O "Bos-Taurus", ou gado taurino como é conhecido
popularmente, se tornou de uma hora para outra, a menina dos
olhos de muitos pecuaristas que vislumbravam nesse animal,
o parceiro ideal do gado zebuino para se produzir carne mais
precocemente e com maciez e marmorização nos
moldes para atender o exigente mercado mundial.
No
entanto, a entrada indiscriminada de animais, sem um laudo
de inspeção técnica que comprovasse sua
origem, foi um fator determinante que levou o cruzamento industrial,
na época, praticamente à extinção,
afirma Maurício José de Lima, gerente de desenvolvimento
de produtos da Central de Inseminação Lagoa
da Serra. Segundo ele, somou-se a isso, uma série de
outros erros cometidos pelos criadores que desconheciam os
critérios de utilização do cruzamento.
A grande vantagem do cruzamento industrial é, justamente,
a complementariedade que ele oferece ao criador, que pode
buscar nos atributos de cada raça, o conjunto que melhor
atenda a seus objetivos, enfatiza o técnico. "Houve
muito pecuarista que levado pelo entusiasmo ou pelo marketing
muito bem feito de algumas raças, investiram pesado
na compra de animais, por quantias estratosféricas.
O resultado, como já era esperado, foi muita gente
contabilizando prejuízos e desapontada com os resultados
obtidos", conclui. De acordo com o técnico, de
uns anos para cá, a técnica do cruzamento industrial
vem novamente sendo difundida pelo país, só
que desta vez, a quantidade de estudos e novas técnicas
a disposição do pecuarista torna-a bem mais
segura", conclui o gerente de desenvolvimento da Lagoa
da Serra.
Paulo de Castro Marques, proprietário da Casa Branca
Agropastoril, com sede localizada na cidade de Avaré,
SP, desenvolve há vários anos seu trabalho de
cruzamento industrial com as raças Simental, Red Angus
e Brahman. Com um rebanho de, aproximadamente 650 animais,
o critério de seleção utilizado por ele
nas 4 fazendas, tem como prioridade preconizar a habilidade
maternal das fêmeas do plantel. Outra característica
almejada é a precocidade sexual, tanto de macho como
de fêmeas. Para ele, é muito importante que o
animal seja produtivo e para isso, quanto mais precoce sua
entrada na fase reprodutiva, antes vem o retorno. Marques
fala ainda, que é preciso investir na qualidade do
rebanho nacional, priorizando mais o desempenho dos animais
do que as questões de caracterização
racial.
Na opinião do criador, a estética é importante
desde que não seja colocada em detrimento da funcionalidade
do bovino. Nesse sentido, as pistas de julgamento, desde de
que bem direcionadas, compreendem um fator importante na renovação
e aprimoramento das raças, observa ele. "Alguns
juízes já estão atentando para a funcionalidade
dos animais, sobretudo, em condições extensivas
de criação, predominantes na pecuária
nacional. O Brasil tem um rebanho de matrizes de dar inveja
em qualquer país do mundo e isso precisa ser melhor
aproveitado", conclui o criador.
De acordo com o técnico da Lagoa da Serra, o grande
problema que envolveu o cruzamento industrial no Brasil, na
sua primeira fase, foi o uso indiscriminado por parte dos
pecuaristas de raças com características "terminais",
ou seja, animais que trazem no seu código genético,
uma série de atributos voltados ao acabamento de carcaça
e qualidade de carne. Mas, como tudo na natureza tem sua finalidade,
esses animais quando utilizados em esquemas de cruzamento
maternal, não conseguiram atingir o mesmo desempenho
de outras raças de origem britânica como, precocidade
sexual e habilidade materna. "O pecuarista que fizer
hoje, a opção pelo cruzamento industrial, para
não cometer os mesmos erros do passado, precisa estar
bastante seguro de qual é o seu papel dentro da atividade
pecuária. A partir daí é só buscar
na infinita gama de material genética existente no
mercado, a combinação que melhor atenda as sua
finalidades, conclui Lima.
Segundo dados da Asbia, Associação Brasileira
de Inseminação Artificial, das 7.4 milhões
de doses de sêmen comercializada em 2003, a participação
de algumas raças européias foi bastante modesta,
marcando em alguns casos declínio no número
de doses vendidas com relação à igual
período de 2002. No entanto, outras merecem destaque
para o Red Angus que obteve uma participação
de 9,05 % do mercado. O Angus-AN também comercializou
cerca de 189 mil doses no mesmo período, seguido do
Simental 2,54 % e Limousin 2,47% de participação
na vendas totais. Nesse contexto algumas raças clsssificadas
pelos pecuaristas como adaptadas mostraram crescimentos excepcionais
como é o caso da raça Senepol que de 1999 a
2003 apresentou uma evolução de 1188,42% no
número de doses de sêmen vendidas. O Canchim
que também é um gado sintético mostrou
crescimento de 540,01% de participação em igual
período. Segundo o leiloeiro João Gabriel, profissional
renomado, tanto mercado brasileiro como no exterior, o fato
dos mercados mundiais estarem cada dia mais exigentes com
relação a carne que compram de seus fornecedores,
faz da busca por qualidade uma condição indispensável
para o criador que pretende continuar forte na atividade."
O gado Europeu tem a sua importância porque oferece
um padrão a carne muito bem aceito e por isso gradualmente
ele vai ocupar o seu espaço no contexto da pecuária
nacional", declara.
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