O
governo está prevendo um crescimento de até
4% na economia brasileira, neste ano. Para tanto, vem aplicando
várias medidas que possibilitam o alcance da meta,
como a ampliação dos limites do compulsório
bancário, visando injetar um pouco mais de dinheiro
no mercado e, assim, alavancar a produção.
Outra alternativa tem sido o controle do câmbio, com
o Banco Central impedindo altas e baixas exageradas do dólar,
buscando um equilíbrio que favoreça o ingresso
de capital estrangeiro no País, inclusive derrubando
algum entraves, como o IOF (impostos sobre Operações
Financeiras), desburocratizando as remessas para a exterior,
enfim, decisões que não impeçam a livre
movimentação do investidor externo.
A julgar pelas opiniões de vários analistas,
a estratégia parece estar surtindo efeitos positivos,
pelo menos neste começo de ano, e permite entrever
que os objetivos têm chances de ser alcançados.
A entrada de dinheiro tem ocorrido num volume satisfatório,
com um único porém: a grande parte, de origem
norte-americana, espanhola e portuguesa, está sendo
utilizada para serviços, um área que apesar
de ter condições de gerar empregos, dificilmente
terá algum desempenho no comércio internacional
e, em conseqüência, contribuirá muito pouco,
ou nada, para as exportações tão necessárias
ao Brasil. Em suma, dos US$ 74 bilhões que entraram
entre 1996/99, US$ 59 bilhões foram aplicados na área
de serviços, através de transferências
de patrimônio (privatizações da petroquímica,
teles, bancos, etc.), com os restantes US$ 15 bilhões
sendo distribuídos entre o comércio, indústria
e agropecuária que, pelos dados divulgados, foi contemplada
com 1,5% do total.
Desde o lançamento do Plano Real, em julho de 1994,
a agricultura tem sido utilizada como avalista da estabilidade
econômica do País. Apesar disso, o setor parece
não oferecer atrativos para investimentos, sobretudo
externos. No âmbito interno, está quase que excluída
da macropolítica econômica e somente recebe atenções
tópicas do governo, assim mesmo, quando o problema
ameaça ganhar dimensões inconvenientes. Sob
essa ótica um tanto estrábica da administração
federal, a área rural tem uma importância mínima
no contexto produtivo brasileira. Porém, o economista
e professor da Universidade Metodista de Piracicaba, Sebastião
Neto Ribeiro, assegura que, para atingir as metas de expansão,
é fundamental que o governo leve em conta o desempenho
da agricultura para viabilizar qualquer esforço de
crescimento e estabilização , seja a que for.
Preços
em queda podem neutralizar desvalorização
Numa
análise das atuais condições do setor
para a publicação do Conselho Regional de Economia
Corecon), Carta de Conjuntura, de fev/mar últimas,
Ribeiro afirma que o governo incentiva lavouras de exportação
(como a soja) e induz a um efeito substituidor
com a ampliação da produção das
commodities de importação (caso do algodão),
mas não deve considerar como seguro o resultado líquido
dessa medida, pois persistem as dificuldades e incerteza
no campo. Lembra, ainda, que a mudança no câmbio
esclareceu os insumos importados, pressionado para cima os
custos da produção e provavelmente vai refletir
nos preços agrícolas desta safra. Outro aspecto
citado relaciona-se como mercado externo, que nada indicado
a reversão da persistente conjuntura de preços
baixos, cuja queda vem ocorrendo desde 1998.
Para ele, a continuidade dessa tendência e seu
agravamento pode neutralizar a vantagem proporcionada pela
desvalorização do câmbio, em termo de
geração de superávits na balança
comercial. de fato, dados divulgados pela Conab, em
fev/00, mostraram que as exportações agrícolas
atingiram 47,4 milhões de toneladas com uma receita
de US$ 18,9 bilhões, em 99. No ano anterior, foram
exportadas 42,08 milhões/t com um faturamento de US$
20,1 bilhões. Um aumento acima de 10% no volume exportado
e queda de 5,5% na receita. O quadro, acrescenta, tende a
ser mais difícil se for analisada a política
agrícola dos Estados Unidos que, a despeito de 1996,
continua subsidiando, em volumes expressivos, a área
de produção, provocando aumento na oferta e
declínio dos preços.
Ribeiro chama a atenção para o fato de que,
nem mesmo a aparente reativação dos mercados
asiáticos será suficiente para garantir uma
melhora nos preços internacionais, até
porque é desconhecida a robustez dessa recuperação.
Gestão
obtusa da política agrícola ameaça
o abastecimento
No
front interno, assinala, permanecem as conseqüências
da obtusidade na gestão da política agrícola:
de um lado, baixos estoques governamentais particularmente
do milho mas, também, do arroz, que podem vir a ameaçar
o abastecimento, caso não sejam acionados mecanismos
de incentivos ao produtor rural ou viabilidade as importações.
Com relação em cerca de 1% acena com problemas
na oferta ao mercado interno, haja vista a redução
da armazenagem pelo governo. Paralelamente, os preços
mínimos pagos ao produtor retomaram indícios
de queda em termos reais. Os valores têm se comportado
com sensível instabilidade, refletindo objetivos do
curto prazo da política federal. Entre 1994 e 1996
eles caíram acentuadamente, estabilizando-se em patamares
baixos nos anos de 1997 e 1998, tornando a cair no ano passado.
Mesmo que queira reverter a tendência declinante, observa
Ribeiro, o governo terá dificuldade em administrar
esse instrumento. Isso porque os agricultores endividados
que fizeram porque os agricultores endividados que fizeram
securitização em 1996, indexaram suas dívidas
á correção monetária do preço
mínimo, fazendo com que qualquer perspectiva de elevação
muito acentuada provoque o agravamento dos débitos
do setor. Até algum tempo atrás, o produtor
rural era responsável por quase todas as etapas das
atividades agrícola e pecuária. Porém,
a partir do relativamente recente conceito de agribusiness,
o que era praticamente feito pelo agricultor passou a ser
realizado por agentes especializados e orientados para parcelas
específicas do processo como um todo. Com isso, ganham
destaque a fase de pré-produção, seja
industrial ou de processamento, como a fabricação
de equipamentos, máquinas, ração, adubo,
fertilizantes, transporte, serviços de pesquisa e assistência
técnica, de modo geral feitos fora do campo. A pós-produção
envolve armazenamento, transporte, distribuição
e comercialização, além da industrialização
do que não é consumido in natura, também
do lado de fora das porteiras. Todo esse complexo de atividades
é necessário para dar conseqüência
a produção agrícola ou pecuária
é traduzido como agronegócio.
Agronegócio
minimiza o produtor
Com
essa caracterização do que é agricultura
tradicional e moderna ou atual, Fernando Braga, economista
e integrante do Grupo de Estudos Econômicos sobre Agronegócios
do Sindicato dos Economistas do Estado de São Paulo,
afirma que é impossível conhecer a dinâmica
da produção agropecuária e os fatores
que afetam positiva ou negativamente, sem olhar este complexo,
devido á grande interdependência dos setores
inserido. Diante disso, acrescenta que o tema exige um tratamento
multidisciplinar e com foco no produtor, o que
não acontece com muita freqüência o entendimento,
assinala, deve abranger todo o conjunto levando em conta que
todos os agentes envolvidos agregam valor á produção
e viabilizam o consumo. Porém, o agricultor tem de
ser visto como o criador do objetivo básico, frisa.
Não é o agente mais importante, pois todos são,
mas tem especialidades que exigem ser consideradas em toda
sua abrangência, precisando de apoio e suporte que satisfaça
suas necessidades para desenvolver a atividade. Segundo ele,
existem produtores modernos e capitalizados, porém
são minoria. A questão, indica são
o médio, o pequeno e o microprodutor que, em maior
número, respondem por grande parte de volume da produção
total. Eles precisam ter acesso a informações
da cadeia produtiva aonde estão situados para avaliar
e obter condições de se movimentarem dentro
dela, integrando-se nas atividades de pré e pós-produção.
Precisam, ainda, conhecer outras cadeias para as quais podem
se deslocar. Braga afirma que uma enorme lista contendo pesquisa,
estudos técnicos, de gestão, de distribuição
e de mercado foi e é disponibilizada por órgãos
públicos e entidades privadas, mas tem dificuldades
de chegar á maioria dos produtores. Quando chega, é
interpretada, relacionada e apropriada inadequadamente.
O mesmo ocorre com o crédito rural, sempre insuficiente,
seja em montante, prazos ou custos.
Braga afirma que os produtores, sobretudo os menores estão
sobrecarregados com a produção e em sobreviver,
tendo pouco tempo disponível para obter as informações
de que precisam para integrá-las, analisá-las
dentro de suas condições específicas
de recursos, enfim, extrair o significado para os negócios
e agir. Os agricultores, acrescenta, não estão
podendo, se beneficiar, tanto quando poderiam, com todo o
conhecimento técnico e administrativo disponíveis
e com as facilidades existentes para desenvolver a atividade.
Os instrumentos estão dispersos, são especializados
e, muitas vezes, exigem tradução e adequação
a situações peculiares, senão do produtor,
pelo menos em termos regionais e de cadeias produtivas.
Apontando uma alternativa para evitar ou até sanar
essa dispersão, Braga diz que uma arte dos esforços
públicos e institucionais interessados no desenvolvimento
do agronegócio poderia ser dirigida de modo incisivo
para a modernização das entidades envolvidas
com os agricultores, inclusive com apoio do setor privado,
que também se beneficia com o desenvolvimento da agricultura.
Essa modernização contemplaria a integração
das diversas informações especializadas, atualizadas
e relevantes para a produção, administração
e comercialização. A aplicação
deve ocorrer levando em conta as condições próprias
dos agricultores envolvidos, com apoio o planejamento dos
recursos para as ações a serem desenvolvidas.
Segundo ele, existem várias iniciativas em andamento,
neste sentido. Porém, é preciso ampliar a área
de cobertura, não só geográfica, mas
também a composição de seus integrantes.
A questão não é apenas agregar mais valor
á produção, através da integração
de atividades pré ou pós-produção,
mas, principalmente, aumentar a produtividade e a eficácia
da produção, uso de financiamento, gestão
e comercialização, pondera.
Nessa mesma linha de raciocínio, também economista
e integrante do Grupo de Estudos de Agronegócios, do
Sindicato dos Economistas do Estado de São Paulo, José
Augusto Pereira, observa que, diante do crescimento da atividade
rural, o peso da agropecuária na economia regional
e sobretudo mundial, não pode ser considerado de forma
isolada. O setor tem de ser focalizado como parte integrante
das cadeias produtivas, até porque o agronegócio
é importante para a geração de empregos
e renda para o País.
Setor
rural garantiu crescimento mínimo da economia do País
Pereira
alerta para atenção concedida á agricultura
pelos governo dos países desenvolvidos que provoca,
muitas vezes, empecilhos para as nações subdesenvolvidas,
com a imposição de barreiras tarifárias,
dificultando o avanço do processo de comercialização.
Como exemplo, cita a recente guerra das bananas,
pela qual os Estados Unidos aumentaram suas tarifas em 560,
prejudicando as transações com a União
Européia. Este, acrescenta, é um dos inúmeros
fatos que permitem afirmar que as grandes potências
defendem os princípios do neoliberalismo aos demais
países, porém, são as que mais protegem
seus produtores e empresas, principalmente em se tratado da
agricultura e de todo o universo de agricultura e de todo
o universo de agronegócios. O Brasil e outros
países exportadores, lembra, têm grande
dificuldade para aumentar a participação no
mercado internacional. Além disso, o fato de alguns
governos protegerem sua agricultura através de subsídios
não implicaria em nada, caso não existissem
excedentes, que ajudam compor um obstáculo mais ao
ingresso, não só do Brasil, no sistema externo
de trocas, inclusive fazendo com que o próprio mercado
europeu apresente armazéns abarrotados de produtos.
Caso haja um real e verdadeiro interesse em inserir o Brasil
no contexto econômico globalização, com
uma posição de destaque, Pereira afirma que
o governo também deve se preocupar com a área
rural, porque, no ano, passado, a economia brasileira cresceu
0,82% e o principal apoio para esse avanço foi o crescimento
de 8,99% registrado pela agricultura. Por isso acredita
-, o caminho para o País atingir o aumento previsto
de 3% a 4% do PIB será bem mais fácil se houver
um efetivo apoio á agropecuária. O economista
lembra que os instrumentos para isso já existem. É
só acioná-los, acrescenta citando o Recoop,
para as cooperativas e o Pronaf em suas várias versões
que contempla a reforma agrária, custeio especial,
custeio tradicional, rural rápido e o agregar, que
permite investimentos inclusive em infra-estrutura.
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