Os
sucessivos aumentos da produção brasileira de
grãos, sobretudo da soja, registrados nos últimos
anos, colocaram o Brasil numa posição de destaque
dentro do cenário internacional dos grandes produtores
da oleoginosa. Os números da última safra 2002/03,
mostram bem essa evolução. As principais praças
do país, registraram aumento na sua produtividade por
área. Isso contribuiu, sobre maneira, para a safra
recorde de 52,21 milhões/t., resultado que coloca o
produtor brasileiro, na segunda colocação no
"ranking mundial", atrás apenas da produção
norte americana que, no ano passado, superou as 74 milhões/t.
No
entanto, é preciso atentar para os problemas que este
"boom!" da soja, pode trazer a cadeia agrícola
nacional. Os avanços no campo das pesquisas científicas,
com o desenvolvimento de novas cultivares, adaptadas às
mais diferentes condições de clima e solo, possibilitaram,
de uma hora para outra, que o produtor colhe-se um volume
bem superior ao de anos atrás, e isso com uma área
bastante reduzida. Toda essa produtividade, no entanto, gera
uma massa que, se não for corretamente manipulada,
pode causar problemas como: armazenagem e escoamento de grãos,
diminuição do volume de áreas para o
plantio de outras culturas, além de facilitar a propagação
de fungos e pragas causado pela prática da monocultura.
Para
discutir, esse e outros temas ligados a cadeia produtiva da
soja, o Centro Nacional de Pesquisa de Soja, de Londrina (PR),
órgão ligado a (Embrapa), Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária, reuniu entre os dias 29 de
fevereiro e 5 de março, no Hotel Bourbon, em Foz do
Iguaçu (PR), cerca de 1500 técnicos e pesquisadores
de 47 países do mundo. A VII conferência Mundial
de Soja, VI Conferência Mundial de Industrialização
e Processamento de soja e III congresso Brasileiro de Soja,
foram realizados simultaneamente, dezenas de palestras, ministradas
por 200 renomadas autoridades mundiais vinculadas ao agronegócio
da soja.
O
mercado mundial da soja e sua conjuntura foram os principais
focos das discussões. Logo na abertura das plenárias
do encontro. O representante da Embrapa Soja, pesquisador
Amélio Dall'Agnol, mostrou em sua explanação,
de que forma o Brasil conseguiu sair de uma produção
de um milhão de toneladas, na década de 70 para
uma produção superior a 52 milhões/t.,
em 2003. Para ele, "o Brasil tem condições
de suprir sozinho toda a demanda mundial de soja. Outro fato
é que dominamos completamente as tecnologias para a
produção. O que ainda falta é reduzir
os custos com transporte", observa o pesquisador.
Harold
Kauffman, professor da universidade de Illinois, Estados Unidos,
colocou como desafio para a pesquisa americana, a retomada
do crescimento da produtividade da cultura, que no país
vem se mantendo estável nos últimos anos. Segundo
Kauffman, "o clima tem influenciado bastante no rendimento
da soja naquele país, por isso, os produtores tem interesse
em aumentar suas áreas sob irrigação".
Essa é, na opinião do pesquisador uma alternativa
bastante segura para países onde o regime de chuvas
é instável.
Participaram
da cerimônia de abertura, o ministro da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, o presidente
da Embrapa, Clayton Campanhola, além de inúmeras
lideranças locais. Segundo o presidente da Embrapa,
estimativas recentes mostram que o complexo soja é
responsável, hoje, por aproximadamente nove milhões
de postos de trabalho, sendo que, diretamente na cultura da
soja, esse número é 1,5 milhão de pessoas
empregadas" diz. Campanhola fala ainda que é impossível
dissociar a soja brasileira da Embrapa, das instituições
de ensino, da assistência técnica e da extensão
rural. E isso pelo fato de que, esses diferentes elos da cadeia
produtiva são interdependentes e trabalham juntos há
bastante tempo.
"
É preciso investimento constante na pesquisa, gerando
tecnologia que auxilie toda a produção. Ainda
é necessário intensificar o estudo na área
de biotecnologias para o ganho de produção,
estimular o uso da soja na alimentação; promover
a união do setor público e privado para garantir
mais agilidade na pesquisa e transferência de tecnologia
e ainda, dar através da pesquisa, sustentação
na expansão da produção de grãos
em áreas frágeis", afirma Capanhola.
último
a falar durante a cerimônia de abertura, mas não
menos contundente nas suas afirmações, o ministro
Roberto Rodrigues, disse que até final de abril de
2004, o Brasil vai possuir uma legislação específica
para a biosegurança. Essa lei deve dar a linha de conduta
na questão dos transgênicos explica ele. Na opinião
de Rodrigues, a soja possui outros desafios que vão
além desta questão do bioterrorismo. Um primeiro
problema que precisa ser amenizado rapidamente, são
as estruturas de acondicionamento e escoamento de grãos
que, há tempos não acompanhando a linha de crescimento
da produção. " Precisamos cuidar da conquista
de novos mercados, abrir novas fronteiras par comercialização,
porém, com cuidado para não sofrermos, o que
ele denominou de " crise de abundância", provocada
por um excedente de produção," destaca.
O
ministro ainda criticou a falta de lideranças ligadas
à soja nas mesas de negociação pelo mundo
a fora. " Não é possível que o Brasil,
como um dos maiores produtores, não participe da formação
de preço de seus produtos; ficando a mercê do
preço estipulado por empresas multinacionais na Bolsa
de Chicago (EUA)", afirmou. Para o ministro, a agricultura
é a vocação do Brasil. " O governo
federal tem de criar condições para que o produtor
não seja colhido por fatores estranhos à sua
vontade. A agricultura é o maior negócio do
país, a nossa âncora verde", conclui seu
discurso.
Foram cerca de 700 trabalhos científicos apresentados,
divididos em duas modalidades: trabalhos apresentados por
amostras de poster e através da contribuição
oral dos palestrantes. Os temas cuidam de praticamente todas
as etapas da produção. Novas tecnologias na
produção, armazenamento, logística, consumo,
aspectos sócio-econômicos e ambientais, além
da industrialização.
O
melhoramento genético da soja foi dos temas discutidos
durante o encontro. Um dos convidados a falar sobre esse assunto
foi o pesquisador da Embrapa Soja de Londrina (PR), José
Francisco Ferraz de Toledo. O pesquisador menciona que atualmente
existem variedades de soja que são resistentes à
Cercospora sojina, conhecida popularmente como "Mancha
olho-de-rã ", ao Cancro da haste, ao nematóide
de cisto, entre outras. No entanto, neste momento todos as
preocupações estão voltadas para a ferrugem
asiática ( Phakopsora pachyrhizi). " Tudo indica
que vai ser uma doenças mais difícil de se lidar
geneticamente, mas já estamos obtendo uma série
de informações que estão ajudando o programa
de melhoramento para combate à doença".
Toledo diz ainda que, provavelmente vai demorar alguns anos
até se obter uma variedade resistente ao fungo. "A
Embrapa estudou 430 genótipos aproximadamente. Um genótipo
é uma variedade, ou seja, é uma planta com características
que precisam ser conhecidas e avaliadas para se tornar uma
cultivar. Destas analisadas, apenas 11 possuem certa tolerância
ao fungo da ferrugem", conta o pesquisador.
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