O
frio intenso que não deu trégua não chegou
a ser considerado um problema pelos visitantes, um público
já bastante acostumado às baixas temperaturas.
As modificações na infra-estrutura do parque
de exposições para receber a imprensa, o novo
pavilhão que recebeu a agricultura familiar, a pista
para receber o julgamento de animais rústicos, além
da estrutura para o tradicional concurso Freio de Ouro, deram
à feira um ar bastante democrático. Para o governador
do estado, Germano Rigoto a maior parte dos custos vieram
da iniciativa privada, através de parcerias e convênios.
Rigoto disse ainda que o investimento total desta edição,
ficou entre R$ 4 milhões e R5 milhões.
Agricultura
familiar conquista seu espaço
O
espaço da agricultura familiar reuniu dentro de uma
área de 4,2 mil m², 44 bancas, além de
um restaurante onde diferentes entidades que representam os
pequenos agricultores do país puderam expor seus produtos
e serviços, como é o caso do produtor de vinho
orgânico da cidade de Garibaldi no extremo sul do estado
e presidente da Cooperativa dos produtores ecologistas Jorge
Luis Mariani. Para Mariani, a Expointer é uma oportunidade
de mostrar, num grande centro de comércio, um pouco
do seu trabalho.
O produtor que mantém um trabalho à frente de
uma comunidade de pequenos produtores diz que a maior dificuldade
enfrentada, no momento, é a colocação
dos produtos no mercado. "Os órgãos que
regulam a vigilância e inspeção sanitária
não nos conferem o certificado de inspeção
para comercializar fora da nossa localidade". Para Ezídio
Pinheiro, presidente da Federação dos Trabalhadores
na Agricultura no RS, FETAG, entidade com 452 sindicatos rurais
filiados, um setor que reúne somente no estado gaúcho,
um contingente de cerca de 396 mil famílias de pequenos
produtores, o que somado, congrega um contingente de mais
de 1,5 milhão de trabalhadores, produzindo, desde artesanato
até vinhos e queijos especiais, se responsabiliza por
mais de 50% da produção de bens agrícolas
de consumo familiar diário, na região, não
pode se ver numa situação desta frente às
autoridades dos governos do estado e federal.
Segundo ele, por uma questão unicamente de protocolo
sanitário, os produtores já bastante penalizados
por outros problemas de políticas públicas,
não podem vender sua produção fora de
suas localidades. "O SIF, Serviço de Inspeção
Federal, órgão responsável por fazer
esse controle deveria realizar as visitas nas propriedades
e liberar o comércio desses produtos para outras regiões",
conclui.
Alberto Ercílio Broch, vice-presidente da Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura do Brasil, CONTAG,
comunga da mesma visão do representante maior da Fetag
e vai além nas críticas ao governo federal.
Segundo Broch, a falta de uma legislação especifica
que atenda as necessidades do pequeno produtor, faz com que
inúmeros projetos apodreçam nas gavetas por
falta de viabilidade legal. Para ele, o caminho para tentar
equacionar esse problema seria montar uma bancada ruralista
dentro do legislativo, preocupada, exclusivamente, com a agricultura
familiar.
Indústria
se mantém cautelosa
O
setor agroindustrial, por sua vez, sente nas vendas os impactos
de uma crise que atingiu em cheio, no último terço
do ano passado, diferentes segmentos da produção
agrícola do país. Como boa parte, mais de 70%,
das vendas de máquinas e insumos para uso na agricultura,
foram comercializados através das linhas de financiamento
do governo, Moderfrota, Moderagro, Moderinfra, entre outros,
as perdas decorrentes da seca prolongada, do câmbio,
que sofreu redução de mais de 60%, causaram
um endividamento do produtor, nunca visto antes na história
da atividade rural. Esse quadro desfavorável deixou
muito agricultor a beira da falência e precisando renegociar
suas dividas junto aos bancos e cooperativas de crédito.
Na opinião de vários representantes de empresas
que estiveram presentes na Expointer não cabe ao setor
empresarial assumir sozinho o ônus da crise. Jalsomir
Bruneto gerente técnico da Semeato, empresa que atua
no fornecimento plantadeiras ao setor diz que a indústria
está fazendo, mesmo que a contra gosto, os ajustes
necessários para garantir o andamento do setor. Para
Brunetto,o momento é de cautela para a próxima
safra, mas acredita numa virada do setor para 2006. "A
redução nas vendas foi significativa, e isso
porque atuamos nos segmentos mais atingido pela crise que
é a produção de grãos, soja, milho,
trigo e arroz, porém isso não deve permanecer".
A empresa recebeu o troféu Ouro na categoria destaque
do Prêmio "Melhores da Terra", oferecido pelo
Grupo Gerdau com a semeadora-adubadora de plantio direto "Personale
Drill". Para o representante técnico a premiação
é o reconhecimento do produtor que comprou o produto
no ano passado e respondeu a pesquisa de forma favorável.
Epitácio Brazotto, executivo de marketing do grupo
Fockink, de Panambi, RS, mostra projeções otimistas
para o setor lácteo que, segundo ele, deve apresentar
excelente índices de produção. Para Barzotto
o uso de tecnologias como o pivô central trará
um novo salto para o segmento que deve melhorar, inclusive,
a qualidade do leite tornando o produto brasileiro mais próximo
da realidade dos países exportadores.
A
força do produtor gaúcho
Para
os produtores rurais gaúchos que trouxeram seus animais
para expor o clima é de resignação por
parte de alguns e indignação de outros que se
dizem reféns da atual situação política
e econômica do país.A ovinocultura gaúcha
, por exemplo, após amargar quase uma década
de resultados ruins, com o preço da lã, o caminho
foi re-adequar sua produção. A carne antes olhada
como sub-produto figura como principal produto de comércio
para os criadores, inclusive, de raças laneiras. Para
muito a produção atual do estado é insuficiente
para atender uma demanda que apara de crescer, sobretudo nos
estados do Sudeste. Álvaro Lima da Silva presidente
da Fecolã, Federação das Cooperativas
de Lã do Brasil fala do passado do setor com ar despreocupado.
A situação hoje é bem diferente de outras
épocas onde o ovinocultor era obrigado a liquidar seu
plantel para pagar as contas. "A lã é comercializada
no mercado em forma commoditie, e por isso quem determina
o preço é o mercado que sofreu uma inundação
de produto industrial, sintético, de custo bem mais
baixo".
Valdomiro Poliselli da VPJ agropecuária, criador de
ovinos da raça Dorper, no interior de São Paulo
fala com entusiasmo do segmento. O projeto de ovinos da VPJ
que nasceu há alguns anos, vem crescendo de forma vertiginosa,
explica o criador. "Hoje, são abatidas na central
de beneficiamento cerca de 600 cabeças por mês
o que gera uma produção de 10 toneladas",
enfatiza o criador. "A idéia é dobra essa
produção para o próximo ano". Para
isso a VPJ está buscando parcerias com produtores do
Sul do país levando 30 reprodutores White Dorper para
o município de Bagé, na cerra gaúcha,
para que produtores possam incorpora-los ao plantel. Com isso
eles esperam dar um 'up-grade' na produção de
carne de ovino na região além de chegar na meta
estabelecida para 2006.
Fernando Rodrigues Afonso, criador no município de
Jaguarão, quase na fronteira com o Uruguai também
aposta na carne como a saída para a ovinocultura gaúcha.
Afonso lembra com saudades dos tempos áureos onde produzir
lã era motivo de orgulho e status para eles. "O
Rio Grande do Sul sempre foi um importante pólo para
a ovinocultura brasileira. Em outras épocas a região
tinha 20 cooperativas de produtores muito bem organizados",
lembra. O produtor conta que, com o advento da lã sintética
muito produtor se viu obrigado a deixa de lado seu oficio,
o que para muitas famílias era motivo de grande tristeza.
"Atualmente o estado conta com apenas três grandes
cooperativas, uma delas a Mauá, presidida por mim,
com 450 associados de 17 municípios gaúchos",
conclui.
|