Pecuária

Prova de produção de leite destaca zebuínas mais produtivas

Novilhas da raça GIR que tiveram maior produção e melhor qualidade de leite durante 2018 foram premiadas na Terceira Prova Brasileira de Produção de Leite a Pasto de Zebu Leiteiro, finalizada na sexta-feira (5 de abril). A novilha do produtor Altevir Leal Filho, Chorona ALDF 108, foi a vencedora, com uma produção de 3.908 quilos de leite em 305 dias, quase quatro vezes mais do que a última colocada. Os segundos e terceiros lugares ficaram com as novilhas GZ Dourada, de Marcelo de Toledo, e Baliza, de Hamilton Nunes, respectivamente.

Essa é a única prova de leite a pasto de todo o Brasil. O objetivo é identificar animais geneticamente superiores para produção de leite. Segundo Toledo, pecuarista e presidente da Associação dos Criadores de Zebu do Planalto (ACZP), é de grande importância para o setor ter parâmetros de produção em condições naturais, já que esse é o método mais usado no País. As outras avaliações que existem no Brasil são feitas em condições de produção em confinamento e com uso de fármacos, o que torna os custos muito elevados, não se adequando à realidade do setor.

Além da alta produtividade, foram considerados atributos, como idade do primeiro parto, intervalo entre partos, persistência da lactação e parâmetros de composição e qualidade do leite, como quantidade de gordura, proteína, lactose e células somáticas.
Para o chefe-geral da Embrapa Cerrados, Claudio Karia, a prova pode trazer subsídios importantes para o Brasil alcançar uma produção com bases mais sustentáveis, além de outros benefícios para o setor: “Os resultados obtidos nesta prova podem contribuir com o melhoramento e seleção da raça GIR com aptidão leiteira por indicarem aos produtores os animais que podem ser usados na reprodução e, consequentemente, na melhoria do rebanho”.

 

Na terceira edição da prova, participaram 30 novilhas provenientes de importantes criatórios do País. Durante mais de um ano, incluindo dois meses de adaptação e onze de lactação, doze novilhas selecionadas (as que apresentaram mais de 150 dias de lactação) foram acompanhadas por técnicos do Centro de Tecnologias em Raças Zebuínas Leiteiras (CTZL), fazenda experimental da Embrapa Cerrados.

A metodologia inclui o acompanhamento de todas as etapas do animal – nascimento, desmame, inseminação artificial, parto e produção. Para os testes, as novilhas foram submetidas aos mesmos manejos, sanitário, de ordenha e de alimentação, que inclui pastejo em pastagem BRS Piatá, cultivar da Embrapa recomendada para a região, e suplementação ajustada à produção do animal, semelhante às condições praticadas nas fazendas.

Outros cuidados são a atenção ao bem-estar da vaca e de seu bezerro, adoção de técnicas para a produção de leite seguro para a saúde humanam e para o cumprimento das exigências do setor produtivo.

“O zebu leiteiro é um milagre brasileiro”, afirma a Mariana Alencar Pereira, responsável pelo Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ Leite) da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ). A espécie, originária da Índia, responde hoje por 70% do leite brasileiro. “Se não fosse o zebu, o Brasil não teria essa produção”, completa Mariana. E esse resultado depende 75% do ambiente e 25% da genética do animal.

O senhor Emílio da Maia Castro sabe disso. Ele participa da prova desde a sua primeira edição. O pecuarista desenvolve seu próprio programa de melhoramento de GIR na propriedade que tem em Uruana (GO) e conta com essa avaliação para saber como está seu desempenho em relação aos outros produtores. “Quero saber se as estratégias que estou adotando estão dando certo. Essa prova também mostra, para o conjunto do GIR, como anda essa raça alternativa para a produção de leite. Outro ponto importante é que ela mede a produção a pasto, sem muita tecnologia, como é feita no País”. Seu Emílio teve uma novilha avaliada em quarto lugar na primeira prova e nesta, sua novilha Meta – ZIP 432 recebeu destaque pelo quesito intervalo entre partos.

 

Carlos Frederico Martins, pesquisador da Embrapa Cerrados e coordenador da prova de produção de leite, lembra que o resultado indica os animais mais equilibrados: “A partir dos dados gerados nas avaliações, os produtores podem criar em suas propriedades um banco de embriões a partir de matrizes que comprovadamente têm bom desempenho e assim poderão melhorar seus rebanhos”. O ranking considera ainda quanto o produtor vai ganhar a mais pelo leite vendido aos laticínios, pela qualidade do produto.

O proprietário da novilha que ganhou o primeiro lugar, Altevir Leal Filho, também testa seus animais desde a primeira edição da prova para dirigir melhor os cruzamentos dos animais na sua fazenda. “Eu não tinha ideia do que ela [a novilha Chorona] ia ser na fazenda, porque lá eu não faço uma pesagem oficial da produção (o leite é pesado em baldes). É possível que ela ficasse perdida no rebanho sem eu ter noção do seu rendimento”, explica o pecuarista. “A prova é importante porque também mostra outras qualidades que queremos, como facilidade de ordenha e mansidão da vaca, que é importante no dia a dia da fazenda, e o processo também é todo natural”, completa.

Essa é a segunda novilha que Altevir vai usar para produzir embriões, tendo como base o resultado da prova feita pela Embrapa. Ele já percebeu melhoria na produção do rebanho. Para os próximos anos, com as crias geradas a partir da Chorona, sua expectativa é de que tenha mais resultados positivos.

A Quarta Prova Brasileira de Leite a Pasto do Zebu Leiteiro já está em andamento. Estão participando catorze animais, que até dezembro terão seu desempenho avaliado. A novidade dessa edição é que os vencedores receberão embriões gerados a partir de suas novilhas por transferência intrafolicular de ovócitos imaturos (Tifoi), método desenvolvido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) que dispensa o uso de laboratório na germinação de embriões. A Associação dos Criadores de Zebu do Planalto (ACZP) é parceira da Embrapa Cerrados na organização.

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