgação.
Há empresas de renome do setor trabalhando em grande escala, como as Fazendas
Bartira, com propriedades em São Paulo e Minas Gerais. A empresa faz cruzamento
industrial e continua o trabalho de seleção da raça iniciado
por um dos seus mais tradicionais criadores, no Brasil, que foi a King Ranch do
Brasil.
Mas a satisfação dos dirigentes da Pantana veio
mesmo com o resultado na produção frigorífica, a partir de
uma dieta exclusiva de pasto e mineralização apropriada. Em março
deste ano, realizou-se o abate da última leva de 2006, ou seja, do fundo
do rebanho. Animais totalmente rastreados pesaram em média 17,9 arrobas
aos 30 meses de idade e obtiveram padrão de carne tipo exportação.
Em outubro do ano passado tinha sido a vez da cabeceira da safra, que reuniu reses
com peso médio de 17,5 arrobas e idade entre 24 e 26 meses, com o mesmo
rendimento de carcaça e acabamento de gordura.
Para o gerente
operacional da Energo, Célio Siqueira Gios, os números do trabalho
trazem um grande alento. Na verdade, eles mostram que estamos em um bom
caminho para alcançarmos nossos objetivos. Entre as metas está conseguirmos
ser competitivos na produção de carne de qualidade a partir de animais
diferenciados que agregam valor ao nosso patrimônio. Neste caminho, estamos
estimulados a continuar nossos investimentos, aguardando dias melhores em termos
de remuneração. O aperto de liquidez é geral, mas estamos
bem, justifica.
Outro trabalho que não deixa por menos é
o da Fazenda São Judas Tadeu, propriedade de Odair Salla, em Santa Rita
do Pardo. Em um rebanho de 5,5 mil matrizes, o touro Santa Gertrudis trabalha
em metade delas na cobertura a campo. O sol é forte, mas os animais não
escolhem a sombra. Eles caminham o tempo todo e ainda fazem frente aos carrapatos,
mostrando enorme adaptação ao cerrado sul-matogrossense. Cerca de
80% dos bezerros nascidos em 2006 estão desmamados e mais uma vez o Santa
Gertrudis mostrou sua força na parceria.
Segundo o gerente da
propriedade, Antonio Oliveira Filho, o desempenho da desmama foi diferencial evidentemente
para o fechamento das contas da fazenda, mas também para o seu processo
produtivo como um todo, em função de calorização.
Machos 1/2 sangue pesaram em média 240 kg, contra uma faixa ampla dos Nelore
entre 180 e 220kg. Entre as fêmeas, 200 kg para as F1 e entre 160 e 180kg
para as Nelore. A propriedade conta com o auxílio do creep feeding com
farelo de algodão, milho e sal mineral proteínado na época
das águas. Na recria, o sal é apropriado à estação
seca com coleta de volumoso direto nas pastagens.
A expectativa do pecuarista
Odair Salla, em torno da produção frigorífica da São
Judas é a melhor possível, graças à boa safra de bezerros
1/2 sangue. Temos uma bezerrada com grande potencial de engorda e tenho
certeza que dando as condições devidas, teremos resultados ainda
mais positivos, destaca. Odair Salla também selecionador de Santa
Gertudis PO. Foi justamente da observação de sua seleção
que decidiu utilizar a raça sintética no cruzamento industrial.
José Arnaldo Amstalden, superintendente técnico da Associação
Brasileira de Criadores de Santa Gertrudis aposta na boa produção
da São Judas Tadeu e até sugeriu a produção de M2
para algumas das bezerras observadas no campo. Isso significa que o bom desempenho
das fêmeas, a exemplo do observado na Fazenda Pântano, também
é decisivo na possibilidade de agregar valor genético ao rebanho
e constituir uma base diferenciada de matrizes. |