Essa
reação do produtor é compreensível e até justificável.
A idéia de entrar num mercado altamente promissor e com potencial de crescimento
incalculável é tentadora. Mas, como tudo na vida tem um senão,
é bom o produtor estar ciente de que planejamento, para garantir melhor
rentabilidade possível da terra de que dispõe, e faro para identificar
os caminhos a seguir e o funcionamento das regras do mercado, serão fundamentais
para não quebrar a cara, ou virar refém das grande usinas, que são,
na prática, quem manda nesse jogo.
Mas antes de se preparar para
vender a sua produção, é importante tomar todos os cuidados
necessários para garantir uma lavoura bem instalada, produtiva, saudável
e imune às principais pragas e doenças. Além disso, deve-se
escolher variedades bem adaptadas a região onde se encontra a propriedade
e prover todas as necessidades nutricionais da planta, qualidade do solo e recursos
hídricos disponíveis. Uma boa produção é o
primeiro passo para se dar bem nesse negócio. Como
se planta Normalmente,
em áreas de renovação, utiliza-se o cultivo mínimo
com aplicações de herbicidas para eliminar as socarias. Pode-se
também efetuar o roço, encoivaramento e queima dos restos de cultura,
seguidos de um revolvimento com arado e, em seguida, procede-se ao sulcamento.
Havendo uma indicação de calagem definida pela análise de
solo, esta deverá ser realizada com antecedência de, pelo menos,
30 dias do plantio.
Via de regra, a adubação é feita
manualmente, e a quantidade de adubo a ser usada é definida pela análise
de solo (realizada pelo IPA), podendo ser de dois tipos: fundação
e cobertura.
Como pragas importantes para nossa região, temos
a cigarrinha da folha e o cupim dos rebolos. A cigarrinha pode ser controlada
por ação química (inseticidas) ou biológica, (fungo
produzido pelo IPA), enquanto que o cupim, controla-se através do uso de
inseticidas.
Normalmente, a maioria das doenças da cana-de-açúcar
são de caráter secundário, excetuando-se o raquitismo das
soqueiras (bactéria), que é tratado pela ação térmica
ou pelo uso de mudas sadias (cultura de tecidos), produzidas pelo IPA.
É necessário realizar a limpa, porque as ervas daninhas(mato) concorrem
diretamente com a cultura da cana-de-açúcar, em relação
a nutrientes (adubos) e água. Existem duas maneiras de se fazer a limpa:
mecânica, através de enxada e cultivador e química, por meio
da aplicação de herbicidas de pré e pós-emergência. Época
de colheita A
época de colheita da cana-de-açúcar, ocorre normalmente no
período de verão, ou seja, de setembro a março do ano seguinte
ao plantio. Em plantios irrigado e de várzea, poderá chegar a 150t/ha,
enquanto que, em áreas de encosta, sem irrigação, a cana-planta
atinge até 70t/ha.
A colheita é realizada de forma manual
com o corte rente ao solo. Cerca de 90% da matéria-prima é cortada
e queimada, embora, em alguns casos, seja discutível a utilização
dessa técnica. Antes desse procedimento, é muito importante levar
em consideração a capacidade de corte e o escoamento da produção,
a fim de reduzir perdas de rendimento pela demora na moagem.
A comercialização
é realizada diretamente com as usinas produtoras de açúcar
e álcool, e/ou nas destilarias que fabricam apenas álcool. Em menor
escala, alguns produtores vendem a matéria prima em pequenos engenhos para
a fabricação de rapadura e cachaça. As
principais dúvidas sobre a nova era da cana Por
que o assunto energia ganhou tanta atualidade? Do ponto de vista mundial,
temos a situação do efeito estufa, pela queima dos combustíveis
fósseis, que está aumentando a temperatura do planeta. Há
um clima de conscientização no mundo para que se encontre uma solução,
seja pelo uso de fontes renováveis de energia, seja pelo seqüestro
de carbono previsto no Protocolo de Kyoto. O pano de fundo, então, é
dado pela questão ambiental. Mas outra questão é a do preço
do petróleo, que aumenta por razões políticas e também
técnicas já consumimos metade da metade das reservas conhecidas
no mundo; vamos começar a ter exploração cada vez maior das
reservas mais caras. Não existe chance de se descobrir uma grande reserva
desconhecida hoje já se sabe onde elas estão. Por isso
o preço do petróleo, o efeito estufa e a necessidade de energias
renováveis há uma oportunidade para o Brasil para os próximos
50 anos: o etanol. Estamos começando a exportar álcool porque os
países estão entendendo que a mistura da gasolina com álcool
é um bom negócio, do ponto de vista econômico, ambiental,
de marketing. A questão que se coloca hoje é se somos capazes de
produzir grandes quantidades para atender ao mercado externo em larga escala.
Mas o que é mais eficiente: obter álcool da cana ou do milho?
Nos Estados Unidos, o esforço para obter álcool do milho vale
a pena tecnicamente e politicamente. Há um componente político forte,
para satisfazer os produtores de milho. Um país, quando faz uma investida
como essa, ou busca atender a necessidade de substituir a gasolina, ou atender
às necessidades políticas; ou ambas. No início da produção
de álcool no Brasil, buscou-se atender o setor sucroalcooleiro e também
substituir a gasolina. Vemos hoje que vale a pena o que fizemos porque somos capazes
de reduzir os custos de produção. Aprendemos a fazer um álcool
barato, nesse volume que estamos produzindo. O mercado mundial produz algo como
40 bilhões de litros; para se substituir 10% da gasolina no mundo, será
preciso produzir cerca de 150 bilhões de litros. Se o Brasil for produzir
algo em torno de 110 bilhões de litros por ano, teremos de passar nossa
área agrícola de 5,5 milhões de hectares de cana para 30
milhões de hectares, aproximadamente. Isso é muito ou é pouco?
A área plantada total no Brasil é de 55 milhões de hectares,
a gente passaria para em torno de 75 milhões. Mas isso vai ter de ser feito
em um período de 10, 15 anos, e seria o equivalente a um Proálcool
a cada dois, três anos.
Para que isso seja possível, porém
, é preciso investimento. "Ser capaz" significa terra, dinheiro,
avaliar o impacto ambiental, o benefício social. Se o País produzir
130, 140 bilhões de litros e vender isso a R$ 1,00 o litro, teremos R$
140 bilhões por ano, cerca de US$ 50 bilhões. É muito dinheiro,
representa 40% das exportações atuais. Imagine se o Brasil, de repente,
tivesse uma atividade que gerasse R$ 140 bilhões anuais e mais de 5 milhões
de empregos. Em uma janela de 50 anos, o álcool é capaz de gerar
muito emprego e muita renda, e com pouco investimento.
Estão buscando
outras matérias-primas para produção de álcool, além
do milho e da cana? O mundo produz muito álcool a partir do açúcar
da cana e do amido do milho. São as duas fontes mais utilizadas. Mas a
matéria-prima mais abundante para isso é fibra, bagaço ou
palha de cana; resíduos do milho; casca de arroz; restos de cultura de
soja. Uma tecnologia que converta fibra em álcool e uma tecnologia para
coletar o resíduo aumentarão a produção com a mesma
área plantada. Essa é uma oportunidade para o Brasil. Existe um
panorama favorável a isso nestes próximos 50 anos porque o mundo
está disposto a encontrar uma solução para os combustíveis,
e não sabemos quanto tempo essa oportunidade vai durar. Por isso, temos
de fazer um esforço para ter tecnologia própria, aumentar a produção
de álcool e exportar.
Qual o perfil do nosso setor sucroalcooleiro?
São 320 usinas, algumas de capital estrangeiro, mas a maior parte ainda
de capital nacional privado. Essse perfil já começou a mudar. A
produção brasileira de cana é da ordem de 400 milhões
de toneladas, sendo que as menores unidades produzem 0,6 milhão e as maiores
6 milhões de toneladas. A maioria das unidades está entre médio
e grande porte. Em relação à propriedade das terras, 70%
delas pertencem às próprias usinas. Temos 60 mil fornecedores de
cana. No geral, a usina tem apenas uma parte da plantação de cana.
Há usinas que estão indo muito bem, outras que estão mal
economicamente. Diria que 80% da produção está na região
Centro-Sul; o Estado de São Paulo deve produzir algo como 55%, 60% da produção
brasileira. No Nordeste, a produção se localiza basicamente entre
a Paraíba, Pernambuco e Alagoas, sendo este último o maior produtor.
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