Além desses agentes, os índices de natalidade
dentro da pecuária são influenciados pela sazonalidade
da oferta de pastagem ou a falta de critérios na seleção
de matrizes e reprodutores com boa capacidade reprodutiva.
De
acordo com pesquisadores do CPAP Embrapa Pantanal, o ponto
de referência para o criador é o período
de monta, tendo o pecuarista que pensar como se pode preparar
os animais que vão para os piquetes, visando com isso,
reduzir a possibilidade da perda ou diminuição
da capacidade reprodutiva por problemas de ordem infecciosa.
Dentro
do cenário da pecuária de corte nacional, sobretudo
nas regiões do Brasil Central, MT, MS, GO, TO, onde
está localizada a maior parcela do rebanho bovino,
estima-se que os índices de natalidade girem em torno
de 40% a 60%, com vacas tendo sua primeira cria por volta
do 45 meses de vida. Além disso, os números
mostram que cerca de 17% das vacas de cria ficam períodos
de até 2 anos sem parir. E ainda, se considerarmos
que o preço médio pago por um bezerro nos leilões
de gado geral naquela região, sai em média por
US$ 100 a US$ 120 ou R$ 300,00 a R$ 360,00, qualquer redução
nos níveis de mortalidade pode representar ao pecuarista
uma diferença sensível, considerando que cada
bezerro vendido eqüivale ao salário de um operário
rural. Portanto, a eficiência reprodutiva dos rebanhos
bem como o conhecimento dos principais fatores que podem afeta-la
são essenciais para o aumento da lucratividade na atividade
ressalta Aiesca Oliveira Peregrin, pesquisadora do CPAP Embrapa,
de Corumbá, MS.
Segundo
ela, dentre as doenças que mais causam perdas à
produtividade em rebanhos estão as que afetam o sistema
de reprodução, causando males como a repetição
de cio, abortamento, nascimento de fetos mumificados, nascimentos
de crias fracas, infertilidade entre outras. "Os prejuízos
econômicos provocados pelo insucesso da estação
de monta possuem um peso importante, portanto, um controle
preventivo dos machos e fêmeas é de fundamental
importância para se obter um maior número de
nascimentos satisfatório e, consequentemente, uma maior
rentabilidade na produção", declara.
PRINCIPAIS
AGENTES
José
Carlos Morgado, médico veterinário e gerente
de biológicos operação grandes animais
da Merial Saúde Animal, observa que, tanto fêmeas
quanto machos precisam de um controle efetivo sobre essas
doenças que causam impacto, não só na
criação como na comercialização
dos produtos oriundos da sua comercialização.
Neste universo a gama de microorganismos que afetam os rebanhos
é bastante grande e suas formas de apresentação
são bem variadas. Segundo ele, a brucelose bovina é
uma das enfermidades que merecem atenção especial,
porque é um tipo de zoonose, ou seja, doença
que pode ser transmitida dos animais ao homem. Causada pela
bactérias Brucella abortus, sua localização
normalmente ocorre nos órgão genitais de machos
e fêmeas, provocando aborto, orquite e epididimite,
entre outros males.
Morgado
fala ainda, que na maioria dos casos, a brucelose entra em
contato com os rebanhos através da compra de vacas
prenhes infectadas. No entanto, o técnico alerta que
podem ocorrer casos de fêmeas, recém contaminadas,
onde o animal ainda não apresenta anticorpos e, portanto,
não pode ser identificado nas provas sorológicas.
"Em países com programas consistentes de controle
da brucelose, são realizadas avaliações
periódicas sobre perdas diretas causadas para o pecuaristas
por abortos e outros distúrbios reprodutivos. Os resultados
frequentemente mostram que em rebanhos doentes, há
uma diminuição no número de bezerros
nascidos por estação de até 15%, com
consequente diminuição da produção
de carne de 10% a 15 %", observa.
A
brucelose é uma doença característica
de animais sexualmente maduros e tem como principal sintoma
o aborto com retenção de placenta, ocorrendo
geralmente no sexto mês de gestação. O
médico da MERIAL fala que o contato direto com os produtos
do aborto ou com o ambiente contaminado por esses produtos
é a principal via de infecção para outros
animais, inclusive o homem. Além disso, a doença
pode também ser transmitida pelo sêmen, sendo
a inseminação artificial com material contaminado
uma importante via de contaminação das fêmeas.
O diagnótico da Brucelose é feito através
da avaliação do desempenho reprodutivo do rebanho,
associado a provas sorológicas. Segundo o regulamento
técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação
da Brucelose e Turbeculose Animal ( PNCEBT ), são indicados
alguns testes de diagnótico indireto. Por exemplo,
o teste do Antígeno Acidificado Tamponado ( ATT), também
conhecido como teste Rosa Bengala, indicado como teste de
rotina. Outro teste é o de fixação de
complemento como teste de confimação de animais
reagentes ao ATT ou que não apresentaram um resultado
conclusivo ao teste 2-ME. Em todos os casos citados é
necessária a presença de um médico veterinário
nas diferentes etapas do processo.
No
Brasil o PNCEBT foi regulamentado pela Secretária de
Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento ( MAPA) e tem como objetivo
principais, baixar a prevalência e a incidência
de novos casos de brucelose no país. Criar um número
significativo de propriedades com certificado de erradicação
que ofereçam ao consumidor final produtos de baixo
risco sanitário. Para isso, o setor público
pretende atuar na fiscalização dentro de um
processo que envolve diretamente toda a cadeia produtiva.
Serão também aplicadas medidas sanitárias
de caráter compulsório como, a vacinação
obrigatória de bezerras contar brucelose e o controle
de trânsito de animais destinados à reprodução,
objetivando, com isso, baixar a prevalência dos caso
até níveis compatíveis com ações
sanitárias mais drásticas que possam caracterizar
um efetivo programa de erradicação.
Segundo
o médico, para se obter a certificação
de propriedade livre de brucelose, todas as fêmeas,
entre 3 e 8 meses de idade devem ser vacinadas contra essa
doença com vacina B19. Além disso, as fêmeas
com idade igual ou superior a 24 meses, desde que vacinadas
entre 3 e 8 meses mais os machos e as fêmeas acima de
8 meses, devem fazer três testes sorológicos
sucessivos ao longo de um período mínimo de
9 meses, sem um único animal reagente positivo; no
caso de animais soropositivo os mesmos devem ser sacrificados.
As propriedades certificadas ficam obrigadas a repetir os
testes anualmente em todos os animais do rebanho, sem exceção.
O ingresso de animais em estabelecimento de criação
certificado ou em vias de se tornar, ficam condicionados a
ter sua origem rastreada, além de submeter-se a dois
testes de diagnósticos, tendo ambos que apresentar
resultado negativo, explica.
Outra
doença conhecida por causar altos índices de
mortalidade é a Rinotraqueíte Infecciosa Bovina
( IBR). Causada por uma espécie de Herpesvírus
Bovino tipo 1 (BHV-1), este agente também pode causar
outras manifestações clínicas como a
Vulvovaginite Pustular Infecciosa (IPV). De acordo com o médico
da Merial, a IBR é uma doença bastante disseminada
em todo o mundo, sendo inclusive comparada a febre aftosa
em alguns países, devido aos prejuízos que causa.
"Um levantamento epidemiológico realizado em 171
rebanhos de diferentes localidades, mostrou que animais nunca
vacinados contra IBR e com problemas reprodutivos, 61% apresentaram
anticorpos contra o BVH-1 e 97% das propriedades tinha animais
soropositivos", conta. "Em geral, a mortalidade
nos rebanhos afetados é baixa, sendo que em condições
de campo, as perdas econômicas se devem, sobretudo a
abortos, morte de bezerros recém-nascidos, queda na
produção de leite, perda de peso e broncopneumonia
bacteriana secundário, podendo em eventuais surtos,
causar abortos em até 25% das fêmeas", explica.
As
principais fontes de contágio são as gotículas
provenientes da tosse secreções nasais, oculares
vaginais ou através do sêmen contaminado, além
de líquidos e tecidos fetais, explica o técnico.
Morgado fala ainda que a IBR pode ser transmitida por monta
natural, contato vulva focinho e inseminação
artificial. "O sêmen contaminado com essa doença
pode causar endometrite, ciclos estrais curtos e redução
significativa das percentagens de concepção",
observa. Além disso, o período de incubação
do vírus dura de 2 a 6 dias, podendo evoluir por diferentes
quadros clínicos e manifestar-se de forma separada
ou simultaneamente.
O
controle ou mesmo a erradicação desta doença
exige dos pecuaristas, normalmente, recursos financeiros elevados,
além de uma sinergia de ações em nível
de regiões. Algumas medidas como, a proibição
de entrada de animais provenientes de áreas ou rebanhos
onde a doença é endêmica; controle sorológico
periódico do rebanho; manejo dos animais soropositivos;
eliminação, hiperimunização ou
manejo totalmente separado dos animais não não
reagentes, são quase sempre eficazes. Nas regiões
onde a doença é endêmica erradica-la é
inviável economicamente, tendo o pecuarista fazer o
controle por meio da vacinação preventiva do
rebanho, observa. Outra medida é aplicar antibióticos
para controlar as complicações bacterianas secundárias.
Colocar os animais em quarentena e fazer o controle sorológico
também funciona, conclui o veterinário.
A
Diarréia Viral Bovina (BVD), é um terceiro caso
de virose bastante conhecida dos profissionais de saúde
que atuam no controle sanitário dos bovinos por, frequentemente
causar prejuízos ao bolso dos pecuaristas. Doença
de caracterização complexa porque manifesta-se
de diferentes maneiras nos animais infectados, sua apresentação
pode ocorrer, tanto como uma simples diarréia, mas
que não evolui para quadros mais graves quanto casos
mais complexos como doenças das mucosas, defeitos congênitos
em bezerros, entre outras. O vírus da (BVD) causa perdas
economicas que se devem principalmente, a abortos, infertilidade,
mortalidade neonatal, atraso no crescimento além da
diminuição da produção de leite.
"Os sintomas aparecem de 5 a 10 dias e a evolução
da doença varia de 2 a 21 dias. Em casos mais graves
observam-se febres de até 40°C com redução
do apetite do animal, além de hemorragias do trato
gastrintestinal, diarréia fezes fétidas com
muco ou sangue, explica Morgado.
Para
o diagnóstico sorológico de rebanho com suspeita
de (BVD), o que o veterinário recomenda é coletar,
se possível, duas amostras de soro retiradas do mesmo
animal com um intervalo de 2 a 3 semanas. Segundo ele, uma
única amostra, mesmo com título elevado tem
pouco valor. Além disso, nem sempre é possível
detectar uma elevação de anticorpos, pois a
infecção inicial as vezes ocorre muito tempo
antes do aborto, por exemplo, e os títulos já
atingiram o nível máximo. " Quando a suspeita
da doenças das mucosas o diagnóticos de laboratório
baseia-se na sorologia e na pesquisa do vírus no sangue,
por isolamento viral ou pela técnica conhecida com
ELISA para detecção do antígeno p 80",
explica.
O
controle também se faz por meio de vacinação
aplicando em todas as fêmeas antes da cobertura (primovacinação
com duas doses e revacinação anual). Pesquisa
e eliminação dos bovinos IPI (Imonotolerantes,
Persistentemente Infectados). É importante também
fazer um controle laboratorial d todos os bovinos que vão
entrar no rebanho afim de evitar desses animais. Um dado importante
segundo o técnico, no controle da Diarréia Viral
Bovina, só devem ser usadas vacinas inativadas, pois
algumas vacinas vivas podem causar abortos ou potencializar
outra infecções bacterianas ou mesmo virais
devido a sua imunossupressão, conclui.
"Além dessa doenças já citadas existem
uma série de outros problema podem acometer o rebanho
se não houver uma preocupação por parte
do pecuaristas em cuidar do manejo sanitário dentro
da propriedade de forma racional e buscando seguir corretamente
as orientações do seu médico veterinário.
Como exemplo, a Leptospirose Bovina, a Turbeculose, as Anaplasmoses,
o Tricomoniase entre outras que precisam ser combatidas por
meio de um calendário periódico de vacinação",
declara.
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