Outro
ponto importante também a favor da ovinocultura é sua permissividade
quanto à utilização de pequenas áreas, em relevo acidentado
e apenas com a utilização de mão-de-obra familiar. Cientes
deste contexto, Benedito de Lima Filho, o Benê, sua esposa Egna Alcântara
Miranda e o sócio Luiz Roberto Dias da Silva - uma reunião de capacidade
de investimentos, propriedade da terra e visão empresarial, com conhecimento
técnico e capacidade de gerenciamento - há pouco mais de quatro
anos decidiram experimentar a atividade em uma área desocupada do Rancho
do Morro Verde, propriedade situada no município de Atibaia (SP).
Trata-se de um sítio de 18 alqueires, em região de topografia bastante
acidentada que, na época, servia com hotel para eqüinos. O trabalho
já era fruto de uma parceria entre o casal e Luiz Roberto. Em terras caras,
rodeadas por propriedades de lazer e com limitações de infra-estrutura,
o hotel não se mostrava rentável o suficiente nem estimulante. Foi
então que a parceria decidiu ocupar parte da propriedade com ovinos da
raça Santa Inês. As primeiras 40 cabeças comerciais chegaram
em 2004, juntamente com um reprodutor. O primeiro passo foi providenciar o registro
desses animais.
Seis meses depois, mais 20 matrizes de seleção
mais apurada eram incorporadas no plantel, agora já visando não
só produzir carne, mas também genética de ponta. Data de
2005 o início da participação em exposições.
A estréia aconteceu na primeira Feinco, no Parque de Exposições
Imigrantes, em São Paulo (SP). Desde então, nunca mais abandonaram
as pistas. Naquele mesmo ano, obtiveram posto de Melhor Criador e Melhor Expositor
do ranking paulista, feito repetido no ano seguinte.
Nos últimos
anos, os feitos do Morro Verde são muitos. Além de nove títulos
de Melhor Expositor e dez de Melhor Criador, em dez mostras que participaram no
circuito paulista, o criatório foi o primeiro a exportar sua genética
para os estados nordestinos. Vale lembrar que a região é celeiro
da raça Santa Inês e responsável por fornecer milhões
de matrizes para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, nos últimos
cinco anos. A valorização da atividade, desta raça brasileira,
portanto plenamente adaptada, e do produto carne de cordeiro, hoje faz com que
o mercado de animais de elite pratique preços que superam, em muito, as
cotações médias de muitos bovinos. O consumo percapita/ano
de carne de ovinos no Brasil aumentou de 657g, em 2005, para 810g, em 2006.
O Rancho do Morro Verde também fez um outro feito importante. No primeiro
Santa Inês Carpa Serrana conquistou o inédito prêmio Adir do
Carmo Leonel. Trata-se de um reconhecimento transitório, cuja posse definitiva
só ocorre mediante três conquistas. Entre os animais de destaque
do rebanho, responsáveis por tantos feitos, está HD Atibaia 211,
matriz quatro vezes Grande Campeã em exposições paulistas
e também merecedora de condomínio avaliado em R$ 124 mil. Simplesmente
ela é a fêmea mais valorizada já nascida no Estado de São
Paulo, segundo Benê. O
negócio com ovinos O
Morro Verde possui um rebanho total, hoje, de 800 cabeças. Dessas, 450
são comerciais, voltadas exclusivamente para a produção de
carne; e 350 são de elite, freqüentadoras de exposições
e fornecedoras de genética de ponta. As 300 matrizes comerciais produzem
por ano 200 machos e 200 fêmeas. Isso significa uma receita de R$ 24 mil/ano
pelos cordeiros que seguem para abate e de R$ 50 mil para as fêmeas, todas
destinadas à reprodução. O preço mínimo praticado
em cada uma delas é de R$ 250, entre 6 e 7 meses de idade.
Fazendo
as contas, somente o rebanho comercial, neste porte de volume de matrizes, traz
uma receita mensal de pouco mais de R$ 6 mil. Segundo Benê, as despesas
dificilmente ultrapassam 40% da receita. Toda a produção de cordeiros
do rancho vai para o Frigorífico Savana, responsável por abastecer
importantes cozinhas da renomada gastronomia paulistana e que vem desenvolvendo
produtos, tais como cortes e padrões de carne para alavancar seus negócios.
Na comercialização de animais de elite, o Morro Verde
tem vendas próprias, em parcerias e vários convites ao longo da
temporada. Cada praça tem suas características e alcance de
recursos, explica Marcela. Mas, para se ter uma idéia, a Feinco 2007
faturou R$ 4,6 milhões em oito leilões de várias raças.
A marca superou em R$ 2 milhões o faturamento da Feicon 2006. O Leilão
Integração Santa Inês, que contou a organização
de Luiz Roberto, um dos sócios do Rancho Morro Verde, faturou R$ 485 mil,
com média de R$ 9,3 mil para fêmeas e R$ 28,5 mil para machos. Porteira
a dentro A
raça Santa Inês é conhecida como o zebu dos ovinos, em função
da sua rusticidade e capacidade de adaptação. Trata-se de animais
muito dóceis e de fácil manejo, sem grandes exigências. Mas
para quem quer produzir qualidade, estas características não dispensam
as devidas atenções às várias categorias animais e
sanitárias. Os filhotes de ovinos, nos seus primeiros 30 dias de vida,
são mais sensíveis, principalmente em regiões mais frias
como é a Serra da Mantiqueira de Atibaia. Procuramos oferecer maior
conforto e proteção aos filhotes no primeiro mês, basicamente
nas épocas do ano de temperaturas mais amenas, explica Marcela.
Neste período, eles permanecem ao pé da mãe, 24 horas por
dia. No segundo mês, são separados das matrizes durante dia
vão para o campo mas posam com elas em baias com creep feeding.
Assim, podem se alimentar de ração durante a noite. Neste esquema
seguem até os 70 dias, em média, quando alcançam peso em
torno de 25kg. É a desmama. A partir daí, os machos seguem para
o confinamento de terminação até a faixa de peso entre 35
a 40kg, época em que estão entre 100 e 110 dias de vida. Hora do
abate.
As fêmeas permanecem em baias até os mesmos 100 a
110 dias, período em que são soltas no campo em lotes exclusivos,
até adquirirem 70% do peso de adultas, algo a partir de 40kg. Significa
que por volta dos 10 meses de idade, elas estão prontas para a estação
de monta, procedimento que no Morro verde acontece ao longo de todo o ano. Grupos
de 45 fêmeas permanecem em companhia de um reprodutor durante 50 dias. Neste
período, ela terá no mínimo três cios.
Neste
modelo, a propriedade consegue 85% de prenhez. As fêmeas que não
emprenham são avaliadas quanto a eventualidade de problemas reprodutivos.
Caso não se confirmem, como é de costume, retornam a uma segunda
estação de monta, de onde dificilmente saem sem emprenhar. O período
de gestação de uma ovelha é de 5 meses. Cerca de 15 dias
antes do parto, a dieta tem seu suprimento protéico aumentado de 18% para
20%. Da mesma forma, o energético.
Segundo Marcela, neste período,
a fêmea precisa de uma suplementação, de modo a chegar ao
parto menos sentida, com escore corporal mais alto e em boas condições
de amamentar adequadamente seu borrego. O mesmo procedimento é feito por
ocasião da desmama, época em que começam a preparar a matriz
para uma nova gestação. As crias são exigentes e sugam bastante
as mães. Sendo assim, melhora-se a dieta e, por ocasião da estação
de monta, elas estão bastante saudáveis e férteis. Como conseqüência,
o Morro Verde apresenta 70% de partos germilares, ou seja, de gêmeos. Uma
fêmea Santa Inês cria, em média, até 10 anos de idade,
em torno de 1,5 borrego por ano. Sanidade
é nutrição Rigor
em saúde é base do sucesso, afirma Benê. O rebanho conta
com exame de fezes periódicos, por amostragem. Sempre que identificados
números inadequados, entra-se com medicamento específico. Além
disso, uma vez por ano, os animais são vacinados contra as clostridioses.
Conforme vão nascendo, os ovinos recebem o mesmo medicamento e posterior
reforço. Os problemas de casco foram reduzidos em 90% com pedilúvio.
O procedimento conta com três banhos: o primeiro de água corrente
para lavagem; um segundo de solução de formol; e o terceiro de sulfato
de cobre.
A dieta dos animais comerciais difere em qualidade e volume,
em relação aos de elite. Parte do volumoso vem do rodízio
de piquetes de capim aruana, massai e braquiária brizanta. Toda a ração
concentrada é batida na fazenda, mas os animais de produção
de genética contam também com uma comercial apropriada a cada faixa
etária. As matrizes de campo recebem capim e silagem, cerca de 80%; e concentrado
à base de milho, soja e farelo de algodão (20% do arraçoamento).
Os cordeiros têm concentrado específico, com mais proteína,
do nascimento ao confinamento.
Já os ovinos de elite permanecem
mais tempo em confinamento e contam com variação maior de cardápio,
além de fartura. A variação de concentrado se deve a um comportamento
peculiar à espécie. Ovinos comem até por curiosidade.
Portanto, quanto mais variarmos paladar, odores e quantidades de vezes de oferta,
mais eles vêm ao cocho para comer, explica Benê. Todos os animais
de elite, além de silagem de capim, contam ainda com feno de alfafa no
fornecimento de volumoso. Independente de elite ou comercial, todo o rebanho recebe
sal mineral comum específico para a espécie. A desmama da elite
é mais tardia: em torno dos 3 meses de idade.
Todo o manejo e
administração da rotina dos animais ficou bastante facilitado em
relação à eqüinocultura, atividade que cedeu seu espaço.
Marcela é categórica ao afirmar que agora pode cuidar de um casca,
ajudar em partos quando necessário e realizar uma série de outras
tarefas dentro do rebanho. Isso era um fator limitante na atividade anterior,
destaca. O próprio Benê sofreu grave ataque de um cavalo dentro do
Morro verde, incidente que lhe custou alguns dias na UTI.
A docilidade
dos ovinos atraiu os próprios filhos do casal para a lida no campo. Estamos
mais unidos e participativos do dia-a-dia de cada um, na família. As crianças
estão sempre por aqui e até nos ajudam na lida, por conta própria.
Em resume, a ovinocultura para nós é uma atividade bastante familiar,
até como ponto de encontro, mas principalmente como uma solução
para a participação de todos e das nossas condições
de propriedade. Estamos muito satisfeitos e motivados ao fomento, conclui
Marcela. |