Agricultura

Algodão quer partir para o contra-ataque

O cultivo, que transformou o Estado em grande produtor nacional, começou a perder espaço para outras culturas e foi superando pelo manejo mais tecnificado de outras regiões do país.

Considerado, ao lado do Paraná, como um dos grandes produtores de algodão, São Paulo sofreu mudança radical em seu perfil, desde 1969, determinada pela queda sistemática da produção. Na safras 94/95, por exemplo, o Estado produziu 311 mil toneladas de algodão. O Brasil, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), contabilizou 537,1 mil toneladas de algodão em caroço. Na safra 97/98, o Estado Alcançou apenas 54 mil toneladas. E o país 411 toneladas. A área histórica de plantio que somava 300 mil há, até a década de 70, baixou para 92 mil há, até a década de 70, baixou para 92 mil há, entre 97 e 99. Mais ainda: o perfil do chamado cultivo tradicional, composto por propriedade em torno de 15 há e colheita manual também sofreu modificações. Hoje, o grande produtor de algodão é Mato

Grosso, com plantio em grandes extensões e colheita mecanizada.

Marisa Zeferino Barbosa, pesquisadora científica do Centro de Estudos de Comercialização do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), afirma que o plantio concentrava-se no Oeste do Estado, como Araçatuba e Presidente Prudente, mais Campinas e região, além de leme e Pirassununga. Levantamento realizado pelo IEA sobre a área cultivada mostra a queda verificada ao longo dos anos. Entre 69/71, o Estado possuía 585 mil há de algodão. Entre 79/81, 266 mil há. O total baixou para 244 mil, nos anos 89/91. Foi reduzido para 172 mil há, de 92 a 94. E para 92 mil há, entre 97/99.

Na opinião de Marisa, alguns fatores determinaram esse cenário. Em primeiro lugar, a expansão de outras culturas no Estado, como a laranja, a cana-de-açúcar e a soja, que ocuparam área de algodão. Em segundo, a abertura de mercado. Em 8, a alíquota de importação para algodão em pluma, que era de 55%, foi reduzida para 10%. A importação do produto saltou, então, de 43 mil toneladas, marca da safra 87/88, para 101 mil toneladas, na safra 88/89, conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

No início dos ano 90, no Governo Collor, tornou-se zero, com a alegação de que a produção nacional era insuficiente em quantidade e em qualidade. Na prática,isso significou para os importadores, prazo de pagamento de 360 dias e taxa de juros entre 7% e 8%. Em contrapartida,a compra do algodão nacional implicava no pagamento em oito dias. Desde 97/98, a importação brasileira mantém médias em torno de 500 mil toneladas. A importação é feita somente de algodão em pluma, para atender ás necessidades da indústria de fiação.

Marisa afirma que as importações tiveram início dos anos 80, ampliaram o crescimento em 88 e, em 93, superaram a produção nacional, pois o país produziu 420 mil toneladas e importou 501 mil toneladas. Configurou-se, então, o efeito gangorra para o cultivo, comum aos produtos, cujos preços sofrem fortes oscilações a cada safra. Ou seja, falta de preço implica em redução na área de plantio.

Ao longo dos últimos anos, o perfil do plantio também sofreu modificações. O Brasil registra retração de áreas com cultivo tradicional e expansão de propriedades modernas. Marisa assegura que os Estados com plantio tradicional, São Paulo e Paraná, que respondiam por 50% da produção nacional, perderam essa posição. Em contrapartida, Estados do Centro-Oeste, Mato Grosso, em especial, Goiás, transformaram-se em grandes produtores, cujas propriedades caracterizam-se por áreas extensas e cultivo mecanizado.

Atualmente, São Paulo concentra a produção de algodão em três grandes regiões. A primeira, composta por São João da Boa Vista, Limeira e Mogi Mirim. A segunda, por Votuporanga, Jales e Fernandópolis. E a terceira, e mais importante, formada por Orlândia e Barretos. As três somadas totalizam 59% da área de cultivo e representam 67% da produção do Estado concentrava aproximadamente 50% da área plantada e 40% da produção. Já, entre 97 e 99, Orlândia e Barretos reuniam 31% do cultivo e 27% da produção.

Estudos conjuntos do IEA e da Coordenadoria de Assistência Técnica integral (CATI), órgão que responde pela extensão rural em São Paulo, mostram que a área média das propriedades paulistas com plantio de algodão gira em torno de 16,9 há, com produção média de 2.182 kg/há. Em mato Grosso, a produtividade média é de 2.940 kg/há, conforme dados da Conab. Marisa explica que a modernização do cultivo de algodão baseia-se principalmente na colheita mecânica. Isso significa necessidade de investimento.

O mercado das máquinas é formado por poucas empresas, que oferecem apenas máquinas importadas, com preços que variam de US$ 220 mil a US$ 280 mil, conforme as especificações. As áreas planas são ideais, para o desempenho das máquinas. Sabe-se também que o mercado registra, há alguns anos, tendência de crescimento para a contratação ou terceirização de colheita mecânica.

Marisa assegura que a colheita manual de uma arroba de algodão, com 15 kg, tem preço de R$ 2,00. A mesma arroba, em colheita mecanizada, quando o produtor é o dono da máquina, custa entre R$ 0,60 e R$ 0,70. E a empreitada da máquina tem custo de R$ 1,20, para a mesma arroba. Conforme planilha do IEA, o custo operacional da colheita manual inclui mão-de-obra, sementes, adubos e corretivos, defensivos, operações da máquina para o cultivo e a própria colheita manual, além depreciação de máquinas, seguro, encargo financeiros, encargo sociais e seguridade social.

Estimando-se o custo operacional total de R$ 9,30 por arroba (15 kg) na base de produtividade de 127 arrobas por há, para Presidente Prudente, por exemplo, o custo da colheita manual, R$ 2,00. significa 21%. O mesmo cálculo para Leme, que se baseia no custo de produtividade de R$ 8,09 para a operação total e produtividade de 159 arrobas por há, aponta a colheita manual, R$ 2,00, como representante de 24,7% do custo total. Logo, a mecanização, que se verifica desde o início do plantio em Mato Grosso, justifica, em parte, o sucesso da região.

José Sidney Gonçalves, coordenador de Pesquisa dos Agronegócios do IEA, concorda com Marisa sobre as causas da atual situação do algodão paulista. E reafirma a necessidade de que duas características sejam imputadas ao que ele classifica como a nova cotonicultura: a base técnica e a mecanização da colheita. Na opinião dele, a base técnica São Paulo tem há muito, pois a técnica usada em Mato Grosso foi gerada aqui. Para reforçar essa posição, ele afirma que a região de Ituverava registra produtividade em torno de 2.500 kg/há, também registra em Mato Grosso. Mais: afirma que a Argentina, cuja produção era de 40 mil toneladas na década de 80, saltou para 400 mil toneladas, em 98, resultado do novo padrão usado, no cultivo, o mesmo que existe no Mato Grosso.

Gonçalves explica que SAA pretende criar mecanismos que elevem a produção paulista para o patamar de 300 mil toneladas/ano, consumo do pólo têxtil do Estado. O total deve ser conseguido até o ano 2003. Para isso, estuda-se, entre outras medidas, possibilidade de determinar a redução de impostos, especialmente o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), medida que foi adotado por Mato Grosso.

Na opinião dele, uma das alternativas para São Paulo consiste na terceirização do serviço de colheita mecanizada. A exemplo do que acontece nos Estado Unidos, em vez de as propriedades terem máquinas ociosas parte do ano, a solução pode ser a utilização da máquina inicialmente no Paraná e, em seguida, subir para São Paulo. A medida viabiliza o serviço terceirizado e a pequena área, base do cultivo paulista. Gonçalves explica que hoje o Estado abriga propriedades entre 30 a 70 há e produtividade de 2.500 kg/há na região de Ituverava. E propriedades menores, com média de 11 a 13 há e produtividade de 1.800 kg/há, na região Oeste, mais tradicional.

Milton Fuzato, pesquisador científico do Centro de Algodão e Fibrosas Diversas, do Instituto a Agronômico de Campinas (IAC), órgão da SAA encarregado da pesquisa no Estado, compartilha a opinião de Marisa e Gonçalves sobre os fatores que causaram a queda da cotinocultura paulista. Acrescenta, porém, o aparecimento do bicudo, praga que infestou os cultivos paulistas em 82. Até então, o perfil da cultura era composta por propriedades com média de 15 há e produtividades em torno de 1.800/2.000 kg/há. Como conseqüência, houve redução de área cultivada.

Ele afirma que os produtores costumavam fazer entre duas e três pulverizações de inseticidas, o que se mostrou insuficiente. Para combater o bicudo era preciso entre seis e sete pulverizações. Os produtores usavam pulverizadores de uso costal e o aumento no número das doses e concentração afugentou muito deles. A isso soma-se a relação de preços, com o aumento dos custos a partir dos anos 70 e preços não competitivos. Como conseqüência, os plantio paulistas e paranaense podem ser considerados decadentes, afirma. O Paraná, que chegou a alcançar 500 mil há de cultivo, hoje registra apenas 500 mil.

Fuzato acredita que a cultura possa ser revigorada em pequenas e médias propriedades do Estado. Ressalta, porém, a necessidade de tecnificação e qualidade do algodão produzido. Para isso, sugere seguir rigorosamente as recomendações técnicas, que implicam na época de planto, utilização de insumos de forma correta, adubação, controle de pragas e variedades adequadas. Lembra que a cultura surgiu no Mato Grosso como substituta da soja e, e apenas duas/três safras, dobrou a produtividade e alcançou acima de 2.000 kg/há.

Lá, o custo mínimo por há é de US$ 1.200/US$ 1.400, em razão das grandes áreas, mecanização e excesso de adubação. Em São Paulo, o custo mínimo por há baixa para US$ 600/ US$ 700. A possibilidade de introduzir a colheita mecânica no Estado também é importante, já que 70% da colheita resultam do trabalho manual. Mais ainda:

Fuzato acredita que, entre os cultivos anuais como milho, soja e algodão, em áreas de aproximadamente 20 há, o algodão seja o mais rentável. Para o produtor que pretende sucesso no cultivo recomenda observar o uso de tecnologia de ponta e adoção de sementes de real qualidade.

Robério Ferreira dos Santos, economista da Embrapa Algodão, com sede em Campina Grande, no Estado da Paraíba, acredita que o cultivo estenda-se futuramente para as demais áreas de Cerrado do país e, até mesmo, para o Nordeste brasileiro, especialmente em áreas do Estados do Ceará, graças sobretudo ao sucesso dos programas de irrigação.

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