Há
dez anos na cafeicultura orgânica, o fazendeiro Ivan
Caixeta não tem do que reclamar. Ao contrário.
Com o tempo e os resultados positivos alcançados no
café, ele e familiares foram transformando as lavouras
existentes em sete fazendas, na região de Machado e
de Paraguaçu, no sul de Minas Gerais, em orgânicas.
Caixeta, o pai, quatro irmãos e uma tia fazem parte
de um grupo familiar batizado de Unicom (União dos
Cafeicultores de Machado), ao qual pertencem as sete propriedades
e no qual estão cinco gerações de plantadores
de café. "Temos trabalhado em conjunto",
conta ele, lembrando que decidiu transformar sua própria
fazenda em orgânica quando viu, como engenheiro agrônomo,
o sucesso conquistado em outras propriedades da região
de Machado, conhecida e valorizada nacionalmente por causa
deste tipo de lavoura.
O processo de transformação das lavouras de
café soma dez anos, sendo que apenas uma das sete fazendas
ainda não completou o período exigido para ser
considerada totalmente orgânica. As fazendas variam
de tamanho, a menor tem 12 alqueires e a maior 46. A produção
deste ano ficará em torno de 8,5 mil sacas de café,
bem maior do que a do ano passado, que não passou de
duas mil sacas (em função da bianualidade da
produção cafeeira). Em 2002, as fazendas renderam
11 mil sacas, porém nem toda a produção
foi de orgânico.
O café do grupo Unicom, comercializado com o selo BCS
Öko Garantee (certificadora alemã), já
tem, em grande parte, destino certo. Cerca de 75% da safra
é exportada para o Japão, clientes preferenciais.
Os japoneses, explica Caixeta, pagam pelo café brasileiro
bem mais do que os europeus. No Japão, a saca é
vendida em torno de RUS$ 160, enquanto na Alemanha alcança
apenas US$ 130 e nos Estados Unidos cerca de US$ 140.
Com o apoio do Banco do Brasil e da embaixada brasileira no
Japão, os fazendeiros estreitaram as relações
comerciais com os japoneses por meio de um órgão
do governo que cuida das importações do país.
Mas o grupo também já exportou para China, Austrália
e Estados Unidos e quer tentar o mercado europeu que, segundo
Caixeta, é menos interessante por sofrer uma concorrência
muito grande de produtores de latinos e da América
Central.
O que não é exportado pelo Unicom é vendido
para torrefadoras no sul de Minas e também no Ceará.
"Tentamos sempre produzir o café gourmet e por
isso o que vai para o mercado interno também é
especial", diz ele. Apesar do forte do Unicom ser café,
o grupo tem apostado em várias outras culturas orgânicas.
As seis fazendas em Machado (Gerezim, Viramão, Alto
do Viramão, Serra Negra, Monte Ebron e Ouro Verde)
produzem também mamona, feijão, milho cana,
banana, mandioca orgânicos, mas, tirando o feijão
e a mamona, os outros produtos são consumidos internamente.
Em Paraguaçu, a propriedade tem também milho
e soja (em fase de transição). A produção
do feijão é ainda pequena (cerca de 300 sacas
por ano) e é vendida no mercado interno. O motivo é
que a comercialização tem que ser muito ágil,
numa média de três meses depois do feijão
ser colhido.
"Temos o maior prazer em produzir orgânicos",
diz o fazendeiro, garantindo que nunca a família, que
está no ramo há 140 anos, se arrependeu da transformação
das lavouras. "Vemos o meio ambiente respondendo ao nosso
esforço, os trabalhadores não sofrem risco de
contaminação e os preços também
compensam", atesta. "Os resultados são mais
demorados, é mais trabalhoso, tem que ter muita perseverança,
mas vale a pena", garante ele.
O fazendeiro destaca também as vantagens do café
orgânico para o comércio internacional brasileiro
e a entrada de dólares no país. Caixeta faz
as contas e ressalta que o exportador do café comum
acaba devolvendo aos países estrangeiros cerca de 50%
das divisas alcançadas com as vendas. É que,
de acordo com o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA),
50% dos insumos e fertilizantes utilizados pela cafeicultura
tradicional são importados. "Nós não
mandamos pra fora nenhum dólar do que conseguimos lá",
diz Caixeta.
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