Opinião

Agronegócio: como alimentar o mundo?

Por Álvaro Duarte* – A população mundial segue em constante crescimento. A projeção é que em 2050 superemos os 9 bilhões. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), a estimativa de crescimento populacional, mesmo que muito mais lento do que nas décadas passadas, revela que teremos que produzir 60% a mais de alimentos e 37% a mais de energia, considerando o atual estágio de produção, produtividade, processos e produtos para alimentação e geração de energia. A tarefa é gigantesca e só será possível com muita pesquisa científica e geração de inovações tecnológicas.

É de extrema importância que o agronegócio se prepare e reavalie suas logísticas para estes novos números populacionais. Já olhando para o futuro, os pesquisadores nacionais e as startups estão na vanguarda destas soluções e pensam além para ajudar nestes novos cálculos que impactam todos os brasileiros. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2003/2004, o Brasil produzia 119,03 milhões de toneladas de grãos em 47,4 milhões de hectares e em 2017/2018, foram produzidos 229,53 milhões de toneladas em 61,8 milhões de hectares. Ou seja, um crescimento considerável na produtividade que é fruto das inovações em campo também.

Lembro que quando era adolescente (década de 1970) o desafio estabelecido era atingir 80 milhões de toneladas/ano de grãos. Neste ano, só a soja participou com 115 milhões de toneladas. No ano passado, o agronegócio, na contramão da grave crise econômica brasileira, cresceu 14,5% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda no último ano, a agricultura e o agronegócio contribuíram com 23,4% do produto interno bruto (PIB) brasileiro, maior participação nos últimos 13 anos segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Se pararmos para avaliar o cenário, não há dúvidas de que o agronegócio é o principal negócio brasileiro. Apesar desta realidade, o número de startups no setor ainda é baixo. Segundo levantamento realizado pela SP Ventures, fundo de Venture Capital, em parceria com Centro Universitário FEI e com as startups Agtech Garage, Usina, Esalqtec e Agrihub, existem cerca de 338 agtechs mapeadas no Brasil. Apesar disso, o mercado segue em forte expansão e conta com incentivos econômicos para aceleração e mentorias das empresas do setor. Da nossa parte fica o constante incentivo ao crescimento de pesquisas e tecnologia.

Voltando ao desafio de 2050, a única estratégia viável para a segurança alimentar mundial é a P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) como suporte à inovação tecnológica, seja no apoio do aumento de produtividade no campo, seja com formas e processos de produção mais criativos, além da introdução de novos produtos de variadas fontes.

O Brasil mantém um cenário ideal para alimentar milhões de pessoas mundo afora, afinal já fomos chamados de “celeiro do mundo”. Friso que, apenas em 2018, devemos produzir 27 milhões de toneladas de carnes e 34 bilhões de litros de leite. Temos que perseguir e estarmos atualizados com os avanços tecnológicos e isso engloba melhorar muito a conectividade no campo. Um dos diferenciais da Fundepag enquanto fundação que atua no agronegócio é promover a integração dos ecossistemas de pesquisadores e das agtechs para que possam trabalhar unidos no desenvolvimento de tecnologias e sistemas, embarcados em suas relações multidisciplinares.

A ótima notícia é que estamos evoluindo rapidamente. Já temos o importante marco legal para C,T&I (Ciência, Tecnologia & Inovação) e, em São Paulo, conquistamos o decreto governamental que estimula as parcerias para inovação, tendo as fundações de apoio credenciadas como motor indutor da interação público – privada. Em todas as áreas, as inovações tecnológicas serão imensas. A sociedade tem que estar preparada para enfrentar mudanças radicais de costumes e hábitos. O homo sapiens não poderá ser conservador e burocrático.

Votando ao campo na prática, e nas futuras fazendas verticais urbanas que teremos, parece inexorável a compilação de grandes volumes de dados. Esse momento pautado no big data se baseia nas informações capturadas por drones, máquinas, implementos, robôs e sensores individuais, embarcados em robustos sistemas computacionais inteligentes de apoio às operações e decisões.

Temos também o desenvolvimento de novas fontes não usuais de proteína e energia. Tudo isso pensado já no número maior de pessoas que será necessário atender. É fácil observar os esforços na pesquisa científica na obtenção de proteínas de células tronco (carne in vitro), produtos funcionais e probióticos, palatabilidade de ingredientes (insetos, por exemplo), na disponibilização de bancos de ensaios para realização de provas de conceito para novas tecnologias e estudo de formas adequadas à garantia da segurança alimentar sustentável.

Além disso, a evolução do agronegócio deve, no médio prazo, contar com inovações disruptivas que agreguem valor às atuais commodities e anexem novos produtos alimentares e formas criativas de produção e processamento. Neste cenário, é fundamental a participação da indústria de alimentos e bebidas aumentando a velocidade de crescimento. Em 2010, foram responsáveis por 8,5% do PIB nacional e por 19,5% do faturamento das indústrias de transformação. Em 2017, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), o número aumentou para 9,8% do PIB e 24.8% do faturamento da indústria de transformação. O crescimento de 15% foi baixo se comparado com a evolução da agropecuária nacional, ou seja, ainda há muito para se investir neste setor e atingir mais pessoas.

Acredito que o agronegócio resolverá os problemas relacionados à alimentação em 2050, e que, também, os alimentos não serão apenas aqueles produzidos pelas técnicas convencionais agrícolas. Vamos juntos rumo ao futuro!

*Álvaro Duarte é Diretor Presidente da Fundepag, fundação que aproxima pesquisadores, institutos, hubs de inovação e de novos negócios em expansão e ecossistema de empreendedorismo; também é Pesquisador Científico no Instituto de Tecnologia de Alimentos.

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