Negócios

Mercado mostrou maturidade

No gado leiteiro, todas as raças consideradas pela rural em seu balanço anual tiveram redução na média em relação ao ano anterior. No caso do Holandês, raça de leite que mais vende no País, por exemplo, ela passou de R$ 2.143 para R$ 1.563, uma queda de 27%, reflexo talvez do grande número de liquidações de plantel acontecidas principalmente no primeiro semestre deste ano. Só de Fevereiro a Junho, a Rural contou 18 liquidações. O Girolando, embora também registrando recuo em relação a 97, foi a raça leiteira que teve menor baixa em sua média, caindo ao redor de 8%. Fato curioso em relação ao Girolando é o número de pregões, que repetiu exatamente a performance do ano passado. Beneficiado por duas promoções em Uberaba, durante a Nacional do Zebu, o Gir Leiteiro fechou com a maior média do setor: R$ 2.828. Ao todo, foram 141 leilões de gado leiteiro, totalizando R$ 12.700 milhões, apurados em 9.114 animais, contra 140 leilões de 97, que somaram R$ 13.982 milhões em 7.881 cabeças. Numa situação não confortável, diante das importações que chegam ao Brasil via Argentina, o mercado leiteiro passa por um de seus momentos mais delicados. Engasgado com forma como o produto tem entrado no mercado nacional, o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (ABCBRH), Rodolfo Rosas Alonso, afirma que 1998 representou um período de grandes ajustes, exigindo agilidade para não perder competitividade. Para ele, nos últimos anos, a cadeia produtiva do leite está sendo vítima da insensibilidade dos nossos governantes. ” Uma classe que emprega mais de três milhões de pessoas não poderia ser tratada com tanto descaso. Não somos contra a importação, mas não podemos concordar com a forma que isso está sendo feito. Todos sabemos que o leite trazido via Mercosul é produzido na Comunidade Européia, Austrália e Nova Zelândia, com custos superiores em mais de 560 dos nossos preços”. Nesse cenário, acredita que o primeiro semestre do ano que vem será marcado por grandes dificuldades. Espera – se, no entanto, que o Congresso aprove as reformas da Previdência, Tributária, Administrativa e Política. ” Ao governo, queremos que seja feita a lição de casa, exercendo sua soberania e impondo o Brasil como o líder do países latinos. Trata – se de não permitir a atual realidade da pecuária leiteira, que atende interesses escuso, de grandes conglomerados multinacionais, que acaba com os nossos produtores.”

Corte: diferente!

Entre as raças de corte, a tônica de 98 foi o crescimento no número de animais vendidos. A maioria das raças registrou puco oscilação na média de preço, exceção ao Blonde D´Aquitaine que, considerando apenas as vendas de animais de seleção, fechou o ano com preço médio na casa dos R$ 3.792, o segundo maior entre todas as raças de corte analisadas pela Rural. Coube ao Limousin, mais uma vez, a maior valorização média. Em 26 remates ( um a mais do que em 97), foram negociados 1.406 animais, rendendo R$ 8.864 milhões, média de R$ 6.304.

Em volume de negócios, o Nelore manteve a liderança com a folga habitual. O ponto positiva, entretanto, foi a elevação na média da ordem de 18%, passando de R$ 2.411 para 2.928. A raça sozinha, computando também as vendas da variedade mocha, arrecadou mais de R$ 27 milhões na comercialização de 10 mil animais.

Segundo o presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), Jayme Santos Miranda, a raça está passando por uma fase boa, competindo em igualdade com o gado que visa o cruzamento. Uma disputa sadia, que mexeu com os criadores, que, agora, estão correndo para provar o potencial da raça. ” E temos conseguido!

Na última Expoinel, por exemplo, chegamos a apresentar animais de nove meses com 498 kg. Assim, mostramos que o Nelore sozinho é capaz de ressaltando que 90% dos animais que, avaliados pela dentição, recebem subsídio pela precocidade são Nelore x Nelore. O maior evento da ACNB durante 1998 foi o Workshop do Nelore, realizado em abril, no Moinho Santo Antonio, em São Paulo. Com o dia dividido entre parte técnicas (palestras) e demonstrativa (desossa ao vivo), contou com a participação de mais de 500 pessoas. No final da tarde, deu início ao leilão de embriões, encerrando as atividades com show da Gal Costa. Fora isso, o ranking da raça chegou a regiões onde antes não se completava os requisitos básicos para a promoção. Com a exigência de , no mínimo 50 animais e sete criadores ( chifre) e 30 cabeças e cinco expositores (mocho), 81 eventos tiveram condições de realizar premiações da raça. Pala primeira vez, cidades como Vitória de Santo Antão (PE) Jequié (BA), Primavera do Leste (MT) e Bela Vista (MS) sediaram julgamento do Nelore, congraçando novos criadores. ” É a prova de que se trata de uma raça aberta e democrática. Que produz fêmeas de alta qualidade, sem preços exorbitantes.”

Com eleições para a diretoria agendada para Março, Miranda diz que 1999 deverá ser um ano de continuidade das atividades da associação. Ainda sem data e local definidos, ele atenta para a realização do Simpósio Bienal da raça.

O total dos 372 leilões de corte ficaram assim: R$ 52,847 milhões (contrata R$ 40,066 milhões de 97), apurados em 20.125 animais (15.061 em 97).

Equinos vão bem

Experiência igualmente positiva teve o mercado de equinos em 98, numa performance que chega até mesmo a surpreender. Isso, porque este foi o segundo ano consecutivo em que o mercado registrou significativa elevação nas médias, mostrando que nem mesmo as seguidas crises que abalam o país foi capaz de impedir que os negócios continuassem aquecidos, puxando aos poucos os preços para patamares mais próximos do que o mercado registrava há sete ou oito anos atrás. As raças Marchador, Quarto de MIlha, Mangalarga, Appaloosa, Campolina e Brasileiro de Hipismo foram as que registraram maior aumento nos preços. Desta, o Appaloosa apresentou o maior salto, passando de RS1.989 para R$ 3.004. O Quarto de Milha, novamente, foi a que teve maior número de animais ofertados. ” Verificamos um crescimento de 6% na média, o que não foi alcançado por outras raças”, afirma o presidente da ABQM, Ovídio Vieira Ferreira. Diante disso, ele acredita num 1999 ainda melhor, em função da tendência de redução de juros para um patamar menor que 20% ao ano. No entanto, cauteloso ao vaivém da economia, não arrisca previsões precisas. Satisfeito com a base do Quarto de Milha no país, revela um novo perfil dos criadores da raça: dos 30.000 proprietários, 17.000 têm até cinco cavalos.

Isso significa que a preparação dos animais está nas mãos de poucos. Hoje, quem compra quer cavalos prontos para uso. ” Assim, não é preciso um haras para ser dono de Quarto de Milha, pois a difusão dos centros de treinamentos tornou viáveis as aquisições da raça por pequenos proprietários.” Como estímilo a quem quiser entrar para o mundo Quarto de Milha, Ferreira ressalta que, desde Novembro, a ABQM está com seu site na Internet (www.abqm.com.br ou www.quartodemilha.com.br), como forma de expor a raça e deixar mais pessoas interessantes pelos cavalos. Para agilizar a comunicação entre os associados, a médio prazo, pretende cortar a papelada trabalhar com mentação virtual. Nesse ínterim, já para o início do ano que vem, será criado um jornal, que via rede mundial de computadores, mostrará os resultados das provas e outras notícias. No levantamento, o mercado de equinos totalizou R$ 37.357 milhões em 6.219 animais, em 195 remates. No ano passado, foram R$ 40.776 milhões em 6.962 animais, em 218 pregões.

Leiloeiras

Com o último pregão do ano agendado para 23 de Dezembro, a Programa Leilões, de Londrina (PR), ainda não fechou o balanço de 1998. Mesmo assim, foi possível ao gerente comercial da empresa, Elton Baccarin, dizer que se trataram de 12 meses de boa liquidez, com aumento considerável em relação a 1997. Segundo ele, os preços ficaram estabilizados, em função de um mercado de aprendeu a trabalhar com cálculos mais regrados possíveis.

Assim, os pecuaristas voltaram a investir em seu negócio, mas com uma visão mais empresarial. ” Antes, a atividade contava com investimentos pulverizados e diversificados. A ordem é produzir mais barato.”

Tal atitude reflete diretamente nos resultados dos leilões, pois o criador vende seus animais mas logo faz as reposições. ” Mas do que nunca, o criador está acreditando em seu negócio. Ninguém solta foguetes, mas está satisfeito, sem euforia, e seguros do que vêm fazendo.” Assim, a Programa presenciou vários remates de cotações acima média. Justificando o ligeiro crescimento do segundo semestre, ele aponta a ausência de inverno, as chuvas regulares e a falta da arroba sofreu pouca variação (R$ 24,24 nos primeiros seis meses do ano e R$ 26,27 nos últimos). “Com esses valores praticamente estáveis, é natural o aquecimento depois de Junho.”

“A alta na pecuária se deve principalmente pela demanda, que há muitos anos estava reprimida, e pela valorização da carne, que subiu entre 15% e 20%”, comenta o diretor da leiloeira gaúcha Trajano Silva Remates, Marcelo Silva, dizendo que a Red Angus e a Braford foram as raças de melhor desempenho em seus pregões.

Mesmo assim, diz que entrará com cautela em 1999, principalmente em função da bateria de crises que vem afetando op mercado financeiro em termos mundiais e, novamente, pela ligação do governo com o FMI. No que se refere às ações da empresa, Silva diz que será mais agressivo no Brasil Central, onde já conta com cinco eventos de grandes porte programados. No Sul, a estratégia será investir em leilões de elite. Já com a realização de remates experimentais no Paraguai durante 1998, a Trajano deve apostar em eventos nos países vizinhos. Trata – se de consolidar a atuação junto aos paraguaios e entrar no mercado do Uruguai e Bolívia. ” Com esse planejamento, pretendemos fazer no máximo 200 pregões, contra 211 deste ano, minimizar custos, otimizar resultados e alcançar uma receita mair.” Na área de leite, a Pupio Leilões registrou queda de aproximadamente 20% nos pregões de gado de elite. De acordo com o proprietário da empresa, José Ailton Pupio, esse percentual não foi muito diferente nos remates de animais comerciais. Tal resultado é reflexo do desestímulo que o setor vem sofrendo com as importações, colocando o produtor brasileiro em desvantagem na competição do mercado. Quem antes fazia quatro eventos por mês na região do Vale do Paraíba, agora realiza somente um. ” A rota Europa Europa / Argentina / Brasil tem prejudicado os negócios internos”, comenta. Pupio ressalta que a alternativa foi aumentar as condições dos pagamentos, estendendo os parcelas de cinco para 10 ou 12 meses.

“Com isso, institui – se financiamentos de produtor para produtor.” Durante 1998, sua empresa vendeu aproximadamente 3.000 cabeças, com destaque para as liquidações de plantéis, que aumentaram em torno de 50% em relação ao ano passado, fato que marcou o perfil dos remates de gado leiteiro em 1998. Na opinião do leiteiro, o fato representa uma acomodação do setor frente às condições a quem vem sendo posto à prova. Uma realidade que entrará em 1999, dando ao gado leiteiro um perfil diferente do que vinha registrando nos últimos anos. De Março a Junho do ano que vem, a Pupio já tem agendados oito pregões de liquidações o que indica a tendência de muita oferta. ” Não sei o que será do mercado com tantos animais à venda”, preocupa – se o leiloeiro, comentando que será considerado positivo se os resultados permanecerem como os de 1998.

Diante disso, a tecnologia passa a ser a palavra – chave para o setor. Quem não tiver alta produtividade e eficiência provavelmente não terá fôlego para continuar na ativa. De acordo com Pupio, se a venda do leite cobrisse seus custos de produção e o pecuarista tivesse a cria como lucro já estaria bom. ” O que vem acontecendo é que,hoje, o valor dos bezerros entram como parte da recieta na quitação dos gastos”.

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