Negócios

Projetos buscam gerar mais renda no campo com sustentabilidade ambiental

Os agricultores possuem uma nobre missão: alimentar e produzir matérias-primas para a uma população cada vez maior. Não bastasse tamanha responsabilidade, eles ainda contam com diversas preocupações: imprevisibilidade do clima, produção cada vez maior em áreas menores, dificuldades relacionadas à logística, melhoria do desempenho ambiental e necessidade de agregação de valor. Soma-se a isso, a necessidade de se adequar a produção para aquilo que almejam os consumidores: melhor qualidade e produtos seguros. Neste Dia do Agricultor, celebrado em 28 de julho, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo lista projetos desenvolvidos pelas unidades de pesquisa que compõem a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), que auxiliam todos os produtores rurais a trabalhar com menos preocupação, conseguindo atingir altos níveis de produtividade, sempre levando em conta a produção em harmonia com o meio ambiente e disponibilizando para os consumidores alimentos seguros e saudáveis.

“O produtor rural é o principal cliente da pesquisa. Precisamos estar atentos ao que ele precisa para gerar soluções que possam ser incorporadas na produção e, mais do que isso, vislumbrar o que será necessidade daqui alguns anos. Nossos Institutos trabalham para atender as demandas dos produtores rurais: gerar mais renda no campo, sempre pensando na sustentabilidade ambiental, na segurança do trabalhador rural e nas demandas dos consumidores”, afirma Antonio Batista Filho, coordenador da APTA.

O Governo do Estado de lançou em 2019 o “Cidadania no Campo 2030”, programa estratégico da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo com o objetivo de promover o desenvolvimento rural sustentável. O Cidadania no Campo promoverá o mapeamento das estradas vicinais e trabalho integrado aos municípios, para oferecer o mesmo nível de serviço das cidades, no que se refere à segurança, saúde, facilidades e melhoria da qualidade de vida à população rural.

A produção agropecuária tem muitas variáveis e o clima é uma delas. Com uma agricultura realizada em campo aberto, os agricultores brasileiros podem ser surpreendidos com diversos eventos climáticos que podem prejudicar toda a produção. Para minimizar esses problemas, o Instituto Agronômico (IAC-APTA), mantém o Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas (CIIAGRO), que possui cerca de 200 estações meteorológicas distribuídas em todo o Estado de São Paulo. O trabalho é realizado em conjunto com a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS).

O banco de dados do IAC possui registros da umidade, temperatura e precipitação pluvial, informações que são utilizadas por agricultores, Defesa Civil e instituições que trabalham com manejo agrícola e preservação ambiental. Os dados podem ser acessados no site www.ciiagro.sp.gov.br. A plataforma online recebe oito mil acessos por dia, totalizando 240 mil por mês.

O IAC também utiliza essas informações para realizar o chamado zoneamento agroclimático, uma ferramenta utilizada para estabelecer os melhores ambientes de produção para as diversas culturas. O zoneamento identifica regiões que ofereçam condições agroclimáticas (hídricas e de temperatura) apropriadas para o cultivo agrícola, minimizando os riscos de perdas por problemas climáticos e o uso eficiente de água para irrigação. Além disso, a ferramenta é imprescindível para a solicitação de crédito rural pelos produtores. O IAC já desenvolveu inúmeros trabalhos relacionado ao zoneamento agroclimático para diferentes culturas como arroz, feijão, milho, soja, café, cana-de-açúcar e oliveiras.

Produzir mais e de forma sustentável

O Instituto de Zootecnia (IZ-APTA) tem desenvolvido pesquisas para a produção de alimentos de forma sustentável por meio da área estratégica de Sistemas Integrados de Produção Agropecuária. As pesquisas do IZ tem valorizado o produtor rural – membro fundamental para uma agricultura sustentável – oferecendo resultados para o uso eficiente de insumos agrícolas, visando o aumento da rentabilidade e a proteção ambiental.

Segundo a pesquisadora do IZ, Karina Batista, os estudos de consórcio de plantas produtoras de grãos e forragem com uso eficiente do nitrogênio, por exemplo, tem permitido ao produtor mais de uma safra por ano. “Inclusive a safrinha de boi em período seco e frio, época em que, geralmente, não se tem pastagem disponível, e essa possibilidade não se imaginava até pouco tempo atrás”, afirma.

Karina ressalta que os estudos com pasto consorciado têm demonstrado a possibilidade de economia e rentabilidade aos produtores que adotam esse sistema, pois a leguminosa, por meio de seu processo de fixação biológica do nitrogênio, é fonte importante de nitrogênio para a pastagem, garantindo a redução na quantidade de nitrogênio mineral aplicado.

Controle de pragas e doenças

Nem sempre é fácil realizar o controle de pragas e doenças nas propriedades. Muitas vezes, os produtores têm dificuldade até mesmo na identificação do problema fitossanitário que está ocorrendo na sua produção. Para auxiliar nisso, a APTA e seus Institutos realizam diagnósticos para agricultores e pecuaristas, além de centrais de inseminação e órgãos como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os Institutos de Pesquisa da APTA tem mais 220 normas laboratoriais acreditadas pela norma ISO/IEC 17025, relacionada à qualidade, fundamentais para a exportação e importação de produtos pelo País. A APTA é a instituição líder neste quesito. Em 2018, as unidades da APTA realizaram 370 mil análises laboratoriais, o que representa 1.013 análises, em média, por dia.

Além dos diagnósticos, os Institutos de pesquisa da APTA trabalham orientando os produtores ao manejo eficiente dessas pragas e doenças. Um dos destaques nessa área é o Programa de Sanidade em Agricultura Familiar (Prosaf), coordenado pelo Instituto Biológico (IB-APTA). O Prosaf atua a partir de demanda dos produtores rurais, associações e cooperativas que chamam o corpo técnico da Secretaria de Agricultura para auxiliar a melhorar questões sanitárias relacionadas à produção agropecuária. Em dez anos de atividade, mais de quatro mil pequenos e médios produtores receberam orientação pelo programa. Só em 2018, os treinamentos reuniram público de 400 pessoas.

Uso racional de defensivos agrícolas

A utilização de menos defensivos agrícolas nas lavouras não é apenas uma demanda dos consumidores, mas também dos produtores rurais, que muitas vezes, acabam usando mais produtos – e gastando mais dinheiro – do que o necessário para combater as pragas e doenças na produção. Falta informação no campo. Para atenuar os problemas nessa área, o IAC desenvolve o programa Aplique Bem, em conjunto com a empresa Arysta LifeScience. No Aplique Bem, uma equipe de agrônomos de desloca pela fronteira agrícola do Brasil a bordo de laboratórios móveis e leva conhecimento técnico sobre o uso correto de defensivos, qualidade e regulagem de equipamentos e boas práticas na área.

O Aplique Bem já percorreu mais de 1 milhão de quilômetros e chegou a quase 66 mil agricultores. Gratuito e desvinculado de apelo comercial, produtos ou marcas, o programa auxilia agricultores e setores da agroindústria a reduzir perdas decorrentes do mau uso de defensivos A iniciativa também chegou a mais sete países: Burkina Faso, Costa do Marfim, Colômbia, Gana, Mali, México e Vietnã.

Melhoria do desempenho ambiental

As regiões cafeeiras do Estado de São Paulo têm especial atenção do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), que realiza Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) da cadeia produtiva do café arábica, desenvolvimento de novos produtos a partir da casca do café em coco, avaliação química e avaliação da micobiota e da infestação por insetos e caracterização físico-química dos grãos de café, granulometria, grau de torra e avaliação sensorial da qualidade da bebida. Por meio do ACV, é possível revelar diversos parâmetros como pegada de carbono, pegada hídrica e consumo de energia, necessários para autodeclarações ambientais, importantes inclusive para a promoção do produto agrícola nos mercados nacional e internacional. Feito em parceria com o Instituto Agronômico (IAC-APTA), o projeto é financiado pelo Consórcio Pesquisa Café.

Trabalho desenvolvido pelo Polo Regional de Monte Alegre do Sul da APTA conseguiu aumentar em 40% os lucros dos produtores de cogumelos em São Paulo. O resultado foi alcançado com o incentivo da comercialização de cogumelos frescos, no lugar dos cogumelos cozidos, que enfrentam concorrência do produto chinês. O trabalho possibilitou que os fungicultores permanecem na atividade e que outros voltassem a produzir o produto.

Os produtores rurais encontram no Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital-APTA) a possibilidade de assistência para instalação industrial, desenvolvimento de novos produtos e consultoria e capacitação sobre processamento de alimentos e bebidas. Além de ofertar periodicamente cursos teórico-práticos de interesse do produtor rural, como desidratados, geleias, conservas, iogurtes, bebidas lácteas, queijos, requeijão, doce de leite e linguiça, o Ital amplifica a disseminação do conhecimento por meio do treinamento de funcionários do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que tem no escopo de suas atividades a assistência ao produtor rural, e da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (Codeagro), que visa aprimorar as cadeias produtivas.

Licença e financiamento

Há 50 anos, o Instituto de Pesca (IP-APTA) é responsável pela coleta, armazenamento, processamento e disponibilização de dados sobre a produção pesqueira marinha do estado de São Paulo. O chamado Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira Marinha e Estuarina (PMAP-SP) coleta informações em 15 cidades da costa paulista, em uma equipe de cerca de 40 agentes de campo, responsáveis por registrar a localização, os aparelhos de pesca utilizados e as espécies de pescado trazidas do mar. Em 2018, foram registradas, aproximadamente, 69 mil viagens pesqueiras e 2.400 unidades produtivas que descarregaram 17.500 toneladas de pescado, com um valor de primeira comercialização estimado em R$ 135 milhões.

O programa possibilita o atendimento aos produtores pela emissão de documentos comprobatórios de sua dedicação à atividade pesqueira, necessários para obtenção de licença de pesca e financiamentos, além do atendimento ao setor acadêmico pela disponibilização de dados para a realização de estudos. O setor público municipal, estadual e federal também é beneficiado com o fornecimento de subsídios técnicos para a elaboração e acompanhamento das medidas de manejo da atividade. O sucesso do PMAP vem fazendo com que as ações sejam estendidas ao Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. A ação conta com recursos provenientes de contrapartidas exigidas para o licenciamento ambiental de empreendimentos da Petrobras.

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