POR:
PATRICIA COSTA
Por sua vez, estima-se que o número de artrópodes
presentes na serapilheira (camada de folhas em diferentes
estágios de decomposição depositada sobre
o solo) e no solo nas florestas tropicais seja 5 vezes maior
do que o encontrado nas copas das árvores. Assim, alguns
autores chegam a supor que o sub-sistema decompositor (serapilheira
+ solo) seja um dos maiores reservatórios de diversidade
biológica da biosfera.
Entre
os processos que ocorrem no solo, a decomposição
é considerada como um processo chave, pois disponibiliza
nutrientes (mineralização) para o crescimento
das plantas. Além disto, com a formação
de colóides de carga negativa (humificação),
a decomposição também aumenta a capacidade
do solo de reter cátions trocáveis, como o cálcio
e magnésio.
Os microrganismos são os principais agentes da ciclagem
de nutrientes, pois são capazes de digerir quase a
totalidade dos substratos encontrados no solo, incluindo compostos
orgânicos complexos encontrados no material vegetal
como, por exemplo: celulose, lignina, suberina e outros. Em
adição ao seu papel como decompositores primários,
são responsáveis por transformações
mais específicas dos nutrientes no solo que incluem
todas as transformações do nitrogênio,
a mineralização e a solubilização
do fósforo, a oxidação, a redução
e a precipitação do ferro, entre outras. Através
de associações simbióticas (bactérias
fixadoras de nitrogênio atmosférico e micorrizas)
atuam também aumentando a eficiência na aquisição
de água e nutrientes para as plantas.
No entanto, diversos trabalhos têm demonstrado que a
atividade dos microrganismos e, conseqüentemente, a decomposição
da matéria orgânica e a ciclagem de nutrientes
são grandemente influenciadas pela ação
de uma comunidade diversa de invertebrados do solo como resultado
direto ou indireto de suas atividades alimentares.
Alguns grupos da fauna do solo alimentam-se fundamentalmente
de microrganismos e através da assimilação
dos tecidos microbianos e excreção de nutrientes
minerais podem alterar as taxas de decomposição
e a ciclagem de nutrientes. Podem atuar também como
dispersores de inóculos, controlando através
destes dois processos a abundância e a atividade dos
microrganismos no solo.
Existem também algumas espécies de organismos
do solo que se alimentam de tecido vegetal em decomposição,
contribuindo para a fragmentação da matéria
orgânica e deposição fecal. Estes organismos
fragmentam o material vegetal, não somente através
de sua atividade alimentar, mas também devido a sua
intensa movimentação na superfície do
solo, levando a uma redução no tamanho de suas
partículas. Como resultado, observa-se uma maior exposição
de sítios favoráveis à colonização
microbiana.
Além disto, o trato digestivo de animais do solo atua
como uma cultura contínua estimulando o crescimento
de colônias de bactérias. Na realidade os recursos
alimentares utilizados por estes organismos não são
estéreis e os microrganismos presentes no material
foliar podem ser uma complementação nutricional
valiosa para eles. Adicionalmente, como os invertebrados do
solo raramente são capazes de digerir carboidratos
complexos, lignina, compostos fenólicos ou húmus,
que são a maioria dos recursos disponíveis na
serapilheira e solo, a presença em seu trato intestinal
de bactérias capazes de digerir tais substratos torna-se
uma alternativa altamente vantajosa. Para algumas espécies
da fauna do solo, tem sido observado um número de bactérias
no trato intestinal similar ao encontrado no rúmen
de vertebrados, que dependem unicamente da atividade microbiana
para digestão do alimento.
O consumo do material vegetal da serapilheira e sua transformação
em fezes ou coprólitos também pode alterar de
forma marcada a ciclagem de nutrientes. Os diplópodes
- também conhecidos como gongolos ou piolhos-de-cobra
- podem consumir até 11,4 toneladas de material em
decomposição em áreas de Mata Atlântica.
Em florestas africanas, estima-se que estes artrópodes
sejam capazes de produzir 64,9 g por metro quadrado por ano
de fezes, consumindo o equivalente a 38,6 % da queda anual
do material formador de serapilheira.
Mas não é apenas na decomposição
que atuam os organismos do solo, pois estes também
alteram marcadamente características físicas
do mesmo. Como exemplo, a movimentação de alguns
grupos, como: besouros, minhocas, cupins e formigas, leva
inicialmente a um aumento na porosidade dos solos e conseqüentemente
na capacidade de retenção de água e troca
de gases. Dada a sua capacidade de modificação
do ambiente, estes grupos citados anteriormente foram inclusive
apelidados de "engenheiros do ecossistema", pois
são capazes de alterar a agregação e
estruturação do solo. Eles podem atuar transferindo
ou concentrando matéria orgânica e nutrientes
no perfil do solo e também se mostram capazes de alterar
a proporção de argila, areia e silte modificando
temporal e espacialmente o solo.
Assim, devido à estreita associação da
comunidade da fauna com os processos que ocorrem no sub-sistema
decompositor e a sua grande sensibilidade a interferências
no sistema, alterações na composição
de espécies e na abundância relativa dos invertebrados
do solo constituem-se bons indicadores de mudanças
no sistema.
Por estes motivos algumas Unidades da Embrapa têm investido
no desenvolvimento de pesquisas voltadas ao uso de invertebrados
do solo como indicadores de alterações e/ou
de qualidade do solo. Mais recentemente, com a aprovação
do projeto "Fauna do solo: um recurso a ser manejado
em sistemas de plantio direto no Brasil?", estaremos
tentando identificar a viabilidade do uso da fauna do solo
como um recurso passível de ser manejado. Espera-se
assim, otimizar processos como a decomposição,
ciclagem de nutrientes e formação de agregados
estáveis, como conseqüência do incremento
na atuação dos grupos que desempenham funções
chave nos sistemas de plantio direto. Este projeto, liderado
pela Embrapa Agrobiologia, terá atuação
em Roraima e em outros estados aonde o sistema de plantio
direto vem se firmando como uma alternativa sustentável
para a produção de soja e milho.
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