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PARASITAS - OS HÓSPEDES INDESEJÁVEIS DA PECUÁRIA
rev 80 - setembro 2004

Ivo Bianchin, pesquisador da área de parasitologia da EMBRAPA Gado de Corte, esclarece que no geral os parasitas não causam danos à saúde humana, e sim prejuízos econômicos aos criadores. No caso dos helmintos (vermes), por exemplo, podem acarretar numa perda de até 40Kg de peso vivo por animal ao abate, segundo ele. O pesquisador ressalta que os maiores prejuízos no rebanho, gerados pelos endoparasitas, ocorrem na época do desmame até os 20 meses de idade dos animais.

Elio Moro, Médico Veterinário e Gerente de produtos terapêuticos e antiparasitários para bovinos da Pfizer, explica que há diferentes espécies de endoparasitas e cada um habitando o estômago, o intestino delgado e intestino grosso.

Quando um animal, ainda bezerro, apresenta um parasita hematófago, que instala-se no estômago, os danos são irreversíveis, segundo Moro. Ele afirma que isso significa que esse bovino nunca desenvolverá todo seu real potencial.

A importância apontada por eles do controle estratégico de parasitas está no fato de se conseguir otimizar as ferramentas disponíveis para o controle dos mesmos. Alcançando este propósito, haverá uma melhora significativa da relação custo/benefício desse trabalho de controle estratégico, com o aumento da competitividade do setor pecuário com animais saudáveis e produtivos, afirmam os especialistas.

Segundo o Gerente da Pfizer existem três tipos de tratamentos disponíveis no combate dos endoparasitas. O tratamento curativo é com uso de antiparasitários, porém ele ressalta que tal medida não apresenta boa relação custo-benefício em virtude do animal já estar com o helminto instalado. Há também medidas táticas como a rotação de rebanho nas pastagens e análise e tratamento na introdução de animais novos no plantel, afirma Moro. Outra opção, e destacada por ele como a mais eficaz, é o controle estratégico de verminoses, uma vez que atua de forma preventiva. Porém Elio Moro avisa que para obter sucesso com esse tratamento há de se respeitar o época do ano e as características de cada região.

De acordo com Ivo Bianchin ao fazer a aplicação do produto melhor recomendado também se torna importante considerar qual o período mais indicado. Ou seja, "na época seca percebe-se que as infestações nos animais são altas, adquiridos durante o período das águas, sendo o melhor período para a aplicação de antiparasitários", explica Bianchin. Nesse período o potencial de re-infestação é baixo. Ele acrescenta que com menos parasitas a serem lançados no pasto, a infestação com o passar do tempo tende a ser cada vez menor. No Brasil, os meses mais secos são: junho, julho e agosto, abrangendo 65% da área territorial do país.

O pesquisador da EMBRAPA indica não apenas o combate direto aos parasitas, mas a interação com alguns princípios. Bianchin declara que, "essas regras podem ser o correto manejo de esterqueiras, a limpeza de pastagens, rotação periódica do rebanho nas pastagens, agregação dos animais de idade semelhante no mesmo pasto, ter o pleno conhecimento da quantidade de aplicação recomendada e com isso evitar a sub ou super dosagem de produtos e a utilização correta dos princípios ativos dos medicamentos antiparasitários". Mas ele lembra que também se deve fazer o tratamento químico (aplicação dos antiparasitários) dos animais recém adquiridos e procurar utilizar nas pastagens, por exemplo, gramíneas menos favoráveis a proliferação de parasitas como os carrapatos.

A gerência técnica de pecuária da Schering-Plough Coopers destaca além dos endoparasitas, os ectoparasitas mais comuns, como o carrapato, a mosca dos chifres e o berne.

A doença causada pelo carrapato já foi chamada de "a doença de um bilhão de dólares" por causa dos imensos prejuízos econômicos que acarreta. Além da perda de apetite, em virtude da irritação, o carrapato pode causar sérios prejuízos devido a trasnsmissão de outras doenças, perda da qualidade do couro e favorecimento de bicheiras, segundo a gerência técnica da empresa.

Este parasita possui duas fases de vida: uma no animal e outra não parasitária, na pastagem. Os animais são infestados quando entram e contato com hastes de capim onde os carrapatos ficam instalados. Os bezerros, como ocorre em todas as doenças parasitárias, são os mais suscetíveis.

Os técnicos também explicam que a Mosca dos Chifres é um inseto hematófago, altamente dependente do animal quando no estágio adulto (parasitário). A irritação provocada por suas picadas, que podem chegar próximo a 40 por dia, é muito grande, e nem sempre cada picada corresponde a ingestão de sangue. Os prejuízos são variáveis e relaciona-se a perda de peso, menor número de bezerros nascidos e transmissão de doenças. Atualmente trabalhos têm demonstrado que o número de moscas sobre o animal não está diretamente relacionado aos prejuízos e sim ao grau de irritabilidade dos animais que as hospedam. Assim em alguns animais um número tão pequeno quanto 50 a 100 moscas já causam prejuízos, enquanto que em outros 300 a 500 moscas ou mais não interferem muito na performance.

No controle integrado da empresa recomenda-se o emprego de drogas mosquicidas com mínimo ou nenhum efeito repelente, pois o objetivo é matá-las e não aumentar sua difusão. Sempre que possível o conjunto de pecuaristas de uma determinada região deve realizar o tratamento numa mesma época ("Semana da Mosca"), utilizando mosquicidas efetivos e persistentes.

Além desses o berne acarreta prejuízos, sendo a estimativa de perda de leite, carne e couro de aproximadamente US$ 200 milhões na América Latina, devido ação irritante de suas larvas. Sua gerência explica que o berne é a larva de uma mosca, chamada Dermatobia hominis, muito comum no Brasil. Durante o vôo, a mosca adulta do berne põe seus ovos em outra mosca qualquer. Esta, ao pousar no gado, despeja os ovos, agora transformados em larvas. As larvas perfuram o couro do animal e se instalam durante mais ou menos 35 dias. Após este período, caem no solo e passam por outra transformação, até se tornarem moscas adultas, tendo assim seu ciclo concluído.


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