Os
Estados do Sul e Sudeste do país enfrentaram geadas
inesperadas, com as conseqüências previstas de
alta no preços das hortaliças, da arroba e do
leite. Os governos estaduais estudam medidas de auxílio
aos produtores com cultivos prejudicados.
Há um quarto de séculos, o sul e o Sudeste do
Brasil não enfrentavam inverno tão rigoroso.
A forte estiagem deste ano e as geadas ao longo do Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo criaram
um cenário agrícola delicado. Os técnicos
das secretarias de Agricultura buscam medidas para auxiliar
os produtores e preparam-se para planejar o drible ás
dificuldades das próximas safras.
Levantamento realizado pelo Departamento de Economia Rural
(Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura do Abastecimento
do Paraná registra prejuízos de R$ 1,086 bilhão
e a necessidade de R$ 577 milhões para a recuperação
do campo. Desse total, R$ 100 milhões serão
destinados á prorrogação 460 milhões,
em recursos novos; e R$ 17 milhões a fundo perdido.
Do total de R$ 460 milhões, 210 milhões serão
direcionados pequeno produtor sem financiamento bancário,
que, além de perder a produção está
sem garantia. Os restantes R$ 250 milhões estão
incluídos em programas já executados pelo Ministério
da Agricultura.
Entre os R$ 577 milhões para apoio ao agricultor, R$
17 milhões são fundo perdido assim distribuídos:
R$ 2 milhões destinados a compor o fundo de aval, para
financiamento de custeio; R$ 10 milhões para a compra
de sementes de milho; e R$ 5 milhões, para a compra
de mudas e sementes de café.
Vera da Rocha Zardo, coordenador da Divisão de Conjuntura
Agropecuária do Deral, garante que os 399 municípios
que compõem o Paraná foram atingidos. Até
mesmo a faixa litorânea, normalmente imune a geadas,
não escapou. Resultado: o balanço das perdas
é pesado. Ela lembra que, há 25 anos, a última
grande geada mudou o perfil agrícola do Estado.
O café, que dominava os cultivos , cedeu espaço
para o aumento na área, de trigo e a entrada do milho
e da soja, conta.
O
levantamento da Secretaria do Paraná, realizado em
parceria com produtores e representantes do Ministério
da Agricultura, mostra que a safra de grãos 99/00 foi
reavaliada para 16,063 milhões, o que significa redução
de 17% em relação á produção
anterior. Já a safra de verão, estimada em 15,097
milhões, representa queda de 14% em relação
a do ano passado. A safra de inverno, reavaliada em 965.418
toneladas, aponta redução de 47% em relação
ao período anterior.
Vera explica que as perdas na áreas de café
são substancias. A área de café são
substanciais. A área total de cultivo, espalhada pelo
Norte, Nordeste, Oeste e Centro-Oeste do Estado, soma 184
mil ha. No início das geadas, em 13 de julho, ainda
não haviam sido colhidos 142 mil ha de plantio. A quebra
é de 75% para a próxima safra, que teria potencial
de 2,94 milhões de sacas de 60 kg. O prejuízo
calculado atinge R$ 294milhões. Os técnicos
afirmam que a geada comprometeu os grãos verdes ou
em período de maturação, tanto em qualidade
como rendimento.
As perdas também foram substanciais para o milho safrinha,cultivado
no Norte, Centro Oeste e Oeste do Estado. O Paraná
lidera a produção brasileira ao responder por
50% da produção. As perdas somam 65,5% da safrinha,
com prejuízo de R$ 420 milhões. O Estado deixará
de colher 2,28 milhões de toneladas do produto, das
quais 1,8 milhão perdidas por geadas, o que eqüivale
a 52,6% da safra do Paraná. A área perdida foi
662.387 ha, ou seja, 55% da área semeada.
Dados do Deral para o cultivo do milho comprovam que a área
plantada nesta segunda safra contabilizou 1.130.600ha, o que
representa aumento de 14% em relação á
safra passada. A previsão inicial somava 3,47 milhões.
O Estado perdeu 419 mil toneladas com a estiagem. Com a geada,
as perdas chegaram a 67,7% no oeste do Estado; 77,2% no Centro-Oeste;
e 78,6% no Norte.
Os danos também foram grandes para o cultivo do trigo,
cujos prejuízos alcançaram R$ 247,6 milhões.
Somados, os efeitos da geada e da estiagem, apontam perdas
de 10,030 milhão de toneladas, o que significa 62%
do total estimado, 1,65 milhão de toneladas.
Vera assegura prejuízos também nos cultivos
de triticale, 34,6%; cana-de-açúcar, 16%; tomate,
45,7%; canola, 32,3%; feijão de inverno, 78,4; aveia
branca, 45% e veia preta, 44,7%. As geadas causaram perdas
de 40,7% da produção de hortaliças, o
que eqüivale a 48.012 toneladas e prejuízos de
R$ 21,1 milhões. A fruticultura tropical e subtropical
também foi atingida.
Agenor Santa Rita, responsável pelo setor de agrometereologia
do Deral, afirma que as cidades que concentraram temperaturas
mais baixas foram Guarapuava, com perdas em pastagens, e Palmas,
com cultivos de milho e de trigo. Em Guarapuava, por exemplo,
foram registradas médias de 1,1 negativo, no dia 12
julho; 2,3 negativos, no dia seguinte; e 2,6 negativos, em
14 de julho. Já em Palmas, 1,7 negativos em 14 de julho.
Já em Palmas, 1,7 negativos, em 12 de julho; 3,6 negativos,
no dia 13 de julho; e 4,3 negativos em 14 de julho.
A situação de perdas é semelhante em
Santa Catarina. Guido Boeing, analista de mercado e produtos
hortícolas do Instituto de Planejamento e Economia
Agrícola de Santa Catarina (CEPA-SC), afirma que as
geadas atingiram os 293 municípios que compõem
o Estado. A exemplo do Paraná, o litoral também
não foi poupado. Mais: O Alto Vale do Itajaí
e todo extremo Oeste, que não sofrem geadas, registram
temperaturas de 5 graus negativos. Na prática, isso
significa perdas em hortaliças, cultivadas nessas região
do Estado.
O técnico aponta perda total para os cultivos de tomate,
pimentão, berinjela, feijão vagem e chuchu.
Lembra que o Estado é o principal produtor de cebola
do país. A redução com mudas devem
superar 10%, índice que há muito não
ocorria, garante. Cultivos recém-formados de
batata doce, batatinha e aipim também não serão
aproveitados. Alface e couve-flor não apresentam qualidade.
A fruticultura registrou perdas também. Os maiores
prejuízos ocorreram com o plantio de banana, pois do
total de 600 mil toneladas que o Estado produz, estima-se
perda de 100 mil toneladas. As áreas pequenas com plantio
de pêssego, nectarina e ameixa também tiveram
perda total. E, no sul do Estado, ainda na região litorânea,
nada se salvou do cultivo precoce de pêssego, ameixa
e nectarina. Também não escapam aos prejuízos
as pastagens nativas, o que deve resultar na queda da produção
de leite. Essa mesma redução não deve
ocorrer nos rebanhos de aves e suínos, maior parte
mantida em confinamento. Boeing lembra que, entre os meses
de julho e agosto, Santa Catarina transforma-se em importador
de tomate, pimentão, chuchu, maracujá e mamão.
Produtos que compra de São Paulo, Minas Gerais, Espírito
Santo e Goiás. Ainda assim ele garante que houve
prejuízos com banana, tomate, berinjela e pimentão.
Odacir Zonta, secretário do Estado da Agricultura e
do Abastecimento de Santa Catarina, explica que o governo
estadual medidas que permitam ao produtor a prorrogação
de custeio e de financiamento de um ano após o vencimento
da última parcela prorrogada. Busca também crédito
emergencial para replantio de hortaliças e banana,
com prazo mínimo de dois anos. E a implantação
do programa troca troca de sementes, em que o produtor recebe
as sementes e oferece os produtos recebe as sementes, em que
o produtor recebe as sementes e oferece os produtos colhidos.
Hortaliças, pastagens, café, feijão e
trigo constituem os cultivos que sofreram as maiores perdas
em São Paulo. Avaliação do Cepagri/Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas) e Ciiagro/IAC (Instituto
Agronômico de Campinas) sobre as geadas ocorridas no
Estado apontam temperaturas entre cinco graus negativos em
Campos do Jordão e seis graus positivos em Piedade,
em 13 de julho, e quatro graus negativos, Campos de Jordão,
e um grau positivo, em Ipaussu, em 17 de julho.
As conseqüências são analisadas em relatório
da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
(CATI), da Secretária de Agricultura e Abastecimento
do Estado de São Paulo. Entre 10 Escritórios
de Desenvolvimento Regional (EDRs), sete apresentaram
resultados expressivos Bauru, Catanduva, Marília, Ourinhos,
Presidente Prudente , Presidente Venceslau e Avaré.
O maior impacto foi verificado no cultivo de legumes e de
vegetais, além de pastagens, café novo, banana
e goiaba. Alguns números chamam a atenção:
65% das pastagens, em Catanduva; 80% da área de tomate
em Marília; 65% do cultivo de trigo, em Ourinhos, 50%
do milho safrinha, em Presidente Prudente; 60% da pastagem,
em Presidente Venceslau; e 560 do cultivo do café;
e 560 do cultivo do café novo em Avaré.
No dia 13, as geadas mais severas ocorreram no Oeste do Estado,
desde Ilha Solteira até Assis e as divisas com O Paraná
e Mato Grosso do Sul. As regiões de Pirajú,
Avaré, Graça, Marília, Quatá e
Andradina também foram atingidas. Já na Madrugada
do dia 17, os danos maiores aconteceram no Centro-Sul do Estado,
entre o Norte do Paraná até Marília,
Graça, Pirajú.
Lourival Carmo Mônaco, secretário-adjunto da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento, explica medidas
implementadas pelo governo estadual na busca por solução
aos agricultores. Em curto prazo, haverá a criação
de linhas de crédito, que aguardam definição.
O governo do Estado transformou o Fundo de Expansão
da Agropecuária e da Pesca (FEAP), responsável
pelas linhas de crédito, no Banco da Agricultura Familiar,
em julho deste ano. O banco é o instrumento de crédito
rural do governo paulista, operado pela Nossa Caixa Nosso
Banco.
A secretaria criou também um comitê, encarregado
de analisar o prorrogamento de dívidas dos agricultores
com áreas atingidas por geadas. O comitê é
composto por integrantes da nossa Caixa Nosso Banco, Fetaesp
(Federação dos Trabalhadores na Agricultura
do Estado de São Paulo), Cosesp (Companhia de Seguros
de Estado de São Paulo), além de representantes
do Ministério da Agricultura e do Banco do Brasil.
Mônaco explica que os municípios do Estado, que
somam 645, terão acesso ao comitê, por meio das
Casas de Agricultura, instituições municipalizadas
ou contratadas localmente.
A secretaria instalou também o serviço do Agronegócio,
em que ligações para o número 0800 55
4566 permitem pedidos para vistorias em regiões atingidas
por geadas. Mais: a CATI, o Instituto Agronômico de
Campinas (IAC) e o Instituto de Zootecnia (IZ) estão
unidos para auxiliar os agricultores. Para isso, usam a estrutura
das 40 EDR´s do Estado.
A secretaria divulgou uma lista de medidas que devem ser adotadas
em médio e curto prazos, o devem ser adotados em médio
e curto prazos, o que Mônaco define como até
a próxima safra. As medidas são ambiciosas,
como irrigação nos cultivos em que a prática
seja necessária, aperfeiçoamento do monitoramento
clima e tempo, tecnologias de prevenção de risco
e proteção das geadas e cultivo protegido de
hortaliças. Para isso, a secretaria conta com recursos
do governo federal para a próxima safra e com a possibilidade
de implementar linha de financiamento para irrigação.
Já os técnicos da Secretária de Agricultura
e Abastecimento do Rio Grade do Sul estão centrada
nas sérias dificuldades em relação á
importação de milho. Esta é a principal
conseqüência das geadas, segundo José Hermeto
Hoffmann, secretária da Agricultura daquele Estado.
Ele explica que o Rio Grande do Sul importa, 1,5 milhão
de toneladas do cereal do Paraná. Neste ano, porém,
deverá haver falta do produto. Resta a importação
de milho transgênico da Argentina. A solução
não é bem recebidas por produtores de aves e
exportadores, receosos de perder mercado. Sabe-se que muitos
países não aprovam produtos transgênicos.
A definição ainda não foi encontrada,
mas Hoffman acredita que o setor avícola mostre retração
.
O Estado, formado por aproximadamente 460 municípios,
também perdeu hortaliças e pastagens nativas.
Os preços perdeu hortaliças e pastagens nativas.
Os preços das hortaliças e equilibrados. A produção
de leite tende a baixar, Mas a arroba deve mostrar aumento
de preço, já área de trigo não
sofreu revezes, porque o plantio ocorre mais tarde do que
no Paraná. Na verdade, a área cultivada deve
aumentar 30% neste ano, quando comparada a do ano passado.
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