POR
MÁRCIO MINGARDO
Estima-se
que nas regiões de clima temperado, como é caso
dos estados da região sul do Brasil, o índice
de mortalidade se mantenha na casa dos 10 %, o que para muitos
especialistas caso do médico veterinário Ph.D
em epidemiologia animal do CNPGC, Embrapa Gado de Corte, Ivo
Biachin é um número bastante alto. Nas localidades
mais próximas ao Brasil Central, onde o fator clima
não favorece tanto o desenvolvimento desses agentes
a mortalidade não passa de 2% do rebanho. No entanto,
Bianchim diz que há de se considerar que o centro oeste
brasileiro concentra cerca de 60% do rebanho bovino nacional,
de pouco menos que 190 milhões de cabeças, o
que proporcionalmente não diminui a gravidade do problema.
Um dos principais focos causadores da contaminação
por vermes na atualidade é a exploração
intensiva das área de pastagem e a superlotação
dos piquetes, principalmente no período de safra, época
que a lotação das fazendas aumenta. Alguns criadores
chegam a colocar num mesmo piquete, três, quatro vezes
mais animais do que o indicado, o que obriga o bovino a fazer
um pastejo menos seletivo, muitas vezes em contato direto
com as fezes contaminadas pelas larvas desses agentes, explica
Biachim.
De acordo com o pesquisador do CNPGC, dentro dos sistemas
intensivos, desde que os animais tenham uma boa alimentação,
podem ser tratados também no período seco do
ano. No entanto, o médico veterinário deverá
realizar exames de fezes nos animais para verificar o grau
de infestação. Para o veterinário, o
efeito das verminoses sobre os bovinos depende, sobretudo,
da espécie e do grau de infecção, o qual,
por sua vez, relaciona-se com diversos fatores, tais como
as condições climáticas, solo, vegetação,
tipo de exploração, raça e idade do animal,
e o tipo de pastagem. "Para se chegar a um controle eficiente
e econômico é necessário estudar a epidemiologia
dos helmintos nas diferentes regiões ecológicas
e, desta forma, conhecer melhor a dinâmica deles no
animal e na pastagem".
Controle
estratégico muda conforme região
Os
prejuízos causados pelas verminoses dependem, entre
outros fatores, da idade dos animais e do custo do número
de doses de vermífugo a ser utilizado. Isso por sua
vez tem relação direta com as condições
de clima favoráveis ou não ao aparecimento desses
agentes no rebanho. No Brasil central, a estratégia
de controle da infestações tem como foco o período
seco pela diminuição drástica na população
desses agentes causadas pela estiagem e o forte calor.
Bianchim fala que o controle estratégico de verminoses
é, por definição, preventivo e seus efeitos
só são sentidos no longo prazo. Quando se fala
que é o longo prazo, é que a cada ano que passa,
se o pecuarista fizer o tratamento corretamente o número
de larvas na pastagem diminui, e com isso o controle estratégico
tende a ter maior eficiência com o passar dos anos,
enfatiza. Já para pesquisadora Márcia Cristina
Sena de Oliveira do CPPSE, Embrapa Pecuária Sudeste,
de São Carlos, SP, não existe uma fórmula
fechada para tratar o rebanho contra as verminoses. Para ela,
o mais importante é que o pecuarista tenha consciência
de que, quanto mais novo o animal mais frágil é
o seu sistema imunológico. Portanto, é maior
a vulnerabilidade dele à verminoses. Segundo a veterinária,
um erro muito comum nas fazendas de pecuária e mais
grave até do que aplicar a vermifugação
em excesso é a sub-dosagem dos medicamentos. "Essa
prática causa a resistência do parasita e isso
é grave".
Ambos são categóricos ao afirmar que a condição
nutricional do rebanho é um fator fundamental para
a melhoria da resistência imunológica. De acordo
com pesquisador do CNPGC, uma pergunta recorrente no campo
é em qual fase da vida o bovino fica mais carente desse
manejo nutricional para garantir sua resitência? Segundo
ele, a fase em que o bovino fica mais sensível a verminose
é do desmame até os 18-20 meses de idade. A
partir daí seu organismos já desenvolveu anti-corpos
suficiente para manter um equilíbrio na infestação.
Devido o desconhecimento dos pecuaristas da tecnologia de
controlar estrategicamente a verminose dos bovinos da desmama
até os 18-20 meses de idade nos meses de maio, julho
e setembro (Período seco do ano) estima-se que cerca
de 65% das doses de anti-helmínticos utilizadas não
causam o retorno previsto. O Brasil gasta cerca de 135 milhões
de dólares por ano em vermífugos e cerca de
65 % deste dinheiro não se traduz em benefícios
reais para o pecuarista. Os bovinos de leite são mais
sensíveis a verminose na recria pode ser tratados como
os bovinos de corte e nas demais categorias animais devem
serem acompanhadas através de exames de fezes e se
for necessário serão tratados. "O controle
estratégico aqui preconizado para controle da verminose
não dispensa a assistência técnica, uma
vez que o número de doses de anti-helmínticos
a serem utilizadas nos animais muitas vezes deve ser acrescido
e/ou modificado, dependendo do manejo, raça, nível
nutricional e outros fatores, havendo necessidade de se fazer
exames de fezes nos animais", considera Bianchim.
Estudos realizados no Centro de Pesquisa Agropecuária
do Pantanal (CPAP) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA), sobre epidemiologia de helmintos em bovinos de
corte na região, evidenciam que existem condições
de sobrevivência das larvas infectantes durante o ano
todo. Porém, tanto o número como a migração,
aumentam no período chuvoso. Também o número
de helmintos adultos nos animais é maior durante o
período chuvoso. O CPAP recomenda a intensificação
do tratamento anti-helmíntico durante o período
chuvoso. No momento, no chamado pantanal alto, podem ser utilizadas
as mesmas épocas de tratamento dos cerrados ( maio,
julho e setembro).
Já o Centro Nacional de Pesquisa de Ovinos (CNPO) da
EMBRAPA, no Rio Grande do Sul, preconiza um controle estratégico
em bovinos de corte com um total de oito medicações,
do desmame até os 24 meses de idade, número
de doses de anti-helmínticos em animais com idade próxima
ao abate até os 24 meses de idade. Categoria/bovino
março, junho, setembro, novembro, mais ou menos próximo
ao desmame e aos 24 meses de idade. Os resultados obtidos
mostram um ganho adicional de 67 kg de peso vivo/animal, em
relação a um lote não controlado, diferença
esta que corresponde a um incremento de 70%, além de
reduzir 10% da mortalidade.
Trabalhos realizados pela Empresa de Pesquisa Agropecuária
e Difusão de Tecnologia de Santa Catarina (EPAGRI)
demonstraram, também que, em pastagem cultivada o melhor
controle estratégico na região é usar
8 medicações/ano, a partir de maio, a cada 45
dias. Esses resultados indicam o tratamento anti-helmíntico
como altamente lucrativo no Planalto Catarinense, reduzindo
em um ano e meio a idade de abate dos animais, produzindo
um incremento na lucratividade de 58%.
Em algumas situações especiais como, por exemplo,
as vacas no intervalo entre partos requerem medidas extras.
O pique de parição das vacas, no Brasil Central,
ocorre nos meses de agosto e setembro. Neste caso, é
recomendável vermifugar todas as vacas uma vez ao ano,
em julho ou agosto, para diminuir a infestação
de larvas no pasto, e como medida preventiva para os bezerros
que nascem neste período.
Já para os animais a partir da desmama os resultados
de pesquisa na região Central do Brasil indicam que
o melhor esquema de controle deve englobar o período
seco do ano. Observa-se que a maior parte das estações
meteorológicas (65,1%) mostra uma estação
seca nos meses de junho, julho e agosto. A área estudada
incluída na estação seca abrange os Estados
de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins,
Rondônia, Acre, região centro-sul do Amazonas,
Pará, Maranhão, grande parte do Piauí
e Bahia, a maior parte do interior de Minas Gerais, Rio de
Janeiro, São Paulo e Paraná.
Em
resumo, isto proporcionaria uma redução de 2%
em mortalidade e um ganho médio de 41 kg de peso vivo
por animal, no abate. O desempenho financeiro de dosificar
os animais três vezes ao ano (maio, julho e setembro)
proporciona, em dois anos, um retorno de 457,46% sobre o custo
da aplicação do anti-helmíntico. Por
fim, cabe ressaltar que a adoção da dosificação
estratégica não enfrenta restrição
quanto aos sistemas de produção em uso pelos
produtores, uma vez que, em essência, é uma questão
gerencial, não exigindo qualquer investimento adicional.
PRODUTOS
UTILIZADOS PELOS PRODUTORES E OS QUE ESTÃO NO MERCADO
Existe
no mercado uma grande quantidade de produtos anti-helmínticos.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, o produtor
deve dar preferência aos anti-helmínticos chamados
de largo espectro, isto é, que atuem em todas as espécies
de vermes. O meio de administração do vermífugo
(oral, pour-on, injetável, intra-ruminal) não
é importante, e o produtor pode escolher o que melhor
lhe convier. O que realmente importa é o princípio
ativo do produto que deve ser bom. Mesmo usando-se o melhor
anti-helmíntico do mercado, este pode não trazer
retorno, se for aplicado em categorias de animais inapropriadas,
ou em épocas do ano erradas. Devido a esse uso inapropriado,
estima-se que cerca de 80% das doses de anti-helmínticos
utilizadas nos animais, no país, sejam dadas erradamente
e, portanto, não trazendo retorno econômico.
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