Edição do Mes Pecuária

Dica valiosa: como não perder peso durante a seca

Como não perder na seca

Por Julliano Percinoto Pompei* – Ao manter o peso dos animais ou promover ganhos, a suplementação mineral protéica trará precocidade ao abate e evitará o chamado “boi sanfona”, um tipo de animal que o mercado não aceita mais.

O território brasileiro, com seus 850 milhões de hectares, tem 23% desta área integrada por pastagens ocupadas por várias espécies animais, com predomínio da bovina e suas 232 milhões de cabeças.

O sistema de produção utilizado em 96% deste rebanho é em pastagens, um sistema de manejo que é favorecido pelas condições naturais de um país tropicais como o Brasil. Em seguida vem os sistemas de confinamento com aproximadamente 2,2%, e o semiconfinamento com 1,4%, percentual este pequeno, mas que tem apresentado grande crescimento nos últimos anos. E por fim vem a região Sul onde possui 0,4% do rebanho nacional criados em sistema que usam as pastagens de inverno. Além é claro dos demais sistemas de produção também presente nesta região.

Sempre gosto de mostrar como o Brasil possui um amplo poder de oportunidades, com muito ainda a crescer, por exemplo. No ano passado, foram produzidas 9,4 milhões de toneladas de carne equivalente carcaça, o que nos dá um desfrute de 4,06% frente ao rebanho que nosso país possui, já quanto levantamos a produção de países como o Estados Unidos, o qual possuem um rebanho 60% menor do que o brasileiro, e mesmo assim ainda produzem 12,1 milhões de toneladas, ou seja, quase 13% sobre o seu próprio rebanho. Uma das razões é que os produtores possuem ampla consciência dos cuidados que devem ter com as sazonalidades da produção de seus alimentos. E esta situação também revela o grande potencial que o Brasil possui, por suas condições climáticas favoráveis e pastagens tropicais, podendo evoluir muito, como já ocorre, a partir da melhoria na sanidade, genética e ajustes no importante alicerce que é nutrição dos animais. No entanto, em nosso país também possuímos sazonalidades quanto a produção de forragens, e devemos ter especial atenção para o período seco do ano, quando ocorre uma queda natural porém acentuada na qualidade e quantidade da oferta de forragem.

São conhecidas diferentes estratégias para enfrentar a situação, mas irei me ater à suplementação mineral proteica. Ao manter o peso dos animais ou promover ganhos, ela trará precocidade ao abate e evitará o chamado “boi sanfona”, um tipo de animal que o mercado não aceita mais. Também será possível aproveitar picos de preços da arroba na entressafra, reduzir o intervalo entre partos, pois possibilitará que as fêmeas retornem ao cio em um menor intervalo, e ainda auxilia no incremento de peso ao nascer e à desmama do bezerros.

Suprir carências

Nas pastagens de Brachiaria spp, apenas 30% de produção ocorre na seca, com os teores de proteína bruta (PB) caindo para menos da metade das águas. Já com as variedades de Panicum maximum (Mombaça, Tanzânia, etc.), estes percentuais se reduzem ainda mais, na seca produzem apenas 20% do seu potencial ano. Mas não é só, porque a digestibilidade, ou o que o animal vai conseguir aproveitar, também ficará menor. É uma consequência normal da fisiologia das plantas, que na seca aumentam a presença de um material que entra sua estrutura e a protege, a lignina. Mas para que os microrganismos do rumem possam usar os nutrientes existentes e depois o próprio bovino, precisarão antes romper esta parede, onde ocasiona um maior tempo de passagem do alimento pelo trato disgestório, o que ocasionará uma diminuição na ingestão de matéria seca (pasto) pelo animal, podendo inclusive ficar a baixo no mínimo necessário para a manutenção de seu peso, que seria 2% de ingestão de matéria seca ao dia.

O Suplemento Mineral Proteico, popularmente chamado de Proteinados de Seca, além da principal função que é mineralizar os animais, também tem a importante função que é elevar os níveis de proteína (nitrogênio) no ambiente ruminal, onde ajudarão na multiplicação dos microrganismos (fungos, Bactérias e Protozoarios) como se aumentasse o número de “operários” que tenho para trabalhar no rúmen. Com um boi de 450 kg, por exemplo, necessita ingerir diariamente de 2 a 3% do seu peso vivo em pasto, sendo o mínimo de 2%, e este deve ter ao menos 7% de PB, o que significa 630 g/dia de proteína. Considerando um pasto na seca com teor de 5% de PB, ao comer só conseguirá acumular 450 g/dia, com déficit de 180 g/dia de PB, que será corrigido pala suplementação, por exemplo, um proteinado com 40% de PB que proporciona uma ingestão de 450 gramas do produto (1g/kg/dia). Neste processo, acontecerá um aumento no consumo da matéria seca pela maior digestibilidade proporcionada pela melhora na população da microbiota ruminal, que resultará em mais proteína vinda do pasto e por consequência, maiores ganhos em peso.

Como não perder na secaÉ importante não confundir o sal com ureia (Suplementos Ureados) com o suplemento mineral proteico (Proteinados). Este também possui como fonte de proteína e energia, além da ureia grãos e farelos, que permitirão um aproveitamento melhor destes elementos pelo animal, Qualquer categoria animal deve receber proteinados durante o período seco do ano. Em vacada de cria seus benefícios são bem evidentes, estudos já comprovaram que quanto pior a condição corporal no pós-parto maior será a taxa de anestro, ou ausência de cio. A matriz irá se recuperar, mas poderá demorar ao menos dois meses, o que significa atraso na estação de monta e um gasto adicional pelo tempo que estes animais precisaram para recuperar o peso que já os tinham.

Também já foi comprovado que o bezerro no ventre da matriz terá comprometida a formação e a multiplicação de células da massa muscular. O bezerro nascerá mais leve, terá uma desmana também pior e uma maior idade ao abate. Vacas suplementadas desmamam animais até 9 kg mais pesados e reduzem o puerpério.

Esses resultados, como o ganho de peso, estão diretamente relacionados à disponibilidade de pasto, uma vez que 78% das necessidades de PB virão da forragem e 22% do suplemento. É importante que ele contenha uma boa oferta de folhas e não só talos de baixo valor nutritivo. Caso não se disponha deste volumoso, é possível se recorrer a fontes como a cana-de-açúcar. É comum me perguntarem o que é mais importante: sais minerais, proteína, energia ou volumoso ? Respondo que não existe o mais importante, pois todos entram para formar um equilíbrio que favorece a boa nutrição de nossos animais.

(*) Julliano Percinoto Pompei é Médico Veterinário, Mestre em Ciência Animal, Produtor Rural e Coordenador Técnico de Nutrição Animal da Divisão de Bovinos da Matsuda

 

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