Negócios

Fronteira agropecuária – a nossa conquista do oeste

Depois do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, o oeste Baiano se tornou o mais novo pólo do agronegócio brasileiro.

Vinte anos depois de ter recebido os primeiros imigrantes sulistas em suas terras, o oeste baiano, mais precisamente a grande Barreiras, municípios que fica a 900 km de salvador, pode ser considerada uma região consolidada para o agronegócio. O cerrado é a principal característica desta área que começa na fronteira sudoeste da Bahia com os estados de Goiás e Minas Gerais e se estende para o noroeste até as fronteiras com o Sul do Maranhão e do Piauí, ocupando em sua totalidade, cerca de 3 milhões de hectares.

Atualmente cerca de um milhão de hectares estão produção, e destas terras foram retiradas, na safra 2001/02, 2,619 milhão de toneladas de grãos, divididos em arroz, soja, milho, feijão, algodão e café. Como em todo o Brasil, a soja e o milho são as principais culturas, ocupando maior área e responsáveis pelo volume principal de produção. Um dos fatores de grande ajuda para este resultado é a existência de rios perenes, o que fornece água em abundância para a irrigação de café, feijão, algodão e outras culturas que são produzidas fora do período de chuvas, entre abril e novembro.

O outro fator, definitivo, foi a chegada dos sulistas, gaúchos na maioria, que espremidos pela divisão de terras entre a família, buscaram no oeste baiano, alternativas para sua sobrevivência econômica. Quando este processo começou o preço do hectare era muito barato. Em geral, quem vendia 20, 25 ou 5o hectares no Rio Grande do Sul Paraná, conseguia comprar no mínimo mil hectares. Um completo neste processo está no fato que na época havia financiamento barato para estas novas regiões. E como em todo o processo de abertura de novas fronteiras nada foi fácil para os pioneiros. Quem se pôs nesta aventura deve ter lembrado das histórias de seus avós ou bisavós quando chegaram no Brasil. Preparar a terra, fazer dela o pão e o fruto para o futuro. Conquistar e dominar novas paragens. E dentro desta estória, são muito os personagens.

O diretor da área de Política e Economia Agrícola, da Secretaria da Agricultura, Irrigação e reforma Agrária da Bahia, Joaquim Santana, lembra que quando chegou em Barreiras para trabalhar como pesquisador da Embrapa na área de solos, a região pouco oferecia em termos de perspectivas. Barreiras era uma cidade com seus 20 mil habitantes e grandes extensões de terras utilizadas. A carência de infraestrutura era total. “O que s vê hoje, na cidade, é exatamente o oposto afirma”, afirma. Com o início da produção agrícola, foi necessário a melhoria de estradas para escoamento, de energia, de condições para a população morar. “O governo estadual, vislumbrou o potencial do agronegócio nesta região e começou a melhorar esta estrutura, “lembra Joaquim que hoje exerce a figura de um embaixador da região, dentro do governo e para novos investidores.

Esta presença do governo tem sido um importante aliado para o oeste baiano. A região já conquistou pavimentação de estradas, do chamado “Anel da Soja”, com extensão de 300 km, conectando os municípios de São Desidério ao povoado de Roda Velha e o município de Correntina ao povoado de Rosária, na fronteira com Goiás. Dentro deste processo também estão os projetos de melhoria das estradas vicinais. “Tudo que ajude a melhorar o escoamento das safras”, ressalta o diretor. Ele acrescenta que na área de telefonia, o governo tem feito esforços para incentivar a iniciativa privada de ampliar as melhorias.

Também na área de energia elétrica, há grandes projetos sendo concluídos. Devido aos Compromissos assumidos com a agroindústrias como Cargil e Ceval, por exemplo, que já se instalaram em Barreiras e Luiz Eduardo Magalhães, município vizinho e que já foi distrito de Barreiras, existem hoje 900 km rede de distribuição, provenientes de duas usinas hidroelétricas, com capacidade de 18 MW. No início de junho foi inaugurada a nova linha de transmissão até o município de Cocos, no Extremo sudoeste da Bahia. “A partir deste processo, a instalações de outros setores da agroindústria fica bem mais fácil, acredita Joaquim.

Para isto o Governo e as lideranças políticas e empresarias da região vêm trabalhando. Conforme o secretária de Agricultura, Pedro Barbosa de Deus, o sistema do agronegócio grãos está quase completo. Já existem empresas de insumos, os produtores de grãos e algumas empresas de beneficiamento. “O que buscamos agora é a instalação de empresas que agreguem valor a esta produção agrícola como, por exemplo, fábricas de ração, empresas de avicultura, ou ainda na área de café (produção de tipos especiais) e algodão” indica. Para tanto o governo baiano já criou uma série de programas de incentivos e financiamentos.

O Agrinvest é um programa de investimentos para a modernização da agricultura baiana, qual o Governo assume o pagamento de 50% dos custos financiamentos durante o período de carência, limitados a 6%. Existe ainda o Proalba, para a cultura do algodão que propõe redução de ICMS em 50% para os produtores, o Desenvolve que objetiva fomentar e diversificar a matriz industrial e agroindustrial e o programa de Redução de 75% do Imposto de Renda devido, para empreendimentos novos, nos segmentos agrícolas e agroindustriais. “Tudo isto realmente tem a finalidade de estimular novas empresas a se instalarem na Bahia mas, principalmente, nas regiões produtoras de grãos e outros produtos agrícolas”, ressalta o secretário.

Uma região promissora

Quando o produtor rural Jacob Lauck desceu em Mimoso do Oeste, na época, distrito de Barreiras, encontrou somente umas poucas casas e um posto de gasolina, as margens da BR 020. Vinha da região de Palotina, no Paraná, para dar uma “olhada” no cerrado baiano. Sua intenção era convencer a família a saírem para novas oportunidades porque sabia que não conseguiriam sobrevive muito tempo com a renda dos 25 ha que tinham no Paraná. O que encontrou foi uma região com extensas áreas de terra, com excelentes condições para plantio e a possibilidades de crescer muito mais. Antes de trazer a família fez cursos de piloto privado e agrícola e quando definitivamente se instalou no município de Barreiras, começou a trabalhar para outros produtores e nos seus 2.400 mil ha.

O cargo de vice prefeito do mais novo município da região Luiz Eduardo Magalhães, emancipado no ano passado e oficialmente constituído em janeiro de 2002, veio em conseqüência das suas múltiplas atividades. Presidente do Grupo Paraíso, dirige a propriedade rural, que tem 3 mil ha produzindo soja, milho e 900 ha de café, uma imobiliária que atua no ramo de loteamentos e uma armazém de grãos. Lauck acredita que o cerrado baiano é a região mais promissora atualmente. “Agroindústrias estão se instalando em conseqüência do crescente volume de produção de grãos que atingimos a cada safra, e pelo fato de estarmos em um ponto geográfico facilitador para a distribuição de produtos a várias outras regiões, como o nordeste, por exemplo.”

Luiz Eduardo Magalhães, ou L.E.M. como chamam os moradores, está a 90 km de barreiras no sentido sul. Quem vem de Brasília, passa primeiro por ela, para depois chegar no outro município. Conforme Lauck existem cerca de 300 mil hectares em produção, com soja, milho, algodão, café e fruticultura. “A pecuária começa a crescer também aqui”, lembra. O produtor ressalta que um fator positivo é o regime bem definido de chuvas e a possibilidade de utilizar irrigação, para certas culturas. Ele mesmo é produtor de café irrigado e tem conseguido uma produtividade de 75 sacas por hectare, “média superior a da região, 65 sacas, e de todo o Brasil, 12 sacas”, ressalta. Outro dado que ele destaca é que a soja produzida no cerrado baiano, que tem um solo de alta fertilidade, produz 6 litros de óleo de soja industrializado a mais que de outras regiões, “e um grão com apenas 8% de umidade”, afirma.

Luiz Eduardo possui toda a infraestrutura para novos empreendimentos e, como Barreiras, grande parte da sua população é formada por sulistas. “Aqui chegaram umas cinco mil pessoas, no período mais forte de imaginação, acredita o gaúcho, já com sotaque baiano, Valdecir Schlösser, coordenador da Secretaria Municipal de Agricultura. Segundo ele, o município colheu na última safra cerca de 3 milhões de toneladas de grãos e a agropecuária responde por 70% da base econômica da base econômica de Luiz Eduardo. “Hoje já temos uma série de empresas relacionadas ao comércio com o setor, como revendas de tratores, de insumos, esmagadoras, mas tudo está relacionado ao agronegócio. Por isto queremos transformar a nossa cidade na capital do agronegócio do oeste baiano”, afirma Valdecir.

Potencial – Na realidade de todos os novos habitantes do oeste baiano, viam na região um grande potencial de expansão. De mudarem suas vidas e perspectivas, desbravando uma nova fronteira. Os pioneiros sempre pagam caros por isto, mas com o tempo, o retorno do sacrifício vem. O atual presidente da Associação Baiana dos Produtores de algodão, Abapa, João Carlos Jacobsen Rodrigues, antes de se tornar um dos principais produtores desta cultura, chegou em Barreiras para resolver uns problemas com papelada de umas terras. Observando a região, resolveu ficar e trabalhar como agrônomo. Aos poucos foi arriscando por conta própria, arrendando terra, plantando arroz, soja, milho. Com os resultados positivos, foi comprando as terras. Vinte anos depois ele possui 3.600 mil ha.

A retomada da cultura do algodão no oeste tem uns 10 anos. Segundo Jacobsen, eles enfrentaram todo tipo de problemas, como falta de cultivares adequadas, época de chuvas, conhecimento sobre a cultura, etc. Depois de muitas safras frustradas pela falta de tecnologia, a cotonicultura do oeste ocupa hoje cerca de 56 mil hectares com produtividade superior a 300 arrobas em sequeiro e 350 arrobas em área irrigada. A produção da última safra foi de 175 mil ha. Para que não haja super oferta do produto, o Governo baiano está trabalhando para ocupar até 150 mil hectares com o algodão, em um prazo de cinco anos.

Segundo o presidente da Abapa o cerrado baiano propicia um produto de melhor qualidade, em relação a outros estados produtores. A qualidade da fibra do algodão é a das mais desejáveis pela indústria, do tipo 5/6 e 6/0 com um comprimento de 30/32 3 32/34. O rendimento de pluma é de 39,5%. Já os custos de produção firma em torno de US$ 900 por hectare, com uma rentabilidade de aproximadamente, US$ 400/ha. E temos ainda a nosso favor que mesmo antes de ser colhido já tem compradores, porque as industrias de tecido do nordeste fecham contratos conosco, de forma antecipada”, ressalta Jacobsen que acrescenta dizendo que os governos municipais querem agora que a indústrias desta área se instale na região. “ E, quem sabe em um futuro não muito distante, possamos ter aqui empresas da área de confecção”, projeta.

Domar o cerrado – Sem dúvida alguma um dos principais obstáculos de quem chegou no cerrado baiano, há mais de 20 anos atrás, foi a falta de conhecimento do solo, do clima e de que culturas eram possíveis serem trabalhadas. Que o diga Guilherme Dürr, gaúcho de Ibirubá, determinando a dar uma nova perspectiva para sua vida. Seu pai. Frederico Dürr, vendeu uma terra que ganhou de herança e para começarem na vida, comprou cerca de 2 mil hectares na região de Barreiras. Guilherme e o irmão Frederico passaram por todo o tipo de dificuldades até chegarem as instituições de pesquisas na região. “Realmente o que mais travou um progresso mais expressivo, e creio que isto foi para todos, foi a falta de conhecimento das características da região. E isto até para se comprar as melhores terras, ou seja, aquelas que estavam no lado em que mais chove, no caso, as que ficam mais próximas das fronteiras com Goiás e Tocantins”, lembra.

Repetindo a mesma trajetória dos outros personagens, Walter Horita, veio do Paraná. Estudava engenharia na USP e vislumbrando a falta de perspectivas econômicas nas terras que possuíam naquele estado, propôs ao irmão e ao pai a arriscarem nestas novas paragens. O início foi feito com arrendamentos e uso de créditos oficias, dados pelo governo Federal. Depois de compradas as terras, começou a crescer e hoje é um grande produtor, gerenciando 26 mil hectares nos quais planta 9 mil ha de soja, 5,2 mil ha de algodão, mil ha de milho, 2 mil ha de feijão e mil de arroz.

Como presidente da Fundação Bahia, entidade criada e mantida pelos produtores, com finalidade de fomentar a pesquisa e a extensão rural na região, Horita diz que os produtores que vierem a se instalar no oeste hoje, terão pelo menos 15 anos de conhecimento já sedimentado pelos pioneiros. “Pelos menos não vão sofrer o que nós passamos”, diz. conforme ele, as lavouras do oeste baiano estão mais tecnificadas, graças ao investimentos em pesquisas, principalmente para desenvolver variedades adaptadas ao cerrado. Horita lembra que quando os sulistas chegaram, trouxeram as variedade que conheciam e trabalhavam em suas terras. É claro que elas não iam dar o mesmo resultado”, afirma. Por isto foram buscar apoio na Embrapa e na empresa de pesquisa do estado da Bahia. Um fator que foi decisivo porque somente com este apoio e persistência é que conseguiram chegar na produção de soja que têm hoje, em torno de 1.464 milhão de toneladas na safra passada.

Joaquim Santana, da Diretora de Política e Economia Agrícola, da Secretaria de Agricultura, lembra muito bem desta fase inicial dos imigrantes sulistas. Como pesquisador da Embrapa na área de solos, imaginava que poderia corrigir os problemas com seu trabalhos. E via com certa decepção o fato dos gaúchos e paranaenses não virem pedir ajuda. “A gente tinha a impressão que eles se achavam melhores, o que felizmente, mudou em seguida”, comenta. Santana diz que realmente a primeira fase de exploração agrícola do cerrado foi bastante difícil.

Os que conseguiram permanecer, viverem o momento da virada, ou melhor, conseguiram dominar a região lá pelos idos de 1997 e 1998, quando a produção de grãos deu um salto de mais ou menos 500 mil toneladas, saindo de 1,299 milhão de toneladas para 1.780 milhão de toneladas. A safra seguinte foi de confirmação e, talvez, a de salvação de muitos produtores. O oeste baiano chegou a produzir 2.487.00 t. Em termos de crescimento da área plantada a evolução acompanhou a produção. Na mesma época, 97/98 para 99/00, mais 173 mil hectares foram cultivados, iniciando o processo de solidificação do oeste e do cerrado baiano.

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