Atualmente, o setor vive outra situação e a
resposta do produtor reverte-se no menor custo de produção
de açúcar do mundo, por exemplo. Com excedentes
exportáveis correspondentes a cerca de 36% do mercado
livre mundial, estimado em 37 milhões de toneladas,
os produtores fazem projeções otimistas para
o futuro.
Quanto
as negociações internacionais, se tudo der certo,
a meta é expandir esse mercado em, pelo menos, mais
6,5 milhões toneladas, já no próximo
ano, segundo dados da UNICA, União da Agricultura Canavieira
de São Paulo. Já na produção de
álcool combustível, o objetivo é formar
um mercado equilibrado que permita à iniciativa privada
e o governo elaborar uma estratégia de crescimento
sustentado para o setor, que gere empregos, divisas e garanta
ganhos ambientais.
Na
opinião dos representantes envolvidos com a cadeia
produtiva da cana, entretanto, para que as perspectivas se
transformem em realizações será preciso
muito trabalho no sentido de materializar as idéias
e torna-las públicas. Para isso algumas medidas já
estão sendo adotadas como, o incentivo ao uso do álcool
combustível, seja pelo aumento da produção
de carros a álcool, seja pelo estímulo ao consumo
de veículos multi-combustíveis e a introdução
da mistura do álcool no óleo diesel. Outro ponto
importante para a saúde do mercado é a ação
junto às esferas competentes para solução
dos problemas tributários do álcool hidratado
(ICMS, PIS e Cofins), além da consolidação
dos incentivos à co-geração de energia,
observa Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da UNICA.
Para ele, o país deve ampliar seus investimentos e
mobilizar seus esforços para a área de logística,
estimulando a criação de novos terminais portuários,
pois as exportações também fazem parte
da pauta de metas a serem cumpridas pelo setor nos próximos
anos. "Queremos crescer em 20% as exportações
do setor sucroalcooleiro até 2010, embarcando o equivalente
a 5 bilhões de litros, só que, para isso, precisamos
expandir o comércio mundial", declara.
Carvalho
mostra que o compromisso dos produtores de álcool com
o governo contou com um mecanismo que exigiu deles, uma participação
bem mais ativa. Segundo ele, recentemente, o setor firmou
contrato que envolveu a participação de usinas
e sindicatos, estipulando multa para quem não cumprisse
as metas de produção prometidas. Essa confiança
mostrada pelos produtores foi reconhecida pelo governo, que
atendeu ao pedido de elevar a mistura de álcool hidratado
na gasolina para 25%, servindo de recompensa ao esforço
dos produtores. De acordo com o presidente da entidade que
representa os sindicatos, o compromisso do setor sucroalcooleiro
é produzir 1,5 bilhão de litros a mais que na
safra anterior. Para isso, é importante a concretização
do anúncio já feito pelo presidente da Republica
de liberar recursos para financiamento da estocagem de álcool.
Segundo ele, essa medida evitará que os preços
do produto tenham um comportamento similar a uma montanha
russa, que desestabilizam o mercado e prejudicam o planejamento
das empresas.
Segundo
dados da UNICA, o Brasil produz cerca de 13 bilhões
de litros de álcool por ano para alimentar uma frota
de 3 milhões de veículos a álcool e para
adicionar 25% à gasolina de outros 15 milhões
de veículos. Cerca de metade do açúcar
contido na cana é destinado à produção
de álcool. "Para garantir que esse setor econômico
mantenha-se sólido e cresça de forma planejada,
é fundamental que se tenha clareza quanto à
participação do álcool na matriz energética
brasileira, o que pressupõe a manutenção
e expansão de políticas públicas que
garantam a competitividade do álcool com os combustíveis
de origem fóssil, em especial a gasolina", declara
o presidente da UNICA. Segundo ele, a garantia de preços
médios em patamares próximos à 70% do
valor de face da gasolina é uma medida prometida pelo
governo e que trará estabilidade ao produto no mercado
interno.
No
plano externo, as perspectivas que se abrem para o país
são impressionantes, tornando-se fundamental uma ação
mais agressiva em relação ao Mercosul, Alca
e União Européia no que diz respeito ao fim
do protecionismo no mercado de açúcar e à
abertura de mercado para o álcool. Assim, seria possível
obter U$ 1 bilhão a mais de receita e 100 mil novos
empregos, metas que segundo representantes do setor podem
ser alcançadas ainda neste governo. Para o diretor
de Marketing da Volkswagen do Brasil, Marcelo Olival, numa
era na qual gerar divisas é produzir oxigênio
para sustentar o crescimento, é fator prioritário
olhar com carinho para o mercado externo de álcool,
ao mesmo tempo incipiente e promissor. Segundo ele, nota-se
que nesse assunto o que importa é estimular a produção
e o uso do álcool no maior número possível
de países para que o produto venha a se tornar uma
commodity. "As perspectivas são animadoras, pois
muitos países têm demonstrado interesse na mistura
de álcool à gasolina. É rotina da indústria
de álcool brasileira visitar e ser visitada por comitivas
da China, Índia, Estados Unidos, Japão, preocupados
não só com a poluição urbana como
com a dependência crescente do petróleo importado.
Essa característica marca o interesse internacional
pelo álcool combustível brasileiro", declara.
Nos
Estados Unidos, políticos defensores do etanol brigam
no congresso com os aliados do petróleo para aprovar
lei que incentiva a produção do combustível
renovável. A produção norte-americana
de álcool tem apresentado crescimento expressivo nos
últimos anos, chegando a 6,5 bilhões de litros
em 2001. Com 13 novas usinas em operação, a
expectativa é que a produção norte-americana
de etanol fique em torno de 8 bilhões de litros neste
ano. Já a Austrália, terceiro maior exportador
de açúcar, também está aderindo
à mistura do álcool na gasolina, a exemplo do
que acontece com a Índia, que a partir de 2003 adotará
a mistura de 5% em nove estados. Se o governo indiano não
tem interesse em importar o álcool brasileiro, mostra-se
disposto a comprar a tecnologia para produzi-lo. A China,
por sua vez, como terceiro maior produtor de álcool,
conta com projetos de mistura na gasolina a partir de diversas
matérias-primas, do milho à mandioca, passando
pela cana-de-açúcar, produzida no Sul do país.
Com tantos exemplos pipocando mundo afora, não pode
haver titubeio interno que coloque em risco o patrimônio
estratégico brasileiro representado pelo álcool.
José
Eduardo Ferreira Silva gerente de Marketing cana de açúcar
da Dupont Agricultura e Nutrição, a cana-de-açúcar
pode fornecer ao Brasil o passaporte para o mundo dos países
desenvolvidos, e isso, por ser um produto versátil,
capaz de transformar-se em açúcar, álcool,
energia elétrica a partir da sua biomassa e até
mesmo plástico biodegradável. Para ele, a cana
tende a ser um dos produtos agrícolas de maior retorno
para a economia brasileira, além de cumprir alguns
requisitos básicos do desenvolvimento sustentável.
Silva destaca entre eles, itens como, a geração
de divisas para o país; a utilização
de mão-de-obra de forma intensiva o que fixa o homem
no interior e auxilia a distribuição de renda;
a contribuição para a segurança energética,
colocando o país num patamar diferenciado do ponto
de vista ambiental, uma vez que os produtos setoriais contribuem
para diminuir a poluição local e ajudam a combater
o efeito estufa.
Já
para o representante da Volkswagen, a produção
de álcool hidratado no país, combustível
que alimenta os veículos a álcool, depende de
uma produção de automóveis que, no mínimo,
neutralize o sucateamento de uma frota cujo auge da produção
se deu no final dos anos 80. Segundo ele, um bom exemplo de
incentivo é o acordo efetivado entre Brasil e Alemanha,
dentro da política de estímulo ao resgate de
carbono da atmosfera, consagrado pelo Protocolo de Kyoto,
e que trará ao Brasil recursos de R$100 milhões
para que a indústria automobilística forneça
100 mil carros a álcool mais baratos ao consumidor
brasileiro. O álcool anidro, cujo crescimento acompanha
o aumento do consumo de gasolina, tem uma situação
mais clara, mas é fundamental que a banda legal de
20% a 25% de álcool anidro na gasolina não seja
alterada e que, dentro dela, se procure manter no nível
mais alto, na medida em que haja produção suficiente
para o atendimento da demanda.
Protecionismo
x açúcar
A
produção de açúcar no mercado
interno apresenta limitações relacionadas ao
alto nível de consumo e o mercado externo, já
bastante explorado pelo Brasil, tem no protecionismo dos países
desenvolvidos a principal barreira para a sua expansão.
Com um consumo per capita de 52kg ao ano, de média,
considerado um dos mais altos do mundo, o açúcar
tende apenas a acompanhar o crescimento vegetativo da população
brasileira. No plano internacional, o Brasil já destina
60% da sua produção à exportação
e aumentar esse volume é tarefa árdua, na medida
em que é preciso lutar junto a órgãos
internacionais para derrubar barreiras protecionistas de todos
os portes. Uma lição de casa que está
sendo feita e deve ser continuada é o contencioso aberto
na Organização Mundial do Comércio contra
os subsídios às exportações da
União Européia, observa o presidente da Unica.
"Em novembro, o Brasil iniciou processo de questionamento
dos subsídios europeus à exportação
de açúcar branco, que concorre com produtos
de países naturalmente mais competitivos, como o próprio
Brasil e a Austrália. subsídio que, ao invadir
o mercado mundial, rebaixa os preços da commodity",
conclui.
Para
uma produção mundial de 130,03 milhões
de toneladas em 2000, houve exportações de 36,30
milhões de toneladas, ou seja, apenas 27,8% da safra
mundial de açúcar é comercializada entre
países. Grandes produtores e consumidores de açúcar
impõem dificuldades para a ampliação
do mercado internacional, garantem preços mínimos
altos a seus produtores, dificultam as importações
e subsidiam as exportações. A participação
brasileira no mercado mundial do açúcar é
grande, dependendo da safra, o país conta com 30% das
exportações globais.
FONTE
DE ENERGIA RENOVÁVEL
A
cana pode ainda colaborar com a economia do Brasil na co-geração
de energia elétrica a partir de seus resíduos,
cuja consolidação depende de políticas
públicas regulatórias que não envolvem
investimento público direto. Para isso o país
tem potencial para geração de cerca de 12 mil
MW, contra uma potência instalada de energia elétrica
no Brasil de 70 mil MW, sem contar com tecnologias em desenvolvimento
como a da gaseificação, que pode dobrar esse
potencial. Segundo o representante da UNICA, Além de
ajudar a diversificar a matriz energética, essa fonte
ajuda complementar nosso sistema hidrelétrico, exatamente
nos meses de escassez hídrica. Representa também
pontos extras para o país em relação
à redução da emissão de gases
causadores do efeito estufa, consagrada pelo Protocolo de
Kyoto. Várias usinas de São Paulo já
obtiveram certificação de crédito de
carbono, aptas a comercializar suas emissões num mercado
que tende a se ampliar e consolidar. Existem ainda outros
diferenciais dessa agroindústria de enorme potencial,
que já desenvolveu o plástico biodegradável
e conta com níveis de produtividade invejáveis.
No
final dos anos 90, o governo mentor da política brasileira
da cana desde as "Capitanias Hereditárias"
deixou o caminho aberto para a iniciativa privada assumir
o controle da economia sucroalcooleira. Com isso, o Brasil
tornou-se uma raridade no mercado internacional do açúcar
e do álcool, uma vez que a interferência estatal
no setor é realmente globalizada. Os casos mais gritantes
de protecionismo ocorrem justamente nos países desenvolvidos,
teoricamente os que menos precisariam ajudar seus agricultores.
Enquanto o custo de produção de açúcar
em São Paulo, considerado imbatível em termos
de produtividade, está estimado em US$ 160 a tonelada,
a União Européia "concorre" no mercado
internacional com um produto que oscila entre US$ 565 e US$
713 a tonelada, embalado por pesados subsídios à
exportação. Sem poder enfrentar o produto brasileiro
em igualdade de condições, muitos países
constróem barreiras, ou melhor, muralhas tarifárias
para proteger os produtores locais. Um dos casos mais notórios
é o dos Estados Unidos, país que criou um sistema
de minguadas cotas, distribuídas entre regiões
em desenvolvimento, que deixa, por exemplo, o Norte e o Nordeste
do Brasil com cerca de 150 mil toneladas de açúcar
para embarcar todos os anos.
O
álcool, por sua vez, caminha para se tornar um produto
de maior liquidez e participação no mercado
internacional, já que é peça-chave no
projeto energético do novo milênio, o de maior
uso de fontes limpas e renováveis, como preconiza o
Protocolo de Kyoto. O interesse em adicionar o álcool
seja ele de cana, milho ou celulose na gasolina também
está se globalizando, apesar de eventuais travas no
percurso. Foi o caso da Califórnia, em que o governo
estadual adiou por um ano a substituição do
MTBE, derivado de petróleo usado na gasolina, pelo
etanol. O que não tem impedido, no entanto, que várias
distribuidoras já iniciem neste ano o processo de mistura.
Países desenvolvidos como a Suécia e Estados
Unidos têm programas de biodiesel, enquanto países
em desenvolvimento, como China e Índia, começam
a testar o álcool combustível para diversificar
sua matriz energéticas.
PARCERIAS
ESTIMULAM CRESCIMENTO
A
União da Agroindústria Canavieira de São
Paulo, UNICA, a Dupont do Brasil Agricultura e Nutrição
e a Volkswagen do Brasil estão se unindo para o lançamento
da campanha "Energia Brasileira", uma iniciativa
conjunto que visa a realização de uma série
de ações de marketing e comunicação
para fomentar o uso do álcool combustível no
Brasil. De acordo com os organizadores o ponto alto da campanha
deve ocorrer no próximo mês de novembro, quando
representantes de aproximadamente 50 usinas de todo o país
estarão alinhados no grid de largada do segundo Rally
da Energia Brasileira. Todos os competidores estarão
a bordo de veículos versão Total Flex, abastecidos
com álcool. A competição será
realizada na cidades de São José do Rio Preto
e Ribeirão Preto, ambas no interior de São Paulo.
"Estamos na segunda edição da campanha
e a idéia é promove-la anualmente, sobretudo
em regiões reconhecidamente fortes na produção
de açúcar e álcool", ressalta o
gerente de marketing da Dupont do Brasil.
Ao
contrário do ano passado quando o Rally da Energia
Brasileira foi aberto a veículos de outras marcas,
neste anos só participarão da prova modelos
Volkswagen a álcool ou versão Total Flex. Segundo
Marcelo Olival, pioneira na introdução dos motores
Total Flex no país, no ano passado quando completou
50 anos atuando no mercado automobilístico brasileiro,
a Volkswagen foi também a única montadora a
ter dentro da sua linha, um modelo popular equipado com motor
bi-combustível. " Em julho deste ano, a participação
dos modelos bi-combustível no mercado interno representaram
42% das vendas totais de carros e comerciais leves da marca",
observa. "O próximo passo é levar essa
tecnologia também para outros modelos como o Polo e
o Polo Sedan que em breve devem estar no mercado", conclui.
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