de
maior probabilidade de contaminação por substâncias carrapaticidas,
uma vez que se observa o uso indiscriminado e sem critério técnico
destas substâncias na maioria dos rebanhos leiteiros do país, expondo
a contaminação também aqueles que aplicam os fármacos
utilizados no controle dos carrapatos sobre os bovinos.
O carrapato B.
microplus, popularmente conhecido como carrapato do boi, originalmente infestava
antílopes, cervos, bovinos e búfalos selvagens no sudeste Asiático.
Sua dispersão para as diferentes regiões do globo terrestre localizadas
entre os paralelos 32º Norte e 32º Sul seguiu a migração
do gado zebuíno, sendo na atualidade um dos principais problemas sanitários
que afetam a pecuária nestas áreas. No Brasil, B. microplus
encontra condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento
em regiões que vão do extremo Sul em direção ao Norte
e Nordeste do país, possibilitando-lhe completar de 2,5 a 3 ou de 3 a 4,
e potencialmente até 5 gerações por ano em regiões
que apresentem temperaturas médias acima de 17ºC. Em relação
aos prejuízos causados por esse carrapato no Brasil estima-se uma perda
na ordem de um bilhão de dólares por ano, sendo 40% por perdas na
produção de leite, 27% pela mortalidade de bovinos, 11% sobre o
desempenho reprodutivo, 9% em gastos com acaricidas, 5% pela redução
no ganho de peso, 5% em juros bancários, 3% pela má qualidade do
couro e despesas no controle e prevenção das hemoparasitoses.
A transmissão de agentes patogênicos, principalmente os responsáveis
pela babesiose e anaplasmose e o desenvolvimento letárgico dos animais
intensamente parasitados implicam em uma baixa produção de leite
e carne, com perda média estimada em 0,24 kg de peso vivo/carrapato/ano.
Além dos prejuízos causados com relação às
características produtivas, a infestação por B. microplus
está relacionada à diminuição na fertilidade, à
maior ocorrência de doenças e perdas por morte de animais adultos
e de bezerros, desvalorização comercial do couro e aumento dos custos
de produção nas propriedades leiteiras.
De acordo com levantamento
realizado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde
Animal (SINDAN), o Brasil gastou 13,6 milhões de dólares na compra
de carrapaticidas no ano de 1986, representando 15% do total gasto com defensivos
no país. Estudos conduzidos na Austrália no ano de 2000 calculam
uma perda anual de 4 milhões de dólares na criação
de gado, 49% desta perda devido aos custos do controle do carrapato e 51% devido
a perdas na produção de leite, carne e couro.
O uso de
acaricidas químicos ainda se constituí no principal instrumento
de controle do carrapato dos bovinos. Ao longo de décadas, foram utilizados,
seqüencialmente, acaricidas baseados em compostos arsenicais, organofosforados,
carbamato, formamidina e piretróides. A troca de princípios ativos
tem sido uma necessidade devido ao surgimento de populações resistentes.
Os mais recentes grupos químicos de carrapaticidas que encontram-se disponíveis
no mercado são: fenilpirazoles, cymiazol, naturalyte e as lactonas macrolíticas,
porém ainda é de uso corrente os piretróides, organofosforados
e amidínas, devido ao baixo custo relativo destes medicamentos e por ainda
promoverem um eficiente controle a populações do carrapato dos bovinos.
Têm-se demonstrado a crescente resistência apresentada pelos carrapatos
às moléculas químicas presentes nos carrapaticidas, sendo
que B. microplus pode desenvolver a resistência a estas moléculas
mais rapidamente que outras espécies de carrapatos, presumivelmente, pelo
menor período de tempo entre as gerações e pela intensa pressão
de seleção produzida através dos tratamentos acaricidas direcionados
à espécie.
A resistência a organofosforados tem sido
reportada desde 1963, quando foram descritos na Austrália casos de resistência
para dioxation, carbophention, diazinon e carbamyl. O desenvolvimento da resistência
do carrapato B. microplus ao amitraz surgiu após quatro a dez anos de seu
uso contínuo em diferentes partes do mundo, sendo está situação
inicialmente evidenciada também na Austrália, onde em 1980 identificou-se
uma cepa resistente e com presença de resistência cruzada ao cymiazol
e ao chlorometiuron.
Ao se trabalhar com fármacos acaricidas,
deve-se estabelecer índices teóricos que evidenciem a eficácia
ou potência destes compostos, sempre baseados em teste in vitro. Entretanto,
a utilização de técnicas laboratoriais é o método
mais prático e seguro para o diagnóstico e mensuração
do grau de resistência de cepas de carrapatos a determinados princípios
acaricidas.
A identificação de bases acaricidas que promovam
o efetivo controle de B. microplus na propriedade proporcionará o desenvolvimento
e a implantação de estratégias de controle direcionadas aos
rebanhos amostrados, propiciando um uso mais racional e econômico do arsenal
farmacológico disponível e aumentando a rentabilidade da exploração
pecuária e minimizando o impacto ambiental relacionado ao controle químico
da espécie. Com este propósito, a Embrapa está realizando,
gratuitamente, carrapatogramas para os produtores de leite como forma de promover
o uso mais racional dos acaricidas utilizadas para o combate ao carrapato nas
propriedades leiteiras do estado. Desta forma, buscará por meio desta ação
conjunta entre as instituições parceiras e os produtores de leite
a obtenção de uma matéria-prima livre da contaminação
por acaricidas, logo mais segura sob o ponto de vista alimentar e apta a atender
as exigências da Instrução Normativa 51 que vigorará
a partir de 01 de julho de 2007 com relação a presença de
resíduos quimioterápicos, buscando também minimizar o impacto
ambiental causado por sucessivos e ineficazes tratamentos carrapaticidas nas propriedades
e aumentar a lucratividade da pecuária leiteira. |