Mesmo
sendo uma estimativa, pesquisadores acreditam que não
está muito distante da realidade, 50 milhões
de hectares de pastagens em todo o cerrado estão degradados,
ou seja, com capacidade nutricional baixa e, por conseqüência,
deveriam receber tratamento de recuperação urgente.
Isto porque, um pasto deficiente não gera o ganho e
peso esperado e o pecuarista está perdendo dinheiro
com isto.
Para mostrar um caminho que parece ser a solução
mais acertada, pesquisadores da Embrapa Cerrado, localizada
em Sobradinho, no Distrito Federal, realizou um dia de campo
em suas dependências, no dia 26 de maio. Reunido mais
de 600 pessoas, o encontro serviu para mostrar um sistema
de Produção de Carne a Pasto e recuperação
e manejo de pastagens, pesquisa que começou em 1998.
Em cada uma das estações de demonstração,
foram tratados temas como, recuperação de pastagens,
uso de leguminosa forrageiras, manejo e desempenho animal
em pastos recuperados, influência do componente genético
animal e a integração da agricultura com pastagens.
Segundo o agrônomo Alexandre Barcello, uma pastagem
mantém sua capacidade produtiva ideal até os
cinco anos apos a implantação. A partir deste
ponto começa a perder por ano, de forma comulativa,
cerca de 30% deste potencial nutritivo. Com este problema
o animal vai deixar de ganhar o peso que normalmente ganharia
e talvez, se o produtor perceber isto, pode querer investir
em suplementação ou achar que o problema é
do próprio animal, comenta.
A pesquisa realizada preconiza que entre as várias
formas de recuperação desta pastagem a que dá
mais resultado é a implantação da agricultura
naquela área. Ou seja, realizar um planejamento para
que os animais passem a ocupar outra área de pastagem
e determinar o plantio de alguma cultura, soja, milho ou que
ele achar melhor. Com todos os tratos que vai dar para poder
implantar a agricultura,ele já estará dando
um cuidado especial á terra com a adição
de fertilizantes, adubos e etc. Se ele quiser, pode
voltar a ter pastagem após a colheita desta safra.
Terá que investir um pouco em nutrientes e escolher
uma espécie que seja adequada ao tipo de produção
pecuária que quer. Mas também pode esperar mais
dois ou três anos e depois, reimplantar a pastagem com
espécies, aconselha Barcello.
Segundo ele, a técnica de manejo e preservação
da pastagens que está sendo divulgada agora, tem inspiração
no sistema Voisin. Mas é totalmente adaptada aos trópicos.
Com a utilização da cerca elétrica, divide-se
um piquete grande em partes menores, fazendo aos animais trocarem
de piquetes depois de um determinado tempo. Aqui no
nosso sistema, fizemos a rotação a cada 8 dias
com 32 de descanso mas pode ser um pouco mais depende das
condições de cada área, afirma.
Com este processo, a pastagem recebe um tempo de descanso
e pode rebrotar mais vigorosa porque se tem um monitoramento
mais eficiente dela.
O agrônomo afirma que um sistema tradicional de cria,
recria e engorda, produz cerca de 40 kg de peso vivo/ha/ano.
Ao adotar a técnica de manejo de pastagem e integração
com agricultura, o ganho cresce para 70 a 80 kg vivo/ha/ano.
Se for trabalhar somente com recria, o ganho fica em 120 a
150 kg vivo/ha/ano. Com a melhoria da pastagem sobe para 350
a 400 kg. São ganhos que não se pode desprezar
porque farão muita diferença no bolso do pecuarista,
assinala, acrescentando que mesmo com o investimento inicial
de implantação de uma cultura, o retorno vem
forte tanto pela comercialização do grão,
como através da melhoria do ganho de peso que aquela
área vai proporcionar no futuro.
Barcello lembra que em algumas regiões, pecuaristas
estão arrendando determinadas áreas para agricultores
com prazo fixo. Depois deste período, o produtor implanta
a pastagem e entrega outra área para arrendamento.
Segundo o técnico, é uma forma de recuperar
a saúde do solo e sa pastagem sem ter que destinar
um grande capital na formação de uma lavoura.
O pecuarista Adalberto Soares, da Parceria Embriões,
tem propriedade em Buritis, Minas Gerais, e trabalha com genética
avançada. Red Angus e Brangus. Segundo ele, esteve
presente no evento para aprender mais sobre a parte nutricional
das pastagens porque sofre muito com o problema do stress
das pastagens durante a estiagem. O rebanho emagrece
e isto é perda de dinheiro, algo que não podemos
ter nos dias atuais, afirma o pecuarista que também
produz novilho precoce.
Para Adalberto o sistema de rotação associado
com a implantação de agricultura para renovação
de pastagem e a implantação de uma espécie
que seja mais resistente ao período da seca pode resolver
o problema. Para ele tudo é uma questão de comparar
custos a fim de reduzi-los. Se esta nova tecnologia
vai me fazer melhorar a produção, porque não
adotá-la?pergunta.
Ferramentas
Um
dos bons parceiros desta tecnologia é a cerca elétrica.
Segundo o médico veterinário Guilherme Viana,
gerente de vendas de produtos a agropecuários, da Belgo
Mineira, ela é indispensável para quem quer
adotar o sistema de rotação de pastagem. Conforme
diz, a cerca subdivide o piquete de forma prática e
com baixo custo pois representa apenas 1/5 do custo de uma
cerca fixa. Viana explica que se o pecuarista for adotar o
manejo rotacionado, pode por exemplo, fazer um piquete de
50 hectares, para cada 100 animais e subdiví-lo em
9 partes. O veterinário alerta que este foi o módulo
utilizado neste trabalho. As adaptações deve
ser feitas de acordo com cada devem ser feitas de acordo com
cada circunstância de manejo e complementa dizendo que
na experiência conseguiram um taxa de lotação
média de 2,5 UA/ha/ano.
Um outro importante aliado no sistema de pastagem do cerrado
é conhecido por Mineirão, (Stlosantes Mineirão)
uma leguminosa perene de alto teor protéico e de altíssima
resistência a seca e que pode atravessar todo o período
de estiagem mantendo todas as características. Segundo
Mario Ferreira Martins proprietário da Sementes Mineirão,
de Unaí, MG, esta pastagem permite o uso durante o
ano todo durante o período mais forte da seca. Com
a vantagem de fixar nitrogênio no solo, afirma.
Pode ser plantada no início da época de chuva
e deixar crescer até o final de julho, podendo liberar
para o gado em seguida. As regiões que melhor se adapta
é a partir de São Paulo para outros estados
do Centro Oeste e nordeste. Sua produção é
de 20 kg de matéria seca por hectare/ano. Conforme
recomenda Martins, é importante que para o início,
o pastejo seja bem leve, em torno dos 100 dias do plantio,
para que o gramínea não abafe e leguminosa.
Em animais de corte, o Mineirão consorciado com B.
Decubens e Rezuzienses e Adropogon proporcionou um ganho de
peso de mais de 50% de peso vivo, quando comparados com as
mesmas gramíneas solteiras. Em gado de leite, com manejo
de pequenos produtores, aonde os animais são de média
lactação e a alimentação incluía
ração e cana, o ganho em lactação
foi de 15% mais pastagem consorciada. Por isto que o
produtor, ao planejar a introdução deste sistema
de manejo rotativo, deve pensar em introduzir uma leguminosa
como o Mineirão, pois no período da seca ela
não vai passar por apertos, afirma, acrescentando
que é uma leguminosa com 20 anos de pesquisa da Embrapa.
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