Negócios

O poder da união

Trabalho desenvolvido através de cooperativas faz sucesso e mostra altos rendimentos em todo Estado do Paraná.

Adesão livre e voluntária, gestão democrática, participação econômica dos membros, autonomia e independência, educação, formação e informação, cooperação entre cooperativas, e, preocupação com a comunidade. São estes sete pontos os princípios que regem o cooperativismo no mundo, ou seja, é assim que as cooperativas agem e levam à prática seus valores. Ainda há quem não conheça a fundo o funcionamento deste sistema e os bens que faz a determinadas regiões. Fato é que cada vez mais, o cooperativismo tem crescido e aponta resultados expressivos.

Um exemplo disso é o trabalho que o cooperativismo tem realizado no Paraná, ativamente mexendo no mercado da região. Samuel Milleo Filho, coordenador de comunicação social do Sistema de Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), conta que este existe desde 1971 e hoje representa 221 cooperativas do Estado, em todos os ramos. “Temos mais de um milhão e meio de cooperados, e estes são responsáveis por um faturamento anual de R$ 70 bilhões”, diz. A Ocepar é uma entidade de representação política e institucional do cooperativismo, dentro do PR e também em Brasília.

Dentro do universo agro, Milleo diz que hoje é difícil de imaginar o produtor rural sozinho, sem a cooperativa. “Evidentemente que existem. Temos 375 mil produtores rurais no Estado, e destes, 170 mil são filiados a 69 cooperativas agropecuárias”. Essa legião de homens do campo cooperados é responsável por uma produção hoje de quase 58% total da produção agrícola do Estado, e são produtores que ajudam o sistema cooperativista a faturar mais de 58 bilhões de reais por ano. Mas para o coordenador a questão vai além dos números que impressionam. “O produtor cooperado tem vantagens no seu dia a dia, como por exemplo uma assistência técnica direcionada, e o produto com garantia de qualidade na origem, desde a semente até a hora que chega à mesa do consumidor, como se fosse uma certificação”.

Fica evidente, dessa maneira, que o cooperativismo é uma realidade em diversos ramos no Paraná, mas segundo Milleo o agro se destaca, porque destes 70 bilhões de reais que as 221 cooperativas são responsáveis, o agro representa R$ 58 bi. Vale ressaltar que o total que as cooperadas da Ocepar recolheram de faturamento em 2017 é mais alto que o próprio orçamento do Estado, que para este ano está estimado em R$ 60 bi. “Isso para nós tem uma representatividade importante, porque nos afirma como uma alternativa de meio de vida no campo que vale a pena, pois é rentável”, declara.

Números expressivos como estes sugerem que há uma relação muito amigável e próxima entre as cooperativas do Estado, o que faz ser mais “fácil e agradável” o trabalho realizado por elas. Aliás, este é um dos princípios aqui já citados, e a Ocepar tem incentivado que suas cooperativas continuem de forma integrada, para que não haja competição entre elas. “O cooperativismo é uma área onde não deve haver este tipo de situação”. Como exemplo disso, a Copacol, localizada no município de Cafelândia, no Oeste paranaense, é uma das que demonstram que este princípio está vivo e forte. “Ela executa isso na prática, e pertence a central que criou junto com a Coagru e Cooperflora, uma cooperativa central para o abate de frango com a marca Copacol”, conta Milleo. Além disso, está inte-grada com a Cotriguaçu que é uma cooperativa central junto de outras cooperativas da região Oeste, destinada a exportar seus produtos. “Juntas elas ajudam a exportar mais de US$ 2.600 bilhões ao ano para mais de 120 países”. A Copacol também está integrada à Frimesa, central cooperativa com sede em Medianeira (PR), além de outras parceiras locais, que demonstram o processo de intercooperação e os frutos positivos que isto pode render.

Agro forte

Elizete Lunelli Dal Molin, assessora de cooperativismo da Copacol, comenta que além de gerar riqueza, a cooperativa distribui renda e é responsável pela sustentabilidade da região Oeste do Paraná. “Mais de 80% da ação econômica da região, depende da cooperativa”, revela. Dentro desta região a estrutura fundiária é pequena, com 60% das propriedades tendo menos de 20 hectares. Assim, gerar sustentabilidade, renda e distribuí-la é um fator preponderante para a sustentabilidade de lá. “Fazer isso com ideais de distribuição de renda, justiça social, que foram os fundamentos deixados pelos nossos fundadores é o que dá orgulho e fundamenta a base do cooperativismo”, declara. Para ela os diversos trabalhos que a Copacol realiza sempre visam a melhoria para os municípios a sua volta, além do pensamento em larga escala, com os frutos colhidos por todo Estado. “Estou a 28 anos trabalhando aqui, ou seja, sou testemunha viva do quão positivo é este movimento de cooperativismo para todos”.

A Copacol tem a necessidade de uma forte gestão, e isso dá base e confiança para os investimentos dos produtores que estão pautados também em uma segurança em termos de produtividade e rentabilidade. “Temos um centro de pesquisa que nos apoia nisso quando se trata da produção de grãos que é a base de toda cadeia, e isso faz com que nós tenhamos uma das maiores produtividades de soja e milho do País”, diz Elizete. Na produção de aves e suínos, assim como leite e na piscicultura, a cooperativa fornece assistência técnica e o conhecimento necessário para que isso possa gerar renda e desenvolvimento para o cooperado a níveis satisfatórios. “Queremos que ele consiga se manter com esses incrementos oportunizados pela difusão de tecnologia dentro de todas as atividades propiciadas aqui”.

Fernando Fávero é gerente técnico da Copacol e trabalha no Centro de Pesquisa Agrícola (CPA), criado em 2015 com o objetivo de fazer a validação tecnológica da área agrícola da Cooperativa, na região Oeste paranaense. “Através do nosso trabalho visamos melhorar a produção dos nossos cooperados em tudo que é relacionado ao potencial produtivo, minimização de custos, melhorias dos índices produtivos e assertividade no uso de defensivos, sementes para que tenham resultados econômicos favoráveis”, diz. Ele conta que há um direcionador dentro da estrutura do CPA para que além de gerar informação, também haja a difusão das tecnologias. “Não adianta ter a tecnologia e utilizá-la de maneira errada, então trabalhamos forte na geração das informações e correta maneira de utilizá-las”. Um exemplo disso, é que a produção de soja da região é 14% superior ao restante do Estado.

Para Fávero, números como este são fundamentais para o ânimo de quem trabalha e faz parte do mundo cooperativo, uma vez que as cooperativas estão num ambiente em que convivem com a instabilidade econômica. “Além disso, atuamos no cenário macroeconômico e as cooperativas precisam estar amparadas e focadas em desenvolver tecnologias que possam trazer resultados técnicos e econômicos para a sustentabilidade de seus cooperados”, declara.

Se desenvolver tecnologia faz parte do dia a dia deste universo cooperativo, a evolução tecnológica da agricultura digital não permite mais que ela seja a mesma agricultura que era realizada a dez anos atrás. “Essa evolução precisa estar acompanhada de profissionais que consigam valida-la, porque muito disso, pode gerar custo, mas não valor ao negócio”, diz o gerente técnico. Para ele, seja na área de gestão, técnica ou produtiva, o avanço tecnológico das cooperativas tem que acompanhar os avanços mundiais que hoje são disponibilizados. Inclusive no CPA acaba-se de realizar uma descoberta para o cultivo de milho. Trata-se da visualização de uma nova praga. “É importante o quanto temos de conhecimento das práticas agronômicas que são interferidas por este novo inimigo, a quem ainda estamos estudando e analisando, e como podemos mudar nosso padrão de utilização de sementes para contornar este problema e trazer no futuro próximo resultados para os cooperados”, declara. Além disso, o objetivo é que os agricultores sejam minimizados no que se refere ao impacto econômico para esta novidade na lavoura. “Este ajuste tecnológico precisa acontecer para que não se tenha perdas de potencial produtivo e se mantenha a produtividade elevada da região”.

Além de agricultura, a Copacol tem cooperados que atuam nas demais área que englobam o agronegócio. Gustavo Moratelli, tem apenas 27 anos e é produtor e proprietário da Piscicultura Moratelli, localizada na cidade de Tupãnssi, a aproximadamente 543 km de distância da capital Curitiba. Ele conta que a família já faz parte da Copacol a mais de 40 anos, e além da piscicultura trabalham com aves e lavoura. “A cerca de um ano, através de órgãos financiadores e pela cooperativa, recebemos a liberação de fazer o investimento na piscicultura”, diz. Hoje, ele possui uma área de 63 mil metros de lâmina d’água, onde aloja cerca de 410 mil peixes e agora em setembro irá tirar o primeiro lote. O produtor conta que resolveu investir nessa área primeiramente porque em sua região a piscicultura tem crescido exponencialmente, e a Copacol trouxe três grandes pilares para a área. São elas a garantia de mercado, assistência técnica de qualidade (veterinários, engenheiros de pesca e técnicos agropecuários), e, ração de qualidade, pois o peixe demanda em diversas fases boa nutrição. “Então juntando tudo isso digo que a cooperativa fez o que hoje é a piscicultura em todo Paraná”, declara. O investimento inicial de Moratelli nesse projeto foi de R$ 1,350 milhão, mas com alguns imprevistos que surgiram, ao final foram gastos R$ 1,750 milhão. “A expectativa é de que em até sete anos tenhamos quitado este investimento com o retorno e crescimento em nossa área de atuação”. Para a escoação de seus produtos o piscicultor diz que a Copacol tem uma demanda alta, que não consegue suprir, se tratando de peixes, e então a própria cooperativa irá fazer com que chegue até o consumidor, cuidando inclusive do aba-te, produção dos filés de tilápia e distribuição nos supermercados Copacol. Com esse trabalho sendo realizado, Moratelli comenta que na projeção a curto-médio prazo, além da saída dos lotes, onde está boa parte do investimento inicial, a próxima etapa será trabalhar na propriedade com energia renovável. “Parte do nosso déficit de custo na piscicultura é em energia. Para a minha área, já tenho a ideia de que investimento irá girar entre 800 mil e um milhão de reais”, comenta. Então, com o passar dos anos e o desenvolvimento ativo desta ferramenta solar, o próximo passo será este investimento, sempre apoiado por sua cooperativa. “No começo nada é fácil e os desafios são grandes, a parte de construção das barragens e desenvolvimento dos peixes também nos fez trabalhar bastante. Com a luta, e a parceria que temos em ser cooperativados, vamos vencendo estes desafios e crescendo pouco a pouco no nosso serviço”, declara. Segundo ele, o maior desafio hoje em ser piscicultor, no Brasil todo, é inserir a carne de peixe no mercado, como se vê a carne de boi e frango. “Observar as pessoas comer rotineiramente a carne de peixe é o grande objetivo, pois se trata de uma carne saborosa, com pouca gordura e saudável”.

Bem social e sucessão familiar

O cooperativismo é forte não só pela sua movimentação econômica, mas tem também em seus princípios a responsabilidade pelo desenvolvimento social dos seus cooperados e da comunidade. Segundo Elizete, a Copacol tem um trabalho muito forte com a família dos cooperados, como o desenvolvimento da mulher, dos filhos e netos, através de programas estruturados onde oportuniza-se a possibilidade através da distribuição de renda e também no olhar ao desenvolvimento dos jovens, para que estejam prontos e preparados para o mercado de trabalho e para a sociedade como um todo. “Queremos que eles tenham essa visão e o foco de poder manter essa propriedade nas mãos da família, visando ali a questão da sucessão e da sustentabilidade, com qualidade de vida”, diz.

Milleo comenta que no Paraná se faz um trabalho forte quanto esta questão da sucessão familiar, principalmente ao preparar melhor o jovem para assumir a propriedade e também na cooperativa. “A Ocepar tem um evento anual com as lideranças jovens dos cooperados para prepará-los e instruí-los mais, com apresentação de novas tecnologias, e os avanços que tem dentro do próprio cooperativismo”. Segundo o coordenador, hoje o que se nota no Estado é o regresso da juventude ao campo. “Eles saem para estudar, se formar e aos poucos percebem que é melhor cuidar do próprio negócio do que ser empregado de alguém em uma grande cidade. Estão vendo que a propriedade rural com a qualidade de vida que o campo oferece, é melhor que ficar num grande centro”, diz. Além disso, outra característica é a forte presença das mulheres no campo, que também vão buscar estudo e conhecimento para posteriormente regressar e cuidar dos negócios da família. Para a assessora de cooperativismo, ao longo do caminho diversas coisas podem mudar, mas, o que não muda é a importância do cooperado para a cooperativa, pois ele é sua razão de existir. Dentro dessa relação, o que se pode esperar para o futuro, é o fortalecimento dos laços de confiança, tanto em termos de resultado econômico, quanto em termos de resultados sociais. “Esperamos daqui para a frente um maior reconhecimento das pessoas pelo bem que o cooperativismo faz, por aquilo que promove e entrega”, declara Elizete.

Já Milleo complementa dizendo que o sistema cooperativista anda com as próprias pernas, não dependendo de governo para funcionar. “Se você olha o cenário econômico que o País tem passado, deixa ainda mais em evidência o quão importante tem sido o trabalho no cooperativismo, com os altos números de faturamento, que inclusive deve bater a casa dos R$ 100 bilhões em 2019”.

Texto e Fotos: Bruno Zanholo

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