A
agricultura brasileira vem apresentando nos últimos
anos expressivas taxas de crescimento na sua produção,
sobretudo de grãos. Dentre as culturas que mais cresceram
em volume produzido, a soja, certamente, é a commoditie
que sofreu o maior incremento. Passou das 41,9 milhões
de toneladas, colhidas na safra 2002/03, para 52,1 milhões
de toneladas na safra passada, aumento de 24,2% ou 10,1 milhões
de toneladas. Este ano, de acordo com estimativas da Conab,
as varias regiões produtoras da leguminosa no país,
devem colher algo em torno das 58 milhões de toneladas,
o que eleva esses números ainda mais. O volume de área
plantada da cultura, que no período 2002/03, registrou
aumento de 13,1%, ou 2,1 milhões/ha, na safra atual,
também deve crescer, passando para 21milhões/hec.
No
entanto, este bom desempenho da cadeia produtiva não
vem sendo acompanhada, por melhorias no setor de serviços
e comercialização destes produtos. Esses que
por sua vez deveriam funcionar como suporte para evitar eventuais
entraves no escoamento dos grãos, por conta da burocracia
e do estado deteriorado em que se encontram, tornam-se os
maiores complicadores. E esse descompasso fica ainda mais
evidente, quando atentamos para a capacidade de suporte de
armazenagem e de escoamento da produção nacional.
De acordo com levantamentos da Conab, Companhia Nacional de
Abastecimento, a capacidade estática de armazenagem
da soja brasileira, hoje, encontra-se em, aproximadamente,
18,5 milhões de toneladas. Deste total apenas 5% são
armazenados junto ao produtor. Denise Decker superintendente
de armazenagem e movimentação de estoques da
Conab, fala que este fato constitui-se um problema, haja vista,
que no Brasil, as distância entre as principais zonas
de produção e os pontos de entrega do produto,
(esmagadoras ou portos) são muito longas. Isso aliado
a um sistema de transporte de safra, ferroviário, fluvial
e rodoviário, deficiente, constituem, os maiores gargalos
par a solução do problema.
"Se compararmos estes números ao de países
como EUA, onde a capacidade estática de armazenagem
é 2,5 vezes, a sua produção anual e,
65% destes armazéns, são mantidos junto às
unidades de produção, o Brasil está muito
longe de possuir um sistema de gerenciamento de safra condizente
com o seu potencial produtivo".
Decker diz ainda, que nas condições físicas
para escoamento de safra no Brasil, dificilmente, se poderia
operar um sistema just-in-time para o agronegócio de
grãos. Uma alternativa viável seria criar um
sistema de gerenciamento logístico nas proximidades
das zonas produtoras. " A montagem de unidades de armazenagem
nos pontos relevantes de distribuição, como
propriedades rurais, armazéns gerais, portos e processadores,
mostra-se uma questão estratégica fundamental
par a solução do problema", explica a superintendente.
O ministério dos transportes vem mobilizando seus esforços
no sentido de levantar recursos junto ao governo federal para
investir na melhoria do sistema de transporte de grãos
no Brasil. Segundo pesquisa desenvolvida pela superintendência
de armazenagem e movimentação de grãos
da Conab, em Brasília (DF), sobre as condições
das principais estradas brasileiras, os caminhos por onde
passa a produção de agrícola não
é nada animador.
O objetivo do projeto é, justamente, servir de ferramenta
para que as autoridades governamentais ganhem agilidade nas
suas tomadas de decisão, quanto a priorização
dos serviços de manutenção das principais
rodovias federais", explica Decker. O estudo mostra por
exemplo, casos como o da BR 163, principal via de ligação
entre as regiões Norte e Sul do país, levando
a produção de soja da cidade de Santarém
no Pará até o extremo Oeste do Rio Grande do
Sul. Está rodovia possui inúmeros pontos de
interrupções, inclusive, apresentando trechos
que, em períodos de chuva tornam-se intransitáveis.
Outro exemplo das condições precárias
do sistema rodoviário federal é a BR 364, mais
importante via de acesso da produção dos estados
de Mato Grosso e Goiás aos portos de Paranaguá
e Santos. Além disso está estrada também
atende à produção das regiões
mais ao Norte do Mato Grosso, que escoa pelo rio Madeira até
Porto Velho (AM). De acordo com os resultados da pesquisa
essa estrada também possui inúmeros pontos de
interdição e carecendo de recuperação
urgente. De acordo com a superintendente da Conab, "
as regiões onde as rodovias são privatizadas,
a situação é muito melhor. Só
que este percentual representa muito pouco no que diz respeito
ao mapa rodoviário nacional".
Um outro problema que contribui bastante com o déficit
que se criou na armazenagem de grãos no país
é o desativamento de armazéns do governo. Estes
por sua vez são responsáveis pelo acondicionamento
dos estoques reguladores e estratégicos, oriundo de
operações de AGF, aquisição do
governo federal, EGF, empréstimo do governo federal
e dos contratos de opção. Denise explica que,
recentemente, o governo criou uma série de mecanismos
de crédito para agricultura familiar. "Isso vem
ajudando o governo a reativar alguns desses armazéns.
No entanto, o produtor ainda empata muito na burocracia dos
bancos que, devido o excesso de exigências, dificultam
a viabilização dos contratos".
Para Adriano Mallet gerente de produtos da Kepler Weber, empresa
que atua na fabricação de equipamento para tratamento
e estocagem de grãos, o grande problema que envolve
a questão da logística de grãos no Brasil,
sobretudo da soja que é cultura mais significativa,
pelo seu volume de produção, é, justamente,
o tempo que se vai levar para fazer as coisas acontecer. "
Não se constrói estradas e ferrovias de uma
hora para outra. É preciso se criar ações
conjuntas entre os setores público e privado no sentido
de estimular a produção de estruturas de armazenagem
e tratamento de grãos, pois somente assim será
possível o produtor escolher o melhor preço
para o seu produto".
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