Cada
dia é mais comum nas fazendas de pecuária a
utilização da cana-de-açúcar na
alimentação do rebanho bovino. Isso faz com
que essa cultura apresente uma colaboração importante
na alimentação do rebanho bovino brasileiro.
Sua utilização no arraçoamento do gado
se dá principalmente no período de inverno quando
a produção de pastos é bem menor que
no verão. Dos cerca de 5,5 milhões de hectares
plantados, estima-se que 10% seja destinado para a alimentação
animal, dados do IAC, Instituto Agronômico de Campinas.
Um dos principais motivos que faz técnicos e pecuaristas
optarem pelo uso desta forrageira como volumoso está
ligado à questão econômica. A cana-de-açúcar
tem baixo custo por quilo de matéria seca, se comparada
com outras culturas como farelos de milho, de soja, sorgo.
Estima-se que a produção de um alqueire da cultura
é suficiente para alimentar durante cem dias, uma centena
de animais a pasto ou confinados. Além de ser uma cultura
perene e de fácil cultivo, sua colheita se dá
no país exatamente no momento em que a seca começa.
Fora estas razões, o pesquisador da Embrapa Pecuária
Sudeste, Armando Andrade Rodrigues, comenta outros pontos
fundamentais para que a cana se torne uma boa opção
de volumoso para o gado. "Há um estrangulamento
da pecuária nacional, que se dá na fase de seca/fria
que ocorre na maior parte do Brasil. Quando este período
chega, as forrageiras tropicais não crescem, ao contrário
diminuem sensivelmente sua oferta de matéria seca.
O mesmo não ocorre com a cana-de-açúcar,
que cresce o ano todo e está expressa melhor o seu
potencial justamente nessa época. Nas propriedades,
faltam forragens e a pouca que se tem é de baixa qualidade
e a cana ganha seu espaço neste contexto por apresentar
um bom valor nutritivo", observa Rodrigues.
Quanto ao potencial alimentício que a cana-de-açúcar
proporciona aos animais, o pesquisador diz que a planta apresenta
um valor nutricional médio relacionado com o teor de
açúcar, que é 560 digestivo. Este teor,
por sua vez, está ligado à outro fator, que
diz respeito ao amadurecimento. De acordo com Armando, quanto
mais madura estiver a cana, maior é a quantidade de
açúcares. Quando ela atinge 12 meses de idade,
alcança o ponto ideal. Porém existe um fator
negativo em tudo isso, pois conforme se dá o amadurecimento
da cultura, seu teor de fibras diminui, o que resulta em uma
baixa digestibilidade da fibra pelo animal. "As pesquisas
buscam agora, neste sentido, encontrar uma variedade que tenha
uma fibra mais palatável", ressaltou o Rodrigues.
Em relação ao baixo teor de proteínas
apresentado, o pesquisador diz que não há como
aumenta-lo. "Neste sentido, ela vai ser sempre deficiente.
O que se consegue é obter uma variedade com melhor
açúcar", completa.
Apesar das vantagens anteriormente citadas, a cana-de-açúcar
é um alimento que apresenta desequilíbrio e
necessita de algumas correções para o consumo.
Para aplicação na forma de volumoso, é
preciso corrigir sua deficiência no que diz respeito
à parte protéica. "Para isso, o primeiro
passo é acrescentar uréia. A cana é muito
rica em energia e o animal necessita de duas coisas na sua
alimentação: proteína e energia. Essa
mistura com uréia faz com que o animal deixe de perder
peso no período de seca e, em alguns casos, sua utilização
pode resultar até num pequeno ganho de peso",
acrescentou Armando. Deve-se estar atento, no entanto, para
a quantidade de uréia utilizada na mistura, pois o
uso acima do recomendado pelos especialistas pode resultar
em problemas como a intoxicação e até
mesmo a morte do animal.
Para que os bovinos sejam alimentados com esta mistura, é
necessário primeiramente que eles sejam submetidos
a uma fase de adaptação, que deve durar em média
de 07 a 10 dias. Nesse período, a mistura deve ser
de 500 gramas de uréia com sulfato de amônio,
dissolvida em quatro litros de água, para cada 100
quilos de cana picada. Após este período, a
mistura passa a ser de 1 Kg para cada 100 quilos de cana.
A mistura pode ser feita em grande quantidade e guardada,
facilitando assim o manejo.
Segundo o pesquisador, se o pecuarista almeja que o rebanho
ganhe peso, é necessária uma segunda mistura:
cana + uréia + ração ou concentrado comercial.
Com ela, o ganho de peso médio diário por animal
pode variar de 1 Kg a 1,3 Kg/ dia. A tendência é
de que esse ganho seja até 20% maior nos machos em
relação às fêmeas. "O ganho
de peso irá variar de animal para animal, por conta
de vários fatores: o tipo do animal, seu porte, raça,
histórico de ganho em fases anteriores e qualidade
e quantidade da cana fornecida".
Armando ressalta ainda que em algumas fazendas, a cana-de-açúcar
está sendo utilizada como principal volumoso, colaborando
de maneira eficiente na alimentação tanto de
gado de corte, como de leite, ajudando também as vacas
em lactação. "A cana é uma forrageira
viável aos produtores de todas as regiões brasileiras
por estar presente em quase todo o país, apresentando,
além do know how e do baixo custo, um outro fator muito
importante: a rusticidade. Se der uma seca, ela resiste e
não é tão exigente em relação
a solo", finaliza.
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