Além
da necessidade de aumentar a produção de milho, sem expandir a atual
fronteira agrícola, para atender as demandas atuais do mercado interno,
para Bertolini, daqui a pouco uma nova demanda também vai pressionar o
mercado brasileiro a de ajudar no suprimento internacional de milho, já
que o milho americano será destinado à produção de
etanol. "Nossa atual produção estimada em 47,7 milhões
de toneladas para a safra 2006/2007 precisa ser apoiada em tecnologia para poder
crescer. O que nós queremos do governo é apenas que ele nos permita
utilizar as ferramentas tecnológicas já existentes. Não é
justo competir com os argentinos, por exemplo, sem ter acesso às mesmas
tecnologias que eles usam", desabafa Bertolini.
O representante
dos produtores refere-se às cinco variedades de milho transgênico
que estão à espera de votação na CTNBio Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança. "Sabemos que haverá
uma Audiência Pública no próximo dia 20, em Brasília.
Tudo que queremos é que os membros da CTNBio e também os ministros
que compõem o Conselho Nacional de Biossegurança saibam do impacto
positivo que essas liberações podem ter na economia brasileira."
Para ele, é um absurdo que as avaliações dessas
variedades de milho estejam paradas há anos na CTNBio. "Nós
confiamos nos cientistas Brasileiros e queremos que saibam que contam com o apoio
dos agricultores para aprovação do milho transgênico",
completou o produtor da região dos Campos Gerais. Produto
faz sucesso na Europa O
plantio do milho geneticamente modificado (GM) na Europa tem demonstrado que a
coexistência com as variedades convencionais é possível, desde
que valorizado o conhecimento científico e respeitadas as boas regras de
manejo agrícola. O resultado de tal prática é que, quando
conduzidas por pessoas neutras, com expertise tecnológica e vivência
nas atividades agronômicas, as informações do campo tornam-se
fonte precisa e segura para políticos, associações ecológicas
e toda sociedade, de maneira objetiva e transparente.
Na França,
por exemplo, os agricultores têm força e credibilidade porque trabalham
para o meio ambiente afinal, eles precisam do meio ambiente para sobreviver
e são encarados como consumidores conscientes, uma vez que também
consomem os alimentos que produzem. É um princípio básico.
Nesse sentido, por ter conhecimento dos fatos, é do agricultor a decisão
de semear o milho GM.
Os produtores rurais franceses não ficaram
alheios aos debates em torno da biotecnologia e uniram-se para buscar, por caminhos
independentes de política ou ideologia, as respostas mais adequadas às
suas atividades. Foi assim que, em 2005, a Associação dos Produtores
de Milho e Sorgo da França desenvolveu o Programa de Acompanhamento de
Culturas em Biotecnologia (PACB), com apoio de organizações como
o Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas
(INRA), a Federação Nacional dos Produtores
de Sementes de Milho e de Sorgo (FNPSMS),
o indicato das Empresas Francesas de Sementes
de Milho (Seproma) e o Instituto do Vegetal Arvalis.
O PACB realiza um monitoramento que avalia os parâmetros estabelecidos para
coexistência de milho Bt cujo plantio permaneceu interrompido pela
moratória aplicada de 1999 a 2003 e variedades convencionais. Após
três anos de estudos, comprovamos que a coexistência é possível
entre diferentes tipos de milho (verde, grão, semente, transgênico
e orgânico), pois a zona tampão de 10 metros de distância já
permite diminuir para apenas 0,3% a 0,4% a presença não intencional,
ou seja, abaixo do limite mínimo exigido pela União Européia,
de 0,9%.
Além da questão da coexistência, o programa
avalia informações científicas e operacionais que garantem
a rastreabilidade das culturas, desde o campo e o armazenamento até
a fabricação de ração animal. O projeto também
analisa os benefícios do milho Bt com relação à resistência
a pragas. Todos os dados são apresentados constantemente para os ministérios
de Meio Ambiente, Agricultura e Ciência e Tecnologia.
O país
europeu que mais cultiva transgênicos é a Espanha. Não por
acaso: o nordeste espanhol, grande produtor de milho, é também uma
das regiões mais áridas da Europa meridional, onde as plantações
são freqüentemente afetadas pela Lagarta Européia (Ostrinia
nubialis). Lavouras de colegas agricultores espanhóis, que ali adotaram
o milho Bt há seis anos, comprovam que o rendimento bruto da variedade
resistente a insetos é maior que o da planta convencional. A versão
transgênica rende R$ 1.980,00 / ha, enquanto a outra garante apenas R$ 1.160,00
/ha.
A diferença entre as duas opções é conseqüência
direta da redução dos custos de produção e da melhor
qualidade dos grãos, que, por resistirem às pragas, impedem a formação
de micotoxinas. Vale destacar que as áreas de refúgio com 15 metros
de distância mostraram-se suficientes para garantir a coexistência
das variedades convencionais, campos de produção de sementes e variedades
GM tanto na França quanto na Espanha. Além das vantagens econômicas,
melhorou consideravelmente a qualidade de vida dos próprios agricultores,
pois eles ficam menos tempo nas lavouras realizando aplicações de
agentes químicos fator de suma importância socioambiental.
Atualmente, os fabricantes de ração e óleo preferem da Espanha
preferem comprar os grãos GM pela alta qualidade, uniformidade e isenção
das micotoxinas. Segundo o Serviço Internacional
para Aquisições de Aplicações
em Agrobiotecnologia (ISAAA), seis países da União
Européia cultivaram o milho Bt em 2006. A Espanha plantou 60 mil hectares.
França, República Checa, Portugal, Alemanha e Eslováquia,
juntos, alcançaram aproximadamente 8,5 mil hectares. No último mês
de fevereiro, conversei sobre estes números e tendências com dezenas
de colegas agricultores brasileiros durante o Show Rural, evento realizado em
Cascavel (PR), que se mostraram bastante interessados e desejosos de adotar as
variedades de milho Bt. Temos todos a mesma convicção de que a biotecnologia
se apresenta como o caminho mais seguro e eficiente para agricultura no mundo
inteiro. |