"A
suplementação correta pode eliminar deficiências,
como as chamadas 'doenças carenciais' e ainda melhorar
o índice de produtividade", é o que afirma
a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Maria Luiza Franceschi
Nicodemo. No entanto, alguns produtores pensam ao contrário
e, consideram elevado o gasto, por até representar
uma parte considerável de custo operacional de fazendas
que exploram bovinos de corte. Porém, o uso adequado
da suplementação mineral, principalmente na
categoria de cria, vem demonstrando que o aumento da produção
de bezerros saudáveis pode pagar o seu gasto. Assim,
aliada às boas práticas de manejo, de forma
adequada ela permite também manter vacas gordas e saudáveis
e bezerros mais pesados, reduzindo índice de mortalidade
e taxas de aborto.
"As pastagens, geralmente são deficientes em alguns
minerais essenciais para bovinos, e a suplementação
mineral visa corrigir deficiências ou desequilíbrios
minerais. Apenas o fornecimento de sal comum não costuma
ser suficiente. Para que a mistura seja formulada corretamente
são necessárias informações sobre
as características da região, exigências
nutricionais, estimativas de consumo e qualidade da dieta.
As fontes de minerais utilizadas na suplementação
devem ser palatáveis, de bom valor biológico
e relativamente livre de contaminantes tóxicos, como
flúor. O consumo adequado de mistura mineral de boa
qualidade é indispensável para o sucesso da
suplementação", conclui a pesquisadora.
Segundo estudos da Embrapa Gado de Corte, para que os animais
sejam adequadamente suplementados com misturas minerais é
necessário que se tenha idéia das suas exigências
nutricionais. As tabelas de exigências podem ser usadas
como guias, pois fornecem estimativas que, aplicadas, trazem
resultados satisfatório. É importante ter em
mente que o crescimento acelerado, ganhos de peso elevado,
final da gestação e produção leiteira
contribuem para elevar significativamente as exigências
de minerais para bovinos.
Outro fator do qual o pecuarista precisa estar atento é
sobre as suas quantidades e regiões onde podem ocorrer
as faltas de minerais. "Embora deficiências de
minerais, como: fósforo, zinco, cobre, iodo, e sódio
seja de ocorrência bastante generalizada no Brasil Central
e Mato Grosso do Sul, existem deficiências que são
encontradas em regiões específicas, como de
manganês no norte do Mato Grosso e de magnésio
no Pantanal, ou minerais a respeito dos quais as informações
são ainda muito escassas, como enxofre e selênio.
Algumas vezes, minerais podem estar em excesso, como já
foi verificado no Mato Grosso, onde altos níveis de
enxofre produziram deficiência condicionada de cobre",
diz.
Deficiências minerais têm uma série de
conseqüências sobre a produtividade e saúde
do rebanho, além de geralmente envolverem vários
minerais ao mesmo tempo, lembra Maria Luiza. "Deficiência
mineral reduz o consumo de alimento, a produção
de leite e de carne, piora a conversão alimentar, reduz
a fertilidade de vacas e de touros, reduz a resposta imunológica.
Custa caro para o produtor, que às vezes nem percebe
o que está deixando de ganhar", revela.
Uso
Racional dos Minerais
Maria
Luiza lembra que não adianta colocar todas as fontes
de minerais que devem ser suplementadas, separadas, para o
animal comer a vontade. "O animal não tem discernimento
de escolher o que precisa". Algumas fontes ressalta a
pesquisadora, como o magnésio, por exemplo, são
pouco palatáveis. "Em determinadas situações,
a vaca pode até morrer, mas não vai comer voluntariamente
a quantidade necessária. Além disso, muitos
fatores afetam a ingestão do suplemento, entre eles
a fertilidade do solo, qualidade da forragem consumida, disponibilidade
de suplementos protéico-energéticos, variação
individual, salinidade da água, palatabilidade da mistura
mineral, disponibilidade do suplemento em boas condições
físicas e facilidade de acesso ao cocho". Por
isso recomenda-se que nos cochos de misturas minerais deve
ser monitorado, e ajustes feitos, quando necessário.
"A mistura mineral deve estar sempre disponível
no cocho. Animais, que ficaram por um período sem receber
a mistura mineral, podem ter alto consumo nas primeiras semanas
de suplementação", diz.
A pesquisadora também comenta que a deficiência
de sódio é muitas vezes generalizada, e a mistura
mineral em geral busca atender a 560 dos requisitos nutricionais
deste elemento. Os animais apresentam apetite específico
por sal comum (cloreto de sódio, NaCl), que é
utilizado como veículo para a ingestão de outros
minerais. "Misturas contendo pelo menos 30% a 40% de
sal comum são geralmente bem consumidas. Os requisitos
de sal comum para um bovino adulto estão ao redor de
27 g/cabeça/dia, mas a ingestão voluntária
com freqüência excede as exigências mínimas.
O sal comum não é um regulador preciso da ingestão,
e alguns animais toleram mais sal que outros. Podem ser necessários
alguns ajustes para obtenção do consumo apropriado
da mistura, pela elevação do teor de Nacl, ou
inclusão de palatabilizantes".
Fator
Tempo e Lugar
Inúmeros
fatores se inter-relacionam para uma adequada utilização
de misturas minerais, entre eles, a exigência animal
e a época do ano. No período chuvoso, há
melhor oferta de energia e de proteína pela forrageira
e maior exigência de minerais (a resposta à suplementação
de fósforo é evidente); no período seco,
baixa a oferta dos nutrientes, e conseqüentemente as
exigências minerais são reduzidas, ao menos para
animais de recria e engorda que estão em mantença
ou mesmo perdendo peso. "Durante a estação
seca há queda na produção de matéria
seca e na qualidade das forrageiras. Um objetivo da suplementação
dos bovinos em pastejo é permitir a máxima eficiência
na utilização da forrageira. A resposta a ser
obtida vai depender muito das condições da forrageira.
A suplementação proteico-energética pode
permitir a manutenção ou mesmo ganhos de peso
modestos na seca", revela a pesquisadora.
Nessa época, os bovinos em crescimento dispõem
de proteína e energia suficientes para sustentar ganhos
de peso, e a demanda por minerais também aumenta. As
categorias animais mais exigentes são fêmeas
em produção (especialmente as novilhas, que
somam as exigências da gestação ou lactação
e de crescimento) e animais jovens com altas taxas de ganho
de peso.
"Apesar da queda do fósforo em forrageiras maduras
durante a seca, as respostas ao fornecimento de P suplementar
a bovinos perdendo ou apenas mantendo peso, podem ser pequenas
ou inexistentes, por causa das deficiências mais limitantes
de proteína e energia nas pastagens. Misturas minerais
devem estar sempre à disposição dos bovinos
em pastejo, embora a composição possa variar
no decorrer do ano. Alguns minerais não são
armazenados em quantidade suficiente para darem proteção
nos períodos críticos (Mn, Zn, Na), ou sua reservas
não estão suficientemente disponíveis
(Mg), e devem estar constantemente disponíveis aos
animais, via forragem ou por meio de suplementos".
CUIDADOS
DESDE CEDO
Seria
possível numerar quais os cuidados na alimentação
(com a suplementação mineral) que o produtor
tem que ter com as vacas paridas, gestantes e bezerros? De
acordo com a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Maria
Luzia F. Nicodemo como toda criação, os cuidados
têm que começar desde cedo, por isto, as vacas
de cria devem dispor de misturas minerais de boa qualidade,
produzida por companhias idôneas, em quantidade adequada,
continuamente. De modo geral, vacas de cria devem consumir
cerca de 4 a 8 g de fósforo suplementar por dia. Aconselha-se
suplementar de 50% a 150% dos requisitos dos microelementos
(zinco, cobre, cobalto, por exemplo) reconhecidamente deficientes
na região. Elas devem dispor de cochos nas pastagens
em número suficiente, de tamanho adequado. "A
altura do cocho deve ser tal que permita o acesso dos bezerros.
O cocho pode ter piso cascalhado, para evitar a formação
de lama e facilitar o acesso. O cocho deve proteger as misturas
de chuvas, que podem umedecer e levar ao empedramento das
misturas, reduzindo o consumo, aumentando perdas", afirma
Maria Luiza. "As vacas de cria são a categoria
mais sujeita a deficiências minerais, devido ao longo
tempo de permanência no rebanho e exigências mais
altas.
A deficiência de fósforo, po exemplo, afeta mais
as vacas de cria. Na deficiência de fósforo é
comum a perversão do apetite, levando a ingestão
de materiais que normalmente não fazem parte da dieta.
A deficiência de zinco também parece afetar concentrações
hormonais em gestantes, e é ligada a abortos, baixo
peso ao nascer, aumento de hemorragia ao parto e redução
na sobrevivência da cria. Na deficiência de cobre,
observa-se morte embrionária, taxa de concepção
reduzida, retenção de placenta, dificuldade
ao parto e problemas ósseos, redução
na qualidade do sêmen. Deficiência de iodo causa
mal-desenvolvimento fetal, aborto, retenção
de placenta, redução na taxa de concepção,
nascimento de bezerros fracos ou natimortos. Deficiência
de manganês aumenta o número de serviços/concepção,
ciclos irregulares; em touros provoca degeneração
testicular, diminuição do volume de sêmen
ejaculado e alterações espermáticas.
As crias apresentam fraqueza e deformidades. Deficiência
de selênio aumenta a retenção de placenta,
nascimento de bezerros fracos ou natimortos, com menores taxas
de sobrevivência. Bezerros podem ser afetados por degeneração
da musculatura esquelética e cardíaca, acompanhada
por fraqueza e diarréia.
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