No
entanto, seu controle por meio da vacinação
preventiva, ainda hoje, esbarra na negligência e na
falta de percepção de pecuaristas que, por um
motivo ou outro, não atentam para a importância
do manejo sanitário correto dentro das propriedades.
A
aproximação do período chuvoso em grande
parte da regiões brasileiras, onde desenvolve-se atividade
pecuária, traz a tona um problema que, apesar de antigo
e muito comum para grande parte dos pecuaristas, ainda causa
apreensão em veterinários e pesquisadores pelo
país. Essa preocupação tem um motivo
que está relacionado ao crescimento significativo nas
taxas de infestação por agentes causadores de
doenças nos rebanhos, nesta época. Dentro desse
contexto destacam-se as doenças causadas por bactérias
do gênero clostridium, problema este que todos os anos
acomete milhares de bovinos, principalmente, em regiões
de clima tropical e subtropical, contabilizando enormes prejuízos
tanto para o setor como para o país. Na opinião
de técnicos e veterinários que acompanham o
dia a dia das fazendas, é muito difícil mensurar
os danos que esses agentes causam à pecuária,
pois não existe um estudo que demonstre esses números.
O que se sabe é que eles são de grande monta.
A
classificação clínica das clostridioses,
geralmente se dá como toxinfecções ou
intoxicações alimentares, entretanto sua apresentação
pode ocorrer de diferentes formas nos animais infectados.
Sua ação nos organismos infectados ocorre de
forma bastante rápida, levando em praticamente 560
dos casos os animais à morte, antes mesmo de o criador
se dar conta do problema. Quem faz esse alerta é o
médico veterinário e gerente técnico
de biológicos para grandes animais da Merial Saúde
Animal, José Carlos Morgado. Segundo ele, esses agentes
não causam danos e prejuízos somente à
bovinocultura, mas em ovinos e caprinos também, porém
em menor intensidade.
As
clostridioses podem ser classificadas em três grupos
distintos denominados: Gangrenas Gasosas, Enterotoxemias e
Doenças neurotrópicas. No primeiro caso, que
também é o mais comum, os agentes causadores
da patologia são as bactérias, Clostridium chauvoei,
C. septicum, C. sordelli e C. novy. Nas enterotoxemias, são
incluídas as doenças causadas por clostrideos
que afetam principalmente o trato intestinal e órgãos
abdominais. Já nas moléstias Neurotrópicas,
as partes afetadas primeiramente são o sistema nervoso,
sendo as mais freqüentes o Tétano e o Botulismo.
De acordo com o médico veterinário, independente
das espécie é muito importante que o criador
previna o rebanho por meio da vacinação, pois
uma vez que um animal é infectado, o problema pode
rapidamente se generalizar, causando alta mortalidade no rebanho.
Entre
as doenças causadas por clostrídios a mais comum
de ser encontrada é do tipo de Gangrena Gasosa, também
conhecida como Carbúnculo Sintomático. Este
problema se apresenta em praticamente todas as localidades
acima da região Sudeste, fator este que segundo o técnico
é motivado por um sistema de pecuária extensiva,
bastante usado por pecuarista no Brasil Centra e regiões
Norte e Nordeste, congregando um ambiente bastante propícios
para sua proliferação. O mal que é provocado
pela bactéria C. chauvoei é também conhecido
dos pecuaristas pelos nomes de manqueira, quarto inchado ou
mal do ano. Sua ação ocorre normalmente em animais
na fase jovem, dos seis meses a 2 anos de vida e o sintoma
mais característico da patologia é, como o próprio
nome indica, a manqueira dos membros posteriores do animal.
A enfermidade progride rapidamente e os animais morrem geralmente
no período de 12 a 36 horas, explica o médico
da Merial.
Segundo
ele, outras formas de manifestação da doença
são, estado de depressão profunda, febre e paralisação
do rumem. "Nas grandes massas musculares dos membros,
surgem inchaços de grande volume que, quando comprimidos,
revelam a presença de bolhas de gás". A
principal via de transmissão do Carbúnculo Sintomático
ocorre por meio da ingestão da bactéria, em
formato de esporos, presentes em praticamente todos os ambientes
dentro da fazenda. De acordo com o pesquisador, o animal ao
alimentar-se, ingere os clostrídios que atingem o intestino
e o fígado espalhando-se em seguida pelos músculo
através da circulação sangüínea.
"Em conseqüência de lesões traumáticas
nos músculos, causadas por acidentes ou manejo inadequado,
há uma deficiência de circulação
de sangue no local, criando um ambiente anaeróbico
( falta de oxigênio), condição ideal para
que o Clostrídio chauvoei possa se multiplicar rapidamente,
produzindo os inchaços característicos da doença",
explica.
Já
a Gangrena Gasosa também conhecida como Edema Maligo,
etnologicamente é causada pelos espécimens C.
septicum, C. sordellii e C. novyi, e possuem uma via de contaminação
um pouco diferente da anterior, podendo ser contraída
por meio do contato de eventuais ferimentos dos animais com
esporos dessas bactérias presentes na terra, poeira
ou fezes. O manejo inadequado em operações que
normalmente são realizadas por peões como, castração,
parto, corte de cauda e do cordão umbilical, entre
outras, também são apontados como um via importante
de infecção por esses agentes. "Sendo assim
é muito importante que o criador mantenha não
só uma equipe bem treinada para realização
do manejo, mas que as instalações próximas
aos locais de manejo tenham o mínimo de condições
de higiene garantida", ressalta.
Segundo
Morgado, a evolução dessa doença ocorre,
normalmente de 1 a 3 dias e apresenta como sintomas mais comuns,
febre, abatimento, anorexia, inchaço pastoso e manqueira.
A maior parte dos pecuaristas confunde o diagnósticos
nos animais devido a proximidade dos sintomas que em muitos
casos são rigorosamente os mesmos, observa o pesquisador.
Nos animais já mortos os laudos de necropsia mostram
quadros bastante característicos da doença,
pois apresentam grangrenas na pele, edema subcutâneo
e hemorragias nas subserosas. A forma indicadas de combate
são a limpeza e assepsia constante dos ferimentos e
Assepsia também na aplicação de produtos
injetáveis como, vacinas e outros medicamentos.
O
grupo das enterotoxemias se classificam por apresentar doenças
não contagiosas tendo sua contaminação
a cargo de outros fatores além do contato com as bactérias
C. perfringens B, C e D e C. sordellii. A multiplicação
intestinal dessa bactéria se deve a fatores ligados
ao hospedeiro e ao seu habitat, principalmente a alimentação.
De acordo com o técnico, com tudo, podem ocorrer vários
casos simultâneos em uma mesma criação,
pois todos os animais dos rebanhos normalmente são
submetidos aos mesmos fatores de risco. Segundo
ele, a contaminação dos animais ocorre por via
oral, através da ingestão de substância
de origem animal presentes no ambiente como, carcaças
de animais já decompostos ou água contaminada
por animais mortos recentemente. " A flora ruminal é
composta sobretudo por bactérias estritamente anaeróbicas,
não-esporuladas, celulolíticas e aminolíticas.Em
condições normais de nutrição
não se observa a presença de grandes quantidades
de clostrídios toxinogênicos ou quando se detecta,
as quantidades são pequenas menos de 10.000 por grama
nos intestinos dos animais.
Já
no caso de animais susceptíveis logo na primeira fase
pode se detectar um aumento significativo desses agentes na
parte inicial do intestino (duodeno e jejuno). Em animais
jovens o perigo é maior, pois uma contaminação
de um clostridium Toxino gênico, por via oral, horas
após o nascimento pode viabilizar uma intensa colonização
do tubo digestivo, devido a ausência total ou parcial
dos efeitos de contenção por parte da flora
digestiva. Após a multiplicação da bactéria
no intestino começam a ocorrer os sintomas e lesões
da enterotoxemia. No caso de animais já adultos a contaminação
por qualquer um dos clostrídios citados anteriormente
não é condição para o desenvolvimento
da doença. De acordo com o veterinário a evolução
da enfermidade ocorre rapidamente de 12 a 72 horas do contágio
ao óbito. Segundo ele, o primeiro sintoma visível
é a apartação do animal do rebanho seguida
de uma diminuição do apetite e dificuldade de
locomoção progressiva, com andar cambaleante,
terminando em prostração, decúbito lateral
e morte. " A diarréia quando ocorre tem caráter
hemorrágico abundante", observa.
Um
terceiro caso de patogenia causada por clostridium e que é
causa de mortalidade freqüente nos rebanhos bovinos brasileiros
é o Botulismo, doença popularmente conhecida
como doença da vaca caída. De acordo com o pesquisa
do CNPGC Embrapa de Campo Grande, MS, Pedro Paulo Pires, as
toxinas do Clostridium botulinum têm ação
idêntica aos demais atuando no sistema nervoso periférico,
na junção neuro muscular, impedindo a liberação
da acetilcolina, substância envolvida na liberação
dos impulsos nervosos. "A conseqüência é
uma paralisia flácida dos músculos", explica
o pesquisador.
O
clostrídio causador do Botulismo é um tipo de
bacilo que também depende de um ambiente anaeróbico
para multiplicar-se e que sob a forma de esporo pode ser encontrado
no solo, água e ainda no tubo digestivo dos animais.
Quando um animal morre, o processo de putrefação
cria condições de anaerobiose favoráveis
ao seu desenvolvimento e consequentemente das toxinas botulínicas.
"Em regiões com acentuada deficiência de
fósforo e suplementação mineral inadequada,
os bovinos criam o que os técnicos chamam de apetite
depravado, buscando a ingestão de ossos ou restos de
cadáveres. No caso deste estarem contaminados ocorre
o botulismo epizódico. Outra forma de proliferação
da doença é classificada como botulismo hídrico,
como o próprio nome sugere, ocorre após animais
beberem água contaminada com vezes ou resto mortais
infectados.
O
técnico faz um alerta para que os pecuaristas redobrem
o cuidado com a qualidade da silagem oferecida aos animais
no período seco. Segundo ele, as condições
de falta de oxigênio no interior do silo, condição
indispensável para conservação da qualidade
do alimento, pode torna-se um sério foco de infestação,
na medida que congrega fatores que contribuem para a proliferação
do clostrídio causador do Botulismo. Para isso é
muito importante que o pecuarista siga a risca todas as recomendações
técnicas para a correta construção do
silo, seja vertical ou horizontal.
O
período médio de incubação pode
variar em até 18 dias dependendo da quantidade de toxina
ingerida. A evolução da doença também
depende do volume de toxinas ingeridas. Quantidades maiores
de toxina determinam um quadro rápido com morte em
poucas horas ao início do sintoma, explica Pires. Segundo
ele, o sintoma mais importante de ser identificado é
a paralisia dos músculos da locomoção,
mastigação e deglutição, afetando
primeiro os quartos traseiros, progredindo para os dianteiros
cabeça e pescoço. " Inicialmente, o animal
apresenta um andar duro, desajeitado, tendência acentuada
de se deitar e dificuldade até o ponto de não
erguer-se do chão. No estágio final, o animal
encosta a cabeça no flanco e fica caído até
morrer", conta.
A
morte súbita por clostridioses é um problema
causado por um estado hiperagudo de toxemia no animal e pode
matar o organismo infectado rapidamente. O aspecto saudável
do animal não é sinônimo de que ele esteja
imune ao problema, pis a morte se dá frequentemente
de uma hora para outra, explica Morgado." No caso da
morte súbita por Clostrium sordellii, as toxinas são
normalmente produzidas no tubo digestivo, atravessam a barreira
intestinal e provocam a toxemia, conclui. Além dos
casos já mencionados existem também outros tipo
de clostridioses que merecem ser enumeradas, pois também
são causam danos anuais consideráveis ao pecuaristas.
Entre eles destaque para o tétano causado pelo bacilo
Clostridium tetani, Hemoglubinúria bacilar, Clostridium
haemolyticum e Hepatite necrótica infecciosa Clostridium
novyi B.
O
diagnóstico das clostridioses deve ser realizado por
meio da coleta de material e analise em laboratório.
Segundo o médico da Merial Saúde Animal, o material
deve ser colhido em animais agonizantes ou mortos no período
de quatro a seis horas após o óbito. "Isso
para evita a contaminação por outro agentes
que invadem o cadáver em decomposição
a partir do tubo digestivo", explica. Após acondicionamento
das amostras em recipiente com gelo fechado e corretamente
identificado, o material deve seguir para o laboratório
acompanha do laudo de necropsia.
Nas
clostridiose o tratamentos por meio de antibióticos
como pinicilinas ou exitetraciclinas, muitas vezes mostram-se
ineficaz e isso devido a rapidez de evolução
de algumas dessas doenças. " Assim o controle
da clostridioses dos ruminantes precisa necessariamente estar
baseado na vacinação correta e na época
da vida. Em algumas clostridioses como o botulismo podem ser
utilizadas vacinas especificas, já em outra a grande
quantidade de microorganismos envolvidos e a necessidade de
confirmação laboratorial para a confirmação
do tipo de clostrídio leva os veterinários a
optar por uma vacina polivalente, ou seja que congrega anti-corpos
para diferentes tipo de bacilos.
Segundo
Morgado o sucesso de uma boa imunização depende
não só da escolha de uma vacina eficaz e inócua,
mas também de uma adequado programa de vacinação
no rebanho. Segundo ele, uma das principais falhas observadas
no campo é a aplicação de apenas uma
única dose nos animais. "Na primovacinação
a segunda dose é fundamental para obter níveis
ótimos de proteção, pois a proteção
dada por uma dose única da vacina é pequena
e de curta duração, particularmente em presença
ainda de anticorpos maternos, enfatiza. A segunda dose de
antígeno vai reforçar a imunidade para um período
mais longo", conclui. Outro ponto destacado pelo veterinário
é a revacinação anual do rebanho, pois
segundo ele, é muito comum os pecuaristas pensarem
que as clostridiose atingem apenas animais jovens. Isso tanto
não é verdade que existem inúmeros registros
de animais infectados em fases mais adiantadas da vida.
A
revacinação é feita normalmente antes
do período indicado pelo profissionais de saúde
animal como a vacinação para o Botulismo, por
exemplo, que na maior parte do Brasil onde existe a doença
é realizada durante as chuvas. Isso reforça
a tese de que a revacinação anual do rebanho
é benéfica e necessária para garantir
a sanidade dos animais. Existe ainda os casos de fazendas
que até recentemente ofereciam aos animais a conhecida
cama de franco como silagem para a seca, prática essa
erradicada por portaria ministerial, mas que devido ações
clandestinas ainda não foi erradicada-la. Os farmacos
utilizados no combate as clostridioses passam por um rigoroso
teste de inspeção, seguindo normas internacionais
de controle. Os laboratórios especializados em saúde
animal que atuam no Brasil, oferecem um gama enorme de opções,
não só de produtos mais de serviços ao
pecuarista.
Na
opinião de inúmeros profissionais envolvidos
com a cadeia da carne bovina no Brasil, a relação
custo x benefício para o pecuarista que aplica o manejo
sanitário correto no rebanho é extremamente
vantajosa. Através de uma conta simples é possível
se chegar a uma constatação real dessa afirmação.
Para cada animal adulto morto pela ação de microorganismos
dentro da fazenda, morte essa que quase sempre vem acompanha
de outras, e considerando que o peso médio desse animal
é de 15 -16 @, ou seja algo em torno de R$ 790,00 nas
principais praças do país é possível
o criador imunizar quase a totalidade de um rebanho de 300
a 400 cabeças, número este que corresponde um
plantel médio no âmbito nacional. De frente para
esse fato é uma perfeita falta de consciência
e de amor ao dinheiro investido, para usar de eufemismo, o
pecuarista que ainda não pratica a vacinação
preventiva no seu rebanho, seja qual for as condições
que se apresentem.
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