O
atual paradigma de produção que envolve a atividade
pecuária de corte no Brasil, tem no desenvolvimento
do trabalho científico um aliado importante para a
manutenção de seus resultados. A busca cada
vez maior por parâmetros de produtividade precisos,
não permite que o achismos e a arbitrariedade façam
parte das decisões dentro das fazendas. Sendo assim,
o planejamento das ações e o profissionalismo
das equipes tornam-se condição indispensável
para garantia da permanência dentro de um mercado exigente
por qualidade e atestado de origem.
O controle sanitário do rebanho por exemplo é
o principal artifício utilizado pelos especuladores
de plantão para derrubar a competitividade do produto
brasileiro no mercado mundial. Se considerarmos as proporções
territoriais da pecuária brasileira e que boa parte
das fazendas ainda trabalham com um modelo de exploração
extensiva de pastagem e, somarmos isso, ao fato de que o último
senso pecuário mostrou um rebanho bovino superior a
195 milhões de cabeças, não é
difícil concluir que o controle sanitário é
um problema difícil de equacionar. Dessa forma, o controle
epidemiológico dos bovinos tem necessariamente de passar
por práticas de controle estratégico dentro
das fazendas, enfatiza Ivo Bianchin, médico veterinário,
especialista em parasitologia e pesquisador do CNPGC, Embrapa
Gado de Corte, de Campo Grande, MS.
Segundo Bianchin, os efeitos dos nematódeos sobre os
bovinos depende de fatores ligados a espécie identificada
e o grau de infestação das mesmas no rebanho.
Essa, por sua vez, está diretamente relacionada com
o nível de infestação das pastagens,
única via de contaminação. As condições
climáticas e de umidade do solo são responsáveis
em alguns casos pela perenização das espécies
de helmintos na vegetação, explica o técnico.
Segundo ele, quando maciças, as infecções
podem causar mortalidade no rebanho com taxas de até
10% como as observadas no Sul do país, por problemas
de parasitas intestinais". Entretanto, o professor Bianchin
chama a atenção para as condições
de criação extensiva de bovinos de corte no
Brasil Central, onde a mortalidade é baixa e a verminose
se manifesta, principalmente, como limitador dos índices
de crescimento dos animais. "Nestas condições,
a anorexia parasitária mostra-se o principal problema",
conclui.
Concomitante a evolução das verminoses dentro
das propriedades de pecuária houve uma revolução
no desenvolvimento de compostos químicos elaborados
para o uso como anti-helmínticos. A partir da década
de 1990, vários laboratórios lançaram
seus produtos no mercado, resultando em medicamentos de baixa
toxicidade e amplo espectro de atividade. No entanto, o que
parecia a salvação da lavoura na verdade mostrou-se
ineficaz. Os resultados da aplicação destes
produtos com a finalidade de melhorar a produção
de bovinos de corte mostraram-se decepcionantes, lembra o
pesquisador. "De fato, o produtor nunca teve uma escolha
tão ampla de anti-helmínticos, porém,
o uso destes não modifica sensivelmente a ocorrência
ou importância dos agentes. Talvez possa ser dito que
estes são hoje mais importantes do que há vinte
anos, quando começou a grande expansão no número
de anti-helmínticos disponíveis".
Um fato que também contribuiu sobremaneira para que
os nematódeos perpetuassem sua presença nas
pastagens e conseqüentemente no rebanho foi a má
utilização desses medicamentos pelos pecuaristas.
Estudos denotam que das 135 milhões de doses de anti-helmínticos
aplicadas no rebanho todos os anos, entre 70% e 80% são
perdidas pelo uso incorreto. A desinformação
ainda é o principal agente causador desse tipo de problema,
pois, muitas vezes, o pecuarista investe na compra dos medicamentos
que se perdem pela dosagem incorreta e aplicação
em categorias de animais que já apresentam imunidade
contra endoparasitas, explica Bianchin. "O período
onde o bovino merece maior atenção distribui-se
entre o 8° e o 24° mês de vida. A partir daí,
se o animal não for levado para abate ele já
possui um sistema imunológico resistente à presença
dos nematódeos.
A preocupação com a alimentação
dos bovinos é outro ponto que preocupa os especialistas,
pois as analises mostram que a queda na qualidade nutricional
da dieta tem relação direta com o aumento do
número de animais doentes. O Centro Nacional de Pesquisa
de Gado de Corte CNPGC de Campo Grande, MS, desenvolve um
trabalho intenso de pesquisa no sentido de mensurar o grau
de infestação das principais verminoses que
infestam os rebanhos da região Central do Brasil. As
características dessa região, no que e refere
ao clima, apresentam uma distribuição desigual
de chuvas, freqüentes e pesadas no período chuvoso
(outubro a abril) e escassas e leves no período seco
(maio a setembro), semelhante à cerca de 65% do território
brasileiro. As conclusões dos técnicos surgem
a partir da apresentação das médias de
precipitação dos últimos 50 anos e temperatura
de 30 anos. De acordo com a classificação de
Köppen, o clima da região é considerado
subtipo AW (clima tropical de savana), com temperatura média
dos meses mais frios acima de 17°C e nos meses mais quentes
a temperatura média mensal fica em torno de 25°C.
A prevalência dos principais gêneros e espécies
de nematódeos gastrintestinais, é mostrada no
recente trabalho através dos resultados obtidos em
outros trabalhos de pesquisa: Bianchin (1990) e Bianchin (1991)
sobre epidemiologia dos nematódeos no Mato Grosso do
Sul, de 1987 a 1989, obtidos em necropsias mensais em animais
permanentes e traçadores. Os resultados demonstram
que, do total de helmintos encontrados, 75,8% foram da espécie
Cooperia spp; 92% C. punctata, 6% C. pectinata e 2% C. spahulata;
14,4% Haemonchus spp, (H. contortus 77% e H. similis 23%);
6,8% Trichostrongylus axei; 2,6% Oesophagostomum radiatum;
0,3% Trichuris discolor; 0,1% Trichostrongylus longispicularis.
Segundo Bianchin, os resultados observados mostram que as
infecções esporádicas por Bunostomum
phlebotomum e que o Dictyocaulus viviparus ocorreram em níveis
baixos durante todo o ano.
Os dados de infestação de ovos por grama de
fezes (OPG), foram realizados em três ciclos experimentais,
sendo dois por tratamento anti-helmíntico e um sem
dosificação dos animais. A cada coleta realizadas
nos animais em taxas de lotação de 1,4 UA/ha
e 1,8 UA/ha o que se observou foi que as médias de
OPG dos animais não dosificados apresentaram dois piques
durante o ano, um no início (setembro/outubro) e outro
no final (abril/maio) da estação chuvosa. O
OPG dos animais dosificados, independente da taxa de lotação,
mantiveram-se em níveis mais baixos do que os animais
não dosificados, principalmente, na estação
seca após cada dosificação, explica Bianchin.
Ele fala que o objetivo do presente trabalho é o de
verificar aspectos epidemiológicos e a importância
do controle dos nematódeos gastrintestinais, bem como
sua relação com a taxa de lotação
e nível nutricional do hospedeiro, medido pelo ganho
de peso de bezerros nelores desmamados em pastagem de Brachiaria
brizantha (Hochst. ex A. Rich.) Stapf. cv. Marandu, situação
comum no Centro Oeste do país.
Foram realizados três ciclos experimentais de dois anos
cada um. Em cada ciclo foram utilizados 128 bezerros distribuídos
em 16 piquetes de quatro hectares de B. brizantha. Estes animais
foram utilizados para a avaliação do ganho de
peso, contagens de ovos de nematódeos por grama de
fezes (OPG) e coprocultura. Na metade dos piquetes utilizou-se
uma taxa de lotação fixa de 1,4 UA/ha (C1) e,
na outra 1,8 UA/ha (C2), sendo que 1 UA (Unidade Animal) equivale
a 450 kg de peso vivo. Em cada taxa de lotação
foram aplicados quatro tratamentos. Na primeira experiência
os animais não foram dosificado com anti-helmínticos;
Já no tratamento B , os animais receberam duas doses
uma em julho e outra setembro; No terceiro tratamento as dosificações
foram ministradas em maio, julho e setembro e na quarta experiência
os veterinários aplicaram o anti-helmíntico
nos animais nos meses de maio, julho, setembro e dezembro.
Durante todo o processo foram realizadas coletas de pastagem
para determinação de disponibilidade e qualidade
da matéria seca (MS).
Os níveis de mortalidades dos animais começaram
a ocorrer no segundo ciclo experimental. As necropsias daqueles
animais revelaram altas cargas de T. axei . No segundo ciclo
morreram, por verminose, seis animais, sendo todos não
dosificados, na taxa de lotação mais alta (C2).
No terceiro ciclo morreram cinco animais, sendo dois não
dosificados na taxa C2, um não dosificado na taxa C1
e dois do tratamento B (dosificados duas vezes ao ano) na
taxa C1. O que se observa entretanto é que os animais
da taxa C1 foram menos parasitados por T. axei que aqueles
da taxa C2, e que esta espécie aumentou, a partir do
primeiro ciclo experimental, nas duas taxas de lotação.
Levando-se em consideração a mortalidade que
ocorreu nos ciclos experimentais em relação
ao número total de animais por tratamento, verificou-se
que as porcentagens de mortes dentre os animais não
dosificados no lote A nas taxas de lotação C1
e C2 foram, respectivamente, 2% e 17% e, 4% no tratamento
B na taxa C1.
Na avaliação dos animais em condições
de Brasil Central, onde se concentra mais de 60% do rebanho
bovinos brasileiro, sendo quase a totalidade constituída
de animais com algum grau de sangue zebu a aplicação
de anti-helmínticos duas, três e quatro vezes
ao ano, apesar de evitar mortalidade e permitir ganhos de
peso maiores do que nos animais não dosificados, é
insuficiente para controlar eficientemente os helmintos. Biachin
fala que os animais dosificados estrategicamente, a partir
da desmama até os 24 meses de idade, nos meses de maio,
julho e setembro mostraram, na taxa de lotação
1,4 UA/ha, ganho médio de 41 kg de peso vivo por cabeça
a mais do que os animais não dosificados. O desempenho
financeiro proporcionado pelos animais dosificados três
vezes ao ano (maio, julho e setembro) é melhor, com
um retorno calculado em 457,46% em dois anos. Isso garantiu
um benefício financeiro líquido, na área
geográfica de abrangência da tecnologia de 6.948.338
@ de carcaça de boi gordo o que representa, aproximadamente,
US$ 167 milhões.
No Rio Grande do Sul, o início dos estudos epidemiológicos
e dos controles estratégicos em bovinos de corte no
Brasil marcam de longa data. No entanto as pesquisas recentes
mostram que os programas de controle estratégico prevêem
um total de dez medicações da desmama até
os 30 meses de idade conforme. Os resultados obtidos mostram
um ganho de peso adicional em relação ao lote
não controlado de 67 kg de peso vivo por animal, diferença
esta que corresponde a um incremento de 70% na produção
total de carne na região. O ganho de peso médio
por animal/ano na microrregião da campanha do RS é
de 70 a 80 kg e o alcançado com os animais do grupo
tratado foi cerca de 560 superior, com 164 kg.
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