O
Brasil já alcançou o topo na produção
de café, açúcar e suco de laranja. Agora,
o recorde se repete com o camarão. Segundo dados da
ABCC, Associação Brasileira de Criadores de
Camarão, o país ocupa, hoje, o lugar de sexto
maior produtor mundial do crustáceo. Atualmente o pódio
é da China, seguida por Tailândia, Vietnã,
Índia, Indonésia, Brasil, Bangladesh, Equador,
México e Honduras.
De
acordo com o último Censo realizado pela ABCC, os dados,
coletados entre 14 estados produtores, apontam para um crescimento
de 33% no número de fazendas de camarão no Brasil.
No
Nordeste, 200 fazendas foram implantadas em 2003, registrando
um crescimento de 32% sobre o ano anterior. O número
de produtores saltou de 625 para 825, no período analisado.
O Rio Grande do Norte permaneceu na liderança em número
de fazendas (362), respondendo por 40% do contingente de produtores
espalhados pelo País. Em seguida aparece Ceará
(185 produtores), Pernambuco (79), Paraíba (66), Sergipe
(54) e Bahia (42). Já no Sudeste, o número de
fazendas permaneceu estagnado, com dez empreendimentos em
operação no Espírito Santo.
O
crescimento de fazendas de camarão em 2003 e a ampliação
de alguns projetos já existentes, provocaram um incremento
de 34,6% na área cultivada no Brasil, que passou de
11.016 para 14.824 hectares. Mais uma vez o Rio Grande do
Norte aparece no topo do ranking nacional, contabilizando
uma área de 5.402 hectares. Esse número eqüivale
a 36,4% de toda extensão de camarão de cultivo
do país. O Ceará figura como vice-líder
(3.376 hectares), seguido de longe pela Bahia (1.737 ha) e
por Pernambuco (1.131 ha).
O
Censo 2003 confirma que a estrutura de produção
do camarão cultivado no Brasil é comandada pela
participação dos pequenos produtores. As fazendas
com menos de dez hectares representam 75% dos empreendimentos
em operação no País. Já as propriedades
de médio porte (entre 10 e 50 hectares) equivalem a
19,5 % do total, enquanto as grandes fazendas (acima de 50
ha) representam apenas 5,5%.
De
acordo com Rui Donizete Teixeira da Assessoria Técnica
- SEAP/PR , Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca,
esse perfil da carcinicultura explica a importância
da atividade na geração de emprego e renda,
no meio rural do litoral nordestino. Ele conta que são
3,75 postos de trabalho diretos e indiretos por hectare, superando
atividades tradicionais como o setor sucroalcooleiro e a fruticultura
irrigada. Segundo Teixeira, "a atividade está
mudando o perfil das comunidades, composta por populações
ribeirinhas".
A
carcinicultura figura entre as atividades que promovem maior
geração de empregos no setor primário
brasileiro, declara o técnico da SEAP. A criação
do crustáceo em cativeiro tem se mostrado importante
para as regiões secas e pobres do Nordeste brasileiro.
Hoje, de acordo com a ABCC, 96% do camarão nacional
é produzido na faixa costeira que vai da Bahia ao Ceará.
Fora dessa região, existem áreas de cultivo
nos estados do Pará, Santa Catarina, Paraná,
Rio Grande do Sul e Espírito Santo. Para se ter uma
idéia, o camarão já figura como segundo
principal item da pauta de exportação do Nordeste,
com 4% de participação, perdendo apenas para
o açúcar.
Além
disso, o técnico faz questão de destacar o avanço
no uso da tecnologia como um dos responsáveis pelo
aumento dos números. Ele afirma que tecnologias simples
e utilizadas de forma sistemática têm contribuído
para assegurar e manter a performance técnica da carcinicultura.
Mesmo entre os pequenos e médios produtores está
consolidada a utilização de bandejas fixas,
tratamento de solo, equipamento de hidrologia , aeradores
e tanques-berçário, explica Rui Teixeira.
O
aparato tecnológico se reverte em eficiência
e coloca o Brasil na posição de liderança
mundial em produtividade, superando os gigantes asiáticos,
com tradição de mais de 50 anos na atividade.
No ano passado, a média brasileira chegou a 6.084 quilos
por hectare ano, superando em 11,5% a produtividade de 5.458
kg/ha/ano registrada em 2002.
Dentre
as variáveis avaliadas pelo Censo 2003, a produção
foi a que registrou maior índice de crescimento, saltando
de 60.126 para 90.190 toneladas de camarão. Berço
da produção brasileira do crustáceo,
o Rio Grande do Norte mais que dobrou seu volume produzido,
passando de 18.500 para 37.473 toneladas. O desempenho positivo
fez com que a participação do estado saísse
de 30,7% para 41,5% da produção nacional. O
Ceará também comemorou alta taxa de crescimento
em relação a 2002, incrementando a produção
em 58%, o que garantiu ao estado um volume de 25.915 toneladas
em 2003.
Segundo
a ABCC a explicação para o avanço da
produtividade aconteceu a partir da década de 90, quando
foi introduzida a espécie de camarão L. vannamei,
trazida do Pacífico, cujo clima nordestino é
excepcional para o cultivo de camarão em viveiro. De
acordo com a associação somos o único
país do mundo com capacidade para produzir os 365 dias
do ano, lembrando que o Brasil consegue fazer três ciclos/ano,
contra apenas um dos concorrentes.
Entretanto,
em meio às comemorações um balde de água
fria foi jogado no setor em 2004. As incertezas da ação
anti dumping provocaram uma queda de 52% nas exportações
brasileiras de camarão para os EUA, no intervalo de
janeiro a agosto, de acordo com dados da Associação.
A receita das vendas para o mercado norte-americano despencou
de US$ 76,7 milhões para US$ 37,3 milhões.
Em
relação a igual período de 2003, a receita
dos embarques passou de US$ 148,4 milhões para US$
138,8 milhões, apresentando um recuo de 6,4%. Segundo
dados da SEAP o volume, que se mantinha estável - com
discreta taxa de crescimento de 2,8% até julho -, também
iniciou uma trajetória de queda. As vendas externas
tiveram redução de 3%, saindo de 37,6 mil para
36,5 mil toneladas.
O
setor, que cresceu 50% em 2003 e esperava fechar este ano
com 30% de incremento, está refazendo suas projeções.
A expectativa, agora, é pelo menos empatar com o exercício
de 2003, quando foram exportadas 58,4 mil toneladas de camarão,
contabilizando um faturamento de US$ 226 milhões. Com
exceção do Rio Grande do Norte, todos os demais
estados tiveram desempenho negativo nas vendas externas. Os
exportadores potiguares conseguiram aumentar em cerca de 21,7%
as exportações do crustáceo em volume,
chegando a 14,5 mil toneladas. Em receita, o incremento foi
de 20%, passando de US$ 46,5 milhões para US$ 55,8
milhões.
O
SEAP afirma que dentre os principais estados exportadores,
Pernambuco e Ceará foram os que registraram maiores
quedas. Os embarques pernambucanos despencaram de 4,6 mil
para 3,2 mil toneladas, numa variação negativa
de 30%. Já o faturamento teve recuo de 24,4%, saindo
de US$ 17,8 milhões para US$ 13,4 milhões. No
Ceará, a queda de volume foi de 11,8%, passando de
13 mil para 11,5 mil toneladas. A receita saiu do patamar
de US$ 53,4 milhões para US$ 45,5 milhões no
período analisado.
Hoje,
60% do total da produção é destinada
ao exterior, de acordo com dados da SEAP. Fora do país
o camarão cultivado aqui tem dois caminhos: os EUA
e a Europa. Por causa das dificuldades da comercialização
nos Estados Unidos, geradas pela ação anti dumping,
o Brasil redirecionou o foco das exportações
para o mercado europeu. Atualmente, mais de 70% do total exportado
vai para o Velho Continente.
De
janeiro a agosto de 2003, a Europa era responsável
por 51,44% das importações de camarão
do Brasil, contra 46,87% dos Estados Unidos. Este ano a situação
se inverteu e o mercado europeu já responde por 75,15%
das compras, diante dos 21,91% dos americanos, segundo ele.
A
Espanha se posiciona como um importante comprador de camarão
do Brasil. O País já figura como o segundo principal
fornecedor do crustáceo para os consumidores espanhóis.
Depois da França, a Espanha também aparece como
principal destino das exportações brasileiras
para o mercado europeu.
O
setor que esperava fechar o ano com 30% de incremento, quer
pelo menos empatar com 2003. De janeiro a agosto em relação
a igual período de 2003, a receita dos embarques recuou
6,4% para US$ 138,8 milhões.
Outro
grande entrave do setor é sem dúvida as linhas
de crédito. Entretanto, o problema não é
pela escassez de financiamento mas, pela sua burocracia, explica
Teixeira. Segundo ele, "é nesse momento que os
produtores estão descapitalizados que precisam do apoio
das instituições financeiras". Sem crédito
para custeio fica muito difícil manter o camarão
no viveiro e, muito menos, criar um estoque regulador para
não ter que vender o produto por um preço tão
baixo, ele alerta. Rui Teixeira conta que o financiamento
ao produtor esbarra nas garantias exigidas. Como uma das soluções
a SEAP vem tendo alguns encontros com o Banco do Brasil, Banco
Rural, e outros, para a criação de um fundo
de amparo aos carcinicultores.
Atualmente,
segundo a secretaria, a maioria dos recursos voltados ao financiamento
da atividade atende apenas ao produto final e não ao
fomento da criação de camarão em cativeiro.
Ou seja, os produtores têm dificuldades para obter os
recursos.
As
questões sanitárias tem sido uma grande preocupação
do setor, afirma Rui Teixeira. Segundo ele a ABCC inclusive
criou um código de conduta, onde constam os procedimentos
apropriados de manejo de cultivo visando diminuir os riscos
eventuais de enfermidades.
Quanto
aos aspectos ambientais, o técnico explica que existe
uma imagem distorcida da atividade, que de acordo com ele,
infelizmente agravado por alguns poucos produtores, que mal
orientados ou sem nenhuma orientação, desmataram
erroneamente mangues para cultivar camarão criando
uma imagem de que a carcinicultura seja poluidora e impactante
para o meio ambiente.
As
projeções para o próximo ano é
de apesar do esfriamento no crescimento da cultura, pela ação
dos norte-americanos, o segmento registre crescimento de 35%,
em relação a este ano. Ou seja, o desenvolvimento
continuará entretanto, num ritmo menor do que o dos
últimos anos.
|