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Moageiros querem condições para competir com importados

Os desafios da indústria moageira no atual cenário macroeconômico, os recentes acordos comerciais fechados ou em negociação, as diferentes regulamentações e a entrada de novos players no tabuleiro global de fornecimento de trigo são os temas centrais de acordo com apresentação que lançou o 26º Congresso Internacional da Indústria do Trigo. Divulgação teve como porta-vozes o embaixador Rubens Barbosa e João Carlos Veríssimo, presidentes Executivo e do Conselho Deliberativo da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo), respectivamente.

“Traremos especialistas que debaterão a evolução do mercado e o que está sendo feito nos Estados Unidos, Argentina Paraguai e Rússia. É interessante falarmos sobre qual é a visão que os principais produtores e exportadores têm sobre o Brasil e mostrarmos aos moinhos nacionais quais os benefícios desses mercados”, ressalta Barbosa.

Para João Carlos Veríssimo, as intensas transformações nos hábitos de consumo dos brasileiros têm modificado também os canais de distribuição, tanto de farinha quanto dos produtos acabados, como pães, massas, biscoitos e pães industrializados, o que tem impactado as margens do setor. Isto, somado às perspectivas de avanço nos acordos comerciais do Mercosul com outros blocos econômicos, impõe ao setor grandes desafios, que, se bem aproveitados pela indústria, poderão ser convertidos em oportunidades.

No cenário doméstico, as mudanças têm acarretado duas alterações expressivas no mercado. “Uma delas é que as margens estão caindo constantemente nos últimos três anos, e neste ano não será diferente”, explica Veríssimo, que aponta também, como segundo fator de pressão, o descompasso entre o rendimento médio das empresas e o aumento no preço da matéria prima. Em 2018, essa relação foi de 10% e 17%, respectivamente.

Competitividade

Os dirigentes da Associação apontam a competitividade da indústria nacional como um ponto a ser melhorado, para que o país possa aproveitar os benefícios obtidos com o acesso a novos mercados.

De acordo com Veríssimo, o momento pede que as indústrias avaliem, internamente, o que é necessário ser feito, em questão de investimentos, para que os produtos brasileiros sejam capazes de competir, em pé de igualdade, com os importados.

“A nossa qualidade é muito parecida com a deles. As características podem ser diferentes, em questão de hábitos de consumo, mas temos a mesma qualidade. Se o mercado se abrir, nós também temos a oportunidade de vender os produtos brasileiros para fora. O que vendemos de massas e biscoitos é um volume muito pequeno em relação à nossa produção, e basicamente para a América Latina. Não há grandes exportações. Por isso, essa globalização é extremamente importante para o nosso setor”, diz.

O mesmo posicionamento é adotado pelo presidente executivo da Abitrigo, embaixador Rubens Barbosa, que cita o papel do governo como um ponto de apoio ao aumento de nossa competitividade frente aos importados.

“Para que o Brasil possa aproveitar as preferências tarifárias que vai ganhar com esse acordo e resguardar os interesses no mercado interno, temos de fazer o dever de casa. O custo Brasil é, hoje, o grande vilão do setor exportador. Nós temos que reduzir significativamente esse custo, o que deve ser feito, e já está em vigor, com as reformas que estão ocorrendo, e as medidas que virão em seguida como a desburocratização, que tornará as empresas mais competitivas no mercado interno e externo”, destaca.

Acordos

No âmbito externo, o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, que deve isentar de tarifas de importação os produtos acabados, foi indicado como um terceiro movimento a ser acompanhado de perto pelo setor moageiro, por seu impacto a longo prazo.

“Quando o Brasil faz um tratado como esse, reduzindo as tarifas de importação de produtos finais, possibilita que as indústrias de farinha tenham maior concorrência internacional”, destaca Veríssimo, chamando a atenção para o desequilíbrio entre a abertura para o mercado de consumo e a forte regulação sobre os agentes produtivos nacionais.

Como exemplo deste cenário, o dirigente destaca a existência de três regulamentações distintas para a compra de trigo (um padrão internacional, a do Mercosul e as legislações nacionais), que interferem no nível de aceitação do cereal vindo de diferentes países, como a Rússia.

“Nosso setor fica, de um lado, aberto para o mundo, e de outro lado, taxado e regulado sem isonomia para competir, de forma igual, com nossos concorrentes”, alerta o presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo.

Política Nacional do Trigo

A Política Nacional do Trigo, conjunto de medidas apresentado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), também será discutida no Congresso Internacional da Indústria do Trigo, conforme detalhou o embaixador Rubens Barbosa.

“Algumas medidas estão avançando, nós estamos acompanhando isso, e vamos aproveitar a visita da ministra Teresa Cristina ao Congresso para discutir o andamento da proposta. Essa foi uma medida tomada pelo setor privado, uma contribuição do governo, mas vai depender de uma ação política [para que entre em vigor]”.

O presidente executivo da Abitrigo citou, ainda, a ação adotada pela Rússia para reforçar a importância do programa para diminuir a dependência brasileira do trigo importado.

“A Rússia tomou uma atitude governamental para aumentar a produção de trigo. Eles fizeram uma política nacional e se tornaram um dos maiores produtores e exportadores do mundo”, conclui.

Nos três dias de evento, além da discussão de temas relevantes ao mercado interno, o atual cenário do trigo em importantes mercados, como Estados Unidos, Rússia, Paraguai e Argentina será debatido por palestrantes internacionais.

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