O
processo de luta dos arrozeiros para regular o mercado vem
de três anos para cá. Há dois anos houve
um esforço conjunto das entidades representativas dos
produtores em buscar negociações com a indústria
e o governo para estabelecerem medidas de garantias de preço
mínimo, de formação de estoque e do momento
de importar arroz. Como resultado deste processo, em 2003,
foi criada formalmente a Câmara Setorial do Arroz, no
RS, e que vai se transformar em nacional, segundo anunciou
o Ministro, na festa da colheita. Agora as medidas são
debatidas entre quase todos os interessados. Falta ainda nesta
mesa o setor varejista.
Como é normal em toda a produção agrícola,
sempre que se inicia a venda da safra de qualquer cultura,
os preços caem por excesso de oferta. Geralmente, segundo
os produtores, isto é muito bom para a indústria
que vai formar seus estoques a custos menores. Este círculo
vicioso acontece porque os agricultores precisam pagar as
parcelas dos empréstimos tomados junto aos bancos,
as contas com os fornecedores de insumos e todo o seu custeio
da propriedade. Quando o governo não disponibiliza
qualquer medida regulatória de mercado, como fez nesta
safra com o arroz, o produtor, em geral, sofre grandes perdas
financeiras por conta das vendas antecipadas. Na maioria das
vezes isto acaba surtindo reflexos na safra posterior. Ou
com baixa produtividade na lavoura via diminuição
de investimentos no plantio ou com redução de
área. No final das contas a safra fica menor e o governo
precisa gastar com importações. Isto mostra,
segundo analistas do setor, que o mínimo que o governo
pode disponibilizar neste momento, já é bastante
favorável no futuro, pois toda a importação
é em dólar, o que gera um aumento de custo significativo
e uma redução no superávit da balança
comercial.
"Os anúncios feitos pelo Governo Federal garantiram
ao produtor a manutenção da sua capacidade de
segurar a venda da safra para o longo do ano, repercutindo
na sua capitalização e nos seus ganhos de produção",
afirma Artur Albuquerque, presidente da Federação
das Associações dos Arrozeiros do RS, Federarroz.
Segundo ele os preços ao produtor devem se manter entre
R$ 30 e R$ 33 o que garante uma remuneração
razoável. No ano passado houve momentos em que a saca
chegou a ser cotada em R$ 42, provocando euforia no mercado.
Conforme Albuquerque a safra gaúcha deste ano deve
chegar a 5,5 milhões de toneladas em 1,030 milhão
de hectares. O Rio Grande do Sul continua sendo o responsável
pela produção de 50% do arroz consumido no Brasil.
O restante está distribuído por Santa Catarina,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins,
Maranhão entre outros.
O total da safra brasileira deve chegar a 11,7 milhões
de toneladas e o consumo previsto está em torno de
12,7 milhões de toneladas. Esta diferença deverá
vir dos países parceiros do mercosul, principalmente
Uruguai e Argentina que tem produção maior que
o consumo. O Uruguai inclusive firmou o compromisso de não
exportar seu produto para o Brasil a preços menores
que o praticado no mercado interno brasileiro. Toda esta mobilização
gaúcha não garantiu vantagens para os produtores
de outras regiões. Em Goiás, no início
do mês de março, os preços da saca de
60 kg, caíram a média de 20%, mostrando que
os produtores do resto do país precisam aprender a
se mobilizar, como os arrozeiros sulistas.
Novos
Instrumentos
A
mobilização do setor conseguiu também
novos instrumentos de financiar a comercialização.
A Linha Especial de Crédito, LEC, no valor de R$ 100
milhões a juros de 8.75% ao ano foi um instrumento
conquistado pelos produtores. O que também ficou sendo
aguardado por eles e que precisava de regulamentação
foi o Contrato de Opção Privado. Instrumento
semelhante aos contratos de opção criados pelo
Governo e leiloados com freqüência pela Conab.
Por este sistema o Governo tem mínima interferência
no processo ficando a negociação mais a cargo
do produtor com a indústria. "Estes contratos
são interessantes na medida em que regulam preços
para mercados futuros", salienta Rubens Silveira, diretor
comercial e industrial do Instituto Riograndense do Arroz,
IRGA, entidade do governo estadual que atua na área
de pesquisa e fomento desta cultura. Segundo ele, o cenário
nacional está favorável na medida em que a demanda
e a oferta estão muito justas e os estoques do governo
são quase zero.
Para o produtor e consultor de mercado de arroz, Marco Aurélio
Tavares, o cenário para o arroz da região sul
se mostra bastante equilibrado entre a oferta e demanda sem
previsão de muitos sobressaltos no que se refere a
altas e quedas acentuadas de preços. As medidas do
governo e a união dos produtores no sentido de buscarem
mecanismos de manutenção dos preços acima
do custo de produção (em torno de R$ 30 por
hectare, segundo o IRGA) sinalizam um ano safra de tranqüilidade
para o mercado e o produtor . "Já o cenário
internacional vê uma aumento crescente do déficit
entre produção e consumo com a redução
expressiva dos estoques finais. Além disto a demanda
forte pelo arroz na China devem determinar um mercado internacional
com preços em alta, podendo estimular as exportações
do mercosul, inclusive Brasil, para atender a esta demanda",
finaliza Tavares.
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