POR
FÁTIMA COSTA
Atualmente,
os grandes indicadores destas mudanças estão
presentes no depoimento dos próprios sojicultores.
Hoje, sem o medo de terem a lavoura queimada ou correrem o
risco de irem para a cadeia, por terem usado a tecnologia
até, então proibida, os produtores podem agora
informar livremente seus dados, como, por exemplo: o tamanho
da área que plantaram, qual foi a produtividade da
semente transgênica utilizada e, sobretudo, revelar
as contas: sem precisar, é claro, daquelas sementes
contrabandeadas.
Os depoimentos também revelaram valiosas referências
a serem consideradas no planejamento do plantio, daqui para
frente. Afinal, quais os custos reais da produção
com a soja geneticamente modificada? E qual é o panorama
das sojas RRs e da convencional atualmente no Brasil?
Segundo os pesquisadores da área (Embrapa Soja), o
que se sabe até o momento, é que os sojicultores
vivem situações adversas. Se no início
da safra de soja em 2004/05 foi marcada pelo temor diante
do recuo dos preços no final da safra, a situação
ficou um pouco pior.
De acordo também com o levantamento extra da CONAB
(Companhia Nacional de Abastecimento), realizada em março,
as maiores quedas de produtividade ocorreram nos Estados de
Goiás, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande
do Sul. Ainda, segundo os dados, a perda na produção
foi de 9,74 milhões de toneladas de grãos. Mesmo
assim, a marca superou em 7% a produção de 2003/04
- mas é bem inferior aos 13,3%, estimados pela CONAB
em dezembro do ano passado, quando de projetava uma safra
de 61,4 milhões de toneladas.
Em resumo e conforme os dados, a queda da safra foi impressionada
por vários fatores: pela seca, os sojicultores contiveram
seus investimentos, o recuo das cotações do
grão no mercado internacional, foi outro fator, além
da queda da cotação do dólar e, por fim,
o aumento dos custos de produção, pressionados
pelos reajustes de insumos, como fertilizantes e defensivos.
Estado
da Soja em discussão
No
Estado do Mato Grosso, hoje o principal produtor do País,
por exemplo, houve uma redução da área
de plantio, de acordo com Dario Minoru Hiromoto, diretor-superintendente
da Fundação Mato Grosso (Fundação
de Apoio à Pesquisa Agropecuária do Mato Grosso).
Os insumos, a queda do câmbio e o preço pago
no mercado não favoreceram os produtores. "A redução
no Estado ficou na margem de 5 a 10%. E nesta safra muito,
provavelmente, todos reduzirão a área de plantio",
diz.
Segundo o diretor-superintendente da fundação,
o mercado caiu na proporção em média
de 20 a 25%, e isto naturalmente refletiu na queda da safra
da soja. Já para o pesquisador Fábio Álvares,
da Embrapa Soja, o Estado apresentava nos últimos anos
um aumento sistemático entre 600 a 800 mil/ hectares
da área de plantio. E vinha se mantendo na média.
"Mesmo com as perdas das safras de 2003/2004, que a região
sofreu por conta das chuvas no momento da colheita, o que
não era comum, e com a ferrugem asiática o produtor
manteve a área de produtividade. O que ocorreu, agora,
nas últimas safra 2004/2005 foi um fato novo. Mesmo
com um aumento considerado da área de plantio em 16%
em comparação ao ano passado, o produtor mato-grossense
teve a recompensa na produtividade, mas sofre agora com um
fator surpreendente: a estiagem forte que acabou prejudicando
os lucros na safra, principalmente nas regiões do Sul
e Sudeste do Estado, principais produtores de soja",
diz.
Em regiões, como Lucas do Rio Verde, explica o pesquisador,
aconteceram muitas perdas, principalmente com a soja precoce,
porque é a região que planta mais cedo a partir
de setembro na expectativa de fazer o milho safrinha.
Diante
da situação do mercado, redução
de investimento e estiagem, a Embrapa Soja, localizada em
Londrina/ Paraná, reuniu no mês de agosto, na
cidade de Cornélio Procópio (PR) representante
das principais regiões produtoras de soja do País,
e apresentou durante os primeiros trabalhos da Reunião
de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, um
relato do desempenho da safra 2004/05 em suas regiões
de atuação e com os plantios transgênicos.
Além dos problemas climáticos ocorridos durante
a safra, os técnicos apontaram a preocupação
em resgatar as técnicas de manejo integrado de pragas,
doenças e plantas daninhas.
Com relação à ferrugem asiática,
os relatos mostraram que a doença vem ocorrendo de
forma generalizada, porém, como o clima tem ajudado,
a doença não apresentou o mesmo nível
de severidade que houve nos últimos anos.
De acordo com o estudo da Embrapa Soja, o Paraná, segundo
maior produtor de soja, assim como o Mato Grosso também
sofreu com a estiagem nos meses de janeiro e fevereiro. Apesar
de um aumento de 4,5% da área plantada, a produtividade
média foi reduzida cerca de 9% em relação
à safra passada. Já no Centro-Oeste do País,
estados como Goiás, Tocantins e Distrito Federal também
vêm apresentando uma recuperação na produtividade
média.
No caso específico da soja transgênica, agrônomos
e especialistas em economia rural fizeram um alerta. Aqueles
que se dedicaram a analisar os custos de produção
nas lavouras transgênicas avisam que a rude estiagem
não permite comparação contábil
com o plantio convencional. Outra ressalva da Embrapa Soja
refere-se às despesas feitas pela maioria dos sojicultores.
A Monsanto, empresa norte-americana detentora da tecnologia
de produção de sementes de soja transgênica,
e a Associação Brasileira de Sementes e Mudas
(Abrasem) concluíram um acordo sobre o royalty a ser
cobrado sobre as vendas legais de sementes de soja transgênica
desenvolvidas com a tecnologia Roundup Ready, que tornam a
planta resistente ao glifosato. Pelo acordo firmado, a empresa
manteve o valor da taxa em R$ 0,88 por quilo de semente (R$
35,20 por saca de 40 quilos), mas flexibilizou outros pontos
dos contratos a serem assinados pelas empresas que desenvolvem
as sementes (as obtentoras) e os multiplicadores.
Outro ponto nos novos termos dos contratos é o pagamento
pela Monsanto às multiplicadoras de um percentual sobre
o recebimento da taxa de indenização sobre a
soja plantada ilegalmente com a tecnologia Roundup Ready.
Pelo acordo anterior firmado entre a empresa e produtores,
a Monsanto cobrará 1% sobre o valor recebido pelos
produtores na venda da soja colhida na safra 2004/05, e 2%
sobre a produção de 2005/06 plantada com sementes
multiplicadas pelos agricultores que assinaram termos de ajustamento
de conduta do Ministério da Agricultura.
|