Pecuária

Raças leiteiras: mercado está aquecido

Apesar da crise que se instalou no mercado em função da forte concorrência do leite importado, o comércio do leite importado, o comércio das raças não parou. É o que informam os presidentes das associações do Holandês, Pardo-Suíço, Jersey, Gir Leiteiro e Girolando.

Seja em tipo ou em leite, a genética das raças leiteiras continua evoluindo. Em liquidações de plantéis ou leilões há sempre interessados, novos ou veteranos, que garantem a continuidade do trabalho de criadores que repassam a genética de seu rebanho. Considerado a situação de mercado, os comentários são unânimes em afirmar que o crescimento é contínuo e que tempos melhores virão. No último leilão Pardo-Suíço, por exemplo, realizado no município de Jacutinga (SP), obteve-se uma média de R$ 4.300. Para o presidente da Associação Brasileiro de Criadores de Pardo-Suíço (ABCPS), Alberte Viela, trata-se de um patamar bom, considerando as atuais condições da economia. Com certeza, já tivemos preços melhores, mas remos de avaliar os resultados de acordo com a realidade que o setor enfrenta.

O ponto forte de disseminação da raça está sendo o Nordeste, apesar da maior parte da maior parte do rebanho ainda se concentrar em São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Mas é o Estado de Sergipe que conta com o maior plantel, numa propriedade com aproximadamente 450 animais, com uma produção diária em torno de 4.500 kg de leite. Com aproximadamente 69 mil animais, sendo 95% voltado para leite, o rebanho de Pardo-Suíço vem aumentando significativamente sua qualidade genética. Apesar de há tempos, ter ajustado as características do gado para o leite, a raça ainda amarga certa imagem negativa que remete sua chegada ao Brasil na década de 30. Na época, conta Vilela, vieram animais mistos, não adequados para o leite, mas que se voltaram para a produção leiteira. Até hoje, isso reflete negativamente, com muitas pessoas duvidando do verdadeiro potencial de nosso rebanho.

Diante disso, a ABCPS tem esforçado num trabalho de divulgação, mostrando o Pardo-Suíço moderno por meio de fitas de vídeo, folders e publicidades institucionais.

Também estabeleceu convênios com entidades reconhecidas, como prova de que seu marketing está calcado em resultados confiáveis: O mais recente foi firmado durante a Expomilk, numa parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn).

No mesmo sentido, a Associação mudou, em janeiro deste ano, o sistema de registro definitivo, agora concedido apenas quando a fêmea tem a primeira cria. Um classificador avalia todos os animais, enquadrando-os num esquema que, no futuro, facilitará o acasalamento das características entre as genéticas do macho e da fêmea. Atitude que, daqui cinco anos, promoverá uma outra realidade para a qualidade da raça. Comenta vilela, informando que, atualmente, 18.000 vacas Pardo-Suíças são cobertas no Brasil, sendo 79% via inseminação artificial e 21% por monta natural.

Também otimista com a performance dos animais, o superintendente Técnico da Associação Brasileira Criadores de Girolando (ABCG), Celso Menezes, lembra que a raça está comemorando o décimo ano do Programa Girolando, Instituído pelo Ministério da Agricultura para a formação do gado entre Gir Leiteiro e Holandês. Um trabalho que vem pondo á imagem de que tudo que é mestiço enquadra-se como Girolando. Não é bem assim, a raça é formada, nos mais variados graus de sangue, entre Gir Leiteiro e Holandês.

O objetivo é fixar o rebanho no 5/8, que ainda representa penas 5% do total de 350.00 animais registrados. No entanto, Menezes ressalta que o ½ sangue e ¾ apresentam grande aceitabilidade no mercado. Como norteador de todo trabalho, a associação vem orientando os criadores para que tenham a produtividade leiteira como o critério principal na seleção. Afinal, é o parâmetro maior do nosso mercado justifica Menezes.

Alta na média de lactação

Vem dando certo, pois, nesses 10 anos de Programa Girolando, a raça saiu de uma média individual de 1.900 kg de leite/lactação para 3.200 kg, em 280 dias. Índice extremamente acelerado, segundo o superintendente. Isso só foi possível, porque, paralelamente á genética, as fazendas não esqueceram da nutrição. O animal geneticamente melhorado é mais exigente que os demais, o que pede uma alimentação diferenciada. O mais importante é que os criadores de Girolando não deixaram esse fator para trás, logo começando a trabalhar na dieta.

Desde 1997, a ABCG vem promovendo o teste de Progênie de touros ¾ e 5/8, cujos primeiros resultados sairão em 2003. Até agora, estão sendo avaliados dois grupos de touros. No ano 200, será formado outro lote com oito animais. Diante de tudo isso Menezes ressalta que aceitabilidade do gado é grande e a raça sendo a preferida para formação de novas bacias leiteiras no País. No gado de elite, os animais que temos não dá para suprir a necessidade do mercado. Estamos com uma demanda maior que oferta.

Computando um rebanho de 1,8 milhão e cabeças, o presidente da Associação Brasileira de Criadores da Raça Holandesa (ABCRH), Rodolfo Rosas Alonso, diz que, pelo tamanho do Brasil, o número de animais poderia ser maior. No entanto, ressalta que o índice acompanha a realidade do setor no cenário nacional. Atualmente, nosso papel enquanto entidade está sendo fomentar a raça, lembrando sempre da importância do controle leiteiro, oferecendo redução nas taxas dos serviços que realizamos.

Há um ano e meio, a ABCRH descentralizou os serviços, delegando autonomia aos núcleo estaduais, o que barateou o preço dos trabalhos e agilizou a assistência técnica. Com uma média de 5.800 litros de leite/lactação, o Holandês no Brasil, na opinião de Alonso, integra fatores que possibilitam a competitividade ao criador. Em tempos de globalização, quem não produzir com eficiência e escala não tem condições de atuar no mercado. Com o Holandês, é perfeitamente possível a fazenda se tornar competitiva.

Assistindo a diversas liquidações de plantéis da raça, o presidente diz que não vê problemas, uma vez que os animais estão sendo absorvidos por novos pecuaristas ou por fazendeiros experientes e que desejam aumentar a produção. Trata-se apenas de uma troca de mãos, mas o trabalho de seleção continua, o que garante uma constante melhoria na qualidade da raça. Prova disso, cerca de 90% dos animais expostos na Expomilk têm origem em criatórios nacionais.

Animado com o convênio de Controle Leiteiro firmando, em outubro, com a Embrapa/Gado de Leite, o presidente da Associação dos Criadores Jersey do Brasil (ACGJB), Antonio Carlos Marques Mendes, avalia com otimismo a participação da raça no mercado leiteiro nacional. Trata-se da introdução do Jersey ao mundo do Teste de Progênie, que daremos início em 2001, quando tiraremos cinco touros provados no ano que vem.

Interesse genético

A repercussão foi grande e oferece boa perspectiva para o gado participar mais ativamente do mercado de sêmen nacional. Sem revelar nomes, Mendes afirmou que uma central de inseminação artificial já manifestou interesse em acompanhar o processo de avaliação dos touros, para, daqui cinco anos, quando forem publicados os primeiros resultados, desenvolver uma forte campanha comercial em prol do Jersey.

Fora isso, ele ressalta que a entidade, juntamente com as filiadas do Rio de Janeiro e Minas Gerais, promoverá um trabalho de divulgação, com objetivos de fomentar a raça no País. Atualmente, o rebanho de Jersey estimado em 187.000 com uma produção média de 15 litros/vaca/dia. Na Expomilk, fomos a raça de maior presença, com 208 animais, mesmo com o fechamento das fronteiras em função da febre aftosa.

Base para a formação do Girolando, a raça Gir Leiteiro, por sua vez, desponta como uma das entidades de maior sucesso da pecuária leiteira. Com um rebanho de apenas 2.000 cabeças, o gado desfruta de uma genética invejável em função do profissionalismo que a Associação dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL) vem imprimindo em seu trabalho. Prova disso,a entidade conquistou, no ano passado, a Medalha Zancaner, concedida pela Associação Brasileira de Melhoramento Animal, como a instituição que mais se empenhou em genética no Brasil. Não é para menos, há 14 anos realizamos o Teste de Progênie em conjunto com a Embrapa/Gado de Leite e, desde 1993, divulgamos as provas dos touros, diz o presidente da instituição, Flávio Lisboa Peres, informando que, anualmente, gasta-se cerca R$ 200 mil para cada grupo de reprodutores que passa a ser observado pelos pesquisadores.

Há três anos, não existiam vacas Gir Leiteira com lactação acima de 10 mil kg. Hoje esses índice está superado e o recorde mundial da raça é do Brasil, com uma produção de 15.549 kg em 361 dias, fechado em outubro, no controle oficial da Associação Brasileira dos Criadores (ABC). O índice foi conseguido pela vaca Nata da Silvania, da Estância Silvania, do município de Caçapava (SP), no Vale do Paraíba. Tamanha qualidade vem se refletindo no comércio de sêmen, cujo setor registrou um salto de vendas de 160 mil para 220 mil entre 1996 e 1998, finaliza.

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